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11

Poção do amor

Uma companhia de dançarinos europeus, grupos africanos de capela, sineiros chineses, isso realmente não importava. Todo ano, o Clube Social Feminino escolhia algum obscuro grupo internacional para patrocinar numa turnê americana e, em retorno, elas recebiam uma apresentação especial privativa. Era sempre o ponto alto da temporada social de verão, exceto dessa vez. Nessa temporada, o baile de gala era o único assunto comentado por todos, para a consternação de Moira Kinley, que seria a anfitriã anual do concerto.

Faltava menos de uma semana para o baile de gala, e Moira sabia o que tinha pela frente. Mas ela era esperta. Astuta. E, acima de tudo, era sulista. Então, programara o concerto para um almoço, não um evento noturno, situações que exigiam trajes completamente diferentes, e conseguira contratar Claire Waverley como chef. Todos queriam suas festas com bufês de Claire Waverley, da cidade universitária de Bascom. Sua comida conseguia tocar todos de maneiras mágicas. Era algo que seria uma grata lembrança durante anos. Algo que seria comparado a todas as outras refeições que você fizesse. Ninguém dispensaria isso, nem Paxton, que habitualmente não comia em eventos sociais, nem tinha um acompanhante para esse.

— Apresente-se a Claire Waverley — disse a mãe de Paxton enquanto a seguia até a porta da frente.

— Farei isso — disse Paxton, checando o relógio. Ela torceu para ter tempo de ligar para Willa e ver como ela estava. A noite anterior tinha sido intensa. Mas agora seu tempo se esgotara. Elas concordaram em se encontrar novamente na casa de repouso no domingo.

— Cause uma boa impressão — disse Sophia.

— Farei isso.

— Dê isso a ela. — Sophia entregou uma caixinha embrulhada num belo papel azul com estampa xadrez.

Paxton olhou a caixa, curiosa.

— O que é?

— É um presente para a chef, um broche de ouro em formato de flor, porque ela trabalha com flores comestíveis. E eu também escrevi um belo bilhete.

Não era um presente, era um suborno, mas Paxton não frisou isso.

— Você realmente a quer no banquete de sua festa de aniversário de casamento, não é?

— Só faltam oito meses! — disse Sophia, preocupada.

A essa altura, Paxton já tinha chegado à porta.

— Tchau, mamãe.

— Sim, tchau — disse Colin, surgindo do nada e saindo pela porta antes delas.

— Colin! Aonde você está indo? — Sophia gritou.

— Comungar com a natureza — ele gritou de volta.

Paxton saiu e Sophia disse:

— Arrume a tira de sua sandália, está torta.

Paxton alcançou Colin enquanto ele caminhava até o Mercedes preto do pai.

— Isso foi fácil demais para você — disse ela. — Levei dez minutos só para chegar até a porta.

— O truque é não olhar direto nos olhos. Eles não atacam se você não olhar nos olhos.

Ela sorriu, mesmo sem querer.

— Você está de bom humor.

— Sim, estou. — Ele olhou-a, pensativo. — Mas você não está. Quando foi a última vez em que esteve de bom humor, Pax? Eu sei que você não acha que eu ligo. Mas eu ligo. Nada irá melhorar até você dar o fora desta casa. Encontre o que a faz feliz. Obviamente, não está aqui.

Não, não estava. Ela só não tinha certeza de onde estava.

— Você realmente vai comungar com a natureza?

— Na verdade, eu tenho um encontro com a Willa hoje. Motivo pelo qual eu preciso ir. — Ele fez um sinal apontando para a direção atrás dela. — Você também não deve deixar seu acompanhante esperando.

— Eu não tenho um acompanhante. Obrigada por enfatizar isso.

— Diga isso a ele — disse Colin ao beijá-la no rosto e entrar no carro.

Paxton se virou e viu que Sebastian tinha estacionado o carro na frente do seu, na entrada curva da garagem. Ele estava recostado no veículo, com as mãos nos bolsos.

Ele a viu se aproximar sem sorrir ou franzir o rosto. No entanto, decididamente cautelosa.

— Eu disse que você não precisava vir — disse Paxton, parando diante dele.

— E eu disse que faria qualquer coisa por você. — Sebastian abriu a porta do lado do passageiro. — Vamos?

Ela não podia negar o alívio que sentia. Não estava animada em ir sozinha.

— Obrigada, Sebastian.

Eles não conversaram muito durante o trajeto. Não mencionaram o que fizeram durante a semana anterior para impedir que se vissem ou retornassem as ligações. Ele lhe disse que ela estava linda de cor-de-rosa. Ela comentou que o carro estava muito bem polido. E só. Ela ficou imaginando se algum dia as coisas entre eles voltariam a ser iguais. E a triste resposta era provavelmente não, porque ela ainda não conseguia ficar assim, tão perto dele, sem sentir aquela atração, aquele desejo, aquilo que decididamente não era amizade. Nunca fora. E agora que tinha sido exposto, não havia como voltar atrás.

Eles pararam na frente da casa de Moira Kinley, de arquitetura em estilo Federal, chamada Cabana Azedeira, e o manobrista levou o carro de Sebastian. Subiram os degraus e, ao chegar à porta, ele finalmente perguntou:

— Para quem é o presente? Moira?

— Não. É um suborno da minha mãe para a chef. Ela a quer para sua festa de aniversário de casamento. Em algum momento, eu terei de dar uma escapada para entregar isso, ou ela nunca mais vai parar de falar no meu ouvido.

Eles entraram e a empregada os conduziu à parte de trás da casa, onde encontraram outras integrantes do clube se sociabilizando no imenso gramado. Moira tinha criado uma sombra artificial nesse dia quente ao estender uma cobertura de tecido azul-claro, da cor do céu, sobre a área onde estavam as mesas e o palanque. Imensos ventiladores sopravam, fazendo tremular o tecido. Criava um lindo efeito. Tudo isso e Claire Waverley também. As pessoas falariam disso durante dias. E Moira certamente merecia todo o crédito.

Enquanto Paxton e Sebastian caminhavam em direção à cobertura, Paxton começou a notar que havia um bocado de mulheres ostentando presentes, incluindo a pobre Lindsay Teeger, que tentava equilibrar, numa das mãos, uma panela chinesa amarrada com um laço e, na outra, uma taça de vinho. Aparentemente, a mãe de Paxton não era a única que queria os talentos culinários de Claire Waverley para sua próxima festa.

Moira foi a primeira a cumprimentá-los. Ela parecia feliz e orgulhosa de si mesma. Sabia que havia sido uma ação bem-sucedida.

— Bem-vindos! — disse ela, dando-lhes beijinhos no rosto.

— Mas que deslumbrante, Moira — disse Paxton. — Parabéns.

— Isso significa muito, vindo de você — disse Moira. — E só para que você saiba, eu não estou tentando roubar o brilho de seu baile de gala. Tenho certeza de que também será legal. — Ela apontou para o presente que Paxton estava segurando. — Deixe-me adivinhar: é para Claire Waverley?

Paxton deu de ombros.

— Minha mãe insistiu.

— Vou lhe dizer o que eu disse a todo mundo. A cozinha está restrita. Ninguém tem permissão de entrar. Não quero a Claire distraída. Desculpe! Mas pegue uma taça de vinho e aperitivos e aproveite!

Assim que ela saiu, Sebastian se aproximou e disse:

— Essas mulheres deveriam vir com placas indicando perigo.

Ela sorriu diante do comentário enquanto caminhavam sob a cobertura, tentando encontrar a mesa deles. Logo foram parados por um garçom de vinte e poucos anos, bonito, de lábios grossos, devorando Sebastian com os olhos, de uma maneira ostensivamente sexual. Ele ofereceu vinho a Sebastian, que agradeceu, pegou duas taças, para ele e Paxton, entregou a de Paxton, depois a levou para longe, com o braço ao redor de sua cintura, obviamente desconfortável.

Durante a meia hora seguinte, eles socializaram e acabaram indo parar num grupo que incluía Stacey Herbst e Honor Redford. Paxton estava ficando cansada de segurar o presente de sua mãe. Ela achou que estava sendo ostensiva, já que todas tinham perdido as esperanças e guardado seus presentes na bolsa ou colocado em suas mesas, então Paxton também pediu licença para deixar o seu na mesa.

Ela não demorou muito. Quando fazia o caminho de volta, teve de admirar Sebastian. Ele conseguira fazer que todos ali parecessem estar vestidos para um trabalho braçal. Seu terno era de um tom cinza esfumaçado, sua camisa branca estava engomada e sua gravata era como água. Tudo estava totalmente suave e liso, e ele se movia como se não houvesse resistência entre ele e o que vestia.

Ela não era a única observando. O garçom bonitinho voltou, dessa vez com uma bandeja de canapés. Ele ofereceu a bandeja a Sebastian, que sacudiu a cabeça e a virou, dando um gole em seu vinho. O garçom pareceu oferecer a bandeja ao restante por reflexo.

Paxton se aproximou do grupo a tempo de ouvir uma das mulheres dizer a Sebastian:

— Ele é bonitinho. Acho que está interessado em você.

— Querida — disse Sebastian quando percebeu que Paxton voltara a se juntar a eles. — Antes de sermos interrompidos, nós estávamos falando de você e da Blue Ridge Madam. E de como a mortalha do esqueleto parece ter se erguido. — Exatamente como ele dissera que aconteceria.

— Sim — disse Paxton, radiante. Radiante demais. — Saúde, Tucker Devlin. — Ela ergueu a taça, como se brindasse, mas o copo emborcou ligeiramente e respingou no paletó de Sebastian. Foi uma sensação muito estranha. Ela podia jurar que alguém tinha empurrado a taça. Mas não havia como alguém fazê-lo sem que ela tivesse visto. — Oh, Sebastian, me desculpe.

— Tudo bem. Está quente demais para usar paletó, de qualquer forma.

— Você já bebeu tanto assim? — Stacey perguntou a ela.

Paxton olhou-a, aflita.

— Não, essa é minha primeira taça.

O garçom já voltava apressado, mas Sebastian ergueu a mão e sacudiu a cabeça, detendo-o, irritado. Ele entregou sua taça a Paxton, tirou o paletó e o sacudiu.

— Minha tia-avó costumava falar sobre ele — disse Sebastian, pendurando o paletó no braço, pegando a taça de volta. — Tucker Devlin. Disse que ele manteve a cidade refém com sua mágica quando veio para cá. Sabe aquela pintura no meu quarto, a que foi dela, com o pássaro pousado na tigela de frutas? — ele perguntou a Paxton. Isso causou uma súbita troca de olhares. Agora, todos sabiam que ela tinha estado em seu quarto. Paxton ficou imaginando se ele teria falado de propósito. — Ela me disse que Tucker Devlin veio visitá-la uma vez porque ele gostava de cortejar todas as garotas, de se assegurar de que todas estivessem sob seu feitiço. Ela disse que, enquanto conversavam, ele estendeu a mão até o quadro, recolheu-a cheia de frutinhas e as comeu na frente dela. A mão dele estava sangrando, como se o pássaro a tivesse bicado. Sempre achei uma história muito estranha. Minha tia-avó nunca foi de inventar coisas. Mas eu não consigo olhar aquela pintura e deixar de imaginar se é sangue ou suco da fruta no bico do pássaro.

— Espere um minuto. Minha avó também costumava falar sobre um homem mágico — disse Honor. — Um vendedor que viajou até aqui uma vez, quando ela era jovem. Ela disse que ele roubava corações. Toda vez que me contava a história, ela costumava dizer: “Se um homem tem tanto calor que chega a queimar sua pele ao tocá-la, ele é o diabo. Corra”.

Isso foi o estopim para uma série de histórias quase esquecidas sobre o homem mágico que as avós contavam às netas, a maioria como alertas. Nana Osgood não estava exagerando sobre a personalidade de Tucker Devlin. Ele ainda era mencionado com admiração, mesmo se todas o tivessem relegado à ficção.

Ele sobrevivia nas histórias, histórias que tinham sido desenterradas porque seu esqueleto havia sido desenterrado. Mas um homem assim não merecia voltar a ser lembrado jamais. Por que ele não podia simplesmente ter continuado enterrado? Nada de bom surgira disso.

Uma série de exclamações surgiu na reunião e Paxton olhou acima, vendo que um pássaro preto e amarelo tinha conseguido entrar e voava de um lado para o outro, obrigando as pessoas a se abaixarem. Ele voou em círculos por alguns minutos, batendo de encontro à cobertura, até que finalmente conseguiu achar a saída.

E, depois que ele partiu, todos tinham se esquecido do que estavam falando.

Finalmente, Moira pediu que todos tomassem seus lugares. Ela fez um pequeno discurso se autoparabenizando pelo almoço, depois quase se esqueceu de apresentar o grupo que elas estavam patrocinando naquele ano, um quarteto ucraniano de violinistas. O almoço foi então servido, com a linda comida e suas rosas comestíveis com sabor de lavanda, menta e luxúria. As pessoas fechavam os olhos a cada garfada, e o ar ficou adocicado e fresco. O quarteto tocou melodias arrebatadoras que eram estranhas e exóticas. Havia no ar uma curiosa sensação de desejo que todos sentiam. As pessoas começaram a pensar em antigos amores e oportunidades perdidas. Ao contrário da maioria desses eventos, ninguém queria ir embora. O almoço se estendeu durante horas. O quarteto tocou todo o seu repertório duas vezes. Quando os pratos foram recolhidos para a sobremesa, o quarteto anunciou que tinha de partir para sua próxima apresentação da noite. Todos se espreguiçavam em suas mesas, como se estivessem acordando. Moira, em pé na lateral, parecia satisfeita consigo mesma.

Paxton se virou para Sebastian, que olhava sua taça de vinho, pensativo.

— Se a sobremesa está pronta, imagino que isso signifique que a banqueteira logo irá embora. No fim das contas, não terei a oportunidade de entregar o presente de minha mãe para Claire Waverley. Aparentemente, ninguém terá.

Alguém do outro lado da mesa disse algo e Paxton virou a cabeça para responder. Quando a desvirou, Sebastian tinha sumido.

Ela olhou em volta e o viu à margem das mesas, conversando com o jovem garçom que antes tinha flertado com ele. Paxton desviou os olhos com uma pontada de dor no peito.

Instantes depois, Sebastian inclinou-se para a frente, por trás dela, e disse em seu ouvido:

— Encontrei um jeito de pô-la na cozinha. Venha comigo.

Sem dar uma palavra, Paxton pegou a bolsa e o presente e seguiu Sebastian. Agora havia bastante gente em pé, esticando as pernas, então eles conseguiram chegar aos fundos da casa sem serem notados.

O garçom bonitinho esperava por eles.

— Sigam-me — disse ele, com uma piscadela e um sorriso.

Paxton olhou para Sebastian. Ele tinha feito aquilo por ela.

— Vá em frente — disse ele. — Vou esperar por você na sala de estar.

O garçom, cujo nome era Buster, era meigo e descarado. Estava trilhando seu caminho através da escola culinária, em Bascom. Ele passou pela pessoa que estava sentada do lado de fora da porta da cozinha, um tipo de guarda que Moira tinha posicionado ali para manter Claire Waverley só para ela, como uma bruxa de contos de fada.

Paxton ficou tão surpresa e comovida com a iniciativa de Sebastian que, assim que entrou na cozinha, sua atitude mudou num instante. Foi tão depressa que ela nem teve tempo para repensar. Simplesmente faria aquilo. Colocou o presente numa prateleira perto da porta e foi em frente. Ela tinha uma chance e iria aproveitá-la. Talvez ainda pudesse fazer aquilo acontecer.

Duas mulheres estavam em pé ao lado da bancada de trabalho de aço inox, que estava repleta de flores, parecendo confete de uma comemoração improvisada. Elas estavam incrivelmente centradas, paradas como neve. Paxton sentiu-se ligeiramente desconfiada ao se aproximar.

Mulheres ricas sempre estão de ouvido em pé, alertas para o burburinho de algo novo, algo que as deixe mais felizes, jovens, melhores. Uma vez que se espalha a notícia de uma dermatologista com um creme miraculoso, essa dermatologista fica com a agenda lotada durante meses. Quando se espalha que um personal trainer é o melhor, todas o querem. E assim foi com Claire Waverley, uma linda e misteriosa chef que diziam ser capaz de deixar suas rivais com inveja, melhorar sua vida sentimental, aguçar seus sentidos, tudo com a comida que preparava. Sua especialidade eram flores comestíveis. Quando se espalhou que ela tinha algo que ninguém mais possuía, todos a queriam. Mas ela tinha uma agenda concorridíssima.

— Claire Waverley?

— Sim? — disse Claire, virando-se. Ela tinha quarenta e poucos anos, um lindo corte de cabelo e uma intensidade silenciosa.

— Meu nome é Paxton Osgood.

— Olá — disse Claire. Ela passou o braço ao redor da jovem que estava ao seu lado. — Esta é minha sobrinha Bay.

— Prazer em conhecê-la — disse Paxton.

Bay sorriu. Decididamente havia uma semelhança. Os cabelos escuros, as feições de menina travessa. Mas os olhos de Claire eram agudos e escuros, e os de Bay eram azul-claros. Bay provavelmente tinha cerca de quinze anos, era magra, desajeitada e completamente encantadora. Ela usava tantas pulseiras trançadas que metade de seu braço estava coberta; sua camiseta dizia se você perguntar, eu digo e havia uma pequena edição de Romeu e Julieta enfiada no bolso traseiro dos jeans.

— Lamento incomodá-la — disse Paxton.

— Não está incomodando. Nosso trabalho terminou. A sobremesa está pronta. — Ela apontou para as imensas bandejas de pudins, prontas para serem servidas pelos garçons. — Tortas de limão com farelos de avelã, amor-perfeito, lavanda e verbena.

— Isso parece maravilhoso.

— Bay, leve aquela caixa lá fora até a van, por favor. — Assim que a menina se foi, Claire disse: — Você tem uma pergunta.

Paxton percebeu que ela estava acostumada com aquilo. Estava habituada com gente apaixonada querendo algo dela, uma cura, uma poção, uma promessa. Ela trazia isso nos olhos. Já vira de tudo. O desejo. O desespero. Sabia o que Paxton ia perguntar antes que ela dissesse.

Paxton olhou por cima do ombro para ter certeza de que não havia ninguém perto o suficiente para ouvir.

— Você realmente pode fazer as pessoas se sentirem diferentes com sua comida, com os drinques que prepara?

— Consigo mudar humores. O que não consigo é mudar as pessoas. Não há mágica para isso. Quem você está querendo mudar?

As palavras a surpreenderam. Ela não queria que Sebastian mudasse. E estar apaixonada não era algo tão errado assim. Ela não podia, não mudaria isso. Percebeu que esse era seu último esforço para fazer as coisas seguirem de seu jeito. “Encontre o que a faz feliz”, dissera seu irmão. Isso não trazia sua felicidade, então por que ela estava buscando isso? Ela percebeu que finalmente chegara a hora de desistir.

— Ninguém, eu acho — disse Paxton.

Claire lhe deu um pequeno sorriso, um sorriso compreensivo.

— É melhor assim. Quanto mais lutamos, pior fica. Falo por experiência própria.

Paxton saiu da cozinha ligeiramente anestesiada. Mas estava tudo bem. Ela realmente preferia assim. Caminhou até a sala de Moira para encontrar Sebastian.

Apesar de suas feições delicadas e de seu porte esguio, ele transmitia uma vibração soberana, superior e intocável quando queria. E era assim que ele estava agora, sentado no sofá de couro, olhando pela janela. Ele se virou ao ouvi-la se aproximar.

Ele pareceu surpreso.

— Você não deu o presente.

Paxton olhou a caixa embrulhada em suas mãos.

— Não. Acho que eu gostaria de ir para casa.

Ele descruzou as pernas e se levantou. Pegou o paletó no encosto do sofá e caminhou silenciosamente em direção a ela. Lá fora, Sebastian deu seu tíquete ao manobrista. À direita, Paxton via os músicos ucranianos entrando numa van branca. Sem pensar, ela foi até eles, entregou o presente da mãe e disse:

— Obrigada. Foi lindo.

Eles sorriram sem entender essas estranhas mulheres do sudeste americano.

O manobrista tinha acabado de entregar o Audi de Sebastian quando ela voltou. Sebastian ajudou-a a entrar, depois sentou-se atrás do volante.

Antes que ele pudesse ligar o motor, ela disse:

— Quase pedi uma poção do amor a Claire.

Ele se recostou lentamente e olhou para ela.

— Quase?

— Não quero que você seja algo que não é. Você é maravilhoso do jeito que é. E meus sentimentos são inconvenientes, mas não são errados. Eu também não acho que os mudaria, mesmo que pudesse.

Com um suspiro, ele se aproximou e encostou a testa na dela, depois fechou os olhos. Sebastian também parecia entender o desespero da situação. Depois de um momento, ele recuou ligeiramente e olhou para ela. Seus olhos percorreram o rosto de Paxton, depois, lenta e quase imperceptivelmente, ele se aproximou mais uma vez, olhando seus lábios. De alguma forma, isso só podia ser obra dela. Paxton estava criando isso, por querê-lo tanto.

— Não faça isso — sussurrou ela, quando os lábios dele estavam perto o suficiente para que ela sentisse o leve aroma do vinho do último gole. — Não tenha pena de mim.

Os olhos dele se dirigiram aos dela, confusos.

— O que a faz pensar que estou com pena de você?

— Eu sei que isso não é algo de que você queira falar. Sei que gosta de manter o mistério quando se trata de sua sexualidade. Mas eu o vi, lembra? Na época do ensino médio, em nosso último ano. Você estava com um grupo de garotos, na praça de alimentação do shopping, em Asheville. Um deles se aproximou de você e o beijou, e você olhou diretamente para mim. — Ele se recostou no banco, perplexo. Ela instantaneamente sentiu sua falta, tanto que quis se encolher para guardar consigo aquele restinho de calor. — Eu nunca vou lhe pedir para ser algo que não é. Nunca. Sei que você não pode sentir por mim o que eu sinto por você. Portanto, isso é problema meu. É um obstáculo a ser contornado que pertence a mim. Não a você.

Sebastian respirou fundo e sacudiu a cabeça.

— Eu tinha me esquecido disso — disse ele.

Houve um silêncio desconfortável antes que ele ligasse o carro e saísse. Ele seguiu até um cruzamento e parou, e Paxton reconheceu o carro que parou à esquerda. Era Colin, com Willa no banco ao seu lado. Colin buzinou e acenou para ela.

Se Paxton não amasse tanto o irmão, talvez se ressentisse.

Ele obviamente tivera um dia muito melhor do que o seu.