III – Pontuação

III – Pontuação

Os diversos tipos de sinais de pontuação

Os diversos tipos de sinais de pontuação – Com Nina Catach, entendemos por pontuação um “sistema de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados a organizar as relações e a proporção das partes do discurso e das pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as funções da sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas” [NC.1, 7].

Os sinais de pontuação datam de época relativamente recente na história da escrita, embora se possa afirmar uma continuidade de alguns sinais desde os gregos, latinos e alta Idade Média; constituem hoje peça fundamental da comunicação e se impõem como objeto de estudo e aprendizado. Ao lado dos grafemas que “vestem” os fonemas, os morfemas e as unidades superiores, esses sinais extra-alfabéticos, como assinala Catach, são essencialmente unidades sintáticas, “sinais de orações” e “sinais de palavras”, podendo comutar com tais unidades alfabéticas, substituí-las e tomar de empréstimo seu valor. Assim, um apóstrofo indica a supressão de um grafema, uma vírgula uma unidade de coordenação ou de subordinação. Na essência, os sinais de pontuação constituem um tipo especial de grafemas.

Pode-se entender a pontuação de duas maneiras: numa acepção larga e noutra restrita. A primeira abarca não só os sinais de pontuação propriamente ditos, mas de realce e valorização do texto: títulos, rubricas, margens, escolha de espaços e de caracteres e, indo mais além, a disposição dos capítulos e o modo de confecção do livro.

Segundo a concepção restrita, a pontuação é constituída por uns tantos sinais gráficos assim distribuídos: os essencialmente separadores (vírgula [ , ], ponto e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], reticências [ ... ]), e os sinais de comunicação ou “mensagem” (dois pontos [ : ], aspas simples [‘ ’], aspas duplas [ “ ” ], o travessão simples [ – ], o travessão duplo [ — ], os parênteses [ ( ) ], os colchetes ou parênteses retos [ [ ] ], a chave aberta [ { ], a chave fechada [ } ]. Alguns destes dois tipos de sinais admitem ainda uma subdivisão em sinais de pausa conclusa (fundamentalmente o ponto, e depois ponto e vírgula, o ponto de interrogação, o ponto de exclamação, as reticências, quando em função conclusa) e de pausa inconclusa (fundamentalmente pela vírgula, mas também por dois pontos, parênteses, travessão, colchetes, quando em função inconclusa, i. é, quando as orações estão articuladas entre si).

A primeira palavra depois de um sinal de pausa conclusa é escrita com letra inicial maiúscula; se a oração seguinte constitui novo conjunto de ideias, ou mudança de interlocutor de diálogo, será escrito na outra linha e terá o seu final marcado pelo ponto parágrafo.

Estes sinais não se aplicam igualmente a todas as atividades linguísticas, razão por que podem ser distribuídos em três domínios de função da pontuação:

a) a pontuação de palavras (espaços em branco; maiúsculas iniciais; ponto abreviativo; traço de união, hífen ou traço de separação; apóstrofo; sublinhado; itálico).

b) a pontuação sintática e comunicativa (a pontuação propriamente dita e objeto deste capítulo).

c) a pontuação do texto.

Os dois primeiros, assinala ainda Catach, têm uma série de características que os distinguem do terceiro tipo: são interiores ao texto, aparecem de maneira linear, são comuns ao manuscrito e ao texto impresso e, em princípio, fazem parte da mensagem linguística. Apesar de poderem sofrer interferência de outra pessoa, é bem provável que pertençam à iniciativa e decisão do autor no seu desejo de levar ao texto algo mais de expressividade, de contorno melódico, rítmico e entonacional, além das palavras e construções utilizadas. Todavia, há de se levar em conta que os editores e preparadores de textos antigos (quando nem sempre se pode pensar em critérios inexistentes ou caóticos) a modernos têm muito interferido na pontuação original do autor de tal maneira, que é muito precária a certeza de que os sinais – e principalmente a falta deles – revelem as funções sintáticas, comunicativas expressivas que o escritor pretendera passar às palavras e orações empregadas no texto.

Ao contrário, no que toca ao terceiro tipo de pontuação, dela participam todos os que exercem atividade nesse âmbito, com funções específicas: calígrafos, secretários, tipógrafos, digitadores, revisores, editores.

Levando em conta tais distinções, podemos definir o conjunto dos dois primeiros tipos de pontuação que constituem essencialmente o objeto deste capítulo, como o fez Catach:

“Conjunto de sinais visuais de organização e apresentação que acompanham o texto, interiores ao texto e comuns tanto ao manuscrito quanto ao impresso; abrange a pontuação várias classes de sinais gráficos discretos e constitutivos de um sistema, complementando ou suplementando a informação escrita”.

Já o terceiro tipo é assim definido pela mesma autora:

“Conjunto de técnicas visuais de organização e de apresentação do objeto livro, que vão do espaço entre palavras aos espaços de páginas, passando por todos os procedimentos interiores e exteriores ao texto, com vista ao seu arranjo e sua valoração”.

 

A pontuação e o entendimento do texto

A pontuação e o entendimento do texto – O enunciado não se constrói com um amontoado de palavras e orações. Elas se organizam segundo princípios gerais de dependência e independência sintática e semântica, recobertos por unidades melódicas e rítmicas que sedimentam estes princípios. Proferidas as palavras e orações sem tais aspectos melódicos e rítmicos, o enunciado estaria prejudicado na sua função comunicativa. Os sinais de pontuação, que já vêm sendo empregados desde muito tempo, procuram garantir no texto escrito esta solidariedade sintática e semântica. Por isso, uma pontuação errônea produz efeitos tão desastrosos à comunicação quanto o desconhecimento dessa solidariedade a que nos referimos.

Várias situações incômodas já foram criadas pelo mau emprego dos sinais de pontuação. Notem-se as diferenças entre as seguintes ordens de comando:

Não podem atirar!

Não, podem atirar!

Há numerosos jogos, bem mais divertidos e inocentes do que as situações de ordem anterior, cuja integridade comunicativa depende do bem emprego desses sinais.

Vejamos um exemplo:

Levar uma pedra para Europa uma andorinha não faz verão.

Ou

Um fazendeiro tinha um bezerro e a mãe do fazendeiro era também o pai do bezerro.

Para integridade da mensagem, basta colocar vírgula ou ponto e vírgula depois de mãe, no último exemplo. No primeiro, basta uma vírgula depois de faz, sendo verão a forma de futuro do verbo ver.

 

Ponto – O ponto simples final, que é dos sinais o que denota maior pausa, serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo de oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as reticências.

É empregado ainda, sem ter relação com a pausa oracional, para acompanhar muitas palavras abreviadas: p., 2.a, etc.

Quando o período, oração ou frase termina por abreviatura, não se coloca o ponto final adiante do ponto abreviativo, pois este, quando coincide com aquele, tem dupla serventia. Ex.: “O ponto abreviativo põe-se depois das palavras indicadas abreviadamente por suas iniciais ou por algumas das letras com que se representam, v.g.; V. S.ª ; Il.mo ; Ex.ª ; etc.” (Dr. Ernesto Carneiro Ribeiro)

Com frequência, aproxima-se das funções do ponto e vírgula e do travessão, que às vezes aparecem em seu lugar.

 

Ponto parágrafo – Um grupo de períodos cujas orações se prendem pelo mesmo centro de interesse é separado por ponto. Quando se passa de um para outro centro de interesse, impõe-se-nos o emprego do ponto parágrafo iniciando-se a escrever, na outra linha, com a mesma distância da margem com que começamos o escrito.

Na linguagem oficial dos artigos de lei, o parágrafo é indicado por um sinal especial ( § ).

 

Ponto de interrogação – Põe-se no fim da oração enunciada com entonação interrogativa ou de incerteza, real ou fingida, também chamada retórica.

Enquanto a interrogação conclusa de final de enunciado requer maiúscula inicial da palavra seguinte, a interrogação interna, quase sempre fictícia, não exige essa inicial maiúscula da palavra seguinte:

Pensas que eu e meus avós ganhamos o dinheiro em casas de jogos ou a vadiar pelas ruas? Pelintra! [MA.1, 72].

— Nhonhô, diga a estes senhores como é que se chama seu padrinho?

— Meu padrinho? É o Excelentíssimo Senhor coronel Paulo Vaz Lobo Cesar de Andrade e Sousa Rodrigues de Matos [MA.1, 32].

O ponto de interrogação, à semelhança dos outros sinais, não pede que a oração termine por ponto final, exceto, naturalmente, se for interna.

— “Esqueceu alguma cousa? perguntou Marcela de pé, no patamar” [MA.1, 50].

A interrogação indireta, não sendo enunciada em entonação especial, dispensa ponto de interrogação. O nosso sistema gráfico não distingue o ponto de interrogação da pergunta de sim ou não da pergunta total.

No diálogo pode aparecer sozinho ou acompanhado do de exclamação para indicar o estado de dúvida do personagem diante do fato:

— “Esteve cá o homem da casa e disse que do próximo mês em diante são mais cinquenta...

— ? !...” [ML.1, 226].176

 

Ponto de exclamação – Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclamativa:

“Que gentil que estava a espanhola!” [MA.1, 50].

“Mas, na morte, que diferença! Que liberdade!” [MA.1, 81].

Põe-se o ponto de exclamação depois de uma interjeição:

Olé! exclamei. [MA.1, 74].

Ah! brejeiro! [MA.1, 93].

Aplicam-se ao ponto de exclamação as mesmas observações feitas ao ponto de interrogação, no que se refere ao emprego do ponto final e ao uso da maiúscula ou minúscula inicial da palavra seguinte.

Há escritores que denotam a gradação da surpresa através da narração com aumento progressivo do ponto de exclamação ou de interrogação:

“E será assim até que um senhor Darwin surja e prove a verdadeira origem do Homo sapiens...

— ? !

— Sim. Eles nomear-se-ão Homo sapiens apesar do teu sorriso, Gabriel, e ter-se-ão como feitos por mim de um barro especial e à minha imagem e semelhança.

— ? ! !” [ML.1, 204].

 

Reticências – Denotam interrupção ou incompletude do pensamento (ou porque se quer deixar em suspenso, ou porque os fatos se dão com breve espaço de tempo intervalar, ou porque o nosso interlocutor nos toma a palavra), ou hesitação em enunciá-lo:

“Ao proferir estas palavras havia um tremor de alegria na voz de Marcela: e no rosto como que se lhe espraiou uma onda de ventura...” [MA.1, 121].

“Não imagina o que ela é lá em casa: fala na senhora a todos os instantes, e aqui aparece uma pamonha. Ainda ontem... Digo, Maricota?” [MA.1, 120].

— “Moro na rua...

— Não quero saber onde mora, atalhou Quincas Borba” [MA.1, 169].

Postas no fim do enunciado, as reticências dispensam o ponto final, como se pode ver nos exemplos acima.

Se as reticências servem para indicar uma enumeração inconclusa, podem ser substituídas por etc.

Na transcrição de um diálogo, as reticências indicam a não resposta do interlocutor.

Numa citação, as reticências podem ser colocadas no início, no meio o no fim, para indicar supressão no texto transcrito, em cada uma dessas partes. Quando há supressão de um trecho de certa extensão, costuma-se usar uma linha pontilhada. Depois de um ponto de interrogação ou exclamação podem aparecer as reticências.

 

Vírgula – Emprega-se a vírgula:

a) para separar termos coordenados, ainda quando ligados por conjunção (no caso de haver pausa).

“Sim, eu era esse garção bonito, airoso, abastado” [MA.1, 48].

— “Ah! brejeiro! Contanto que não te deixes ficar aí inútil, obscuro, e triste” [MA.1, 93].

Observação: Na série de sujeitos seguidos imediatamente de verbo, o último sujeito da série não é separado do verbo por vírgula:

Carlos Gomes, Vítor Meireles, Pedro Américo, José de Alencar tinham-nas começado [CL.1, I, 102].

 

b) para separar orações coordenadas aditivas ainda que sejam iniciadas pela conjunção e, proferidas com pausa.

“Gostava muito das nossas antigas dobras de ouro, e eu levava-lhe quanta podia obter” [CL.1, I, 53].

“No fim da meia hora, ninguém diria que ele não era o mais afortunado dos homens; conversava, chasqueava, e ria, e riam todos” [CL.1, I, 163].

 

c) para separar orações coordenadas alternativas (ou, quer, etc), quando proferidas com pausa:

Ele sairá daqui logo, ou eu me desligarei do grupo.

Observação: Vigora esta norma quando ou exprimir retificação:

Teve duas fases a nossa paixão, ou ligação, ou qualquer outro nome, que eu de nome não curo [MA.1, 52].

Se denota equivalência, não se separa por vírgula o ou posto entre dois termos: Solteiro ou solitário se prende ao mesmo termo latino.

 

d) nas aposições, exceto no especificativo:

“ora enfim de uma casa que ele meditava construir, para residência própria, casa de feitio moderno...” [MA.1, 238].

 

e) para separar, em geral, os pleonasmos, e as repetições (quando não têm efeito superlativamente).

“Nunca, nunca, meu amor!” [MA.1, 55].

A casa é linda, linda.

 

f) para separar ou intercalar vocativos; nas cartas a pontuação é vária (em geral, vírgula), e na redação oficial usam-se dois pontos.

 

g) para separar as orações adjetivas de valor explicativo:

“perguntava a mim mesmo por que não seria melhor deputado e melhor marquês do que o lobo Neves, – eu, que valia mais, muito mais do que ele, – ...” [MA.1, 137].

 

h) para separar, quase sempre, as orações adjetivas restritivas de certa extensão, principalmente quando os verbos de duas orações diferentes se juntam:

“No meio da confusão que produzira por toda a parte este acontecimento inesperado e cujo motivo e circunstâncias inteiramente se ignoravam, ninguém reparou nos dois cavaleiros...” [AH.1, 210].

Observação: Esta pontuação pode ocorrer ainda que separe por vírgula o sujeito expandido pela oração adjetiva:

Os que falam em matérias que não entendem, parecem fazer gala da sua própria ignorância [MM].

 

i) para separar as orações intercaladas:

“Não lhe posso dizer com certeza, respondi eu” [MA.1, 183].

 

j) para separar, em geral, adjuntos adverbiais que precedem o verbo e as orações adverbiais que vêm antes ou no meio da sua principal:

“Eu mesmo, até então, tinha-vos em má conta...” [MA.1, 185].

“mas, como as pestanas eram rótulas, o olhar continuava o seu ofício...” [MA.1, 183].

 

k) para separar, nas datas, o nome do lugar:

Rio de Janeiro, 8 de agosto de 1961.

 

l) para separar as partículas e expressões de explicação, correção, continuação, conclusão, concessão:

“e, não obstante, havia certa lógica, certa dedução” [MA.1, 89].

Sairá amanhã, aliás, depois de amanhã.

 

m) para separar as conjunções e advérbios adversativos (porém, todavia, contudo, entretanto), principalmente quando pospostos:

“A proposta, porém, desdizia tanto das minhas sensações últimas...”

[MA.1, 87].

 

n) para indicar, às vezes, a elipse do verbo:

Ele sai agora: eu, logo mais.

 

o) para assinalar a interrupção de um seguimento natural das ideias e se intercala um juízo de valor ou uma reflexão subsidiária.

 

p) para desfazer possível má interpretação resultante da distribuição irregular dos termos da oração, separa-se por vírgula a expressão deslocada:

De todas as revoluções, para o homem, a morte é a maior e a derradeira [MM].

 

Dois pontos – Usam-se dois pontos na:

1) enumeração, explicação, notícia subsidiária:177

Comprou dois presentes: um livro e uma caneta.

“que (Viegas) padecia de um reumatismo teimoso, de uma asma não menos teimosa e de uma lesão de coração: era um hospital concentrado”

[MA.1, 184].

“Queremos governos perfeitos com homens imperfeitos: disparate”

[M. de Maricá].

2) nas expressões que se seguem aos verbos dizer, retrucar, responder (e semelhantes) e que encerram a declaração textual, ou que assim julgamos, de outra pessoa:

“Não me quis dizer o que era: mas, como eu instasse muito:

— Creio que o Damião desconfia alguma coisa” [MA.1, 174].

Às vezes, para caracterizar textualmente o discurso do interlocutor, vem acompanhada de aspas a transcrição, e raras vezes de travessão:

“Ao cabo de alguns anos de peregrinação, atendi às suplicas de meu pai:

— Vem, dizia ele na última carta; se não vieres depressa acharás tua mãe morta!” [MA.1, 75].

 

3) nas expressões que, enunciadas com entonação especial, sugerem, pelo contexto, causa, explicação ou consequência:

“Explico-me: o diploma era uma carta de alforria” [MA.1, 71].

 

4) nas expressões que apresentam uma quebra da sequência das ideias:

Sacudiu o vestido, ainda molhado, e caminhou.

“Não! bradei eu; não hás de entrar... não quero... Ia a lançar-lhe as mãos: era tarde; ela entrara e fechara-se” [MA.1, 59].

 

Ponto e vírgula – Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que o ponto, e é empregado:

a) num trecho longo, onde já existam vírgulas, para enunciar pausa mais forte:

“Enfim, cheguei-me a Virgília, que estava sentada, e travei-lhe da mão; D. Plácida foi à janela” [MA.1, 211].

b) separa as adversativas em que se quer ressaltar o contraste:

“Não se disse mais nada; mas de noite Lobo Neves insistiu no projeto” [MA.1, 210].

c) na redação oficial separa os diversos itens de um considerando, lei ou outro documento.

 

Travessão – Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta-men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão intercalada:

“... e eu falava-lhe de mil cousas diferentes – do último baile, da discussão das câmaras, berlindas e cavalos, de tudo, menos dos seus versos ou prosas” [MA.1, 138-9].

Usa-se simples se a intercalação termina o texto; em caso contrário, usa-se o travessão duplo:

“Duas, três vezes por semana, havia de lhe deixar na algibeira das calças – uma largas calças de enfiar –, ou na gaveta da mesa, ou ao pé do tinteiro, uma barata morta” [MA.1, 46].

Observação: Como se vê pelo exemplo, pode haver vírgula depois de travessão.

 

Pode denotar uma pausa mais forte:

“... e se estabelece uma cousa que poderemos chamar – solidariedade do aborrecimento humano” [MA.1, 126].

Pode indicar ainda a mudança de interlocutor, na transcrição de um diálogo, com ou sem aspas:

– Ah! respirou Lobo Neves, sentando-se preguiçosamente no sofá.

– Cansado? perguntei eu.

– Muito; aturei duas maçadas de primeira ordem (...) [MA.1, 177].

Neste caso, pode, ou não, combinar-se com as aspas.

 

Parênteses e colchetes – Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior intimidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do parêntese é assinalada por uma entonação especial.

Quando uma pausa coincide com o início da construção parentética, o respectivo sinal de pontuação deve ficar depois dos parênteses, mas, estando a proposição ou a frase inteira encerrada pelos parênteses, dentro deles se põe a competente notação:

“Não, filhos meus (deixai-me experimentar, uma vez que seja, convosco, este suavíssimo nome); não: o coração não é tão frívolo, tão exterior, tão carnal, quanto se cuida” [RB]

“A imprensa (quem o contesta?) é o mais poderoso meio que se tem inventado para a divulgação do pensamento”. (Carta inserta nos Anais da Biblioteca Nacional, vol. I) [Carlos de Laet]

Intimamente ligados aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes são utilizados quando já se acham empregados os parênteses, para introduzirem uma nova inserção.

Também se usam para preencher lacunas de textos ou ainda para introduzir, principalmente em citações, adendos ou explicações que facilitam o entendimento do texto. Nos dicionários e gramáticas, explicitam informações como a ortoépia, a prosódia etc., no que também podem ser usados os parênteses.

 

Aspas – De modo geral, usamos como aspas o sinal [ “ ” ]; mas pode haver, para empregos diferentes as aspas simples [ ‘ ’ ], ou invertidas (simples ou duplas) [‘ ’], [“ ”]. Nos trabalhos científicos sobre línguas, as aspas simples referem-se a significados ou sentidos: amare, lat.‘amar’ port. Às vezes, usa-se nesta aplicação o sublinhado (cada vez menos frequente no texto impresso) ou o itálico. As aspas também são empregadas para dar a certa expressão sentido particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoação especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou para apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria:

Observação: Escrevendo, ressaltamos a expressão também com o sublinhado, o que, nos textos impressos, corresponde ao emprego de tipo diferente:

— “Sim, mas percebo-o agora, porque só agora nos surgiu a ocasião de enriquecer. Foi uma sorte grande que Deus nos mandou.

— “Deus”...

— Deus, sim, e você o ofendeu afastando-a com o pé” [ML.1, 223].

“Você já reparou Miloca, na “ganja” da Sinhazinha? Disse uma sirigaita de “beleza” na testa” [ML.1, 102].

Quando uma pausa coincide com o final da expressão ou sentença que se acha entre aspas, coloca-se o competente sinal de pontuação depois delas, se encerram apenas uma parte da proposição; quando, porém, as aspas abrangem todo o período, sentença, frase ou expressão, a respectiva notação fica abrangida por elas:

“Aí temos a lei”, dizia o Florentino. “Mas quem as há de segurar? Ninguém.” [RB]

“Mísera, tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!”

“Por que não nasce eu um simples vaga-lume?” [MA]

 

Alínea – Tem a mesma função do parágrafo, pois denota diversos centros de assuntos e, como este, exige mudança de linha. Geralmente vem indicada por número ou letra seguida de um traço curvo, semelhante ao que fecha parêntese para assinalar subdivisão da matéria tratada:

Os substantivos podem ser:

a) próprios

b) comuns

 

Chave – A chave [ { } ] tem aplicação maior em obras de caráter científico, como pode exemplificar sua utilização neste livro.

Apêndice

Asterisco 178 – O asterisco (*) é colocado depois e em cima de uma palavra do trecho para se fazer uma citação ou comentário qualquer sobre o termo ou o que é tratado no trecho (neste caso o asterisco se põe no fim do período).

Nas obras sobre linguagem, o asterisco colocado antes e em cima da palavra o apresenta como forma reconstituída ou hipotética, isto é, de provável existência mas até então não documentada. Deve-se ao linguista alemão Augusto Schleicher (1821-1868) esta aplicação do sinal.

Emprega-se ainda um ou mais asteriscos depois de uma inicial para indicar uma pessoa cujo nome não se quer ou não se pode declinar: o Dr.*, B.**, L.***

176 Em português, em geral se despreza o cômodo expediente do espanhol de indicar a interrogação no início da oração, com o sinal invertido: ¿O José chegou? Alguns escritores nossos fizeram uso deste expediente.

177 A imprensa moderna usa e abusa dos dois pontos para resumir, às vezes numa síntese de pensamento difícil de ser acompanhada, certas notícias. Verão: cidade desprotegida das chuvas.

178 Costuma-se ouvir este vocábulo deturpado para asterístico. Asterisco quer dizer estrelinha, nome devido à sua forma.