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8

Garotas festeiras

Paxton rapidamente tomou uma atitude.

— Acho que você já a chateou o suficiente — disse ela, conduzindo Willa à porta com a habilidade de uma anfitriã que leva o último convidado à saída. — Agora ela está falando tolices.

— Eu nunca disse uma tolice num único dia de minha vida! — Agatha estrilou.

Já no corredor, Paxton disse:

— Ela é delicada e não sabe do que está falando. Não volte aqui para aborrecê-la. Estou falando sério.

Paxton entrou novamente no quarto e fechou a porta. Willa ficou tentada a se zangar, mas viu algo em Paxton que moderou sua emoção. Paxton queria proteger a avó. Exatamente como Willa queria.

Então deixou a casa de repouso com mais perguntas do que quando tinha chegado. Havia uma veemência surpreendente na voz de Agatha quando ela declarou que sua amizade com Georgie ainda existia, como se fosse algo vivo, que respirava, algo que ganhou vida no instante em que aconteceu e não sumiu simplesmente porque elas deixaram de reconhecê-la. Até onde iria essa amizade? Longe o bastante para mentir? Ou longe o bastante para contar a verdade?

Ela ficou imaginando se Paxton estaria pensando a mesma coisa.

Uma coisa era certa: agora Willa deveria encontrar as respostas sozinha. Ela viu um muro sendo erguido. De jeito nenhum Paxton a deixaria voltar a falar com Agatha.

Quando chegou em casa, trocou de roupa e subiu a escada até o único lugar que conhecia para procurar pistas.

O sótão.

Fazia muito tempo que ela não tinha motivo para subir ali. Era pouco iluminado e empoeirado, e as teias de aranha cobriam todo o cômodo, fazendo-o parecer uma bola de barbante. Ela abriu caminho por entre as teias para ver as caixas empilhadas nas vigas. Seus antigos brinquedos de infância. Os prêmios de magistério do pai. As coisas de sua avó estavam em caixas grandes, embaixo de alguns cobertores de mudança. Willa estava na faculdade quando seu pai trouxe sua avó para a casa dele, então Willa não tinha ideia do que havia naquelas caixas. Provavelmente um pouquinho de cada coisa. Seu pai nunca jogava nada fora. O sofá, do qual Willa finalmente se livrara na semana anterior, era o mesmo que seus pais compraram quando se casaram. Ao longo dos anos, ele tinha sido remendado, reestofado e recosturado, depois finalmente coberto com um cobertor para esconder as manchas de suco de uva e café.

Ela respirou fundo e começou a desentocar as caixas que tinham o nome da avó escrito. Foi levando lá para baixo, uma de cada vez, até que elas encheram metade da sala de estar.

Ela pegou uma caixa, aleatoriamente, sentou-se à sua frente e a abriu.

Quase caiu em prantos com o aroma que emanou de dentro dela. Cedro e lavanda, com um leve toque de sabão e água sanitária. Cheiros que ela sempre associaria à sua avó. Georgie tinha sido obsessivamente caprichosa e Willa se lembrava de seu pai contando que entrar no apartamento de Georgie e encontrar louça empilhada na pia tinha sido o primeiro sinal de que algo estava errado. Georgie nunca deixava de lavar a louça. Depois disso, sua memória só foi piorando.

Seu pai tinha embalado essas caixas e deve ter sido difícil para ele. Ele sempre respeitou a privacidade da mãe. Talvez por isso essa caixa parecesse ter sido embalada por alguém de olhos fechados.

A caixa guardava itens que Willa se lembrava de ter visto na sala da vovó Georgie. Ela começou a tirar as coisas. Tudo estava individualmente embrulhado em jornal. Uma bonbonnière de cristal. Duas almofadas bordadas. Uma Bíblia. Um álbum de fotografias.

Opa. Isso podia trazer pistas.

Depois que o desembrulhou, ela o pousou no colo e abriu. Ela se lembrava de olhá-lo quando criança. Tinha fotos de seu pai. Somente de seu pai. A vovó Georgie tinha fotos escolares de Willa emolduradas em cima da televisão, mas seu filho tinha um álbum inteiro só para ele. Willa se pegou sorrindo enquanto folheava as páginas. Lá estava Ham bebê, engolido por um enorme traje branco de batismo. Lá estava ele, um garotinho rechonchudo, em frente ao que parecia ser a Cabana da Nogueira. Fotos de escola. Formatura. Depois vinha uma série de fotos dele com vinte e poucos anos, atrevido e despreocupado. Willa sempre adorou essas fotos, especificamente observar o charme do pai se expandindo ao seu redor. Se ela não soubesse exatamente o caminho que a vida dele tomara, terminando como um viúvo e sereno professor de química, teria julgado por essas fotos que ele estava destinado a ser uma figura pública carismática. Um astro de cinema. Um político.

Mas ele queria uma vida modesta. Queria a vida que sua mãe quis que ele tivesse, porque a opinião dela importava muito para ele.

Ela virou a página e seu sorriso se apagou. Lá estava seu pai, com cerca de trinta anos. Ele só se casaria oito anos depois. Willa só nasceria depois de dez. Ele estava com calças engraçadas, antiquadas, com o cabelo mais comprido que ela já vira. Estava com as mãos nos bolsos, olhando a câmera de um jeito que quase a fazia tremer por sua personalidade. Olhava como se o mundo fosse um pêssego maduro e ele estivesse pronto para mordê-lo. Por algum motivo, aquilo a deixou assustada. Fez que ela se lembrasse de algo que não conseguia definir exatamente.

Willa subitamente se lembrou de uma conversa que tivera em seu enterro com uma das professoras, colega de seu pai, a Sra. Peirce. Ela dissera a Willa que ele tinha sido um grande galanteador antes de se casar com a mãe de Willa, algo em que ela achou difícil de acreditar à época. Mas a Sra. Peirce insistiu que, quando Ham voltara para casa, depois da faculdade, havia algo diferente nele. Ela dissera que a mãe de Ham tinha sido muito rigorosa com ele quando garoto, e ele era um tanto tímido. Mas se transformara ao virar adulto. As professoras se aglomeravam ao seu redor na sala de professores e traziam-lhe doces que passavam a noite fazendo, folheados e tortas de chocolate, bem-casados e pãezinhos de lua de mel. Ocasionalmente, ele convidava uma delas para sair, e isso deixava a ganhadora de sua atenção levitando durante dias. A Sra. Peirce também comentara que as alunas de Ham eram igualmente apaixonadas por ele e que às vezes choravam sobre o Bico de Bunsen, em sua sala de aula, e deixavam mechas de cabelos nas gavetas dele. Ela até mencionou um pequeno escândalo envolvendo algumas mães de alunas que tinham feito campanha por uma promoção na carreira profissional de Ham. Embora ele estivesse perfeitamente feliz como professor, elas queriam que ele se tornasse reitor, diretor, superintendente, e chegaram a chantagear algumas pessoas. Naquela época, ele era tão carismático que a Sra. Peirce disse isso com saudosismo.

Agora, olhando aquela foto, Willa podia finalmente entender do que a Sra. Peirce estava falando. Obviamente a vovó Georgie tinha batido aquela foto; foi tirada do lado de fora de seu prédio. Ela também teria ficado perplexa com o que via. A foto estava ligeiramente embaçada, como se a câmera tivesse mexido apenas alguns segundos antes que ela clicasse.

Willa olhou o restante das fotos, mas se pegou voltando àquela. Ela estava surpresa em procurar por pistas, qualquer coisa que provasse que sua avó não tinha nada a ver com o esqueleto da colina. As fotos de seu pai não ajudariam. Ela deveria simplesmente guardar o álbum e seguir para a próxima caixa.

Mas ficava voltando àquela foto. Por que parecia tão familiar, como se ela a tivesse visto recentemente?

Ela finalmente a tirou do álbum e colocou sobre a mesa de centro.

Olhou o restante das caixas em questão de horas. Como ela suspeitara, ali não havia nada da época de sua avó na Madam. Ela teria de arranjar outro meio de obter informações.

Ao se levantar, Willa deu um gemido. Ela ficara tanto tempo sentada no chão que sua perna tinha adormecido. Foi até a porta da frente para verificar se estava trancada, depois apagou as luzes da sala. Seguiu mancando até a cozinha para beber algo antes de ir para a cama. Quando abriu a porta da geladeira, a luz atravessou a cozinha escura, refletindo lá do outro lado, onde ficava a mesa. Ela tomou um pouco de suco da garrafa. Quando terminou, guardou novamente a garrafa e se virou.

Nesse momento ela notou.

Deixando a porta da geladeira aberta para iluminar, Willa caminhou até a mesa da cozinha. Havia alguns pêssegos maduros sobre a mesa, numa fruteira que uma amiga da National Street fizera para ela. As frutas estavam começando a permear o ar com o cheiro da doce premonição de apodrecimento.

De repente, ela sentiu um arrepio e recuou.

Em cima da fruteira estava a foto de seu pai, a foto com ar estranhamente malandro, que ela havia tirado do álbum e colocado na mesinha de centro da sala.

E Willa não a levara para lá.

Willa jamais achou que fosse se pegar fazendo isso, nunca imaginou que fosse apostar algo naquelas superstições que sua avó levava tão a sério, mas ela ficara bem assustada depois de encontrar a foto de seu pai na cozinha, na noite anterior, a ponto de colocar uma moeda no parapeito da janela e abrir uma fresta. A avó dizia que frequentemente os fantasmas se esqueciam de que eram fantasmas e iam atrás de dinheiro, mas, ao se aproximar suficientemente de uma janela aberta, o ar noturno os sugaria para fora.

Desnecessário dizer que Willa não conseguiu dormir direito. E só ficou mais nervosa quando, naquela manhã, um pássaro preto e amarelo conseguiu entrar pela fresta da janela do quarto, e ela levou uma hora com uma vassoura para conseguir fazer que ele voasse para fora.

Era dia de folga de Rachel, então quando Willa chegou à loja ela destrancou a porta e acendeu as luzes; depois moeu os grãos e ligou a cafeteira. Ela não era tão boa no balcão quanto Rachel, mas se virava. Rachel tinha deixado a vitrine abastecida de biscoitos de café e donuts de cappuccino. Ela também tinha deixado para Willa uma caixa de barras de café com coco, pois sabia que eram suas prediletas. Em cima da caixa havia um bilhete: Fiz especialmente pra você. Ligue se precisar de mim. Ela deve ter ficado até tarde na noite anterior só para fazer isso.

Willa chegara à loja sentindo-se temperamental e distraída, mas isso a fez sorrir. A magia do café de Rachel era a cura para todos os males, mesmo prejudicando um pouquinho a cintura. Ajudava Willa a se concentrar, a enxergar a razão — claro que ela mesma deve ter movido aquela foto; só não se lembrava —, e a fez optar por outro plano de ação.

Assim que o movimento diminuiu, Willa ligou para sua amiga Fran na biblioteca. Fran viera de outra cidade e era frequentadora assídua da loja de Willa. Ela fazia trilhas nas cataratas quase todo fim de semana.

— Oi, Fran, é a Willa.

— Willa! Mas que surpresa. — Fran era uma daquelas pessoas que sempre pareciam falar de boca cheia. — O que posso fazer por você?

— Como faço para descobrir o que se passou nesta cidade em 1936? Que tipos de arquivo você tem?

— A polícia e os jornalistas estiveram aqui perguntando a mesma coisa quando um esqueleto foi descoberto na Madam — disse Fran. — Infelizmente, não havia jornal da cidade naquela época. Por que você quer saber?

— Eu dei uma olhada nas coisas da minha avó e ali não tem muita coisa sobre a vida dela, como eu esperava encontrar, pois 1936 foi um ano importante para ela. Sua família perdeu a Madam. Ela teve meu pai.

Fran pareceu pensar por um momento. Willa ouviu um barulho que parecia de teclado.

— Bem, nós temos várias décadas de edições do Boletim da Sociedade de Walls of Water. Foi o que mostrei à polícia.

— O que é isso?

— Um boletim semanal de uma página, com uma coluna de fofocas, basicamente. Ele circulou pela maior parte das décadas de 1930 e 1940 — Fran riu. — Você deveria ler esses boletins. São impagáveis. Eles registram a vida das damas da sociedade daquela época.

— Acha que posso dar uma olhada? — perguntou Willa.

— Claro. Posso providenciar isso para você com o maior prazer.

Alguns turistas entraram e Willa sorriu e acenou para eles.

— Até que horas a biblioteca fica aberta hoje? — ela perguntou a Fran.

— Hoje faço só meio expediente. Corte de custos significa carga horária reduzida. Na verdade, estou prestes a fechar e ir embora — Fran parou. — Faça o seguinte, ligue para minha casa quando você sair do trabalho, e eu a encontro aqui.

— Você é demais, Fran. Valeu.

Naquela noite Fran já estava esperando quando Willa chegou à biblioteca, que havia recentemente sido transferida para um centro comercial, deixando suas instalações anteriores no subsolo do Palácio de Justiça. Ela estava na porta, ligeiramente desgrenhada e cheirando a aipo.

Já lá dentro, Fran deu a Willa todas as microfichas dos filmes de que ela precisava, depois lhe disse para não se esquecer de trancar a porta quando saísse. Quando a porta pesada bateu atrás de Fran, Willa permaneceu ali por um momento. Dava uma sensação curiosa ficar na biblioteca sozinha. Ela se sentia como se tivesse algodão nos ouvidos. Caminhou até os leitores de microfichas, no fundo da sala, temendo fazer muito barulho. Sentou-se e foi se acostumando aos ruídos da máquina, que se tornaram um ritmo tranquilizador à medida que ela ia avançando pelos arquivos.

Levou um tempo para encontrar as edições de 1936, quando as localizou ela começou a olhar a partir da de janeiro.

O Boletim da Sociedade de Walls of Water era obviamente o passatempo de uma mulher rica e sem filhos chamada Jojo McPeat. O boletim de uma única página era preenchido com fofocas dos eventos sociais, geralmente com duas fotos incluídas.

Os eventos eram descritos assim:

A Sra. Reginald Carter e sua filha causaram sensação com seus casacos cor-de-rosa no baile de inverno da família Ingram. Algumas damas foram entreouvidas perto das esculturas de gelo, mencionando que a dupla parecia algodão-doce, porém a maioria gostou dos trajes, complementado por aquecedores de orelha e luvas.

Jojo fazia longos comentários sobre o que as mulheres vestiam e adorava citar os opositores anônimos. O que Willa achou interessante foram as referências feitas à cidade em si, ocultas no texto. Vários dos anfitriões das festas faziam rifas cuja renda era destinada às famílias de madeireiros que tinham sido financeiramente prejudicadas quando o governo comprou a floresta ao redor de Walls of Water. Jojo uma vez citou Olin Jackson, pai de Georgie, numa festa, prometendo que já que os Jackson tinham dado à cidade uma economia, eles o fariam novamente, embora ele não dissesse exatamente como. E a própria Jojo questionou essa afirmação (supostamente bêbada), perguntando como um homem que deixa a filha usar roupas fora de moda salvaria a cidade. Havia críticas frequentes aos Jackson, mas eram como pedrinhas jogadas nos reis. Os Jackson eram, indiscutivelmente, a realeza da cidade, mesmo que parecessem estar sofrendo uma crise financeira.

Sentada ali, Willa se inclinava para olhar mais de perto a imagem granulada em preto e branco de sua avó nessas festas, com o ar preso na garganta diante desse presente inesperado de poder vê-la dessa forma. Ela era uma jovem deslumbrante, mas seu sorriso a fazia parecer não saber que era linda, ou não ligar para isso. Tinha uma aparência vivaz e inocente e estava sempre cercada pelas amigas. Agatha Osgood também era bem bonita quando jovem, de um modo mais reservado e angular, e estava sempre ao seu lado.

Willa se viu transportada através dessas fotos de Georgie. Ela podia ouvir seu riso, sentir o perfume no ar, o cheiro de tabaco. Estava tão envolvida que quase podia dizer o que as garotas da foto estavam pensando. Dava para ver quando uma delas tinha acabado de dançar com um rapaz de quem gostara e correra de volta para contar às outras, ou quando discutiam sobre roupas e os relacionamentos conflituosos com suas famílias. Eram tão despreocupadas e felizes. Seus futuros eram centelhas no ar, esperando para serem capturados como vaga-lumes.

Então Tucker Devlin chegou.

Jojo o mencionou pela primeira vez, em fevereiro de 1936, como um vendedor de cosméticos femininos de quem a Sra. Margaret Treble havia comprado um tônico que jurava ter deixado sua pele como seda. A Sra. Treble o convidara para acompanhá-la a um almoço de senhoras para vender seus produtos, e todas parecerem cair perdidamente por seus encantos. Jojo citou Tucker Devlin, que dissera: “Venho de uma longa linhagem de agricultores de pêssegos, nasci e fui criado em Upton, Texas, e muito me orgulho disso. Adoro fazer as mulheres se sentirem bem consigo mesmas, mas isso é só um emprego. Entendo mesmo é de pêssegos, isso é o que sei fazer melhor. Em minhas veias corre suco de pêssego. Quando sangro, é doce. As abelhas voam pra cima de mim”.

A primeira foto dele o mostrava diante de uma mesa em que estavam expostos seus potes e suas poções. Ele obviamente estava jogando sua lábia nas moças. Willa estreitou os olhos para a foto. Ele decididamente era o mesmo homem com o chapéu Fedora na foto que encontraram enterrada na Madam. Sua pele pinicou com uma espécie de déjà vu, mas ela deixou para lá.

Dali em diante, nem um único boletim passava sem mencionar Tucker Devlin. E havia uma progressão nas fotos. Elas começavam com Tucker posando com senhoras mais velhas, mas depois ele foi apresentado à sociedade e começou a preferir as mulheres mais jovens. Havia inúmeros retratos dele com Georgie e Agatha. Ele era energizante. Uma potência. As pessoas pareciam ser inconscientemente atraídas para ele. Com o tempo, as mulheres nas fotografias começaram a ficar desesperadas, com expressões famintas em seus rostos. Se fosse uma foto em grupo, sempre havia uma garota olhando para outra, com olhos estreitos de inveja.

Depois de vários boletins, Jojo mencionou de passagem que Tucker Devlin estava morando na Blue Ridge Madam, o que surpreendeu Willa.

Ele tinha morado lá?

Levou um tempo para juntar, através dos boletins, as peças do que acontecera. Aparentemente, Olin Jackson ficou sabendo da antiga profissão de Tucker Devlin, ou o próprio Tucker Devlin abordou Olin Jackson. De qualquer forma, foi elaborado um plano para transformar Jackson Hill num pomar de pêssegos. Empregos seriam gerados. Os Jackson salvariam a cidade novamente. Olin convidara Tucker para morar com eles enquanto criavam esse novo império.

Willa não pôde deixar de se perguntar por que alguém planejaria um pomar de pêssegos naquela elevação. Se Tucker Devlin era quem dizia ser, ele saberia que ali não cresceriam pêssegos. Saberia tratar-se de um empreendimento fadado ao fracasso.

Ainda assim, ele convencera todos de que era possível.

Ele era um trapaceiro, exatamente como Agatha dissera.

Mas isso era motivo suficiente para matá-lo? Quem ele realmente estava prejudicando?

Ao longo do verão, Tucker, agora o menino de ouro da cidade, figurou no boletim, e suas acompanhantes prediletas nas festas eram sempre as mesmas jovens de notável expressão. Curiosamente, embora as amigas de Georgie fossem suas companhias constantes, a própria Georgie pareceu desaparecer da sociedade. Havia menções de ela se sentir indisposta, porém, depois de maio daquele ano, não se viam mais fotos dela.

Então, em agosto, Tucker Devlin também desapareceu. Não havia explicação. Tampouco havia menções do que acontecera com os planos para o pomar de pêssegos. Mais adiante, Willa descobriu uma notinha dizendo que a família Jackson tinha deixado as dependências da Blue Ridge Madam, cumprindo ordens judiciais. O governo tomara a casa por não pagamento de impostos. Isso foi em outubro de 1936, dois meses depois de o corpo ter sido enterrado, se o jornal de Asheville enterrado com o corpo fosse alguma referência.

Isso significava que Georgie e sua família de fato ainda moravam na Madam à época da morte dele.

Não era o que Willa esperava encontrar. E se a polícia tivesse olhado isso, como Fran dissera, então eles também saberiam.

Willa imprimiu todos os boletins de 1936, depois juntou os papéis, apagou as luzes e trancou a porta ao sair. Ela se sentia como a última pessoa a deixar uma festa da qual ninguém realmente queria partir. Ao atravessar o estacionamento até seu jipe, ela pensou ter visto flâmulas prateadas flutuando no céu noturno.

Mas ela piscou e as bandeiras sumiram.