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12

Seduções estranhas

Rachel Edney pensava ser uma pessoa prática. Ela não acreditava nem em fantasmas, nem em superstições, nem que campainhas tocassem sozinhas.

Mas uma coisa em que ela acreditava era o amor. Acreditava que era possível sentir seu cheiro, seu sabor, que ele podia mudar toda a trajetória de uma vida.

E ela era prova viva disso.

Nunca havia morado num lugar por mais de um ano quando era pequena. E acabou programada para seguir o mesmo padrão depois de adulta. Afinal, não havia nada de errado nisso. A estabilidade era supervalorizada. Por outro lado, as crises e as aventuras podiam ensinar alguma coisa. Um ano e meio antes, ela passou por Walls of Water, de carona, falida e cansada. Tinha resolvido parar e arranjar um emprego por tempo suficiente para guardar algum dinheiro, depois partiria novamente. Ela arranjou facilmente um serviço na loja de artigos esportivos porque, convenhamos, você não tem como passar a vida num acampamento atrás do outro sem aprender um pouquinho sobre aquilo de que precisa para sobreviver. Willa, dona da loja, parecera aliviada. Rachel gostou de Willa. Ela era legal e engraçada, mas tão cheia de sentimentos contidos que Rachel tentava tudo que podia para fazê-la se abrir e aliviar um pouco a pressão. Nada jamais funcionou, o que era estranho. Rachel geralmente não se enganava com as pessoas.

Mesmo depois de conseguir trabalho, Rachel tivera de acampar ilegalmente nas Cataratas, porque não tinha como pagar um lugar para morar. Acabou sendo descoberta, numa noite chuvosa, por um guarda florestal chamado Spencer. Ele realmente não queria obrigá-la a partir, então concordou em deixá-la ficar até a manhã seguinte, se ela prometesse arrumar suas coisas e ir embora assim que clareasse. Ela estava tão grata que lhe dera um beijo, bem ali, em pé, na chuva. Ele ficara tenso e constrangido por isso. Chegou a ficar vermelho ao se afastar. Mas quando voltou, na manhã seguinte, ele pareceu aliviado em encontrá-la ali, mesmo depois de lhe dizer que fosse embora. E foi assim que aconteceu.

Rachel se apaixonou e isso mudou tudo.

Ela morava ali havia mais tempo do que jamais vivera em qualquer outro lugar, uma sensação estranha para ela. Mas Spencer estava ali, o meigo, bondoso e estável Spencer, e ela sabia que não podia estar em nenhum lugar em que ele não estivesse. Quando pensava nisso, ela percebia que havia sido exatamente assim que a mãe de Rachel seguiu seu pai pelo país afora. Então, ela se acostumou a esse lugar curioso e suas superstições engraçadas. Habituou-se a dormir num colchão e a usar uma panela elétrica. Aprendeu a dirigir. Até convenceu Willa a deixá-la instalar um balcão de café dentro da loja. E, para sua surpresa, ela era muito boa naquilo.

Ela descobriu que o café estava ligado a todo tipo de lembrança, coisas diferentes para cada pessoa: as manhãs de domingo, reuniões amistosas, um avô querido que havia muito se fora, uma reunião dos Alcoólicos Anônimos que salvou uma vida. O café significava algo para as pessoas. A maioria achava a vida infeliz sem ele.

Nesse sentido, o café era bem parecido com o amor.

E porque Rachel acreditava no amor, ela também acreditava no café.

Mas era só isso.

Ela continuava não acreditando em campainhas que tocavam sozinhas, embora a da loja fizesse isso.

Naquele sábado, quando tocou novamente, ela ergueu os olhos esperando não ver ninguém ali, mas, para sua surpresa, era Willa.

— O que está fazendo aqui? — perguntou Rachel. — É seu dia de folga.

— Vou sair com Colin Osgood e ele vem me encontrar aqui — disse Willa, caminhando até Rachel no balcão do café. — Se você começar a fazer barulhos de beijos, eu vou tirar todos os seus privilégios do café.

Rachel fingiu pensar seriamente a respeito, depois perguntou:

— Posso fazer uma piada?

— Não.

— Uma rima?

— Não.

— Posso cantarolar a marcha nupcial quando vocês saírem?

— Não.

— Isso significa que você e Colin estão...

Willa a deteve, antes que ela pudesse continuar.

— Não.

— Você tem certeza? — Rachel inclinou a cabeça em direção à vitrine da loja e Willa se virou para ver Colin passando. — Eu nunca tinha visto você se esconder de ninguém. Ele deve mexer muito com você.

Quando entrou, Colin desviou o olhar de Rachel para Willa, provavelmente imaginando por que elas o encaravam. Ele olhou para baixo, como se para ter certeza de que vestira roupa pela manhã. Estava de short, botas de trilha e uma camiseta de mangas compridas.

Rachel viu os olhos de Willa se estreitarem.

— Você está vestido... Não. — Ela ergueu uma das mãos. — Com certeza não.

— Sabe da maior? — disse Colin, sorrindo. — Nós vamos fazer uma trilha.

— Eu não quero fazer trilha — disse Willa. — Não estou vestida para isso.

— Estamos ou não numa loja de artigos esportivos?

— Foi por isso que você quis me encontrar aqui! — disse Willa, ultrajada.

— Sim.

Willa cruzou os braços.

— Não vou.

— Ora, vamos, confie em mim — Colin pediu.

— Vou pegar um par de botas do seu tamanho enquanto você veste um short e uma camiseta — disse Rachel, imaginando que, juntos, ela e Colin talvez conseguissem fazer isso acontecer. — Eu até deixo você usar meu chapéu de caubói.

— Ela até vai deixar você usar o chapéu — disse Colin, olhando Willa nos olhos e erguendo as sobrancelhas, como se isso fosse o argumento decisivo.

Rachel sabia que, se Willa não quisesse fazer algo, ela não faria. Portanto, o fato de se deixar convencer significava que a única pessoa com quem ela estava lutando era ela mesma.

Em questão de minutos, ela estava totalmente vestida, parecendo uma criança forçada a usar uma roupa horrível feita por sua avó.

— Vamos acabar logo com isso — disse ela. — Mas eu já lhe disse, já sei como termina.

— Ela foi fazer trilha comigo uma vez, viu uma cobra depois de dar dez passos e voltou correndo para o carro — disse Rachel.

Willa estremeceu.

— Não gosto de cobras.

— A maioria das cobras é legal — disse Colin.

— Ah, que ótimo — disse Willa, ao caminhar até a porta. — Você gosta de cobras.

Colin a seguiu até lá fora.

— Não há o que temer. Na verdade, eu posso lhe mostrar uma que você talvez goste.

— Eu não quero ver sua cobra, muito obrigada. De qualquer forma, eu disse que não gosto delas, não que tenho medo delas.

— Isso é um desafio? — perguntou ele.

— Qual é a sua com isso de desafio? Não.

— Arranjem logo um quarto — Rachel disse quando eles saíram.

— Eu ouvi isso — Willa gritou enquanto a porta se fechava atrás deles.

Sim, Rachel Edney acreditava no amor.

E ela o reconhecia quando o via.

Eles seguiram de carro pela entrada da Floresta Nacional das Cataratas, por estradas sinuosas com vistas magníficas. Havia vários pontos de observação ao longo do caminho, onde as pessoas podiam estacionar e simplesmente ficar olhando o horizonte. Em alguns desses pontos era até possível avistar as cataratas pelas quais a floresta era conhecida. Entretanto, grande parte das quedas-d’água só podia ser alcançada a pé.

Quando Colin estacionou num largo de cascalho, na entrada de uma das trilhas, Willa olhou em volta e disse:

— Para onde estamos indo, exatamente?

— Para Tinpenny Falls.

Considerando todos os fatos, isso até que era um alívio. Tinpenny Falls era uma atração popular, e a trilha provavelmente não era tão traiçoeira. Ela já recebera septuagenários em sua loja que lhe disseram ter feito a trilha de Tinpenny Falls. Se eles podiam fazer, ela certamente poderia.

— Você fazia essas trilhas quando morava aqui? — perguntou Willa, ainda no carro, enrolando a descida.

Colin desafivelou o cinto de segurança.

— Não.

— Então, essa é a primeira vez que vem aqui?

— Não, não é a primeira vez que venho aqui. Não se preocupe. — Ele esticou o braço e pousou a mão no joelho dela. Sua pele estava morna, em contraste com sua perna fria por causa do ar-condicionado, e isso a fez resfolegar. — Eu conheço o lugar para onde estamos indo. Sempre que venho visitar meus pais faço trilhas. Isso me ajuda a enfrentar.

— Enfrentar o quê?

— O fato de estar aqui.

Sem dar a ela uma chance de responder, ele saiu e pôs a mochila nas costas, prendendo a tira da frente ao redor da cintura.

Essa era certamente uma situação estranha, pensou Willa saindo do carro. Na verdade, ela tinha ficado tão envolvida com os desafios de Colin, assim como à sua forma de vida, que nunca questionou qual seria realmente a motivação dele. Até agora. E foi uma revelação e tanto como isso tinha tão pouco a ver com ela.

Colin seguiu descendo a trilha e Willa foi atrás, relutante, rumo à folhagem verde. Ele era um guia turístico nato, apontava a flora interessante e as diferenças entre as árvores novas que nasciam, desde que a exploração de madeira tinha parado, mostrando as antigas que haviam sido preservadas. Ela não fingia estar fascinada. Estava mais era à procura de cobras. Não era uma garota da natureza, apesar de, por algum motivo, ele querer que ela fosse. Colin queria que ela fosse muitas coisas. Dissera-lhe que ela o havia inspirado a partir, a seguir seu caminho, e Willa lentamente começava a entender que a vida dela era ali, o fato de ter voltado e ficado desafiava a forma que ele escolhera viver sua vida. Colin não achava que ali era seu lugar, então ela sempre o faria encarar alguns fatos desconfortáveis. As pessoas se adaptam. As pessoas mudam. Você pode, sim, crescer no lugar onde se enraizar.

E Colin não gostava nada daquilo.

Não que ela estivesse particularmente satisfeita por perceber que passara a gostar desse lugar, muito mais do que achou que gostaria.

Então, onde se encaixava a sedução? Seria apenas um meio para um fim, fazia parte de querer influenciá-la a mudar para se encaixar às suas expectativas, para que ele pudesse voltar pensando que tinha tomado as decisões certas em sua vida?

Ela achava que não, mas não podia ter certeza.

Eles pararam para fazer um lanche que Colin trouxera na mochila e só então ela percebeu quanto tinha ficado ofegante. Ela agradeceu a oportunidade de descansar e observar a passagem silenciosa de um grupo a cavalo, atravessando o rio, na única trilha equestre do parque. Quando o intervalo acabou, Colin partiu novamente.

Eles finalmente chegaram ao topo de Tinpenny Falls, e a vista era magnífica. O rio que levava ao precipício das cataratas era muito calmo e surpreendentemente raso. Mas, quando a água encontrava a beirada da rocha, ela rugia por cima e caía mais de trezentos metros numa piscina pontilhada de rochas planas.

Essa era a cachoeira mais famosa da região, batizada com o nome de um homem bonito, porém presunçoso, chamado Jonathan Tinpenny. Dizia a lenda que, havia mais de dois séculos, o Sr. Tinpenny vinha cavalgando de sua casa em Charleston, na Carolina do Sul, atravessando as montanhas verdejantes da Carolina do Norte, em busca das quedas-d’água de que ouvira falar dessa área, onde se relatava que a água era saudável e capaz de curar milagrosamente. À época, o Sr. Tinpenny tinha somente vinte e poucos anos, mas o reumatismo chegava cedo para os homens de sua família. Embora sofresse dessa enfermidade, o Sr. Tinpenny fez a peregrinação sozinho, por orgulho de sua firmeza, pois era o caçula, o mais alto e mais robusto dos irmãos. No entanto, não esperava que as estradas do cume alto e fresco das montanhas se tornassem tão duras e cheias de raízes. Não esperava uma terra de nuvens. Ele conduziu seu cavalo por entre esses charcos da estrada, que chegavam a bater na cintura, e encheu várias garrafas de neblina a fim de levar para casa, pois achou que ninguém acreditaria em quão espessa era. A jornada foi dura para ele. Quando encontrou Tinpenny Falls, estava quase delirando de dor. Perdeu o equilíbrio e caiu. Milagrosamente, ele sobreviveu e foi encontrado por caçadores apenas algumas horas depois. Foi levado para casa de trem, num vagão privativo luxuosamente reservado, onde dormiu a maior parte do tempo. Ele alegou que a água, de fato, só podia ser curativa; bastava ver como sua jornada de ida havia sido dura e como tinha sido fácil voltar para casa. Anos depois, em seu enterro, seus filhos abriram aqueles vidros de neblina que ele trouxera e, segundo a lenda, uma neblina espessa como fumaça permeou a cidade durante dias.

Os turistas adoravam essa história. E adoravam comprar os vidros de suvenir com a neblina da cidade.

Porém, por mais bela que fosse, esse obviamente não era o destino que Colin tinha em mente. Ele a conduziu por uma ponte natural de pedras planas até o outro lado da cachoeira.

— O que o fez decidir se tornar um arquiteto paisagista? — perguntou Willa quando ele se virou para trás, esticando o braço e pegando-lhe a mão, enquanto eles caminhavam um atrás do outro.

Ele deu de ombros, ainda seguindo em frente.

— Há uma gruta de nogueiras na propriedade dos meus pais, longas fileiras de árvores, com seus galhos se estendendo e se encontrando uns com os outros, constantemente precisando de poda. Eu me lembro de quando era menino e ia para lá, deitava ali embaixo e simplesmente ficava olhando a abóboda. Minha mãe dizia que ali era meu lugar para pensar. Havia uma simetria inquietante nas árvores, mas aquela estrutura estava sempre ameaçada por sua própria natureza selvagem. Concluí que paisagismo era como domar leões — disse Colin, olhando por cima do ombro, sorrindo. — Mas só decidi fazer arquitetura paisagística depois que terminei a faculdade. Minha formação foi em finanças, que era o desejo do meu pai, porque ele também tivera essa formação. Mas depois da faculdade, só como desculpa para não ir para casa, fui fazer uma viagem pela Europa com a minha então namorada, e os jardins dos castelos meio que voltaram a despertar meu desejo de domar leões. — Ele parou. — E também tinha você.

— Sim — disse ela, sabendo o rumo que a conversa estava tomando. — E também tinha eu.

— Fiquei muito infeliz na faculdade e me lembro de pensar Nesse momento, Willa Jackson provavelmente está fazendo o que quer da vida. Você foi embora fazendo um estardalhaço muito grande.

— Isso pode ser uma surpresa para você, Colin, mas, quando parti, eu não era mais feliz do que fui aqui. Eu era arredia e irresponsável, e abandonei a faculdade. Trabalhei como frentista de um posto de gasolina e estava a duas semanas de perder meu apartamento quando meu pai morreu. Não sei o que teria acontecido se eu não tivesse voltado.

— Você nunca teve a chance de descobrir — ele frisou.

— Não. Voltar e enfrentar tudo foi exatamente o que eu precisava fazer. E se um dia eu tiver de ir embora daqui novamente, posso fazer isso com confiança. Não estarei fugindo.

Isso o fez parar e olhar para ela.

— É isso que acha que eu fiz?

— Eu não sei — respondeu Willa, honestamente. — Mas vou lhe dar um conselho que você não vai querer ouvir: passe mais tempo aqui e talvez as pessoas o vejam como você é agora, e não como o Homem-Vareta.

— Você parece a minha irmã.

— Não perturbe a Paxton — Willa se surpreendeu, dizendo. — Ela já tem bastante com que se preocupar.

— Então agora vocês são amigas de infância? — disse ele, sorrindo, ao pegar novamente a mão dela. — Estamos quase chegando.

Ele a conduziu para fora da trilha em meio à floresta, e eles foram parar num pequeno afluente do rio que tinham acabado de atravessar. Ele escorria por uma pedra imensa e achatada e desaguava numa piscina na floresta.

Colin tirou a mochila e a jogou na margem abaixo. Depois, sentou-se e desamarrou as botas.

— Sabe, dizem que o motivo de Jonathan Tinpenny ter sobrevivido não foi por ter caído na cachoeira, mas por ter deslizado por essa rocha.

— O que você está fazendo? — ela perguntou, desconfiada.

— Só estou tirando as botas. — Ele se levantou e jogou as botas lá embaixo.

Subitamente ela entendeu o que ele ia fazer.

— Você viu aquelas placas? Diziam que não é permitido deslizar pela rocha.

— Não, eu não vi — disse Colin, caminhando cuidadosamente até a rocha reluzente. — Eu nunca vejo.

— Você já fez isso?

Ele sentou-se e chegou bem perto da beirada, sugando o ar, porque a água que fluía por suas pernas estava obviamente gelada.

— Venha, Willa. Eu duvido que você me acompanhe.

— Você acha que só precisa disso? Duvidar?

— Eu sei que você quer.

— Você não tem como saber isso.

— Até que você possa me dizer exatamente o que quer, eu vou inventando e seguindo em frente. — Depois de dizer isso, ele tomou impulso e desceu deslizando pela pedra molhada.

— Colin! — Willa gritou atrás dele.

Ele caiu na água, desaparecendo por um instante. Depois reapareceu na superfície, sacudindo a cabeça e respingando água dos cabelos. Ele olhou para Willa, acima.

— Venha! A água está ótima.

— Nós vamos ser presos!

Colin boiou de costas, ainda olhando para ela.

— Isso não costumava detê-la.

Olhando para ele lá embaixo, remexendo os dedos ao pensar na adrenalina que sentiria ao escorregar por essa pedra, Willa percebeu que, sim, ainda havia um pouco da antiga piadista dentro dela. Provavelmente sempre haveria. Quando ela reconheceu isso, finalmente pôde ver que ainda restava bem pouquinho. O suficiente para pô-la em problemas, de vez em quando, para satisfazer essa necessidade louca de sentir seu coração bater acelerado, mas não o bastante para arruinar a vida que ela criara para si. E isso a fez se sentir melhor, sem temer tanto a si mesma. E sem ter tanto medo de Colin, e tudo que achava que ele sabia sobre ela, só porque ela não tivera coragem de olhar para si mesma.

Isso foi uma epifania muito libertadora.

Então era isso que ela faria. Tiraria as botas e as jogaria margem abaixo. Depois, daria uma corridinha na imensa rocha lisa. Ela deslizaria água abaixo e aproveitaria cada momento. Decididamente subiria sorrindo à superfície.

Depois de nadar e flertar bastante, eles finalmente subiram na rocha da margem para se secar ao sol. Eles se esticaram lado a lado, em um confortável silêncio. Willa estava quase certa de que Colin estava decidido a convencê-la a fazer isso. Mas ela se sentia bem demais para dizer isso a ele. A pedra sob seu corpo estava quente, o som suave da água era calmante, e a floresta cheirava a plantas e folhas verdes, tanto do passado como do futuro. Ela não era uma garota muito dada à natureza, mas poderia se acostumar com isso.

— Tem algo que eu venho querendo perguntar — disse Colin.

Willa virou a cabeça na pedra. Ele tinha tirado a camiseta e seu peito nu estava bronzeado e rijo. Seus olhos estavam fechados, então ela se sentiu livre para estudá-lo à vontade. Ela nunca saíra com alguém tão alto. Ele preenchia o espaço.

— Sim?

— O que a faz pensar que seu pai foi demitido?

Isso a surpreendeu.

— Ele nunca voltou a lecionar.

— Eu estava lá no dia em que ele foi embora — disse Colin. — E ele não foi despedido. Ele pediu demissão.

Willa se sentou e se virou para ele.

— O quê?

Colin abriu os olhos, depois levantou um braço para bloquear o sol.

— Quando você acionou o alarme de incêndio e depois deixou cair aquele cartaz, anunciando que você era a verdadeira piadista, meus pais apareceram quase imediatamente, exigindo um pedido de desculpas do diretor, porque eu era o suspeito número um, já que você colocou aquela citação de Ogden Nash na marquise. Seu pai também foi chamado para se desculpar. Eu vi que ele estava aborrecido por você ter sido levada pela polícia para fora da escola. Estava claro que ele não queria estar lá, pedindo desculpas para nós, como se tivesse feito algo errado. Àquela altura, todos já tinham descoberto que o motivo de você ter sido tão bem-sucedida era porque tinha as chaves e as senhas do seu pai. O diretor disse a ele: “Eu sei que não é culpa sua ter uma filha rebelde. Você não será penalizado por isso”. E seu pai simplesmente perdeu a cabeça. Ele disse que, se eu tivesse feito algo como você fez e fosse flagrado, eu não teria sido arrastado pela polícia. Na verdade, enquanto todos achavam que eu era o piadista, ninguém fez nada por causa da minha família. Ele disse que se orgulhava de seus atos de rebelião, que gostaria de ter tido coragem ele mesmo para fazê-los quando tinha sua idade e que sempre soube o que você estava fazendo. Quase desde o começo. Disse algo sobre estar cansado de viver uma vida tão cautelosa e que estava jogando a cautela ao vento. E pediu demissão.

Willa estava pasma.

— Isso não parece nada com o meu pai.

— Eu sei — Colin concordou. — Mas foi isso que aconteceu.

— Ele sabia?

— Aparentemente, sim. Achei que você deveria saber.

— Isso não faz o menor sentido.

Colin deu de ombros e fechou novamente os olhos, e ela não demorou para ver que ele tinha adormecido. Willa ficou ali sentada, com os braços em volta dos joelhos, pensando na possibilidade de seu pai realmente saber de seus trotes o tempo todo e nele dizendo que finalmente estava jogando a cautela ao vento. O que isso queria dizer? Ela sempre presumiu que ele fosse feliz com a vida que tinha, fazendo o que a vovó Georgie lhe dizia para fazer. E ela achava que seu pai se sentia envergonhado com as atitudes dela quando adolescente.

Ela e Paxton tinham planejado se encontrar na casa de repouso no dia seguinte, para falar novamente com Agatha. Talvez Willa pudesse perguntar a Agatha sobre o relacionamento entre sua avó Georgie e seu pai. Se fosse como todas as coisas que Willa vinha descobrindo ultimamente, havia muito mais por trás disso do que ela imaginava.

Ela não sabia quanto tempo ficou ali sentada, perdida em pensamentos, antes de se virar e ver se Colin ainda estava dormindo.

Ele não estava. Estava olhando para ela com a cabeça apoiada no braço.

— Tirou um bom cochilo?

— Desculpe — disse ele, sentando-se e fazendo os músculos do abdome se retraírem. — Não tive a intenção de apagar aqui com você. Eu não durmo bem, principalmente quando venho para casa. Acaba pesando.

Ela deu um sorriso solidário e afastou um pouco os cabelos escuros da testa dele.

— Sim, eu notei isso quando você desmaiou no meu sofá.

— Aquele sofá é ótimo.

Seus olhares se cruzaram e os dois sorriram. Como se por consentimento mútuo, Colin se inclinou para a frente e ela o encontrou no meio do caminho, os lábios ressecados e aquecidos pelo sol se tocaram suavemente. Não demorou para que o beijo se tornasse faminto e persistente. Ela se inclinou para trás e ele acompanhou o movimento. Willa nunca se sentira assim com um homem. Ele fazia seu peito parecer prestes a explodir. Deus, sentir isso sem infringir a lei era incrível. Certo, tecnicamente eles tinham infringido a lei ao deslizar pela rocha, mas se beijar ali na margem era simplesmente viver o momento e não havia lei contra isso.

Willa sentiu a mão de Colin tirando sua blusa, e ela se curvou junto a ele.

— Você é tão linda — disse Colin enquanto passava a blusa por cima da cabeça dela e a largava em algum lugar atrás deles. Ele levou as mãos aos seios de Willa, e ela inspirou profundamente. — Acho que sempre procurei por você. Não acredito que você estava aqui o tempo todo.

Ele deslizou o sutiã para o lado e beijou seus seios. Ela abriu os olhos e focalizou o topo da rocha. Alguém podia chegar a qualquer momento.

— Colin, alguém pode ver.

Ele ergueu a cabeça.

— Não me diga que isso não a excita nem um pouquinho — disse ele ao pousar os lábios nos dela.

Willa puxou os cabelos de Colin até que ele ergueu novamente a cabeça e olhou para ela. Ele estava ofegante.

— Eu gosto muito daquilo que sou agora, Colin — disse ela, porque, por algum motivo, era importante que dissesse isso. — Eu não sou mais a pessoa que fui.

Ele pareceu confuso.

Willa subitamente se sentiu triste. Não era assim que ela gostaria que as coisas acontecessem. Como poderia? Aquilo estava sendo construído sobre muitas concepções enganosas.

— Você não vai ficar, vai? — perguntou ela.

Colin hesitou por um momento, depois disse:

— Não.

— Então seu plano é me seduzir e depois ir embora.

— Não há plano nenhum. — Ele a olhava fixamente. — Por que você não vem comigo? — Colin não era um homem falso. Ela sabia disso, de coração. Ele estava tentando encontrar um meio de fazer aquilo dar certo.

— Não posso ir embora agora. Minha avó está aqui.

— Olhe em meus olhos e diga que você está feliz, Willa.

Falso, não. Incrivelmente desatento, sim.

— Por que você não faz o mesmo?

Ele se ergueu tão depressa como se ela o tivesse esbofeteado.

— Claro que sou feliz.

Ela fechou o sutiã, achou a blusa e a vestiu.

— Certo. É por isso que você dorme tão bem.

Ele esfregou o rosto com as duas mãos, como se finalmente estivesse acordando. Suspirou e observou a água por um momento.

— Precisamos ir — disse ele, esticando o braço e entregando as botas dela.

Bem, pelo menos um deles descobriu algo sobre si mesmo nessa trilha.

Pena que não foi ele.

Eles seguiram pela trilha Tinpenny de volta até a entrada. Era o meio da tarde e o sol penetrava por entre as árvores quando eles chegaram ao estacionamento. Entraram no carro dele e Willa deixou a janela aberta para que o vento quente a soprasse enquanto Colin dirigia.

— Está com fome? — perguntou ele, falando com Willa pela primeira vez desde que tinham deixado a rocha.

— Faminta — admitiu ela.

— Vamos comer alguma coisa. Não vamos terminar o dia de um jeito tão desconfortável — disse Colin, e ela ficou grata pelo empenho.

— Você já esteve no restaurante Depot, na National Street? — perguntou ela. — Lá sempre aparece um pessoal de trilha vestido como a gente.

Depois de saírem das Cataratas, o primeiro cruzamento tinha um sinal de pare nas quatro direções. À direita deles havia um Audi azul.

— Aquele é o carro do Sebastian — disse Colin, dando uma buzinada e acenando. — Ele e Paxton devem estar voltando depois do almoço com concerto. Não posso acreditar que tenha se estendido tanto assim.

— Quer convidá-los para vir conosco? — perguntou Willa, tentando não parecer tão ávida para ter companhia e dispersar aquele clima estranho.

— Boa ideia — disse Colin, rapidamente. Ela percebeu que não era a única que pensava assim.

Colin desceu e correu até o carro de Sebastian no cruzamento. Disse algo aos dois. Quando voltou, ele disse:

— Boa sugestão. Eles parecem estar precisando de um drinque.

Pelo que Willa sabia do relacionamento de Paxton e Sebastian, ela não estava surpresa.

— Acho que todos nós precisamos.