Cena dois

CENÁRIO: Uma rua em Tebas. Seis meses depois.

Na esquina estão Dois Homens enrolados em mantos. Horemheb e o Sumo Sacerdote estão espremidos contra o muro.

Duas Mulheres entram.

Primeira Mulher: Não vá tão rápido. Estou fraca demais.

Segunda Mulher: Coragem, falta pouco agora.

Primeira Mulher: Preferiria morrer aqui na rua. Meu filho está morto e foi para Osíris.

Segunda Mulher: Shh, não se pode falar de Osíris agora.

Primeira Mulher: Gentil Osíris que pede pelos mortos. Onde estão nossos mortos agora sem Osíris que possa interceder por eles?

Segunda Mulher: Os deuses abandonaram o Egito. Estão com raiva.

Primeira Mulher: Quem é esse novo deus? O que ele fez por nós? (Tropeça. O Homem entra pelo lado oposto. Chega rapidamente e ajuda a segurá-la.)

Homem: Firme, dona.

Segunda Mulher: Está fraca por falta de comida.

Primeira Mulher: Levaram tudo que eu tinha, tudo... feijão, cebolas...

Homem: Não existe mais justiça.

Segunda Mulher: Quieto, cuidado. Meu filho reclamou... os coletores de impostos bateram na cabeça dele. Está esquisito desde então. Está parecendo uma criança pequena.

(Homem balança a cabeça. As duas mulheres passam adiante.)

Primeira Mulher: (ao saírem) Osíris, gentil Osíris...

(Outro Homem entra.)

Segundo Homem: Pobre alma velha.

Primeiro Homem: Estão morrendo como moscas. Os deuses estão com raiva do Egito.

Segundo Homem: Este ano, só aconteceram desgraças.

Primeiro Homem: Primeiro os gafanhotos...

Segundo Homem: E então a água caindo do céu. Isso não acontecia há cinquenta anos.

Primeiro Homem: É o fechamento dos templos.

Segundo Homem: O fim do mundo está chegando, é o que dizem.

Primeiro Homem: Não me admira. Que estranho parece pensar que um dia éramos felizes... e até prósperos. Meu vinho era famoso!

Segundo Homem: Eu lembro. Ah, bem, os bons tempos não voltam mais.

Primeiro Homem: Lembra de quando carregavam Amon pelas ruas?

Segundo Homem: As procissões...

Primeiro Homem: A cantoria...

Segundo Homem: Amon, o vizir dos pobres.

Primeiro Homem: E agora ninguém ousa mencionar o nome de Amon.

Segundo Homem: O rei até arrancou o nome do próprio pai da tumba dele.

Primeiro Homem: (devagar, assentindo com a cabeça) Um homem que faz isso é capaz de qualquer coisa.

Segundo Homem: Ele não é um homem, é um rei.

Primeiro Homem: Rei ou não rei, que Amon o amaldiçoe!

Segundo Homem: Shhh!

Primeiro Homem: (inconsequente) As coisas não têm como piorar. Ele causou isso para nós. Todas aquelas belas palavras e proclamações sobre a paz e a boa vontade...

(Saem juntos.)

Sumo Sacerdote: (para Horemheb) Ouviu o suficiente?

Horemheb: Sim, ouvi o suficiente.

Sumo Sacerdote: A ruína e a miséria espreitam por todo o país, e o desânimo das pessoas é geral. Pense no Egito de quinze anos atrás.

Horemheb: Não me lembre.

Sumo Sacerdote: Duas outras cidades caíram na Síria, e suas guarnições foram colocadas na ponta da espada.

Horemheb: Eu sei. Os khabiri varreram os territórios, matando e assassinando por todo lugar que passaram.

Sumo Sacerdote: O Egito caiu a um nível muito baixo.

Horemheb: Que vergonha!

Sumo Sacerdote: E os soldados?

Horemheb: Nervosos para terem permissão de ir resgatar os amigos do outro lado do mar.

Sumo Sacerdote: Mas não é tarde demais.

Horemheb: Por Amon, não! Que me deem dois anos, até menos, e o Egito vai andar de cabeça erguida.

Sumo Sacerdote: Venha.


CAI O PANO