Comentários pelo Dr. Lejeune de Oliveira, 1958*

Crustáceos: Ordem Decapoda

Sub-ordem Reptantia

1) Tribo Anomura

Família Porcellanidae

Petrolisthes lamarckii var. asiática Leach, 1820.

Estes porcelanídeos existiam em quantidade onde havia pedras nas praias da Ilha do Pinheiro; nestas cresciam ostras e, por baixo, geralmente todas tinham buracos dos “caranguejos guaiás,” Panopeus herbstii. Esta espécie, em 1948, já se encontrava raramente, depois de 1950 desapareceu.

2) Tribo Brachyura

Subtribo Brachygnatha

Família Portunidae

Callinectes exasperatus (Gerstaecker, 1856) Rathbun, 1897.

"Siriaçu,” freqüente nos arredores de Manguinhos e na Enseada de Inhaúma. Escasseou em 1950; nunca mais apareceu depois de 1953. Os siriaçus vivem em águas salgadas, marítimas, meso-hialinas e até oligo-hialinas. Foram encontrados nas lagoas de Maricá, Saquarema e Piratininga, lagoas com alto teor de matéria orgânica dissolvida. Na enseada de Inhaúma, desapareceram logo que a refinaria de petróleo começou a funcionar, e quando a prefeitura passou a fazer o grande aterro de lixo de 1955 para cá.

Família Xanthidae

Panopeus herbstii Milne-Edwards, 1834.

O trabalho de Lejeune de Oliveira (Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 35(1): 153-171, 1940)1 foi feito com estes “guaiás” ainda capturados na Ilha do Pinheiro. Hoje desaparecidos totalmente; são tolerantes até ao IV grau de poluição, desaparecendo no V grau (Lejeune de Oliveira, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.56, n.1, 1958).2 A existência deste guaiá, verificada por Lutz em 1922, é ótimo atestado de ter havido boas águas antigamente. Em 1948, já se o encontrava raramente, depois de muito procurá-lo. Os guaiás são tão sensíveis à poluição quanto as ostras; parecem resistir a vários graus de salinidade poli-hialina e mesohialina.

Familía Grapsidae Dana

Subfamília Grapsinae Dana p. parte

Goniopsis cruentata (Latreille 1803) Rathbun, 1901

Conhecidos por “aratus,” viviam às centenas na Ilha do Pinheiro (1937-1950). Não cavavam tocas, geralmente subiam pouco nas árvores do mangue (não mais que meio metro). Viviam nas fendas das pedras do cais e no viveiro da Ilha do Pinheiro. Os que vimos são de carapaça avermelhada, de pernas vermelhas, manchas escuras e grandes manchas brancas. A mesma espécie, mas de colorido amarelo, nunca a vimos na Enseada de Inhaúma. Com a poluição desapareceram totalmente da Ilha do Pinheiro (Lejeune de Oliveira, Poluição das águas marítimas, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.56, n.1, 1958) em 1955.

Este ano, 1958, porém, devido às fortes ressacas na praia do Leme, vieram por vezes águas mais renovadas à Enseada de Inhaúma, e agora, em abril-maio de 1958, apareceram uns poucos no cais da Ilha do Pinheiro.

Sub-família Sesarminae Dana

Sesarma (Holometopus) rectum Randall

Sesarma recta Randall, 1839

Não mais encontrados na Enseada de Inhaúma, depois de 1950; o último capturado foi em 1946.

Aratus pisoni (Milne-Edwards)1837

"Caranguejo marinheiro;” trepa nas árvores com grande agilidade, indo até os raminhos mais altos e finos. Muito abundante na Ilha do Pinheiro até 1940, foi escasseando e hoje não existe mais.

Chasmagnathus granulatus Dana, 1852

É o caranguejo “catanhém” das lagoas do Estado do Rio. O tipo da espécie foi descrito da Lagoa de Piratininga, em 1852, por Dana.

Os catanhéns existem aos milhares por toda a faixa perimetral da lagoa de Saquarema. Os pescadores locais os consideram “praga” destruidora de redes e armadilhas. Na Ilha do Pinheiro, na Enseada de Inhaúma, existiam centenas, aos bandos. Desapareceram depois de 1950 devido à poluição, principalmente industrial (refinaria). Existiram na Lagoa Rodrigo de Freitas até 1953; de 1954 até 1958 nunca mais os vimos (poluição urbana).

Família Gecarcinidae Dana

Cardisoma guanhumi Latreille, 1925

"Guaiamus” abundantes outrora em Manguinhos, de onde desapareceram por causa de aterro, urbanização e caça. Ficaram os da Ilha do Pinheiro. Em 1950, na zona por eles habitada havia em média, de 1,50 m em 1,50 m, um buraco com um guaiamu, e em 18.000 m2 existiam cerca de 10.000 buracos, quase todos habitados. Hoje desapareceram quase totalmente; não porque fossem caçados, o que era proibido na Ilha, mas principalmente por causa de óleos e outras poluições que entravam nos seus buracos.

Ucides cordatus (L.)

Conhecido como “caranguejo verdadeiro”. Era muito abundante até 1946 nas praias da Enseada de Inhaúma próximas ao Rio Faria, e na Ilha do Pinheiro. Antes de 1950 já tinha desaparecido das de Manguinhos. Hoje existe, mas escassamente, tendendo a desaparecer (muito sofreu com a poluição industrial, urbana e marítima).

Família Ocypodidae

Subfamília Ocypodinae

Uca pugnax (Smith, 1870) Rathbun, 1900

= Gelasimus vocator Kingsley = Uca vocator Ortmann

Esse “chama-maré” era muitíssimo freqüente nas praias da Enseada, em Manguinhos, na foz do Rio Faria e na Ilha do Pinheiro.

No estuário do Rio Faria, onde estava o Manguezal de Manguinhos, já não existe. Na Ilha do Pinheiro, as populações tornaram-se cada vez mais escassas, tendendo a desaparecer (poluição urbana, industrial e marítima). As películas leves de óleos nas poças, laguinhos e ensopados marginais de água do mar onde suas larvas se criam eliminam os estágios jovens, logo ao sair do ovo.

Estudadas na Ilha do Pinheiro, fisiologicamente, pelo Dr. Jocelyn Crane, da Zoological Society em Nova York:

Gelasimus vocator Kingsley 1880 passou a ser Uca vocator Ortmann 1897; esta espécie vocator “sensu lato” passou, em 1901, a abranger várias espécies descritas por Rathbun. A que o Prof. Dr. Adolpho Lutz estudou é hoje Uca pugnax (Smith, 1870).

Isto é:

= Gelasimus pugnax Smith 1870,

= Uca vocator Ortmann 1897 (pro part),

= Uca pugnax Rathbun 1900 (pro part),

= Uca pugnax Smith 1870, var. Rapax Rathbun 1901.

Subtribo Oxystomata

Família Callapidae

Hepatus princeps (Herbst 1794) von Marstens, 1872

Encontrado na coleção Adolpho Lutz: “siri-baú” apanhado em Manguinhos. Depois de 1937, nunca mais o encontramos na Enseada de Inhaúma, nem na Praia de Manguinhos. A presença do siri-baú, comprovada pela captura feita por Adolpho Lutz, é importante, porque indica águas limpíssimas e puras, atesta ausência total de poluição em 1920, época em que se pescava muito camarão verdadeiro na antiga Ilha do Bom Jardim, em frente a Manguinhos e ao local onde hoje está a Refinaria de Manguinhos. Nessa antiga Ilha, em 1922, crescia também muita ostra do mangue.

Ordem Stomatoda

Família Squillidae

Squilla prasinolineata Dana, 1852

Espécie existente na coleção do Prof. Dr. Adolpho Lutz, era ainda comum na Enseada de Inhaúma em 1939, quando o Dr. Lejeune de Oliveira, que estava estudando os guaiás do gênero Panopeus da Ilha do Pinheiro, presenciou por umas três vezes, o pescador Dario Lopes Pereira oferecer ao Prof. Dr. Henrique Aragão, tamburutacas azuis, pescadas ali mesmo, junto à Ilha do Pinheiro.

Em 1947, vários exemplares foram colocados, para experiência, nos aquários da estação de hidrobiologia quando as águas começaram a circular. Freqüentes de fevereiro a abril de 1948, eram capturadas pelo pescador José Porsino da Silva Filho e colocadas nos aquários da estação, onde o Prof. Pierre Drach, então no Rio de Janeiro, muito lhes admirava a vivacidade, a beleza de suas lindas cores esverdeadas, suas carenas de um belo azulado, quando vivas. Os exemplares provinham do canal entre as Ilhas do Pinheiro e Sapucaia. Os pescadores de siris sempre apanhavam essa tamburutaca azul, e quando se acabou a pesca de siris, também nunca mais se viu a Squilla prasinolineata (1953). Esta espécie é bastante sensível à poluição.

Dos exemplares capturados em 1948, alguns fazem parte da Coleção da Station de Biologie Marine de Roscoff, oferecidos através do Prof. Pierre Drach pelo Prof. Dr. Henrique Aragão.

Lysiosquilla scabricauda (Lamarck, 1818) Miers, 1850

É a maior tamburutaca, a “mãe dos camarões,” com 24 a 25 centímetros. Era apanhada pelos pescadores junto ao camarão (Penaeus sp.). Em 1948 não se dava bem em nossos aquários, cuja água era bombeada do Canal da Sapucaia. Apanhavam-na nos “restos de redes,” nos “lixos das redes,” após a pesca do camarão; nas redes e tarrafas ficavam agarradas comunidades de ascídias Tethium plicatum Lessuer, vários briozoários Bugulla sp, algas Enteromorpha intestinalis Link., e alfaces do mar Ulva lactuca L. Às vezes, no meio desse “lixo,” e durante a quadra do camarão, apareciam as “mães do camarão”.

Depois de 1950 não foram mais vistas na Enseada de Inhaúma.