I – Fonética e Fonologia

I – Fonética e Fonologia

A) Produção dos sons e classificação dos fonemas

1 – Fonética Descritiva

Fonemas

Fonemas – Chamam-se fonemas os sons elementares e distintivos que o homem produz quando, pela voz, exprime seus pensamentos e emoções.

 

Fonemas não são letras

Fonemas não são letras – Desde logo uma distinção se impõe: não se há de confundir fonema com letra. Fonema é uma realidade acústica, realidade que nosso ouvido registra; enquanto letra é o sinal empregado para representar na escrita o sistema sonoro de uma língua. Não há identidade perfeita, muitas vezes, entre os fonemas e a maneira de representá-los na escrita, o que nos leva facilmente a perceber a impossibilidade de uma ortografia ideal. Temos, como veremos mais adiante, sete vogais orais tônicas, mas apenas cinco símbolos gráficos (letras): a, e, i, o, u. Quando queremos distinguir um e tônico aberto de um e tônico fechado – pois são dois fonemas distintos – geralmente utilizamos sinais subsidiários: o acento agudo () ou o circunflexo (). Há letras que se escrevem por várias razões, mas que não se pronunciam, e portanto não representam a vestimenta gráfica do fonema; é o caso do h em homem ou oh! Por outro lado, há fonemas que se ouvem e que não se acham registrados na escrita; assim, no final de cantavam, ouvimos um ditongo em -am cuja semivogal não vem assinalada /amávãw/. A escrita, graças ao seu convencionalismo tradicional, nem sempre espelha a evolução fonética. Neste livro, diferençamos a letra do fonema, pondo este entre barras; dessarte, indicaremos o e aberto e e fechado da seguinte maneira: /é/, /ê/.

 

Fonética e Fonologia

Fonética e Fonologia – Na atividade linguística, o importante para os falantes é o fonema, e não a série de movimentos articulatórios que o determina. Assim sendo, enquanto a análise fonética se preocupa tão-somente com a articulação, a fonêmica atenta apenas para o fonema que, reunindo um feixe de traços que o distingue de outro fonema, permite a comunicação linguística. A fonética pode reconhecer, e realmente o faz, diversas realizações para o /t/ da série ta-te-ti-to-tu; a fonêmica não leva em conta as variações (que se chamam alofones), porque delas não tomam conhecimento os falantes de língua portuguesa. Um fonema admite uma gama variada de realizações fonéticas que vai até a conservação da integridade do vocábulo: quando isto não ocorre, diz-se que houve mudança de fonema. O /l/ admite várias realizações no Brasil, de norte a sul (e estas variantes não interessam à análise fonêmica, análise que deveria ter primazia em nosso estudo de língua); mas haverá mudança de fonemas quando se não puder fazer a oposição mal / mau. Como bem ensina Mattoso Câmara, “o fonema, entendido como um feixe de traços distintivos, individualiza-se e ganha realidade gramatical pelo seu contraste com outros feixes em idênticos ambientes fonéticos. Não é, pois, a diferença articulatória e acústica que distingue primariamente dois fonemas, senão a possibilidade de determinarem significações distintas numa mesma situação fonética. Compreende-se assim que um mesmo fonema possa variar amplamente na sua realização, conforme o ambiente fonético ou as peculiaridades do sujeito falante” [MC.7, 44-45].

Fonologia não se opõe a fonética: a primeira estuda o número de oposições utilizadas e suas relações mútuas, enquanto a fonética experimental determina a natureza física e fisiológica das distinções observadas [BM.1, 116]. Ambas disciplinas pertencem ao nível biológico do falar condicionado psicofisicamente.

 

Aparelho Fonador

Aparelho Fonador

 

04.jpg

 

Aparelho fonador – Nós não temos um aparelho especial para a fala; produzimos os fonemas servindo-nos de órgão do aparelho respiratório e da parte superior do aparelho digestivo, que só secundariamente se adaptaram às exigências da comunicação, numa aquisição lenta do homem. A esses órgãos da fala, constitutivos do aparelho fonador, pertencem, além de músculos e nervos: os brônquios, a traqueia, a laringe (com as cordas vocais), a faringe, as fossas nasais e a boca com a língua (dividida em ápice, dorso e raiz), as bochechas, o palato duro (ou céu da boca), o palato mole (ou véu palatino) com a úvula ou campainha, os dentes (mormente os anteriores) com os alvéolos, e os lábios.

Em português, como na maioria dos idiomas, os fonemas são produzidos graças à modificação que esses órgãos da fala impõem à corrente de ar que sai dos pulmões. Línguas há, entretanto, que se servem da corrente inspiratória (entrando o ar nos pulmões) para produzir fonemas, que são conhecidos pelo nome de cliques. Produzimos cliques quando fazemos os movimentos bucais, acompanhados da sucção de ar na boca, para o beijo, o muxoxo e certos estalidos como o que serve para animar a caminhada dos cavalos, mas não os utilizamos como sons da fala em português.

 

Como se produzem os fonemas

Como se produzem os fonemas – A corrente de ar que vem dos pulmões passa pela traqueia e chega à sua parte superior que se chama laringe, conhecida vulgarmente como pomo de adão. Na laringe, a parte mais valiosa e mais complexa do aparelho fonador, se acham, horizontalmente, duas membranas mucosas elásticas, à maneira de lábios: as cordas vocais, por cujo estreito intervalo, denominado glote, a corrente de ar tem de passar para ganhar a faringe, e daí, ou totalmente pela boca (fonemas orais), ou parte pela boca e parte pelas fossas nasais (fonemas nasais), chegar à atmosfera. É esta corrente expiratória que, modificada pelos órgãos da fala, é responsável pela produção dos fonemas.

As diferenças que se notam entre vozes diversas dos sexos, das idades e das pessoas, baseiam-se em geral nas dimensões da laringe.

 

Fonemas surdos e sonoros

Fonemas surdos e sonoros – Quando a corrente de ar se dirige à glote, esta pode encontrar-se aberta, fechada ou quase fechada. No primeiro caso, a corrente de ar passa livremente, sem provocar a vibração das cordas vocais. O fonema que, nestas circunstâncias, se produz é chamado surdo: /s/, /f/, /x/, /t/, /k/, etc. Se a glote está fechada ou quase fechada, a corrente de ar, ao forçar a passagem, provoca a vibração das cordas vocais, produzindo os fonemas sonoros. São sonoras todas as vogais e certas consoantes como /z/, /v/, /j/, /d/, /g/, etc.

Em muitos casos, podemos perceber a vibração das cordas vocais, pondo de leve a ponta do dedo no pomo de adão e proferindo um fonema sonoro, como /z/, /v/, /j/, tendo o cuidado de não acompanhá-lo de vogal. Sentimos nitidamente um tremular que denota a vibração das cordas vocais. Se proferimos um fonema surdo, como /s/, /f/, /x/, com o cuidado apontado acima, não sentimos o tremular. Podemos ainda repetir a experiência tapando os ouvidos. Só com os fonemas sonoros ouvimos um zumbido característico da vibração das cordas vocais.

 

Vogais e consoantes

Vogais e consoantes – A voz humana se compõe de tons (sons musicais) e ruídos, que o nosso ouvido distingue com perfeição. Caracterizam-se os tons, quanto às condições acústicas, por suas vibrações periódicas. Esta divisão corresponde, em suas linhas gerais, às vogais (= tons) e às consoantes (= ruídos). As consoantes podem ser ruídos puros, isto é, sem vibrações regulares (correspondem às consoantes surdas), ou ruídos combinados com um tom laríngeo (consoantes sonoras) [BM.1, 20].

Quanto às condições fisiológicas de produção, as vogais são fonemas durante cuja articulação a cavidade bucal se acha completamente livre para a passagem do ar. As consoantes são fonemas durante cuja produção a cavidade bucal está total ou parcialmente fechada, constituindo, assim, num ponto qualquer, um obstáculo à saída da corrente expiratória.

Observação: Só por suas condições acústicas e fisiológicas de produção é que se distinguem as vogais das consoantes. Por imitação dos gregos, os antigos gramáticos definiam a vogal pela sua função na sílaba: elemento necessário e suficiente para formar uma sílaba. E daí chegavam à conceituação deficiente de consoante: fonema sem existência independente, que só se profere com uma vogal. Sabemos de idiomas em que há sílabas constituídas apenas de consoantes e em que uma consoante pode fazer as vezes de vogal [LR.1, 75-75].

Na língua portuguesa a base da sílaba ou o elemento silábico é a vogal; os elementos assilábicos são a consoante e a semivogal, que estudaremos mais adiante.

 

Classificação das vogais

Classificação das vogais – Classificam-se as vogais, segundo a Nomenclatura Gramatical Brasileira, de acordo com quatro critérios:

a) quanto à zona de articulação;

b) quanto à intensidade;

c) quanto ao timbre;

d) quanto ao papel das cavidades bucal e nasal.

a) Quanto à zona de articulação, as vogais podem ser média, anteriores e posteriores.

Com a boca ligeiramente aberta e a língua na posição quase de repouso, proferimos o fonema /a/, que é o que exige menor esforço e constitui a vogal média. Se daí passarmos à série /é/ – /ê/ – /i/, notaremos que a ponta da língua se eleva, avançando em direção ao palato duro, o que determina uma diminuição da abertura bucal e um aumento da abertura da faringe. A série /é/ – /ê/ – /i/ constitui as vogais anteriores. Se passarmos da vogal média /a/ para a série /ó/ – /ô/ – /u/, notaremos que o dorso da língua se eleva, recuando em direção ao véu do paladar, o que provoca uma diminuição da abertura bucal e um arredondamento progressivo dos lábios. A série /ó/ – /ô/ – /u/ forma as vogais posteriores.

Vogais Anteriores 2

04_1.jpg

 

 

Vogais Posteriores 3

04_2.jpg

 

 

Zonas de Articulação

06.jpg

 

b) Quanto à intensidade, as vogais podem ser tônicas ou átonas. Vogal tônica é aquela em que recai o acento tônico da palavra: avó, paga, tímido.

Vogal átona é a inacentuada: avó, paga, tímido. As vogais átonas podem estar antes da tônica (pretônicas): avó, pagar, ou depois (postônicas): tímido.

Nos vocábulos de maior extensão fonética, mormente nos derivados e nos verbos seguidos de pronome átono, pode aparecer, além da tônica, uma vogal de grande intensidade, a qual recebe o nome de vogal subtônica: polidamente, cegamente, louvar-te-ei.

c) quanto ao timbre, as vogais podem ser abertas, fechadas e reduzidas. Timbre é o efeito acústico resultante da distância entre o dorso da língua e o véu do paladar, funcionando a cavidade bucal como caixa de ressonância. O timbre é o traço distintivo das vogais. Na vogal de timbre aberto, a língua se acha baixa: /a/, /é/, /ó/. Na vogal de timbre fechado, a língua se eleva: /ê/, /ô/, /i/, /u. A vogal de timbre reduzido é proferida debilitada, anulando-se a oposição entre aberta e fechada. A distinção entre abertas e fechadas só se dá nas vogais tônicas e subtônicas; nas átonas desaparece a diferença entre /ó/ e /ô/, /é/ e /ê/, e o /a/ reduzido é proferido com menos nitidez, como se pode depreender comparando-se os dois tipos em casa, em que o primeiro é aberto e o segundo, reduzido.

 

07.jpg

 

A gravura mostra a posição das vogais /a/, /u/ e /i/. Note-se o fechamento do canal bucal na articulação do /u/ e do /i/ com movimento da epiglote e elevação da língua em direção ao palato [ER.1, 15].

 

Quase sempre no fim das palavras, as vogais átonas e e o se enfraquecem e soam, respectivamente, /i/ e /u/ 4. Assim temos sete vogais tônicas orais (/a/, /é/, /ê/, /i/, /ó/, /ô/, /u/), cinco vogais átonas orais (/a/, /e/, /i/, /o/, /u/) e três vogais reduzidas orais (/a/, /i/, /u/). Também são reduzidas as vogais átonas nasais: antigo, sentar, limpeza, combate, fundar.5

Observações:

1.ª) Não temos no Brasil o a fechado oral tônico dos portugueses como em cada, para, mas.

2.ª) Na pronúncia normal brasileira, as vogais nasais são fechadas ou reduzidas (estas quando átonas).

d) quanto ao papel das cavidades bucal e nasal, as vogais podem ser orais e nasais. São orais aquelas cuja ressonância se produz na boca. Há sete vogais orais tônicas (/á/, /é/, /ê/, /i/, /ó/, /ô/, /u/), cinco orais átonas, por não haver aqui distinção entre /é/ e /ê/, /ó/ e /ô/ (/a/, /e/, /i/, /o/, /u/) e três reduzidas (/a/, /i/, /u/). São nasais as vogais que, em sua produção, ressoam nas fossas nasais. Há cinco vogais nasais (/ã/, /ẽ/, /ĩ/, /õ/, /ũ/): lã, canto, campina, vento, ventania, límpido, vizinhança, conde, condessa, tunda, pronunciamos. É o fenômeno da ressonância, e não da saída do ar, o que opõe os fonemas orais aos nasais.

Quanto ao timbre, as nasais tônicas e subtônicas são fechadas e as átonas, reduzidas.

Observação: Na pronúncia normal brasileira soam quase sempre como nasais as vogais seguidas de m, n e principalmente nh: cama, cana, banha, cena, fina, homem, Antônio, úmido, unha. Assim não distinguimos as formas verbais terminadas em -amos e -emos do presente e do pretérito do indicativo: agora cantamos, ontem cantamos; agora lemos, ontem lemos.

 

tab02.jpg

 

Elevação da língua: quinto critério para classificação das vogais

Elevação da língua: quinto critério para classificação das vogais – A Nomenclatura Gramatical Brasileira não levou em conta a elevação gradual da língua, o que distingue as vogais em: 1 – vogal baixa: /a/; 2 – vogais médias com dois graus de elevação: /é/, /ó/ e /ê/, /ô/; 3 – vogais altas: /i/, /u/. Entre as nasais desaparecem os dois graus de elevação das vogais médias.

orais 6

/ i /

/ u /

Altas

/ ê /

/ ô /

Médias

/ é /

/ ó /

Médias

/ a /

Baixa

 

nasais

/ ĩ /

/ ũ/

Altas

/ ẽ /

/ õ /

Médias

/ ã /

Baixa

 

Se não estabelecermos este quinto critério para a classificação das vogais, teremos de pôr num mesmo plano fonemas diferentes, como /õ/ e /ũ/, /ẽ/ e /ĩ/, o que não é correto.

quadro da classificação das vogais

 

07_1.jpg

 

Semivogais. Encontros vocálicos: ditongos, tritongos e hiatos

Semivogais. Encontros vocálicos: ditongos, tritongos e hiatos – Chamam-se semivogais as vogais i e u (orais ou nasais)7 quando assilábicas, as quais acompanham a vogal numa mesma sílaba. Os encontros vocálicos dão origem aos ditongos, tritongos e hiatos. Representamos as semivogais i (e) por /y/ e u (o) por /w/.

Ditongo é o encontro de uma vogal e de uma semivogal, ou vice-versa, na mesma silaba: pai, mãe, água, cárie, mágoa, rei.

Sendo a vogal a base da sílaba ou o elemento silábico, é ela o som vocálico que, no ditongo, se ouve mais distintamente. Nos exemplos dados são vogais: pAi, mÃe, águA, cáriE, mágoA, rEi.

Observação: Os ditongos, como os demais encontros vocálicos, podem ocorrer no interior da palavra (dizem-se intraverbais: pai, vaidade) ou pela aproximação, por fonética sintática, de duas ou mais palavras (dizem-se interverbais: certa 07_2.jpg idade, inculta 07_3.jpg e bela).

Os ditongos podem ser:

a) crescentes e decrescentes

b) orais e nasais

Crescente é o ditongo em que a semivogal vem antes da vogal: água, cárie, mágoa.

Decrescente é o ditongo em que a vogal vem antes da semivogal: pai, mãe, rei.

Como as vogais, os ditongos são orais (pai, água, cárie, mágoa, rei) ou nasais (mãe).

Os ditongos nasais são sempre fechados, enquanto os orais podem ser abertos (pai, céu, rói, ideia) ou fechados (meu, doido, veia).

Nos ditongos nasais, são nasais a vogal e a semivogal, mas só se coloca o til sobre a vogal: mãe.

Principais ditongos crescentes:

Orais

1) /ya/: glória, pátria, diabo, área, nívea

2) /ye/: (= yi): cárie, calvície

3) /yé/: dieta

4) /yo/: vário, médio, áureo, níveo

5) /yó/: mandioca

6) /yô/: piolho

7) /yu/: mdo

8) /wa/: água, quase, dual, mágoa, nódoa

9) /wi/: linguiça, tênue

10) /wó/: quiproq

11) /wô/: aquoso

12) /wo/ ( = uu): oblíquo

13) /wê/: coelho

14) /wé/: equestre, goela

 

Observação: Em muitos destes casos pode ser discutível a existência de ditongos crescentes “por ser indecisa e variável a sonoridade que se dá ao primeiro fonema. Certo é que tais ditongos se observam mais facilmente na hodierna pronúncia lusitana do que na brasileira, em que a vogal (= semivogal), embora fraca, costuma conservar sonoridade bastante sensível” [SA.2,17]. De qualquer maneira registre-se o descompasso entre a realidade fonética (ora hiato, ora ditongo) e a maneira invariável de grafar miúdo com acento agudo no u, quer seja proferido como dissílabo (e ditongo, portanto) ou como trissílabo (e hiato). Também palavras como série, glória, que podem ser proferidas como dissílabas (mais usual) ou trissílabas, não têm os encontros vocálicos separados na divisão silábica: -rie, gló-ria, em ambos os casos de pronúncia.

Nasais: 1) /yã/: criança
2) /wã/: quando
3) /wê/: frequente, quinqnio, depoente
4) /wĩ/: arguindo, quinquênio, moinho

 

Os principais ditongos decrescentes são:

Orais: 1) /ay/: pai, baixo, traidor
2) /ay/ (a fechado e, às vezes, nasalado): faina, paina, andaime
3) /aw/: pau, cacaus, ao
4) /éy/: réis, coronéis
5) /êy/: lei, jeito, fiquei
6) /éw/: céu, chapéu
7) /êw/: leu, cometeu
8) /iw/: viu, partiu
9) /óy/: herói, anzóis
10) /ôy/: boi, foice
11) /ow/: vou, roubo, estouro
12) /uy/: fui, azuis

Nasais

1) /ãy/: alemães, cãibra

2) /ãw/: pão, amaram (= amárão)

3) /ẽy/: bem (= bẽi), ontem (= ontẽi)

4) /õy/: põe, senões

5) /ũy/: mui (= mũi), muito (= mũito)

Nota: Nos ditongos nasais decrescentes /ẽy/, /ãy/ e /ãw/ [cf. SS.3, 320, 18, onde vãs rima com mães], a semivogal pode não vir representada na escrita. Escrevemos a interjeição hem! ou hein!, sendo, a rigor, a primeira grafia mais recomendável.

Tritongo é o encontro de uma vogal entre duas semivogais numa mesma sílaba. Os tritongos podem ser orais e nasais.

Orais

Nasais

1) /way/: quais, paraguaio

1) /wãw/: mínguam, saguão, quão

2) /wey/: enxaguei, averigueis

2) /wy/: delinquem, enxáguem

3) /wiw/: delinquiu

3) /wõy/: saguões

4) /wow/: apaziguou

 

Observações:

1.ª) Nos tritongos nasais /wãw/ e /wy/ a última semivogal pode não vir representada graficamente: mínguam, enxáguem.

2.ª) Entre portugueses, por não haver o maior relevo da primeira vogal – fato que se observa entre brasileiros –, o grupo de vogal seguida de um ditongo pode constituir-se num tritongo: fiéis, poeira, pião.

 

Hiato é o encontro de duas vogais em sílabas diferentes por guardarem sua individualidade fonética: sda, caatinga, moinho. Isto se dá porque a passagem da primeira para a segunda se faz mediante um movimento brusco, com interrupção da voz.8

Em português, como em muitas outras línguas, nota-se uma tendência para evitar o hiato, através da ditongação ou da crase.

Observações :

1.ª) Desenvolvem-se um /y/ semivogal (símbolo chamado em gramática iode) ou /w/ semivogal (símbolo chamado uau) nos encontros formados por ditongo decrescente seguido de vogal final ou ditongo átono: praia = prai-ia; cheia = chei-ia; tuxaua = tuxau-ua; goiaba = goi-ia-ba.

2.ª) “Nos hiatos cuja primeira vogal for u e cuja segunda vogal for final de vocábulo (seguida ou não de s gráfico), o desenvolvimento do uau variará de acordo com as necessidades expressionais ou as peculiaridades individuais” 9: nua = nu-a ou nu-ua; recue = re-cu-e ou re-cu-ue; amuo = amu-o ou amu-uo.

3.ª) “Os encontros ia, ie, io, ua, ue, uo finais, átonos, seguidos, ou não, de s, classificam-se quer como ditongos, quer como hiatos, uma vez que ambas as emissões existem no domínio da Língua Portuguesa: histó-ri-a e histó-ria; sé-ri-e e sé-rie; pá-ti-o e pá-tio; ár-du-a e ár-dua; tê-nu-e e tê-nue; vá-cu-o e vá-cuo”.10

4.ª) Autores há que também consideram hiato quando se trata de uma vogal e uma semivogal, como no caso de goiaba, joia, etc. Outros consideram dois ditongos: goi-ia-ba, joi-ia.

Nos encontros vocálicos costumam ocorrer dois fenômenos: a diérese e a sinérese.

Chama-se diérese à passagem de semivogal a vogal, transformando, assim, o ditongo num hiato: trai-ção = tra-i-ção; vai-da-de = va-i-da-de; cai = ca-i.

Chama-se sinérese à passagem de duas vogais de um hiato a um ditongo crescente: su-a-ve = sua-ve; pi-e-do-so = pie-do-so; lu-ar = luar.

A sinérese é fenômeno bem mais frequente que a diérese. A poesia antiga dava preferência ao hiatismo, enquanto, a partir do século XVI, se nota acentuada predominância do ditonguismo (sinérese). É claro que os poetas modernos continuaram a usar a diérese, mormente como efeito estilístico-fônico para a ênfase, a ideia de grandeza, etc. O conhecido verso de Machado de Assis auréola com quatro sílabas acentua o tamanho descomunal ressaltado pela leitura lenta: “Pesa-me esta brilhante auréola de nume...”

 

Classificação das consoantes

Classificação das consoantes – De acordo com a Nomenclatura Gramatical Brasileira, classificam-se as consoantes de acordo com quatro critérios:

a) quanto ao modo de articulação;

b) quanto à zona de articulação;

c) quanto ao papel das cordas vocais.

d) quanto ao papel das cavidades bucal e nasal.

 

a) quanto ao modo de articulação, as consoantes podem ser oclusivas e constritivas, e estas se subdividem em fricativas, laterais, vibrantes e nasais. O obstáculo que, na cavidade bucal, os órgãos impõem à corrente expiratória pode ser de dois tipos: ou os órgãos da boca estão dispostos de tal modo que impedem completamente a saída do ar, ou permitem parcialmente que a corrente expiratória chegue à atmosfera. No primeiro caso, dizemos que as consoantes são oclusivas; no segundo, constritivas. As constritivas são fricativas quando a corrente expiratória, passando por entre os órgãos que formam o obstáculo parcial, produz um atrito à maneira de fricção: /f/, /v/, /s/, /z/, /x/, /j/. São constritivas laterais quando a passagem da corrente expiratória, obstruída pela aproximação do ápice ou dorso da língua aos alvéolos da arcada dentária superior ou ao palato, escapa pelos lados da cavidade bucal: /l/, /lh/. São constritivas vibrantes quando o ápice da língua contra os alvéolos ou a raiz da língua contra o véu do paladar executa movimento vibratório rápido, abrindo e fechando a passagem à corrente expiratória: /r/ (simples) e /rr/ (múltipla). São constritivas nasais quando, pelo abaixamento do véu palatino e um abrimento do nasal, as consoantes ressoam nas fossas nasais. Temos três consoantes nasais: a bilabial /m/, a linguodental /n/ e a palatal /nh/.

b) quanto à zona de articulação, as consoantes podem ser:

1) bilabiais (lábio contra lábio): /p/, /b/, /m/.

2) labiodentais (lábio inferior e arcada dentária superior): /f/, /v/.

3) linguodentais (língua contra arcada dentária superior): /t/, /d/, /n/.

4) alveolares (língua em direção ou contra os alvéolos): /s/, /z/, /l/, /r/, /rr/.

5) palatais (dorso da língua contra o céu da boca): /x/, /j/, /lh/, /nh/.

6) velares (raiz da língua contra o véu do paladar): /k/, /g/.

Observações:

1.ª) O /l/ inicial da sílaba é nitidamente alveolar, enquanto o final é proferido relaxado, quase velar, mas tendo-se o cuidado de não fazê-lo igual a u. Nas ligações com a vogal inicial de outro vocábulo, soa como alveolar.

2.ª) O /rr/ alveolar pode ser proferido como velar, graças ao maior recuo da língua.

3.ª) As linguodentais /t/ e /d/ seguidas de i podem palatalizar-se: tinta e digno podem soar /txinta/ e /djigno/. Evite-se o exagero destas palatalizações.

c) quanto ao papel das cordas vocais, as consoantes podem ser surdas e sonoras.

Surdas: /p/, /f/, /t/, /s/, /x/, /k/.

Sonoras: /b/, /v/, /d/, /z/, /j/, /g/, /m/, /n/, /nh/, /l/, /lh/, /r/, /rr/.

São sonoras as consoantes vibrantes, nasais e o /l/ lateral.

d) quanto ao papel das cavidades bucal e nasal, as consoantes podem ser orais e nasais. São nasais /m/, /n/, /nh/.

As outras são orais.

 

quadro da classificação das consoantes

 

05.jpg

* Para fugir a uma oposição errônea surda/sonora/nasal, preferimos, ainda com a aquiescência da NGB, colocar as nasais entre as constritivas. Há autores que fazem das nasais uma classe à parte, ou as põem entre as oclusivas, critérios também defensáveis.

 

Encontro consonantal

Encontro consonantal – Assim se chama o seguimento imediato de duas ou mais consoantes de um mesmo vocábulo. Há encontros consonânticos pertencentes a uma sílaba, ou a sílabas diferentes. Os primeiros terminam por l ou r: li-vro; blu-sa; pro-sa; cla-mor; rit-mo; pac-to; af-ta, ad-mi-tir.

O encontro consonantal /cs/ é representado graficamente pela letra x: anexo, fixo.

São mais raros em nossa língua os seguintes encontros consonânticos encontráveis em vocábulos eruditos. Estes encontros são separáveis, salvo os que aparecem no início de vocábulos:

bd: lamb-da                ft: af-ta

bs: ab-so-lu-to            pn: pneu, pneu-má-ti-co

: sec-ção                  ps: psiu

dm: ad-mi-tir              pt: ap-to

gn: dig-no                   tm: ist-mo

mn: mne-mô-ni-co      tn: ét-ni-co

Tais encontros merecem especial cuidado porque, na pronúncia despreocupada, tendem a constituir duas sílabas pela intercalação de uma vogal:

advogado       e não       adivogado ou adevogado

absoluto         e não       abissoluto

admirar         e não        adimirar

afta                e não        áfita

ritmo              e não        rítimo

pneu              e não        pineu / peneu

indigno          e não        indíguino

O desejo de corrigir o engano leva muitas vezes à omissão de vogal de certos vocábulos:

adivinhar       e não        advinhar

subentender   e não        subtender

 

Dígrafo

Dígrafo – Não se há de confundir dígrafo ou digrama com encontro consonantal. Dígrafo é o emprego de duas letras para a representação gráfica de um só fonema: passo (cf. paço), chá (cf. xá), manhã, palha, enviar, mandar.

Há dígrafos para representar consoantes e vogais nasais.11 Os dígrafos para consoantes são os seguintes, todos inseparáveis, com exceção de rr e ss, sc, , xc:

ch:    chá                xs:     exsudar ‘transpirar’

lh:     malha            rr:     carro

nh:    banha            ss:     passo

sc:     nascer           qu:    quero

:     nasça            gu:    guerra

xc:     exceto

Para as vogais nasais:

am ou an:        campo, canto

em ou en:       tempo, vento

im ou in:          limbo, lindo

om ou on:        ombro, onda

um ou un:        tumba, tunda

 

Letra diacrítica

Letra diacrítica – É aquela que se junta a outra para lhe dar valor fonético especial e constituir um dígrafo. Em português as letras diacríticas são h, r, s, c, ç, u para os dígrafos consonantais e m e n para os dígrafos vocálicos: chá, carro, passo, quero, campo, onda.

Observação: Daí se tiram as seguintes conclusões aplicáveis à análise fonética:

1.ª) Não há ditongo em quero;

2.ª) M e n não são aqui fonemas consonânticos nasais em caMpo, oNda, mas há autores que os classificam como consoantes, por não aceitarem a existência de vogais nasais (Mattoso Câmara).

3.ª) Qu e gu se classificam como /k/ e /g/, respectivamente.

2 – Fonética Expressiva ou Fonoestilística

Os fonemas com objetivos simbólicos

Os fonemas com objetivos simbólicos – Muitas vezes utilizamos os fonemas para melhor evocar certas representações.

É deste emprego que surgem as aliterações, as onomatopeias e os vocábulos expressivos.

 

Aliteração

Aliteração – É a repetição de fonema, vocálico ou consonântico, igual ou parecido, para descrever ou sugerir acusticamente o que temos em mente e expressar, quer por meio de uma só palavra quer por unidades mais extensas.

O sossego do vento ou o barulho ensurdecedor do mar ganham maior vivacidade através da aliteração dos seguintes versos:

“As asas ao sereno e sossegado vento” (utilização do fonema fricativo alveolar sonoro e surdo).

“Bramindo o negro mar de longe brada” (utilização principal dos fonemas b, r e d).

A aliteração tanto pode servir ao estilo solene e culto, como nos exemplos referidos, como pode estar presente nas manifestações de espontânea expressividade popular, conforme se vê nos provérbios, nas frases feitas, nos modos de dizer populares: são e salvo, cara ou coroa, de cabo a rabo, etc. O que importa acentuar é que a aliteração mais ocorre na exteriorização psíquica e no apelo do que na comunicação intelectiva.

 

Onomatopeia

Onomatopeia – É o emprego de fonema em vocábulo para descrever acusticamente um objeto pela ação que exprime.

São frequentes as onomatopeias que traduzem as vozes dos animais e os sons das coisas:

O tique-taque do relógio, o marulho das ondas, o zunzunar da abelha, o arrulhar dos pombos.

 

Vocábulo expressivo

Vocábulo expressivo – É o que não imita um ruído, mas sugere a ideia do ser que se quer designar com a ajuda do valor psicológico de seus fonemas: romper, tagarelar, tremeluzir, jururu, ziriguidum, borogodó.

 

Apêndice: Encontros de fonemas que produzem efeito desagradável ao ouvido (colisão, eco, hiato e cacofonia)

apêndice

Encontros de fonemas que produzem efeito desagradável ao ouvido – Muitas vezes, certos encontros de fonemas produzem efeito desagradável que repugna o ouvido e, por isso, cumpre evitar, sempre que possível. Esses defeitos são mais perceptíveis nos textos escritos porque a pessoa que os lê nem sempre faz as pausas e as entonações que o autor utilizou, com as quais diminui ou até anula os encontros de fonema que geram sons desagradáveis.

Entre os efeitos acústicos condenados estão: a colisão, o eco, o hiato e a cacofonia.

Colisão – É o encontro de consoantes que produz desagradável efeito acústico:

Se eu tenho de morrer na flor dos anos,

Meu Deus! não seja já” [CA.1, 73].

Às vezes a omissão de um substantivo aproxima duas preposições de que resulta colisão, fato que os escritores não se esforçam por evitar:

“Tenho ali na parede o retrato dela, ao lado do do marido, tais quais na outra casa” [MA.3, 21]

“A voz da nova mestra era doce, não daquela doçura da de sua mãe, um canto de pássaro mais que uma voz humana” [JL.1, 13].

Também quase sempre não se evita a colisão do tipo de no número, na nave, na noite, na nossa vida, etc. Pode-se, sem ser obrigatório, fugir à colisão mediante substituição de no, na, num, etc. por em o, em a, em um, etc.: em o número, em a nave.

 

Eco – É a repetição, com pequeno intervalo, de palavras que terminam de modo idêntico:

“Estas palavras subordinam frases em que se exprime condição necessária à realização ou não realização da ação principal.”

 

Hiato – O hiato de vogais tônicas torna-se desagradável principalmente quando formado pela sucessão de palavras:

Hoje há aula.

 

Cacofonia ou cacófato – É o encontro de sílabas de duas ou mais palavras que forma um novo termo de sentido inconveniente ou ridículo em relação ao contexto:

“Ora veja como ela está estendendo as mãozinhas inexperientes para a chama das velas...” [CBr.1, 102].

herói da nação, nosso hino, boca dela, nunca que estuda

Deve-se evitar, tanto quanto possível, que uma palavra comece pela mesma sílaba com que a anterior acabe: torre redonda, por razão, por respeito, pouca cautela, nunca casavam, ignora-se se se trata disso.

Cuidado maior há de se ter se a junção lembra palavra pouco delicada: o Tijuca ganhou, o jogador marca gol, tão comuns na imprensa falada e escrita.

A leitura do texto em voz alta, antes de sua divulgação, surpreenderá muitos casos de cacófatos.

É oportuna a lição de Said Ali:

“Repara-se, hoje, com certo exagero, na cacofonia resultante da junção da sílaba terminal de um vocábulo com a palavra ou parte da palavra imediata. Não se liga, entretanto, maior importância à cacofonia quando esta se acha dentro de um mesmo vocábulo, sendo formada por algumas das suas sílabas componentes. O mal aqui é irremediável, pois que expressões não se dispensam, nem se substituem. Muitas vezes, parece a cacofonia menos ridícula do que a vontade de percebê-la... O estudante evite, sempre que puder, semelhantes combinações de palavras, assim como quaisquer outras de onde possam nascer uns longes de cacofonia, e não se preocupe com descobri-los nos outros.” [SA.1, 306-7]

 

B) Ortoépia ou Ortoepia

Ortoépia é a parte da gramática que trata da correta pronúncia dos fonemas.

Preocupa-se não apenas com o conhecimento exato dos valores fonéticos dos fonemas que entram na estrutura dos vocábulos, considerados isoladamente ou ligados na enunciação da oração, mas ainda com o ritmo, a entoação e expressão convenientes à boa elocução.

 

Vogais

Vogais – Quanto à emissão das vogais, na pronúncia normal brasileira, observemos que:

a) São fechadas as vogais nasais; por isso não distinguimos as formas verbais terminadas em -amos e -emos do pres. e pret. perf. do indicativo da 1.ª e 2.ª conjugações: Ontem trabalhamos e agora trabalhamos.

b) Soam muitas vezes como nasais as vogais seguidas de m, n e principalmente nh: cama, cana, banha, cena, fina, Antônio, unha;

Observação: Sem nasalidade proferem-se as vogais desses e de vários outros vocábulos: emitir, emissário, eminente, energia, enaltecer, Enaldo, etc.

c) Soam quase sempre como orais as vogais precedidas de m, n ou nh: mata, nata, companhia, milho. Assim, não tem razão linguística a pronúncia nasalada do mas /mãs/. Entretanto, mui e muito se proferem /mũi/, /mũito/.

d) Soam igualmente o a artigo, a preposição, a pronome e o à resultante da crase. Não se alonga o à, “salvo, muito excepcionalmente, se houver necessidade imperativa, para a inteligência da frase, caso em que o resultante da crase poderá ser pronunciado com certa tonicidade e ênfase” (Normas, 481).

e) São reduzidas as vogais e e o átonas finais, que soam /i/ e /u/, respectivamente: frente, carro.

f) São oscilantes /e/, /i/, //, /ĩ/, /o/, /u/, /õ/, /ũ/, reduzidos pretônicos em numerosos vocábulos, oscilação que corresponde “a uma gradação de frequência de meio cultural, de nível social ou de tensão psíquica do indivíduo falante” (Normas, 482): pedir /pedir/ ou /pidir/; estudo /estudu/ ou /istudu/; sentir /sentir/ ou /sintir/; costura /costura/ ou /custura/; compadre /compadre/ ou /cumpadre/. Neste caso estão as preposições com e por que, salvo nas situações enfáticas, devem ser pronunciadas /kũ/ e /pur/. Fazem exceção muitos vocábulos eruditos e os compostos de entre: embriogenia, hendíade, hexágono, entremeio [AN.1, 14].

g) Em linguagem cuidada, evita-se a oscilação de que anteriormente se falou, quando tem valor opositivo, isto é, serve para distinguir palavras de significado diferente: eminente / iminente; emigrar / imigrar; descrição / discrição.

h) u depois de g ou q ora é vogal ou semivogal (e aí se profere), ora é componente de dígrafo (e aí não se pronuncia).

Entre outras deve ser proferido nas seguintes palavras depois do g: aguentar, ambiguidade, apaziguar, arguição, arguir, bilíngue, consanguíneo, contiguidade, ensanguentado, exiguidade, lingueta, linguista, redarguir, sagui ou saguim, unguento, unguiforme.

Não se deve proferir o u depois do g em: distinguir, exangue, extinguir, langue, pingue (= gordo, fértil, rendoso).

É facultativo pronunciá-lo em: antiguidade; sanguíneo; sanguinário; sanguinoso.

Profere-se o u depois do q em: aquícola, consequência, delinquência, delinquir, equestre, equevo, equidistante, equino (= cavalar), equitativo, equipolente (também equipolente), frequência, iniquidade, loquela, obliquidade, quercina, quingentésimo, quinquênio, quiproquó, sequência, Tarquínio, tranquilo, ubiquidade.

Não se profere o u depois do q em: adquirir, aniquilar, aqueduto, equilíbrio, equinócio, equipar, equiparar, equitação, equívoco, extorquir, inquérito, inquirir, sequioso, quérulo, questão, quibebe.

É facultativo pronunciá-lo em: antiquíssimo, equidade, equivalente, equivaler, liquidação, liquidar, líquido, liquidificador, retorquir.

Diz-se quatorze ou catorze, sendo a primeira mais generalizada entre brasileiros.

i) Em muitos vocábulos há dúvidas quanto ao timbre das vogais. Recomendamos timbre aberto para o e em: acerbo, Aulete, anelo, badejo, benesse, blefe, caterva, cedro, cerdo, cetro, cerne, cervo, coeso, coevo, coleta, cogumelo, confesso, corbelhe, duelo, espectro, equevo, flagelo, ileso (também ileso com e fechado), indefesso, besta (‘arma’), doesto, lerdo, medievo, elmo, obsoleto, paredro, prelo, primevo, relho, septo, servo, Tejo, terso.

É fechado em: acervo (também acervo com e aberto), achega, adejo, adrede, alameda, amuleto, anacoreta, arabesco, aselha, bacelo, besta (‘animal de carga’), bissexto, bofete, caminhoneta, cerebelo, cateto, cerda, destra, destro, devesa, defeso, dueto, entrevero, escaravelho, efebo, extra, fechar (e suas formas fecho, fechas, feche, etc.), ginete, grumete, indefeso, interesse (s.), ledo, lampejo, labareda, magneto, palimpsesto, panfleto, pez, quibebe, reses, retreta, Roquete, sobejo, veneta, vereda, vinheta, versalete, vespa, vedeta, verbete, xerez, xepa. As autoridades recomendam o timbre fechado em pese (na expressão em que pese a), centopeia e colmeia (mas a pronúncia com timbre aberto é generalizada entre nós). Diz-se topete com e aberto ou fechado; vedete é mais proferido com e aberto no Brasil.

Tem timbre aberto o o tônico de: amorfo, canoro, (de) envolta, dolo, forum, hissope, imoto, inodoro, manopla, meteoro, molho (‘feixe’), noto (‘vento sul’), opa (‘capa’), piloro, probo, sinagoga, suor, troço (‘coisa’), trombose, tropo.

Tem timbre fechado o o tônico de: aboio, alcova, apodo, alforje, algoz, boda, bodas, cochicholo, chope, cachopa, choldra, ciclope (também aberto), corça, desporto, filantropo, foro (‘jurisdição’), loa, logro, lorpa, loto (‘jogo’ também aberto), Mausolo, malogro, mirolho, misantropo, molosso, odre, serôdio, teor, torpe, torso, torvo, transbordo, troço (‘parte’), trolha, volvo, zarolho, zorro.

j) Quanto aos ditongos, cumpre notar: ai, ei e ou devem guardar, na pronúncia cultivada, sua integridade, não se exagerando o valor do i ou u, nem os eliminando, como o faz a modalidade distensa: caixa, queijo, ouro.

Soa como ditongo nasal ão a sílaba átona final -am: amam.

Soam como ditongo nasal ẽi as sílabas -em, -ém, -en, -ens de muitos vocábulos: bem, vem; vintém, ninguém; vens, homens; armazéns, parabéns.

Normalmente ditongamos, pelo acréscimo de um i, as vogais tônicas finais seguidas de -z ou -s. Assim não fazemos a diferença entre pás, paz e pais; más e mais; rapaz e jamais; vãs e mães. Os poetas brasileiros nos dão bons exemplos destas ditongações.

Só por imitação dos poetas lusitanos (porque dizem tãy), entre os brasileiros, a rima tem e mãe aparece às vezes, como em Casimiro de Abreu:

O país estrangeiro mais belezas
Do que a pátria
, não tem;
E este mundo não val um só dos beijos
Tão doces duma mãe.” [SS.4, 73]

Soam como ditongo, e não como hiato: gratuito, fluido, fortuito, arraigar, entre outros.

l) Quanto aos hiatos observemos que se desenvolve um i ou u semivogais nos encontros formados por ditongo decrescente seguido de vogal final ou ditongo átono: praia prai-ia; tuxaua tuxau-ua; goiaba goi-iaba; boiem boi-iem (cf. Normas, 486).

O mesmo desenvolvimento das referidas semivogais nos hiatos cuja primeira vogal seja i ou u tônicos e cuja segunda vogal seja final de vocábulo, “variará de acordo com as necessidades expressionais ou as peculiaridades individuais” (Normas, 485-6): via: vi-a ou vi-ia; lu-a: lu-a ou lu-ua.

 

Consoantes

Consoantes – Soam levemente as consoantes b, c, d, f, g, s, t quando finais de vocábulos: sob, Moab, Isaac, Cid, Uf, Gog, fórceps, Garrett, Laet.

Nos vocábulos eruditos as terminações átonas -ar, -er, -en, -ex, -on devem guardar sua integridade em pronúncia: aljôfar, certâmen (também certame), esfíncter, índex, cólon, númen (também nume), regímen (também regime).

O l final de sílaba é proferido relaxado, quase velar, mas tendo-se o cuidado de não fazê-lo igual a u: nacional. Na língua literária dos românticos, mais em poesia, registra-se a troca do l por r nos grupos bl, cl, fl, pl, de algumas palavras: neblina / nebrina; clina / crina; flauta / frauta; plantar / prantar, etc.

Na palavra sublinhar e derivados o l deve ser pronunciado separadamente do b. Entre portugueses ouve-se como sublime.

O r múltiplo alveolar pode ser proferido como velar, graças ao maior recuo da língua, e até com articulação dorso-uvular (portanto mais carregado ainda), embora as Normas não a recomendem na pronúncia cuidada: mar, avermelhar. Nas palavras abrupto, ab-rogar, ad-rogar, sub-rogar, e derivados, o r deve ser pronunciado múltiplo e separado, isto é, sem fazer grupo com a consoante anterior.

O m final pode guardar sua integridade de pronúncia, não nasalizando o e anterior, no vocábulo totem, admitindo a grafia tóteme. Em bem-amado e bem-aventurado, nasaliza o e anterior, e não se liga ao a seguinte. Diz-se infligir, e não inflingir. Em mancheia, a sílaba inicial ouve-se /mã/; em mão-cheia ouve, naturalmente, /mãũ/. Em outros casos, temos facultativa a nasalização: Roraima, Jaime, paina.

As linguodentais d e t, seguidas de i, podem palatizar-se, evitando-se, entretanto, o exagero (articulação africada linguopalatal): dia, tia.

O s soa aproximadamente como se fora j, mas sem exagero, antes de b, d, g, j, l, m, r e v: desjejum, deslizar, esmo, asno, esbarrar, esdrúxulo, engasgar, asno, desregrar, desvão. Como bem acentua Antenor Nascentes [AN.1, 27], em outros pontos do país o s, nestes casos, soa aproximadamente como /z/.

Antes de c, f, p, q, t, x e ainda no fim de vocábulo que não se ligue ao seguinte, o s tem som próximo de /x/: descampado, esfregar, respeito, esquivo, deste, desxadrezar. Em outros pontos do país, segundo o autor anteriormente citado, o s nestas circunstâncias é sibilante, como na palavra selva.

Tem o som de /z/ entre vogais nos compostos do prefixo trans (transatlântico, transação, transitivo, etc.) e na palavra obséquio e derivados. Em transe (que se grafa também trance), subsídio, subsidiar, subsistir, subsistência e outros da mesma família, o s pode soar como sibilante (como em selva) ou como /z/. Se o elemento a que se prefixa trans- começa por s, não se duplica esta consoante que será proferida como sibilante: Transilvânia e derivados, transiberiano. Com o prefixo ob seguido a elemento começado por s, este soa como sibilante: obsessão, obsidiar, etc. No final -simo (de vigésimo, trigésimo, etc.) soa como /z/.

Escrevendo-se aritmética (com t), é mais usual proferir esta consoante. Pode-se ainda grafar arimética.

X tem quatro valores: 1) fricativo palatal como em xarope; 2) fricativo alveolar sonoro como em exame; 3) fricativo alveolar surdo (= ss) como em auxílio; 4) vale por /ks/ e /kz/ como em anexo e hexâmetro.

X soa /z/ nas palavras: exação, exagero, exalar, exaltar, exame, exangue, exarar, exasperar, exato, exautorar, executar, êxedra, exegese, exegeta, exemplo, exéquias, exequível, exercer, exercício, exército, exaurir, exibir, exigir, exilar, exílio, exímio, existir, êxito, êxodo, exógeno, exonerar, exorar, exorbitar, exorcismo, exórdio, exornar, exótico, exuberar, exuberante, exultar, exumar, inexorável.

Soa como /s/ em: auxílio, máxima, Maximiliano, Maximino, máximo, próximo, sintaxe, trouxe, trouxera, trouxer.

Soa como /ks/ ou /kz/, conforme o caso, em: afluxo, anexo, axila, áxis, axiômetro, complexo, convexo, crucifixo, doxologia, fixo, flexão, fluxo, hexâmetro (também soa como /z/), hexaedro, hexágono (também soa como /z/), hexassílabo, índex, intoxicar, léxico, maxilar, nexo, máxime, ônix, ortodoxo, óxido, oximoro, prolixo, oxigênio, paradoxo, reflexo, sexagenário, sexagésimo, sexo, sílex, tórax, tóxico.

É proferido indiferentemente como /ks/ ou /s/ em: apoplexia, axioma e defluxo.

Vale por /s/ no final de: cálix, Félix, fênix e na locução adverbial a flux.

O z em fim de palavra que não se ligue à seguinte, soa levemente chiado: luz, conduz.

Entre os casos particulares, são de notar:

– o ch em Anchieta e derivados soa chiado;

– o cz de czar (que também pode se escrever tzar) deve ser proferido como /ts/; o lh de Alhambra não constitui dígrafo como em malha; deve-se proferir o vocábulo como se não houvesse o h;

– o w do nome Darwin e dos derivados (darwinismo, darwinista, etc.) soa como /u/.

Sc e xc soam como /s/ em palavras como nascer, descer, crescer, excelência, exceto, excelso, excídio, excisão, excita.

Os encontros consonânticos devem ser pronunciados com valores fonéticos próprios, sem intercalação de e ou i: pseudônimo, pneumático, mnemônico, apto, elipse, absoluto, admissão, adjetivo, ritmo, afta, indigno, recepção, advogado, accessível (ao lado de acessível), secção (ao lado de seção), samnita, sublinhar (b-li), subliminar (b-li).

 

Ligação dos vocábulos

Ligação dos vocábulos – Cuidado especial merece a boa articulação dos fonemas, mormente finais e iniciais, na sequência dos vocábulos, desde que uma pausa não os separe.

a) Vogais ou ditongos finais de vocábulo com vogais ou ditongos iniciais de vocábulo

Quando a palavra termina por vogal tônica e o vocábulo seguinte começa com vogal ou ditongo tônicos, normalmente se respeita o hiato interverbal: ali há, lá houve, li ontem.

Se a vogal final é tônica e o vocábulo seguinte começa por vogal ou ditongo átonos, proferimos normalmente o hiato; mas pode ocorrer, muitas vezes, a ditongação se a vogal átona for i ou e ou u ou o:

segui aquela; já ouvi, lá ironizei, vê umedecer.

Observação: Evita-se a ditongação quando daí resultar uma sequência de sílabas tônicas: boné usado, lá iremos.

Se a vogal final é átona e o vocábulo seguinte começa por vogal tônica, normalmente se respeita o hiato: essa hora, terreno árido.

Neste caso pode ainda ocorrer a fusão (crase) das duas vogais se forem idênticas (essa fusão produz certo alongamento da vogal indicada aqui pelo mácron ¯ ), ou a ditongação, se a vogal átona final for i, e ou u, o:

terra árida: ter / ra / á / rida          ou           ter / rā / ri / da

esse ano: es / se / a / no                 ou           es / sea / no.

Observação: Chama-se crase a fusão de dois ou mais sons iguais num só.

Se a vogal final e a inicial do vocábulo seguinte são átonas, pode ocorrer hiato, ditongo, crase ou elisão.

Observação: Elisão é o desaparecimento de uma vogal final átona em virtude do contato com a vogal inicial do vocábulo seguinte.

 

1) haverá hiato, fusão ou elisão se a vogal átona final for a e a inicial for a ou ã:

 

15.jpg

 

2) haverá hiato ou elisão se a vogal átona final for a e a vogal inicial e, , o, õ:

 

16.jpg

 

3) haverá hiato, ditongo ou elisão se a vogal átona final for a e a inicial i (e), ĩ (), u (o), ũ (õ):

 

17.jpg

 

4) haverá hiato ou ditongo se a vogal átona final for i (e) e a inicial qualquer uma, exceto i (e):

 

18.jpg

 

5) haverá hiato, crase ou elisão se a vogal átona final for i (e) e a inicial i (e) ou ĩ ():

 

19.jpg

 

6) haverá hiato, ditongo ou elisão se a vogal átona final for u (o u):

 

20.jpg

 

7) haverá hiato, crase ou elisão se a vogal final for u (o) e a inicial u:

 

21.jpg

 

Observações:

1.ª) Ocorrem os fenômenos acima apontados com os vocábulos iniciados por ditongos decrescentes, por iniciar por vogal. Em vez de ditongo, teremos tritongo:

 

22.jpg

 

2.ª) A preposição para pode reduzir-se a pra (e não p’ra), hoje usada até entre literatos. Esta forma, quando seguida do artigo o, a, os, as e com ele combinada, é grafada, respectivamente, pro, pra (para a), pros, pras.

3.ª) Pelo se reduz a plo (mais comum em Portugal), forma que, combinada com o artigo ou pronome o, a, os, as, é grafada plo, pla, plos, plas. Entre portugueses ouve-se ainda pro e pros com o aberto.

4.ª) A preposição com pode ter a nasalidade enfraquecida e combinar-se com o, a, os, as, dando origem às formas co, ca, cos, cas, empregadas mais com frequência na linguagem familiar e vulgar, de Portugal. É o que se chama ectlipse.

b) Consoante final de vocábulo com fonema inicial de vocábulo

A consoante final de uma palavra seguida de vogal inicial (ou semivogal), sem pausa intermediária, deve ser proferida como se fosse intervocálica, isto é, liga-se a uma vogal obedecendo às normas já estabelecidas:

De um sentiraventurado

É talveza voz mimosa

Gentilinfante, engraçado

Que dáshonra e valor

A consoante final b (em sob, por exemplo) seguida de outra consoante inicial deve ser proferida sem aparecimento de um i ou e intermédio:

Sob luzes desperança

Sob fúria

Se o vocábulo seguinte começa por vogal (ou semivogal), pode o b final ligar-se silabicamente a ela ou direta ou com apoio de i ou e (reduzido), o que é mais comum entre nós.

Sob os céus (so-bos-céus ou so-bios-céus).

Quando a consoante que termina o vocábulo é igual à que inicia o vocábulo seguinte (o que ocorre com l ou r), ouvem-se os dois fonemas:

Incrível lábia (in-cri-vel-lá-bia)

Temor repentino (te-mor-re-pen-ti-no).

O s final soa aproximadamente como se fora /j/, mas sem exagero, em ligação com vocábulo iniciado por b, d, g, j, l, m, n, r, v e z, ouvindo-se os dois fonemas:

Os braços, os dedos, as gengivas, dois jeitos, as luzes, os meninos, as nuvens, os ratos, os ventos, os zumbidos.

O s final soa aproximadamente como se fora /x/, mas sem exagero, em ligação com vocábulo iniciado por c, f, p, q, s, t, x e ch, ouvindo-se os dois fonemas:

três cadernos, os felizes, as pessoas, as queixas,

as secas, os tempos, os xaropes, os chás.

As consoantes x e z finais são tratadas como /s/ final, nas ligações:

faz medo (x = j), faz calor (z = x).

O n final de vocábulos, como cânon, íon, cíclotron, deve ser proferido sem nasalizar fortemente a vogal anterior, conforme vimos; nas ligações com outro vocábulo, guarda este valor quando é seguido de consoante: cânon bíblico.

Seguido de vogal (ou semivogal) liga-se silabicamente a esta, como se fosse inicial de sílaba; cânon antigo.

O m final de bem-aventurado, bem-amado e semelhantes nasaliza a vogal anterior, não se ligando à seguinte, como se fosse inicial de sílaba.

Quando o indefinido ou numeral uma é seguido de vocábulo começado por m não se deve proferir o m, soando, portanto, ũa, forma com que, às vezes, aparece grafado (evite-se a forma u’a):

uma mensagem, uma mão.

 

Ortografia e Ortoépia

Ortografia e Ortoépia – Certos hábitos de grafia tendentes a preservar letras gregas e latinas que não constituem fonemas em português acabaram levando a que tais letras passassem a ser erradamente proferidas. Já vimos o caso do dígrafo sc de nascer, piscina, etc. É o que ocorre também com o latim phlegma que passou ao português fleuma, fleima. Por motivo etimológico, persistem as grafias errôneas fleugma, fleugmático, onde o g não deve ser proferido, mas o é por influência da grafia.

Outras más soluções do sistema gráfico favorecem erros de pronúncia, como ocorre com sublinhar (b-li), abrogar, abrupto, que já se ouvem como se aí houvesse grupo consonantal: su - bli - nhar.

C) Prosódia

Prosódia é a parte da fonética que trata da correta acentuação e entonação dos fonemas.

A preocupação maior da prosódia é o conhecimento da sílaba predominante, chamada tônica.

 

Sílaba

Sílaba – É um fonema ou grupo de fonemas emitido num só impulso expiratório.

Em português, o elemento essencial da sílaba é a vogal.

Quanto à sua constituição, a sílaba pode ser simples ou composta, e esta última aberta (ou livre) ou fechada (ou travada).

Diz-se que a sílaba é simples quando é constituída apenas por uma vogal: e, , ah!

Sílaba composta é a que encerra mais de um fonema: ar (vogal + consoante), lei (consoante + vogal + semivogal), vi (consoante + vogal), ou (vogal + semivogal), mas (consoante + vogal + consoante).

A sílaba composta é aberta (ou livre) se termina em vogal: vi; é fechada (ou travada) em caso contrário, incluindo-se a vogal nasal, porque a nasalidade vale por um travamento de sílaba: ar, lei, ou, mas, um.

Quanto ao número de sílabas, dividem-se os vocábulos em:

a) monossílabos (se têm uma sílaba): é, , mar, de, ;

b) dissílabos (se têm duas sílabas): casa, amor, darás, você;

c) trissílabos (se têm três sílabas): cadeira, átomo, rápido, cômodo;

d) polissílabos (se têm mais de três sílabas): fonética, satisfeito, camaradagem, incovenientemente.

Quanto à posição, a sílaba pode ser inicial, medial e final, conforme apareça no início, no interior ou no final do vocábulo:

fo

/

/

ti

/

ca

inicial

 

medial

 

medial

 

final

 

Quantidade

Quantidade – É a duração da vogal e da consoante. Distinguem-se as vogais e consoantes breves (se a pronúncia é rápida) das vogais e consoantes longas (se a pronúncia é demorada). Assinalamos a vogal breve com o sinal ( ˘ ) que se denomina braquia ou bráquia, e a vogal longa com o sinal ( ¯ ) chamado mácron: ă (a breve), ā (a longo).

Há língua em que a quantidade desempenha importante papel, para distinguir vocábulos e formas gramaticais, como em latim, em inglês ou alemão. Em latim, rosă (com a breve) não tem a mesma aplicação gramatical de rosā (com a longo), distinguindo-se, pela quantidade, o nominativo do ablativo, por exemplo. “Em inglês xĭp e xīp (que se escrevem ship e sheep) significam, respectivamente, navio e carneiro” [SA.2, 15]. Em latim, ŏs (com o breve) significa ‘osso’; com o longo, ōs significa ‘boca’.

Em português, a quantidade é pouco sentida e não exerce notável papel na caracterização e distinção dos vocábulos e formas gramaticais. Em geral, são mais rápidas as vogais seguidas de consoante surda (lato / lado) ou de r vibrante múltipla (carro / caro). Só excepcionalmente alongamos vogais e consoantes, como recursos estilísticos para imprimir ênfase, e constitui um dos grandes auxiliares da oratória:

“Se pudéssemos, nós que temos experiência da vida, abrir os olhos dessas mariposinhas tontas ... Mas é inútil. Encasqueta-se-lhes na cabeça que o amor, o amoor, o amooor é tudo na vida, e adeus” [ML.1, 147].

BARbaridade!

 

Acentuação

Acentuação – é o modo de proferir um som ou grupo de sons com mais relevo do que outros.

Este relevo se denomina acento. Diz-se que o acento é de intensidade (acento de força, acento dinâmico, acento expiratório ou icto), quando o relevo consiste no maior esforço expiratório. Diz-se que o acento é musical (acento de altura ou tom), quando o relevo consiste na elevação ou maior altura da voz.

O português e as demais línguas românicas, o inglês, o alemão, são línguas de acento de intensidade; o latim e o grego, por outro lado, possuem acento musical.

O acento de intensidade se manifesta no vocábulo considerado isoladamente (acento vocabular) ou ligado na enunciação da frase (acento frásico).

 

Acento de intensidade

Acento de intensidade – Numa palavra nem todas as sílabas são proferidas com a mesma intensidade e clareza. Em sólida, barro, poderoso, material, há uma sílaba que se sobressai às demais por ser proferida com mais esforço muscular e mais nitidez e, por isso, se chama tônica: lida, barro, poderoso, material. As outras sílabas se dizem átonas e podem estar antes (pretônicas) ou depois (postônicas) da tônica:

po

de

ro

so

átona

 

átona

 

tônica

 

átona

pretônica

 

pretônica

 

 

 

postônica

Dizemos que nas sílabas fortes repousa o acento tônico do vocábulo (acento da palavra ou acento vocabular).

Existem ainda as sílabas semifortes chamadas subtônicas que, por questões rítmicas, compensam o seu afastamento da sílaba, tônica, fazendo que se desenvolva um acento de menor intensidade – acento secundário. Delas nos ocuparemos mais adiante.

 

Posição do acento tônico

Posição do acento tônico – Em português, quanto à posição do acento tônico, os vocábulos de duas ou mais sílabas podem ser:

a) oxítonos: o acento tônico recai na última sílaba: material, principal, ca;

b) paroxítonos: o acento recai na penúltima sílaba: barro, poderoso, Pedro;

c) proparoxítonos: o acento tônico recai na antepenúltima sílaba: lida, felissimo.

Observações: Em estudávamo-lo, o acento tônico aparece na pré-antepenúltima sílaba, porque os monossílabos átonos formam um todo com o vocábulo a que se ligam foneticamente. É por isso que -lo é paroxítono e admiras-te, proparoxítono.

Em português, geralmente a sílaba tônica coincide com a sílaba tônica da palavra latina de que se origina.

Há vocábulos, como os que vimos até agora, que têm individualidade fonética e, portanto, acento próprio, ao lado de outros sem essa individualidade. Ao serem proferidos acostam-se ou ao vocábulo que vem antes ou ao que os segue. Por isso, são chamados clíticos (que se inclinam), e serão proclíticos se se inclinam para o vocábulo seguinte (o homem, eu sei, vai ver, mar alto, não viu) ou enclíticos, se para o vocábulo anterior (vejo-me, dou-a, fiz-lhe).

Os clíticos são geralmente monossilábicos que, por não terem acento próprio, também se dizem átonos. Os monossilábicos de individualidade fonética se chamam tônicos.

Alguns dissílabos podem ser também clíticos ou átonos: para (reduzido a pra) ver, quero crer, quero porque quero.

A tonicidade ou atonicidade de monossílabos e de alguns dissílabos depende sempre do acento da frase.

 

Acento de intensidade e significado da palavra

Acento de intensidade e significado da palavra – O acento de intensidade desempenha importante papel linguístico, decisivo para a significação da palavra. Assim, sábia é adjetivo sinônimo de erudita; sabia é forma do pretérito imperfeito do indicativo do verbo saber; sabiá é substantivo designativo de conhecido pássaro.

 

Acento principal e acento secundário

Acento principal e acento secundário – Em rapidamente, a sílaba ra possui um acento de intensidade menos forte que o da sílaba men, e se ouve mais distintamente do que as átonas existentes nas palavras. Dizemos que a sílaba men contém o acento principal e ra o acento secundário da palavra. A sílaba em que recai o acento secundário chama-se, como vimos, subtônica.

Geralmente ocorre o acento secundário na sílaba radical dos vocábulos polissilábicos derivados, cujos primitivos possuam acento principal: pido – rapidamente. Há de se prestar atenção em certos enganos de pronúncia de vocábulos com acento secundário: por exemplo, respeita-se o hiato de tardiamente, e não se acentue fortemente a sílaba inicial: tárdiamente.

 

Acento de insistência e emocional

Acento de insistência e emocional – O português também faz emprego do acento de intensidade para obter, com o chamado acento de insistência, notáveis efeitos. Entra em jogo ainda a quantidade da vogal e da consoante, pois, quando se quer enfatizar uma palavra, insiste-se mais demoradamente na sílaba tônica. Os escritores costumam indicar na grafia este alongamento enfático repetindo a vogal da sílaba tônica:

“Os dois garotos, porém, esperneiam com a mudança de mãe:

Mentira!... Mentiiiiira!... Mentiiiiiiiiiira! – berra cada um para seu    lado” [HC.1, 32].

“encasqueta-se-lhes na cabeça que o amor, o amoor, o amooor é tudo na vida e adeus” [ML.1, 147].

O acento de insistência pode cair noutra sílaba, diferente da tônica:

maravilhosa, formidável, inteligente, miserável.

Como bem acentua Roudet, a causa essencial do fenômeno do recuo do acento “parece ser a falta de sincronismo entre a emoção e sua expressão através da linguagem. A emoção se adianta à palavra e reforça a voz desde que as condições fonéticas o permitem” [LR.1, 252].

Este acento de insistência não tem apenas caráter emocional; adquire valor intelectual e ocorre ainda para ressaltar uma distinção, principalmente com palavras derivadas por prefixação ou expressões com preposições de sentidos opostos.

São fatos subjetivos e não objetivos.

Os problemas de importação e de exportação.

com dinheiro ou sem dinheiro.

Diz Bally que a entoação expressiva e a mímica são para quem fala um permanente comentário de suas palavras.

 

Acento de intensidade na frase

Acento de intensidade na frase – Isoladas, as palavras regulam sua sílaba tônica pela etimologia, isto é, pela sua origem; mas, na sucessão de vocábulos, deixa de prevalecer o acento da palavra para entrar em cena o acento da frase ou frásico, pertencente a cada grupo de força.

Chama-se grupo de força à sucessão de dois ou mais vocábulos que constituem um conjunto fonético subordinado a um acento tônico predominante: A casa de Pedro / é muito grande. Notamos aqui, naturalmente, dois grupos de força que se acham indicados por barra. No primeiro, as palavras a e de se incorporam a casa e Pedro, ficando o conjunto subordinado a um acento principal na sílaba inicial de Pedro, e um acento secundário na sílaba inicial de casa. No segundo grupo de força, as palavras é e muito se incorporam foneticamente a grande, ficando o conjunto subordinado a um acento principal na sílaba inicial de grande e outro secundário, mais fraco, na sílaba inicial de muito.

É quase sempre fácil determinar a sílaba tônica de cada grupo de força; o difícil é precisar, em certos casos, o ponto de divisão entre dois grupos sucessivos [NT.1, 29, n.1].

A distribuição dos grupos de força e a alternância de sílabas proferidas mais rápidas ou mais demoradas, mais fracas ou mais fortes, conforme o que temos em mente expressar, determinam certa cadência do contexto à qual chamamos ritmo. Prosa e verso possuem ritmo. No verso, o ritmo é essencial e específico; na prosa, apresenta-se livre, variando pela iniciativa de quem fala ou escreve12.

 

Vocábulos tônicos e átonos: os clíticos

Vocábulos tônicos e átonos: os clíticos – Nestes grupos de força certos vocábulos perdem seu acento próprio para unir-se a outro que os segue ou que os precede. Dizemos que tais vocábulos são clíticos (que se inclinam) ou átonos (porque se acham destituídos de seu acento vocabular). Aquele vocábulo que, no grupo de força, mantém sua individualidade fonética é chamado tônico. Ao conjunto se dá o nome de vocábulo fonético: o rei /urrey/; deve estar /devistar/.

Os clíticos se dizem proclíticos se precedem o vocábulo tônico a que se incorporam para constituir o grupo de força:

orei // eledisse // bomlivro // deveestar

Dizem enclíticos se vêm depois do vocábulo tônico:

disse-me // ei-lo // falar-lhe

Em português são geralmente átonas e proclíticas as seguintes classes de palavras:

1) artigos (definidos ou indefinidos, combinados ou não com preposição): o homem // um homem // do livro.

2) certos numerais: um livro // três velas // cem homens.

3) pronomes adjuntos antepostos (demonstrativos, possessivos, indefinidos, interrogativos): este livro // meu livro // cada dia // que fazer?

4) pronomes pessoais antepostos: ele vem // eu disse.

5) pronomes relativos;

6) verbos auxiliares;

7) certos advérbios: já vi, não posso, etc.

8) certas preposições: a, de, em, com, por, sem, sob, para

9) certas conjunções: e, nem, ou, mas, que, se, como, etc.

São enclíticas as formas pronominais me, te, se, nos, vos, o, a, os, as, lhe, lhes, quando pospostas ao vocábulo tônico.

Muitas vezes, uma palavra pode ser átona ou tônica, conforme sua posição no grupo de força a que pertence. Em o arco desaparece, o substantivo arco é tônico; em o arco-íris13, passou a átono proclítico.

Em grande homem, alto mar, os adjetivos são átonos; em homem grande, mar alto, já são os substantivos que se atonizam. Em eu lhe disse, os dois pronomes pessoais são átonos proclíticos; em disse-lhe eu, o pronome eu conserva seu acento próprio. Todo este conjunto de fatos são devidos a fenômenos de fonética sintática.

 

Consequência da próclise

Consequência da próclise – Os vocábulos átonos proclíticos, perdendo seu acento próprio para se subordinarem ao do tônico, seguinte, resistem menos à pressa com que são proferidos, e acabam por sofrer reduções no seu volume fonético. Dentre os numerosos exemplos de próclise lembraremos aqui:

a) a passagem de hiato a ditongo, em virtude de uma vogal passar a semivogal (sinérese):

Tuas, normalmente dissilábico, tem de ser proferido com uma sílaba nos seguintes versos de Gonçalves Dias, graças à próclise:

“E à noite, quando o céu é puro e limpo,

Teu chão tinges de azul, – tuas ondas correm.”

Boa (ou boas), em próclise, transforma a vogal o em semivogal, que chega, na língua popular, a desaparecer:

“Outros suas terras em boa paz regeram

Armando-as com boas leis, e bons preceitos.” [AF.1]

bas noite nhozinho.” [L. Cardoso] 14

b) o desaparecimento da vogal da primeira sílaba de um dissílabo; para > pra: Isto é pra mim.

c) o desaparecimento da sílaba final de um dissílabo:

1) santo > são (diante dos nomes começados por consoante): São Paulo, São Pedro;

2) cento > cem: cem páginas;

3) grande > grã, grão: grã-Bretanha, grão-vizir;

4) tanto > tão: tão grande;

5) quanto > quão: quão belo

d) outras reduções como senhor > seu: seu João.

 

Palavras que oferecem dúvidas quanto à posição da sílaba tônica

Palavras que oferecem dúvidas quanto à posição da sílaba tônicaSilabada é o erro de prosódia que consiste na deslocação do acento tônico de uma palavra. Ignorar qual é a sílaba tônica de uma palavra, diz Gonçalves Viana, é ficar na impossibilidade de proferi-la.

Numerosas palavras existem que oferecem dúvidas quanto à posição da sílaba tônica.

São oxítonas:

aloés, cateter, Cister, harém, Gibraltar, Gulbenkian, masseter, faz-se mister (= necessário), Nobel, novel, recém, refém, ruim, sutil, ureter.

São paroxítonas:

acórdão, âmbar, ambrosia, avaro, aziago, barbaria, cânon, caracteres, cartomancia, ciclope, edito (lei, decreto), Epifania 15, exegese, filantropo, fluido (ui ditongo), fortuito (ui ditongo), gratuito (ui ditongo), ibero, impio (cruel), inaudito, látex, maquinaria, misantropo, necropsia, Normandia, onagro (tb. ônagro), oximoro (tb. oximóron), Pandora, Pólux, pudico, quiromancia, simulacro.

 

São proparoxítonas (incluindo-se os vocábulos terminados por ditongo crescente):

aeródromo, aerólito, álcali, álcool, alcoólatra, alibi (lat.), alvíssaras, âmago, amálgama, ambrósia, anátema, andrógino, antídoto, arquétipo, autóctone, barbárie, boêmia, brâmane, cáfila, condômino, crisântemo, década, díptero, écloga, édito (ordem judicial), Éfeso, êmbolo, epíteto, épsilon, escâncaras (às), êxodo, fac-símile, fíbula, idólatra, ímpio (sem fé), ímprobo, ínclito, iníquo, ínterim, máxime ou maxime (lat.), ômega, Pégaso, Péricles, Ésquilo, périplo, plêiade (-a), protótipo, Tâmisa, trânsfuga, vândalo.

 

Palavras que admitem dupla prosódia

Palavras que admitem dupla prosódia

acróbata ou acrobata; alópata ou alopata; ambrósia ou ambrosia; crisântemo ou crisantemo; hieróglifo ou hieroglifo; nefelíbata ou nefelibata; Oceânia ou Oceania; ortoépia ou ortoepia; projétil ou projetil; réptil ou reptil; reseda (ê) ou resedá; sóror ou soror; homília ou homilia; geodésia ou geodesia; zângão ou zangão.

D) Ortografia

Alfabeto

I – Alfabeto

1) O alfabeto português consta fundamentalmente de vinte e seis letras: a, b, c, d, e, f, g, h, i, j, k, l, m, n, o, p, q, r, s, t, u, v, w, x, y, z.

 

K, W, Y

II – K, W, Y

2) Empregam-se em abreviaturas e símbolos, bem como em palavras estrangeiras de uso internacional: K = potássio; Kr = criptônio; kg = quilograma; km = quilômetro; kw = quilowatt; kwh = quilowatt-hora; W = oeste ou wolfrâmio (tungstênio); w = watt; ws = watt-segundo; Y = ítrio; yd = jarda (yard, inglês), etc.

3) Os derivados portugueses de nomes próprios estrangeiros devem escrever-se de acordo com as formas primitivas: frankliniano, kantismo, darwinismo, wagneriano, zwinglianista, byroniano, taylorista, etc.

4) O k é substituído por qu antes de e e i e por c antes de outra qualquer letra: breque, caqui, faquir, níquel, caulim, etc.

5) O w substitui-se, em palavras portuguesas ou aportuguesadas, por u ou v, conforme o seu valor fonético: sanduíche, talvegue, visigodo, etc.

6) O k é uma consoante, tal como o c antes de a, o, u e o dígrafo qu de quero. O w é uma vogal ou semivogal pronunciado como /u/ em palavras de origem inglesa: watt-hora, whisky, waffle, Wallace, show. E é consoante como o nosso /v/ em palavras de origem alemã: Walter, Wagner, wagneriano. No nome do célebre naturalista inglês Darwin soa como /v/, pronúncia mais geral, ou como /u/. O y é um som vocálico pronunciado como /i/ com função de vogal ou semivogal: yacht (= certo tipo de embarcação), yard (= jarda), yaki-mono (= cerâmica japonesa), yen (= unidade monetária, e moeda, do Japão), yenita (= certo mineral).

 

H

III – H

7) Esta letra não é propriamente consoante, mas um símbolo que, em razão da etimologia e da tradição escrita do nosso idioma, se conserva no princípio de várias palavras no fim de algumas interjeições: haver, hélice, hidrogênio, hóstia, humildade; hã!, hem?, puh!, ah!, ih!, oh!, etc.

Observação: Não se escreve com h final a interjeição de chamamento ou apelo ó: Ó José, vem aqui!; Ó Laura, pare com isso!

8) No interior do vocábulo, só se emprega em dois casos: quando faz parte do ch, do lh e do nh, que representam fonemas palatais, e nos compostos em que o segundo elemento, com h inicial etimológico, se une ao primeiro por meio do hífen: chave, malho, rebanho, anti-higiênico, contra-haste, pré-histórico, sobre-humano, etc.

Observações: a) Nos compostos sem hífen, elimina-se o h do segundo elemento: anarmônico, coabitar, coonestar, desarmonia, exausto, inabilitar, lobisomem, reaver, etc. b) Nos casos em que não houver perda do som da vogal final do 1.º elemento, e o elemento seguinte começar com h, serão usadas as duas formas gráficas: bi-hebdomadário e biebdomadário; carbo-hidrato e carboidrato; zoo-hematina e zooematina; geo-história e geoistória. Já quando houver perda do som da vogal final do 1.º elemento, consideraremos que a grafia consagrada deve ser mantida: cloridrato, cloridria, clorídrico, quinidrona, sulfidrila, xilarmônica, xilarmônico. Devem ficar como estão as palavras que já são de uso consagrado, como reidratar, reumanizar, reabituar, reabitar, reabilitar e reaver.

9) No futuro do indicativo e no condicional, não se usa o h no último elemento, quando há pronome intercalado: amá-lo-ei, dir-se-ia, etc.

10) Quando a etimologia o não justifica, não se emprega: arpejo (substantivo), ombro, ontem, etc. E mesmo que o justifique, não se escreve no fim de substantivos nem no começo de alguns vocábulos que o uso consagrou sem este símbolo, andorinha, erva, felá, inverno, etc.

11) Não se escreve h depois de c (salvo o disposto no n.º 8) nem depois de p, r e t: o ph é substituído por f, o ch (gutural) por qu antes de e ou i e por c antes de outra qualquer letra: corografia, cristão; querubim, química; farmácia, fósforo; retórica, ruibarbo; teatro, turíbulo, etc.

 

Consoantes mudas

IV – Consoantes mudas

12) Não se escrevem as consoantes que se não proferem: asma, assinatura, ciência, diretor, ginásio, inibir, inovação, ofício, e não asthma, assignatura, sciencia, director, gymnasio, inhibir, innovação, officio. E conservam-se as consoantes nos casos em que são invariavelmente proferidas nas pronúncias cultas da língua: compacto, convicção, ficção; adepto, apto, etc.

Observação: Escreve-se, porém, o s em palavras como descer, florescer, nascer, etc., e o x em vocábulos como exceto, excerto, etc., apesar de nem sempre se pronunciarem essas consoantes.

13) Em sendo mudo o p no grupo mpc ou mpt, escreve-se nc ou nt: assuncionista, assunto, presunção, prontificar, etc.

14) Em vocábulos cujas consoantes facultativamente se pronunciam, escreve-se preferencialmente o de uso mais generalizado. Assim, serão consignados, além de outros, estes: aspecto e aspeto, característico e caraterístico, circunspecto e circunspeto, contacto e contato, corrupção e corrução, corruptela e corrutela, dactilografia e datilografia, expectativa e expetativa, optimismo e otimismo, respectivo e respetivo, secção e seção, sinóptico e sinótico, sumptuoso e suntuoso, tacto e tato. Escreve-se Egito, mas egípcio, por ser neste último pronuciado o p.

 

SC

V – SC

15) Elimina-se o s do grupo inicial sc: cena, cenografia, ciência, etc.

16) Os compostos dessa classe de vocábulos, quando são formados em nossa língua, são escritos sem o s antes do c: anticientífico, contracenar, encenação, etc.; mas, quando vieram já formados para o vernáculo, conservam o s: consciência, cônscio, imprescindível, prescindir, rescindir, rescisão, etc.

 

Letras dobradas

VI – Letras dobradas

17) Escrevem-se rr e ss quando, entre vogais, representam os sons simples do r e s iniciais; e cc ou quando o primeiro soa distintamente do segundo: carro, farra, massa, passo; convicção, occipital, etc.

18) Duplicam-se o r e o s todas as vezes que a um elemento de composição terminado em vogal se segue, sem interposição do hífen, palavra começada por uma daquelas letras: arritmia, corréu, prerrogativa, pressentir, ressentimento, sacrossanto, etc.

 

Vogais nasais

VII – Vogais nasais

19) As vogais nasais são representadas no fim dos vocábulos por ã (ãs), im (ins), om (ons), um (uns): afã, cãs, flautim, folhetins, semitom, tons, tutum, zum-zuns, etc.

20) O ã pode figurar na sílaba tônica, pretônica ou átona: ãatá, cristãmente, irmãmente, maçã, manhãzinha, órfã, romãzeira, etc.

21) Quando aquelas vogais são iniciais ou mediais, a nasalidade é expressa por m antes do b e p, e por n antes de outra qualquer consoante: ambos, campo; contudo, enfim, enquanto, homenzinho, nuvenzinha, vintenzinho, etc.

 

Ditongos

VIII – Ditongos

22) Os ditongos orais escrevem-se com a subjuntiva i ou u: aipo, cai, cauto, degraus, dei, fazeis, ideia, mausoléu, neurose, retorquiu, rói, sois, sou, souto, uivo, usufrui, etc.

Observação: Escrevem-se com i, e não com e, a forma verbal fui, a 2.ª e 3.ª pess. do sing. do pres. do ind. e a 2.ª do sing. do imper. dos verbos terminados em uir: aflui, fruis, retribuis, etc.

23) O ditongo ou alterna, em numerosos vocábulos, com oi: balouçar e baloiçar, calouro e caloiro, dourar e doirar, etc. Escreve-se, preferencialmente, o de uso mais generalizado.

24) Escrevem-se assim os ditongos nasais: ãe, ãi, ão, am, em, en(s), õe, ui (proferido ũi): mãe, pães, cãibra, acórdão, irmão, leãozinho, amam, bem, bens, devem, põe, repões, muito, etc.

Observações:

a) Dispensa-se o til do ditongo nasal ui em mui e muito.

b) Com o ditongo nasal ão se escrevem os monossílabos, tônicos ou não, e os polissílabos oxítonos: cão, dão, não, quão; então, irmão, viverão, etc.

c) Também se escrevem com o ditongo ão os substantivos e adjetivos paroxítonos, acentuando-se, porém, a sílaba tônica: órfão, órgão, sótão, etc.

d) Nas formas verbais anoxítonas se escreve am: amaram, deveram, partiram, etc.

e) Com o ditongo nasal ãe se escrevem os vocábulos oxítonos e os seus derivados; e os anoxítonos primitivos grafam-se com o ditongo ãi: capitães, mães, pãezinhos; cãibo, zãibo, etc.

f) O ditongo nasal e)i(s) escreve-se em ou en(s) assim nos monossílabos como nos polissílabos de qualquer categoria gramatical: bem, convém, convéns, virgem, virgens, etc.

25) Os encontros vocálicos átonos e finais que podem ser pronunciados como ditongos crescentes escrevem-se da seguinte forma: ea (áurea), eo (cetáceo), ia (colônia), ie (espécie), io (exímio), oa (nódoa), ua (contínua), ue (tênue), uo (tríduo), etc.

 

Hiatos

IX – Hiatos

26) A 1.ª, 2.ª, 3.ª pess. do sing. do pres. do subj. e a 3.ª pess. do sing. do imper. dos verbos em oar escrevem-se com oe e não oi: abençoe, amaldiçoes, perdoe, etc.

27) As três pessoas do sing. do pres. do subj. e a 3.ª do sing. do imper. dos verbos em uar escrevem-se com eu, e não ui: cultue, habitues, etc.

 

Parônimos e vocábulos de grafia dupla

X – Parônimos e vocábulos de grafia dupla

28) Deve-se fazer a mais rigorosa distinção entre os vocábulos parônimos e os de grafia dupla que se escrevem com e ou com i, com o ou com u, com c ou q, com ch ou x, com g ou j, com s, ss ou c, ç, com s ou x, com s ou z, e com os diversos valores do x:

1.°) com i ou com e: acriano, camoniano, torriense (em vez das antigas acreano, camoneano, torreense); coreano, daomeano, guineense.

2.°) com o ou com u: frágua, lugar, mágoa, manuelino, polir, tribo, urdir, veio (verbo ou substantivo), etc.

3.°) com c ou q: quatorze (seguido de catorze), cinquenta, quociente (seguido do cociente), etc.

4.°) com ch ou x: anexim, bucha, charque, chimarrão, faxina, flecha, tachar (= notar; censurar), taxar (= determinar a taxa; regular), etc.

5.°) com g ou j: estrangeiro, jenipapo, genitivo, gíria, jeira, jeito, jiboia, jirau, laranjeira, lojista, majestade, viagem (s.f.), viajem (do verbo viajar), etc.

6.°) com s, ss ou c, ç: ânsia, anticéptico, boça (= cabo de navio), bossa (= protuberância; aptidão), bolçar (= vomitar), bolsar (= fazer bolsos), caçula, censual (= relativo a censo), sensual (= lascivo), etc.

Observação: Não se emprega ç em início de palavras.

7.°) com s ou x: espectador (= testemunha), expectador (= pessoa tem esperança), experto (= perito; experimentado), esperto (= ativo; acordado), esplêndido, esplendor, extremoso, flux (= na locução a flux), justafluvial, justapor, misto, etc.

8.°) com s ou z: alazão, alcaçuz (= planta), alisar (= tornar liso), alizar (s.m.), anestesiar, autorizar, bazar, coliseu, comezinho, cortês, dissensão, empresa, esfuziar, esvaziamento, frenesi (seguido de frenesim), guizo (s.m.), irisar (= dar as cores do íris a), irizar (= atacar [o iriz] o cafezeiro), narcisar-se, obséquio, prioresa, rizotônico, sacerdotisa, tapiz, trânsito, xadrez, etc.

Observações:

a) É sonoro o s de obséquio e seus derivados, bem como o do prefixo trans, em se lhe seguindo vogal; quando, porém, a esse prefixo se segue palavra iniciada por s, só se escreve um, que se profere como se fora dobrado: obsequiar (ze), transoceânico (zo), transecular (se), transubstanciação (su); etc.

b) No final de sílaba átona, seja no interior, seja no fim do vocábulo, emprega-se o s em lugar do z: asteca, endes, mesquita, etc.

29) O x continua a escrever-se com os seus cinco valores, bem como nos casos em que pode ser mudo, como em exceto, excerto, etc. Tem, pois, o som de:

1.°) ch, no princípio e o no interior de muitas palavras: xerife, xícara, ameixa; enxoval, etc.

2.°) cs, no meio e no fim de várias palavras: anexo, látex, tórax, etc.

3.°) z, quando ocorre no prefixo exo, ou ex seguido de vogal: exame, êxito, êxodo, exosmose, exotérmico, etc.

4.°) ss: aproximar, auxiliar, máximo, proximidade, sintaxe, etc.

5.°) s final de sílaba: contexto, fênix, pretextar, sexto, textual, etc.

30) No final de sílabas iniciais e interiores se deve empregar o s em vez do x, quando não o precede a vogal e: justafluvial, justaposição, misto, sistino, etc.

31) Adotaremos a grafia que seja mais conforme à etimologia do vocábulo e à sua história, mas que esteja em harmonia com a prosódia geral dos brasileiros, nem sempre idêntica à lusitana. P.ex.: judô (no Br.) e judo (em Port.); metrô (no Br.) e metro (em Port.); pônei (no Br.) e pónei (em Port.).

 

Nomes próprios

XI – Nomes próprios

32) Os nomes próprios personativos, locativos e de qualquer natureza, sendo portugueses ou aportuguesados, estão sujeitos às mesmas regras estabelecidas para os nomes comuns.

33) Para salvaguardar direitos individuais, quem o quiser manterá em sua assinatura a forma consuetudinária. Poderá também ser mantida a grafia original de quaisquer firmas, sociedades, títulos e marcas que se achem inscritos em registro público.

Observação: Não sendo o próprio que assine o nome com a grafia e a acentuação do modo como foi registrado, a indicação do seu nome obedecerá às regras estabelecidas pelo sistema ortográfico vigente: Fundação Casa de Rui Barbosa (o notável jurista baiano assinava Ruy).

34) Os topônimos de origem estrangeira devem ser usados com as formas vernáculas de uso vulgar; e quando não têm formas vernáculas, transcrevem-se consoante as normas estatuídas pela Conferência de Geografia de 1926 que não contrariarem os princípios estabelecidos aqui.

35) Os topônimos de tradição histórica secular não sofrem alteração alguma na sua grafia, quando já esteja consagrada pelo consenso diuturno dos brasileiros. Sirva de exemplo o topônimo Bahia, que conservará esta forma quando se aplicar em referência ao Estado e à cidade que têm esse nome.

Observação: Os compostos e derivados desses topônimos obedecerão às normas gerais do vocabulário comum.

 

Acentuação gráfica

XII – Acentuação gráfica

Ver Regras de acentuação.

 

Apóstrofo

XIII – Apóstrofo

36) Limita-se o emprego do apóstrofo aos seguintes casos:

1.°) Indicar a supressão de uma letra ou letras no verso, por exigência da metrificação: c’roa, esp’rança, of’recer, ’star, etc.

2.°) Reproduzir certas pronúncias populares: ’tá, ’teve, etc.

3.°) Indicar a supressão da vogal, já consagrada pelo uso, em certas palavras compostas ligadas pela preposição de: copo-d’água (= planta, lanche), galinha-d’água, mãe-d’água, pau-d’água (= árvore, ébrio), etc.

Observação: Restringindo-se o emprego do apóstrofo a esses casos, cumpre não se use dele em nenhuma outra hipótese. Assim, não será empregado:

a) nas contrações das preposições de e em com artigos, adjetivos ou pronomes demonstrativos, indefinidos, pessoais e com alguns advérbios: dum, duma (a par de de um, de uma), num, numa (a par de em um, em uma); dalgum, dalguma (a par de de algum, de alguma); doutro, noutro (a par de de outro, em outro); dele, dela, nele, nela; deste, desta, neste, nesta, daquele, daquela, naquele, naquela; disto, nisto, daquilo, naquilo; daqui, daí, dacolá, donde, dantes, dentre; etc.

b) nas combinações dos pronomes pessoais; mo, ma, mos, mas, to, ta, tos, tas, lho, lha, lhos, lhas, no-lo, no-los, no-la, no-las, vo-lo, vo-la, vo-los, vo-las.

c) nas expressões vocabulares que se tornaram unidades fonéticas e semânticas: dessarte, destarte, homessa, tarrenego, tesconjuro, vivalma, etc.

d) nas expressões de uso constante e geral na linguagem vulgar: co, coa, ca, cos, cas, coas (= com o, com a, com os, com as), plo, pla, plos, plas (= pelo, pela, pelos, pelas), pra (= para), pro, pra, pros, pras (= para o, para a, para os, para as), etc.

 

Hífen

XIV – Hífen

37) Nos compostos

1.º) Emprega-se o hífen nos compostos sem elemento de ligação quando o 1.º termo, por extenso ou reduzido, está representado por forma substantiva, adjetiva, numeral ou verbal: ano-luz, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, joão-ninguém, médico-cirurgião, mesa-redonda, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, zé-povinho, afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, amor-perfeito, boa-fé, forma-piloto, uarda-noturno, luso-brasileiro, má-fé, mato-grossense, norte-americano, seu-vizinho (dedo anelar), social-democracia, sul-africano, verbo-nominal, primeiro-ministro, segunda-feira, conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva, vaga-lume, porta-aviões, porta-retrato.

Observações:

a) As formas empregadas adjetivamente do tipo afro-, anglo-, euro-, franco-, indo-, luso-, sino- e assemelhadas continuarão a ser grafadas sem hífen em empregos em que só há uma etnia: afrodescendente, anglofalante, anglomania, eurocêntrico, eurodeputado, lusofonia, sinologia, etc. Porém escreve-se com hífen quando houver mais de uma etnia: afro-brasileiro, anglo-saxão, euro-asiático, etc.

b) Com o passar do tempo, alguns compostos perderam a noção de composição, e passaram a se escrever aglutinadamente, como é o caso de: girassol, madressilva, pontapé, etc. Já se escrevem aglutinados: paraquedas, paraquedistas (e afins, paraquedismo, paraquedístico) e mandachuva.

Os outros compostos com a forma verbal para- seguirão sendo separados por hífen conforme a tradição lexicográfica: para-brisa(s), para-choque, para-lama(s), etc.

Os outros compostos com a forma verbal manda- seguirão sendo separados por hífen conforme a tradição lexicográfica: manda-lua, manda-tudo.

A tradição ortográfica também usa o hífen em outras combinações vocabulares: abaixo-assinado, assim-assim, ante-à-ré, ave-maria, salve-rainha.

Os compostos formados com elementos repetidos, com ou sem alternância vocálica ou consonântica, por serem compostos representados por formas substantivas sem elemento de ligação, ficarão: blá-blá-blá, lenga-lenga, reco-reco, tico-tico, zum-zum-zum, pingue-pongue, tique-taque, trouxe-mouxe, xique-xique (= chocalho; cf. xiquexique = planta), zás-trás, zigue-zague, etc. Os derivados, entretanto, não serão hifenados: lengalengar, ronronar, zunzunar, etc. Não se separam por hífen as palavras com sílaba reduplicativa oriundas da linguagem infantil: babá, titio, vovó, xixi, etc.

Serão escritos com hífen os compostos entre cujos elementos há o emprego do apóstrofo: cobra-d’água, mãe-d’água, mestre-d’armas, olho-d’água, etc.

2.º) Emprega-se o hífen nos compostos sem elemento de ligação quando o 1.º elemento está representado pelas formas além, aquém, recém, bem e sem: além-Atlântico, além-mar, aquém-Pireneus, recém-casado, recém-nascido, bem-estar, bem-humorado, bem-dito, bem-dizer, bem-vestido, bem-vindo, sem-cerimônia, sem-vergonha, sem-terra.

Observação: Em muitos compostos o advérbio bem aparece aglutinado ao segundo elemento, quer este tenha ou não vida à parte quando o significado dos termos é alterado: bendito (=abençoado), benfazejo, benfeito [subst.] (=benefício); cf. bem-feito [adj.] = feito com capricho, harmonioso, e bem-feito! [interj.], benfeitor, benquerença e afins: benfazer, benfeitoria, benquerer, benquisto, benquistar.

3.º) Emprega-se o hífen nos compostos sem elemento de ligação quando o 1.º elemento está representado pela forma mal e o 2.º elemento começa por vogal, h ou l: mal-afortunado, mal-entendido, mal-estar, mal-humorado, mal-informado, mal-limpo. Porém: malcriado, malgrado, malvisto, etc.

Observação: Mal com o significado de ‘doença’ grafa-se com hífen: mal-caduco (= epilepsia), mal-francês (= sífilis), desde que não haja elemento de ligação. Se houver, não se usará hífen: mal de Alzheimer.

4.º) Emprega-se o hífen nos nomes geográficos compostos pelas formas grã, grão, ou por forma verbal ou, ainda, naqueles ligados por artigo: Grã-Bretanha, Abre-Campo, Passa-Quatro, Quebra-Costas, Traga-Mouro, Baía de Todos-os-Santos, Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo, Trás-os-Montes.

Observações:

a) Os outros nomes geográficos compostos escrevem-se com os elementos separados, sem o hífen: América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta, etc. Os topônimos Guiné-Bissau e Timor-Leste são, contudo, exceções consagradas.

b) Serão hifenizados os adjetivos gentílicos (ou seja, adjetivos que se referem ao lugar onde se nasce) derivados de nomes geográficos compostos que contenham ou não elementos de ligação: belo-horizontino, mato-grossense-do-sul, juiz-forano, cruzeirense-do-sul, alto-rio-docense.

c) Escreve-se com hífen indo-chinês, quando se referir à Índia e à China, ou aos indianos e chineses, diferentemente de indochinês (sem hífen), que se refere à Indochina.

5.º) Emprega-se o hífen nos compostos que designam espécies botânicas (planta e fruto) e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento: abóbora-menina, andorinha-do-mar, andorinha-grande, bem-me-quer (mas malmequer), bem-te-vi, bênção-de-deus, cobra-capelo, couve-flor, dente-de-cão, erva-doce, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, feijão-verde, formiga-branca, joão-de-barro, lesma-de-conchinha.

Observação: Os compostos que designam espécies botânicas e zoológicas grafados com hífen pela norma acima não serão hifenizados quando tiverem aplicação diferente dessas espécies. Por exemplo: bola-de-neve (com hífen) com o significado de ‘arbusto europeu’, e bola de neve (sem hífen) significando ‘aquilo que toma vulto rapidamente’; bico-de-papagaio (com hífen) referindo-se à planta e bico de papagaio (sem hífen) com o significado de ‘nariz adunco’; mata-cobra (com hífen) referindo-se a inseto, e mata cobra (sem hífen) referindo-se a certo tipo de bastão; não-me-toques (com hífen) quando se refere a certas espécies de plantas, e não me toques (sem hífen) com o significado de ‘melindres’.

38) Nas locuções:

Não se emprega o hífen nas locuções, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa). Vale lembrar que, se na locução há algum elemento que já tenha hífen, será conservado este sinal: à trouxe-mouxe, cara de mamão-macho, bem-te-vi de igreja. Sirvam, pois, de exemplo de emprego sem hífen as seguintes locuções: a) Locuções substantivas: cão de guarda, fim de semana, fim de século, sala de jantar; b) Locuções adjetivas: cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho; c) Locuções pronominais: cada um, ele próprio, nós mesmos, quem quer que seja; d) Locuções adverbiais: à parte (diferentemente do substantivo aparte), à vontade, de mais (locução que se contrapõe a de menos; escreve-se junto demais quando é advérbio ou pronome), depois de amanhã, em cima, por isso; e) Locuções prepositivas: abaixo de, acerca de, acima de, a fim de, a par de, à parte de, apesar de, aquando de, debaixo de, enquanto a, por baixo de, por cima de, quanto a; f) Locuções conjuncionais: a fim de que, ao passo que, contanto que, logo que, visto que.

Observações:

a) Expressões com valor de substantivo, do tipo deus nos acuda, salve-se quem puder, um faz de contas, um disse me disse, um maria vai com as outras, bumba meu boi, tomara que caia, aqui del rei, devem ser grafadas sem hífen. Da mesma forma serão usadas sem hífen locuções como: à toa (adjetivo e advérbio), dia a dia (substantivo e advérbio), arco e flecha, calcanhar de aquiles, comum de dois, general de divisão, tão somente, ponto e vírgula.

b) Não se emprega o hífen nas locuções latinas usadas como tais, não substantivadas ou aportuguesadas: ab initio, ab ovo, ad immortalitatem, ad hoc, data venia, de cujus, carpe diem, causa mortis, habeas corpus, in octavo, pari passu, ex libris. Mas: o ex-libris, o habeas-corpus, in-oitavo, etc.

39) Nas sequências de palavras:

Emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares, tipo: a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade, a ponte Rio-Niterói, o percurso Lisboa-Coimbra-Porto, a ligação Angola-Moçambique e nas combinações históricas ou até mesmo ocasionais de topônimos, tipo: Áustria-Hungria, Alsácia-Lorena, Angola-Brasil, Tóquio-Rio de Janeiro, etc.

40) Nas formações com prefixos:

1.º) Emprega-se o hífen quando o 1.º elemento termina por vogal igual à que inicia o 2.º elemento: anti-infeccioso, anti-inflamatório, contra-almirante, eletro-ótica, entre-eixo, infra-axilar, micro-onda, neo-ortodoxo, semi-interno, sobre-elevar, sobre-estadia, supra-auricular.

Observações:

a) Incluem-se neste princípio geral todos os prefixos terminados por vogal: agro- (= terra), albi-, alfa-, ante-, anti-, ântero-, arqui-, áudio-, auto-, bi-, beta-, bio-, contra-, eletro-, euro-, ínfero-, infra-, íntero-, iso-, macro-, mega-, multi-, poli-, póstero-, pseudo-, súpero-, neuro-, orto-, sócio-, etc.

Então, se o 1º elemento terminar por vogal diferente daquela que inicia o 2º elemento, escreve-se junto, sem hífen: anteaurora, antiaéreo, aeroespacial, agroindustrial, autoajuda, autoaprendizagem, autoestrada, contraescritura, contraindicação, contraofensiva, extraescolar, extraoficial, extrauterino, hidroelétrico, infraestrutura, infraordem, intrauterino, neoafricano, neoimperialista, plurianual, protoariano, pseudoalucinação, pseudoepígrafe, retroalimentação, semiárido, sobreaquecer, socioeconômico, supraesofágico, supraocular, ultraelevado.

b) O encontro de vogais diferentes tem facilitado a supressão da vogal final do 1.º elemento ou da vogal inicial do 2.º: eletracústico, ao lado de eletroacústico, e arteriosclerose. Recomendamos que se evitem essas supressões, a não ser nos casos já correntes ou dicionarizados.

c) O encontro de vogais iguais tem facilitado o aparecimento de formas reais ou potencialmente possíveis com a fusão dessas vogais, do tipo de alfaglutinação, ao lado de alfa-aglutinação; ovadoblongo, ao lado de ovado-oblongo. Para atender à regra geral de hifenizar o encontro de vogais iguais, é preferível evitar estas fusões no uso corrente, a não ser nos casos em que elas se mostram naturais, e não forçadas, como ocorre em telespectador (e não tele-espectador), radiouvinte (e não rádio-ouvinte).

d) Nas formações com os prefixos co-, pro-, pre- e re-, estes unem-se ao segundo elemento, mesmo quando iniciado por o ou e: coabitar, coautor, coedição, coerdeiro, coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, coemitente, coenzima, cofator, cogerente, cogestão, coirmão; comandante, proativo, procônsul, propor, proembrião, proeminente; preeleito (ou pré-eleito), preembrião (ou pré-embrião), preeminência, preenchido, preesclerose (ou pré-esclerose), preestabelecer, preexistir; reedição, reedificar, reeducação, reelaborar, reeleição, reenovelar, reentrar, reescrita, refazer, remarcar.

2.º) Emprega-se o hífen quando o 1.º elemento termina por consoante igual à que inicia o 2.º elemento: ad-digital, inter-racial, sub-base, super-revista, etc.

Observação: Formas como abbevilliano, addisoniano, addisonismo, addisonista se prendem a nomes próprios estrangeiros: Abbeville, Addison.

3.º) Emprega-se o hífen quando o 1.º elemento termina acentuado graficamente, pós-, pré-, pró-: pós-graduação, pós-tônico; pré-datado, pré-escolar, pré-história, pré-natal, pré-requisito; pró-africano, pró-europeu.

Observação: Pode haver, em certos usos, alternância entre pre- e pré-, pos- e pós-; neste último caso, deve-se usar o hífen: preesclerótico ou pré-esclerótico, postônico ou pós-tônico.

4.º) Emprega-se o hífen quando o 1.º elemento termina por m ou n e o 2.º elemento começa por vogal, h, m ou n: circum-escolar, circum-hospitalar, circum-murado, circum-navegação, pan-africano, pan-americano, pan-harmônico, pan-hispânico, pan-mágico, pan-negritude.

5.º) Emprega-se o hífen quando o 1.º elemento é um dos prefixos ex- (anterioridade ou cessação), sota-, soto-, vice-, vizo-: ex-almirante, ex-diretor, ex-presidente, sota-almirante, sota-capitão, sota-vento, soto-almirante, soto-pôr (mas sobrepor), vice-presidente, vice-reitor, vizo-rei.

Observação: Vimos que o verbo pôr não perde o acento gráfico (para se distinguir da preposição por). E mesmo em formas compostas como soto-pôr, ele continuará acentuado.

6.º) Emprega-se o hífen quando o 1.º elemento termina por vogal, r ou b e o 2.º elemento se inicia por h: adeno-hipófise, abdômino-histerotomia, anti-herói, anti-hemorrágico, arqui-hipérbole, auto-hipnose, beta-hemolítico, bi-hidroquinona, bio-histórico, contra-haste, di-hibridismo, entre-hostil, foto-heliografia, geo-história, giga-hertz, hétero-hemorragia, hiper-hidrose, infra-hepático, inter-hemisférico, poli-hídrico, semi-histórico, sobre-humano, sub-hepático, sub-humano, super-homem, tri-hídrico.

Observações:

a) Nos casos em que não houver perda do som da vogal final do 1.º elemento, e o elemento seguinte começar com h, serão usadas as duas formas gráficas: carbo-hidrato e carboidrato; zoo-hematina e zooematina. Já quando houver perda do som da vogal final do 1.º elemento, consideraremos que a grafia consagrada deve ser mantida: cloridrato, cloridria, clorídrico, quinidrona, sulfidrila, xilarmônica, xilarmônico. Devem ficar como estão as palavras que, fugindo a este princípio, já são de uso consagrado, como reidratar, reumanizar, reabituar, reabitar, reabilitar e reaver.

b) Não se emprega o hífen com prefixos des- e in- quando o 2.º elemento perde o h inicial: desumano, inábil, inumano, etc.

c) Embora não tratado no Acordo, pode-se incluir neste caso o prefixo an- (p.ex.: anistórico, anepático, anidrido). Na sua forma reduzida a-, quando seguido de h, a tradição manda hifenizar e conservar o h (p.ex.: a-histórico, a-historicidade).

d) Não se emprega o hífen com as palavras não e quase com função prefixal: não agressão, não beligerante, não fumante; quase delito, quase equilíbrio, quase domicílio, etc.

e) Não há razão plausível que defenda a grafia biidroquinona ao lado de bi-iodeto, por este não ter h inicial. Foi o mesmo princípio que nos fez optar por poli-hídrico (em vez de poliídrico) e poli-hidrite (em vez de poliidrite).

7.º) Emprega-se o hífen quando o 1.º elemento termina por b (ab-, ob-, sob-, sub-) ou d (ad-) e o 2.º elemento começa por r: ab-rupto, ad-renal, ad-referendar, ob-rogar, sob-roda, sub-reitor, sub-reptício, sub-rogar.

Observação: Adrenalina, adrenalite e afins já são exceções consagradas pelo uso. Ab-rupto é preferível a abrupto.

8.º) Quando o 1.º elemento termina por vogal e o 2.º elemento começa por r ou s, não se usa hífen, e estas consoantes devem duplicar-se, prática já adotada, também em palavras deste tipo pertencentes aos domínios científico e técnico: antessala, antirreligioso, antissocial, autorregulamentação, biorritmo, biossatélite, contrarregra, contrassenha, cosseno, ele-trossiderurgia, extrarregular, infrassom, macrorregião, microssistema, minissaia, multissegmentado, neorromano, protossatélite, pseudossigla, semirrígido, sobressaia, suprarrenal, ultrassonografia.

41) Nas formações com sufixo

Emprega-se hífen apenas nas palavras terminadas por sufixos de origem tupi-guarani que representam formas adjetivas, como -açu (= grande), -guaçu (= grande), -mirim (= pequeno), quando o 1.º elemento termina por vogal acentuada graficamente ou quando a pronúncia exige a distinção gráfica dos dois elementos: amoré-guaçu, anajá-mirim, andá-açu, capim-açu, Ceará-Mirim.

42) O hífen nos casos de ênclise, mesóclise (tmese) e com o verbo haver

1.º) Emprega-se o hífen na ênclise e na mesóclise: amá-lo, dá-se, deixa-o, partir-lhe; amá-lo-ei, enviar-lhe-emos.

2.º) Não se emprega o hífen nas ligações da preposição de às formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver: hei de, hás de, hão de, etc.

Observações:

a) Embora estejam consagradas pelo uso as formas verbais quer e requer, dos verbos querer e requerer, ao lado de quere e requere, estas últimas formas conservam-se, no entanto, nos casos de ênclise: quere-o(s), requere-o(s).

Nestes contextos, as formas (legítimas, aliás) qué-lo e requé-lo são pouco usadas. Quere e requere são formas correntes entre portugueses; a primeira, a partir de 1904.

b) Usa-se também o hífen nas ligações de formas pronominais enclíticas ao advérbio eis (eis-me, ei-lo) e ainda nas combinações de formas pronominais do tipo no-lo (nos + o), no-las (nos + as), quando em próclise ao verbo (por exemplo: Esperamos que no-lo comprem).

 

O trema

XV – O trema

43) O trema não é usado em palavras portuguesas ou aportuguesadas, como: aguentar, anguiforme, arguir, bilíngue, lingueta, linguista, linguístico, cinquenta, equestre, frequentar, tranquilo, ubiquidade.

Observações:

a) O trema ocorre em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros que o possuem: hübneriano, de Hübner, mülleriano, de Müller, etc.

b) O trema poderá ser usado para indicar, quando for necessário, a pronúncia do u em vocabulários ortográficos e dicionários: lingueta (gü), líquido (qü ou qu), linguiça (gü), equidistante (qü ou qu).

c) Com o fim do trema em palavras portuguesas ou aportuguesadas, não houve modificação na pronúncia dessas palavras.

 

Acento grave

XVI – Acento grave

44) Emprega-se o acento grave nos casos de crase e aqueles indicados em Emprego do à acentuado.

1.º) Na contração da preposição a com as formas femininas do artigo o ou pronome demonstrativo o: à (de a+a), às (de a+as).

2.º) Na contração da preposição a com o a inicial dos demonstrativos aquele, aquela, aqueles, aquelas, e aquilo ou ainda da mesma preposição com compostos aqueloutro e suas flexões: àquele(s), àquela(s), àquilo, àqueloutro(s), àqueloutras(s).

3.º) Na contração da preposição a com os pronomes relativos a qual, as quais: à qual, às quais.

 

Supressão dos acentos em palavras derivadas

XVII – Supressão dos acentos em palavras derivadas

45) Ocorre:

1.º) Nos advérbios em -mente, oriundos de adjetivos com acento agudo ou circunflexo: avidamente (de ávido), debilmente (de débil), facilmente (de fácil),  habilmente (de hábil), lucidamente (de lúcido), mamente (de ), somente (de ); candidamente (de cândido), cortesmente (de cortês), portuguesamente (de português), romanticamente (de romântico).

2.º) Nas palavras que têm sufixos inciados por z e cujas formas de base apresentam vogal tônica com acento agudo ou circunflexo: aneizinhos (de anéis), avozinha (de avó), bebezito (de bebê), cafezada (de café), chapeuzinho (de chapéu), mazinha (de ), orfãozinho (de órfão); avozinho (de avô), bençãozinha (de bênção), lampadazita (de lâmpada), pessegozito (de pêssego).

 

Divisão silábica

XVIII – Divisão silábica

46) A divisão de qualquer vocábulo, assinalada pelo hífen, em regra se faz pela soletração, e não pelos seus elementos constitutivos segundo a etimologia.

47) Fundadas neste princípio geral, cumpre respeitar as seguintes normas:

1.º) A consoante inicial não seguida de vogal permanece na sílaba que a segue: cni-do-se, dze-ta, gno-ma, mne-mô-ni-ca, pneu-má-ti-co, etc.

2.º) No interior do vocábulo, sempre se conserva na sílaba que a precede a consoante não seguida de vogal: ab-di-car, ac-ne, ét-ni-co, nup-ci-al, ob-fir-mar, op-ção, sig-ma-tis-mo, sub-por, sub-ju-gar, etc.

3.º) Não se separam os elementos dos grupos consonânticos iniciais de sílabas nem os dos digramas ch, lh, nh: a-blu-ção, a-bra-sar, a-che-gar, fi-lho, ma-nhã, etc.

Observação: Nem sempre formam grupos articulados as consonâncias bl e br: nalguns casos o l e o r se pronunciam separadamente, e a isso se atenderá na partição do vocábulo; e as consoantes dl, a não ser no termo onomatopéico dlim, que exprime toque de campainha, proferem-se desligadamente, e na divisão silábica ficará o hífen entre essas duas letras. Ex.: sub-lin-gual, sub-rogar, ad-le-ga-ção, etc.

4.º) O sc no interior do vocábulo biparte-se, ficando o s numa sílaba, e o c na sílaba imediata: a-do-les-cen-te, des-cer, pres-cin-dir, res-ci-são, etc.

Observação: Forma sílaba com o prefixo antecedente o s que precede consoantes: abs-tra-ir, ads-cre-ver, ins-cri-ção, ins-pe-tor, ins-tru-ir, in-ters-tí-cio, pers-pi-caz, subs-cre-ver, subs-ta-be-le-cer, etc.

5.º) O s dos prefixos bis, cis, des, dis, trans e o x do prefixo ex não se separam quando a sílaba seguinte começa por consoante; mas, se principia por vogal, formam sílaba com esta e separam-se do elemento prefixal: bis-ne-to, cis-pla-ti-no, des-li-gar, dis-tra-ção, trans-por-tar, ex-tra-ir; bi-sa-vô, ci-san-di-no, de-ses-pe-rar, di-sen-té-ri-co, tran-sa-tlân-ti-co, e-xér-ci-to, etc.

6.º) As vogais idênticas e as letras cc, , rr e ss separam-se ficando uma na sílaba que as precede e outra na sílaba seguinte: ca-a-tin-ga, co-or-de-nar, in-te-lec-ção, oc-ci-pi-tal, pror-ro-gar, res-sur-gir, etc.

Observação: As vogais de hiatos, ainda que diferentes uma da outra, também se separam: a-ta-ú-de, ca-í-eis, ca-ir, du-e-lo, fi-el, flu-iu, fru-ir; gra-ú-na, je-su-í-ta, le-al, mi-ú-do, po-ei-ra, ra-i-nha, sa-ú-de, vi-ví-eis, vo-ar, etc.

7.º) Não se separam as vogais dos ditongos – crescentes e decrescentes – nem as dos tritongos: ai-ro-so, a-ni-mais, au-ro-ra, a-ve-ri-gueis, ca-iu, cru-éis, en-jei-tar, fo-ga-réu, fu-giu, gló-ria, guai-ar, i-guais, ja-mais, joi-as, ó-dio, quais, sá-bio, sa-guão, sa-guões, su-bor-nou, ta-fuis, vá-rio, etc.

Observação: Não se separa do u precedido de g ou q a vogal que o segue, acompanhada, ou não, de consoante: am-bí-guo, e-qui-va-ler, guer-ra, u-bí-quo, etc.

8.º) Na translineação (ou seja, na passagem para a linha seguinte quando se está escrevendo um texto) de uma palavra composta ou de uma combinação de palavras em que há um hífen, ou mais, se a partição coincide com o final de um dos elementos ou membros, por clareza gráfica, se deve repetir o hífen no início da linha seguinte: vice-almirante.

 

Emprego das iniciais maiúsculas

XIX – Emprego das iniciais maiúsculas

48) Emprega-se letra inicial maiúscula:

1.º) No começo do período, verso ou citação direta. Disse o Padre Antônio Vieira: “Estar com Cristo em qualquer lugar, ainda que seja no Inferno, é estar no Paraíso”.

“Auriverde pendão de minha terra
que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que à luz do sol encerra
As promessas divinas da Esperança...” (Castro Alves)

Observação: Alguns poetas usam, à espanhola, a minúscula no princípio de cada verso, quando a pontuação o permite, como se vê em Castilho:

“Aqui, sim, no meu cantinho,
vendo rir-me o candeeiro,
gozo o bem de estar sozinho
e esquecer o mundo inteiro”.

2.º) Nos substantivos próprios de qualquer espécie – antropônimos, topôninos, patronímicos, cognomes, alcunhas, tribos e castas, designações de comunidades religiosas e políticas, nomes sagrados e relativos a religiões, entidades mitológicas e astronômicas, etc.: José, Maria, Macedo, Freitas, Brasil, Antoninos, Afonsinhos, Conquistador, Magnânimo, Coração de Leão, Sem Pavor, Deus, Jeová, Alá, Assunção, Ressureição, Júpiter, Baco, Cérbero, Via Láctea, Canopo, Vênus, etc.

Observações:

a) As formas onomásticas que entram na formação de palavras do vocabulário comum escrevem-se com inicial minúscula quando se afastam de seu significado primitivo, excetuando-se os casos em que esse afastamento não ocorre: água-de-colônia, joão-de-barro, erva-de-santa-maria, folha de flandres; mas: além-Brasil, aquém-Atlântico, doença de Chagas, mal de Alzheimer, sistema Didot, anel de Saturno.

b) Os nomes de povos escrevem-se com inicial minúscula, não só quando designam habitantes ou naturais de um estado, província, cidade, vila ou distrito, ainda quando representam coletivamente uma nação: amazonenses, baianos, estremenhos, fluminenses, paulistas, romenos, russos, suíços, uruguaios, etc.

3.º) Nos nomes próprios de eras históricas e épocas notáveis: Héjira, Idade Média, Quinhentos (o século XVI), Seiscentos (o século XVII), etc.

Observação: Os nomes dos meses devem escrever-se com inicial minúscula: janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro.

4.º) Nos nomes de vias e lugares públicos: Avenida de Rio Branco, Beco do Carmo, Largo da Carioca, Praia do Flamengo, Praça da Bandeira, Travessa do Comércio, Túnel Noel Rosa, etc.

5.º) Nos nomes que designam altos conceitos religiosos, políticos ou nacionalistas: Igreja (Católica, Apostólica, Romana), Nação, Estado, Pátria, Raça, etc.

Observação: Esses nomes se escrevem com inicial minúscula quando são empregados em sentido geral ou indeterminado.

6.º) Nos nomes que designam artes, ciências, ou disciplinas, bem como nos que sintetizam, em sentido elevado, as manifestações do engenho e do saber: Agricultura, Arquitetura, Filologia Portuguesa, Direito, Medicina, Matemática, Pintura, Arte, Ciência, Cultura, etc.

Observação: Os nomes idioma, idioma pátrio, língua, língua portuguesa, vernáculo e outros análogos escrevem-se com inicial maiúscula quando empregados com especial relevo.

7.º) Nos nomes que designam altos cargos, dignidades ou postos: Papa, Cardeal, Arcebispo, Bispo, Patriarca, Vigário, Vigário-Geral, Presidente da República, Ministro da Educação, Governador do Estado, Embaixador, Almirantado, Secretário de Estado, etc.

8.º) Nos nomes de repartições, corporações ou agremiações, edifícios e estabelecimentos públicos ou particulares: Diretoria Geral do Ensino, Ministério das Relações Exteriores, Academia Paranaense de Letras, Círculo de Estudos “Bandeirantes”, Presidência da República, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Tesouro do Estado, Departamento Administrativo do Serviço Público, Banco do Brasil, Imprensa Nacional, Teatro de São José, Tipografia Rolandiana, Museu de Arte Moderna, etc.

9.º) Nos títulos de livros, jornais, revistas, produções artísticas, literárias e científicas: Imitação de Cristo, Horas Marianas, Correio da Manhã, Revista Filológica, Transfiguração (de Rafael), Norma (de Bellini), O Guarani (de Carlos Gomes), O Espírito das Leis (de Montesquieu), etc.

Observações: a) Não se escrevem com maiúscula inicial as partículas monossilábicas que se acham no interior de vocábulos compostos ou de locuções ou expressões que têm iniciais maiúsculas: Queda do Império, O Crepúsculo dos Deuses, História sem Data, A Mão e a Luva, Festas e Tradições Populares do Brasil, etc.

b) Nos bibliônimos, após o primeiro elemento, que é com maiúscula, os demais vocábulos podem ser escritos com minúscula, salvo nos nomes próprios nele contidos, tudo em grifo.

10.º) Nos nomes de fatos históricos e importantes, de atos solenes e de grandes empreendimentos públicos: Centenário da Independência do Brasil, Descobrimento da América, Reforma Ortográfica, Acordo Luso-Brasileiro, Exposição Nacional, Festas das Mães, Dia do Município, Glorificação da Língua Portuguesa, etc.

Observação: Os nomes de festas pagãs ou populares escrevem-se com inicial minúscula: carnaval, entrudo, saturnais, etc.

11.º) Nos nomes de escolas de qualquer espécie ou grau de ensino: Faculdade de Filosofia, Escola Superior de Comércio, Colégio de Pedro II, Instituto de Educação, etc.

12.º) Nos nomes comuns, quando personificados ou individuados, e de seres morais ou fictícios: A Capital da República, a Transbrasiliana, moro na Capital, o Natal de Jesus, o Poeta (Camões), a ciência da Antiguidade, os habitantes da Península, a Bondade, o Amor, a Ira, o Lobo, o Cordeiro, a Cigarra, a Formiga, etc.

Observação: Incluem-se nesta norma os nomes que designam atos das autoridades da República, quando empregados em correspondência ou documentos oficiais: A Lei de 13 de maio, o Decreto-Lei n.º 292, o Decreto-Lei n.º 20.108, a Portaria de 15 de junho, o Regulamento n.º 737, o Acórdão de 3 de agosto, etc.

13.º) Nos nomes dos pontos cardeais, quando designam regiões: Os povos do Oriente; o falar do Norte é diferente do falar do Sul; a guerra do Ocidente, etc.

Observação: Os nomes dos pontos cardeais escrevem-se com iniciais minúsculas quando designam direções ou limites geográficos: Percorri o país de norte a sul e de leste a oeste.

14.º) Nos nomes, adjetivos, pronomes e expressões de tratamento ou reverência: D. (Dom ou Dona), Sr. (Senhor), Sr.ª (Senhora), DD. ou Dig.mo (Digníssimo), MM. ou M.mo (Meritíssimo), Rev.mo (Reverendíssimo), V.Rev.ª (Vossa Reverência), S.E. (Sua Eminência), V.M. (Vossa Majestade), V.A. (Vossa Alteza), V.S.ª (Vossa Senhoria), V.Ex.ª (Vossa Excelência), V.Ex.ª Rev.ma (Vossa Excelência Reverendíssima), V.Ex.as (Vossa Excelências), etc.

Observação: As formas que se acham ligadas a essas expressões de tratamento devem ser também escritas com iniciais maiúsculas: D. Abade, Ex.ma Sr.ª Diretora, Sr. Almirante, Sr. Capitão-de-Mar-e-Guerra, MM. Juiz de Direito, Ex.mo e Rev.mo Sr. Arcebispo Primaz, Magnífico Reitor, Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Eminentíssimo Senhor Cardeal, Sua Alteza Real, etc.

15.º) Nas palavras que, no estilo epistolar, se dirigem a um amigo, a um colega, a uma pessoa respeitável, as quais, por deferência, consideração ou respeito, se queira realçar por esta maneira: meu bom Amigo, caro Colega, meu prezado Mestre, estimado Professor, meu querido Pai, minha amorável Mãe, meu bom Padre, minha distinta Diretora, caro Dr., prezado Capitão, etc.

Observação: Para os itens 4.º, 6.º, 7.º e 14.º usa-se opcionalmente inicial minúscula (exceto para as formas abreviadas do item 14.º).

 

Sinais de pontuação

XX – Sinais de pontuação

Ver Pontuação.

 

Regras de acentuação

Regras de acentuação

A – Monossílabos

Levam acento agudo ou circunflexo os monossílabos terminados em:

a)       – a, – as:        já, lá, vás;

b)       – e, – es:        fé, lê, pés;

c)       – o, – os:        pó, dó, pós, sós.

B – Vocábulos de mais de uma sílaba

1) Oxítonos (ou agudos)

Levam acento agudo ou circunflexo os oxítonos terminados em:

a)       – a, – as:             cajás, vatapá, ananás, carajás;

b)       – e, – es:             você, café, pontapés;

c)       – o, – os:             cipó, jiló, avô, carijós;

d)       – em, – ens:        também, ninguém, vinténs, armazéns.

Daí sem acento: aqui, caqui, poti, caju, urubus.

2) Paroxítonos (ou graves)

Levam acento agudo ou circunflexo os paroxítonos terminados em:

a)       – i, – is:        júri, cáqui, beribéri, lápis, tênis;

b)       – us:             vênus, vírus, bônus.

Observação: Há poucos paroxítonos terminados em –u: um deles existente até há pouco era tribu que hoje se escreve com o: tribo, tribos.

c)       – r:                     caráter, revólver, éter;

d)       – l:                     útil, amável, nível, têxtil (não téxtil);

e)       – x:                    tórax, fênix, ônix;

f)        – n:                    éden, hífen (mas: edens, hifens, sem acento);

g)       – um, – uns:       álbum, álbuns, médium;

h)       – ão, ãos:           órgão, órfão, órgãos, órfãos;

i)        – ã, – ãs:            órfã, ímã, órfãs, ímãs;

j)        – ps:                  bíceps, fórceps;

k)       – on(s):              rádon, rádons.

Observação: Devem ser acentuados os nomes técnicos terminados em -om: iândom, rádom (variante de rádon).

3) Proparoxítonos (ou esdrúxulos)

Levam acento agudo ou circunflexo todos os proparoxítonos: cálido, tépido, cátedra, sólido, límpido, cômodo.

4) Casos especiais

a) São sempre acentuadas as palavras oxítonas com os ditongos abertos grafados -éis, -éu(s) ou -ói(s): anéis, batéis, fiéis, papéis; céu(s), chapéu(s), ilhéu(s), véu(s); corrói(s) (flexão de corroer), herói(s), remói(s) (flexão de remoer), sói(s) (flexão de soer), sóis (pl. de sol).

b) Não são acentuadas as palavras paroxítonas com os ditongos abertos -ei e -oi, uma vez que existe oscilação em muitos casos entre a pronúncia aberta e fechada: assembleia, boleia, ideia, tal como aldeia, baleia, cadeia, cheia, meia; coreico, epopeico, onomatopeico, proteico; alcaloide, apoio (do verbo apoiar), tal como apoio (substantivo), Azoia, boia, boina, comboio (substantivo), tal como comboio, comboias, etc. (do verbo comboiar), dezoito, estroina, heroico, introito, jiboia, moina, paranoico, zoina.

Observação: Receberá acento gráfico a palavra que, mesmo incluída neste caso, se enquadrar em regra geral de acentuação, como ocorre com blêizer, contêiner, destróier, gêiser, Méier, etc., porque são paroxítonas terminadas em -r.

c) Não se acentuam os encontros vocálicos fechados: pessoa, patroa, coroa, boa, canoa; teu, judeu, camafeu; voo, enjoo, perdoo, coroo.

Observação: Será acentuada a palavra que, mesmo incluída neste caso, se enquadrar em regra geral de acentuação gráfica, como ocorre com herôon (Br.)/ heróon (Port.), paroxítona terminada em -n.

d) Não levam acento gráfico as palavras paroxítonas que, tendo respectivamente vogal tônica aberta ou fechada, são homógrafas de artigos, contrações, preposições e conjunções átonas. Assim, não se distinguem pelo acento gráfico: para (á) [flexão de parar], e para [preposição]; pela(s) (é) [substantivo e flexão de pelar] e pela(s) [combinação de per e la(s)]; pelo (é) [flexão de pelar] e pelo(s) (ê) [substantivo e combinação de per e lo(s)]; pera (ê) [substantivo] e pera (é) [preposição antiga]; polo(s) (ó) [substantivo] e polo(s) [combinação antiga e popular de por e lo(s)]; etc.

Observação: Seguindo esta regra, também perde o acento gráfico a forma para (do verbo parar) quando entra num composto separado por hífen: para-balas, para-brisa(s), para-choque(s), para-lama(s), etc.

e) Levam acento agudo o i e u, quando representam a segunda vogal tônica de um hiato, desde que não formem sílaba com r, l, m, n, z ou não estejam seguidos de nh: saúde, viúva, saída, caído, faísca, , Grajaú; raiz (mas raízes), paul, ruim, ruins, rainha, moinho.

f) Não leva acento a vogal tônica dos ditongos iu e ui: caiu, retribuiu, tafuis, pauis.

g) Não serão acentuadas as vogais tônicas i e u das palavras paroxítonas, quando estas vogais estiverem precedidas de ditongo decrescente: baiuca, bocaiuva, boiuno, cauila (var. cauira), cheiinho (de cheio), feiinho (de feio), feiura, feiudo, maoismo, maoista, saiinha (de saia), taoismo, tauismo.

Observações:

1.º) Na palavra eoípo (= denominação dos primeiros ancestrais dos cavalos), a pronúncia normal assinala hiato (e-o), razão por que tem acento gráfico.

2.º) A palavra paroxítona guaíba não perde o acento agudo porque a vogal tônica i está precedida de ditongo crescente.

h) Serão acentuadas as vogais tônicas i e u das palavras oxítonas, quando mesmo precedidas de ditongo decrescente estão em posição final, sozinhas na sílaba, ou seguidas de s: Piauí, teiú, teiús, tuiuiú, tuiuiús.

Observação: Se, neste caso, a consoante final for diferente de s, tais vogais não serão acentuadas: cauim, cauins.

i) A 3.ª pessoa de alguns verbos se grafa da seguinte maneira:

1) quando termina em – em (monossílabos):

3.ª pess. sing.               3.ª pess. pl.

– em                             – êm

ele tem                         eles têm

ele vem                        eles vêm

2) quando termina em – ém:

3.ª pess. sing.               3.ª pess. pl.

– ém                             – êm

ele contém                   eles contêm

ele convém                   eles convêm

3) quando termina em – ê (crê, , , e derivados):

3.ª pess. sing.               3.ª pess. pl.

– ê                                – eem

ele crê                          eles creem

ele revê                        eles reveem

j) Levam acento agudo ou circunflexo os vocábulos terminados por ditongo oral átono, quer decrescente ou crescente: ágeis, devêreis, jóquei, túneis, área, espontâneo, ignorância, imundície, lírio, mágoa, régua, tênue.

k) Leva acento agudo ou circunflexo a forma verbal terminada em a, e, o tônicos, seguida de lo, la, los, las: fá-lo, fá-los, movê-lo-ia, sabê-lo-emos, trá-lo-ás.

Observação: Pelo último exemplo, vemos que se o verbo estiver no futuro poderá haver dois acentos: amá-lo-íeis, pô-lo-ás, fá-lo-íamos.

l) Também leva acento agudo a vogal tônica i das formas verbais oxítonas terminadas em -air e -uir, quando seguidas de -lo(s), -la(s), caso em que perdem o r final, como em: atraí-lo(s) [de atrair-lo(s)]; atraí-lo(s)-ia [de atrair-lo(s)-ia]; possuí-la(s) [de possuir-la(s)]; possuí-la(s)-ia [de possuir-la(s)-ia].

m) Não levam acento os prefixos paroxítonos terminados em -r e -i: inter-helênico, super-homem, semi-histórico.

n) Não leva trema o u dos grupos gue, gui, que, qui, mesmo quando for pronunciado e átono: aguentar, arguição, eloquência, frequência, tranquilo.

Observações:

1.º) Os verbos ARGUIR e REDARGUIR não levam acento agudo na vogal tônica u nas formas rizotônicas (aquelas cuja sílaba tônica está no radical): arguo, arguis, argui, arguem; argua, arguas, etc.

2.º) Os verbos do tipo de AGUAR, APANIGUAR, APAZIGUAR, APROPINQUAR, AVERIGUAR, DESAGUAR, ENXAGUAR, OBLIQUAR, DELINQUIR e afins podem ser conjugados de duas formas: ou têm as formas rizotônicas (cuja sílaba tônica recai no radical) com o u do radical tônico, mas sem acento agudo; ou têm as formas rizotônicas com a ou i do radical com acento agudo: averiguo (ou averíguo), averiguas (ou averíguas), averigua (ou averígua), etc.; averigue (ou averígue), averigues (ou averígues), etc.; delinquo (ou delínquo), delinques (ou delínques), etc.; delinqua (ou delínqua), delinquas (ou delínquas), etc.

3.º) O verbo delinquir, tradicionalmente dado como defectivo (ou seja, verbo que não é conjugado em todas as pessoas), é tratado como verbo que tem todas as suas formas. O Acordo também aceita duas possibilidades de pronúncia, quando a tradição padrão brasileira na gramática para este verbo só aceitava sua conjugação nas formas arrizotônicas.

4.º) Em conexão com os casos citados acima, é importante mencionar que os verbos em -ingir (atingir, cingir, constringir, infringir, tingir, etc.) e os verbos em -inguir sem a pronúncia do u (distinguir, extinguir, etc.) têm grafias absolutamente regulares (atinjo, atinja, atinge, atingimos, etc.; distingo, distinga, distingue, distinguimos, etc.)

o) Leva acento circunflexo diferencial a sílaba tônica da 3.ª pess. sing. do pret. perf. pôde, para distinguir-se de pode, forma da mesma pess. do pres. do ind.

p) Não se usa acento gráfico para distinguir as palavras oxítonas homógrafas (que possuem a mesma grafia), mas heterofônicas (pronunciadas de formas diferentes), do tipo de cor (ô) (substantivo) e cor (ó) (elemento da locução de cor); colher (ê) (verbo) e colher (é) (substantivo).

Observação: A forma verbal pôr continuará a ser grafada com acento circunflexo para se distinguir da preposição átona por.

q) Não é acentuada nem recebe apóstrofo a forma monossilábica pra, redução de para. Ou seja, são incorretas as grafias prá e p’ra.

r) Pode ser ou não acentuada a palavra fôrma (substantivo), distinta de forma (substantivo; 3.ª pess. do sing. do pres. do ind. ou 2.ª pess. do sing. do imper. do verbo formar). A grafia fôrma (com acento gráfico) deve ser usada apenas nos casos em que houver ambiguidade, como nos versos do poema “Os sapos”, de Manuel Bandeira: “Reduzi sem danos/ A fôrmas a forma.”

2 Extraído de Elementos de Língua Pátria de J. Mattoso Câmara Jr. [MC.5].

3 Extraído de Elementos de Língua Pátria de J. Mattoso Câmara Jr. [MC.5].

4 Daí ser possível uma mudança ortográfica do tipo quasi Õ quase, tribu Õ tribo. Mudou-se a letra, mas não o fonema.

5 Na realidade, as reduzidas não estão cientificamente formuladas pela NGB, e o melhor seria bani-las. Em muitos casos das chamadas reduzidas o que temos, na realidade, é mudança ou troca de fonema.

6 J. Mattoso Câmara Jr. [MC.5, II, 121].

7 Em lugar de i ou u, em certos casos, se pode grafar a semivogal e ou o, respectivamente, em observância às convenções do nosso sistema ortográfico vigente, segundo as quais a semivogal dos ditongos orais é representada pelo grafema i e a dos ditongos nasais pelo grafema e: pai / mãe, distrai / distraem.

8 Niedermann, Phonétique Latine, 37.

9 Normas para a Língua Falada no Teatro, 485-63.

10 Nomenclatura Gramatical Brasileira, 16.

11 Destas últimas não cogita a NGB.

12 Na língua portuguesa moderna predomina a sequência progressiva, que consiste em apresentar, de preferência, a declaração no fim (o predicado), o determinado antes do determinante, o que se torna cômodo aos interesses de compreensão do interlocutor.

13 Por isso, nos compostos, para determinação da posição do acento tônico, leva-se em consideração a última palavra. Destarte, é oxítono couve-flor e paroxítono arco-íris.

14 Exemplos extraídos de [SS.2, 97-98].

15 Epifania - festa dos reis magos