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17

Voar para longe

Quarta-feira de manhã, Willa chegou à loja antes de Rachel, então começou a tirar as cadeiras das mesinhas do café, perto do janelão, que estava branco como uma tela de cinema por conta do nevoeiro matinal. Ocasionalmente, os faróis de um carro passavam velozes, o que indicava que era inquestionavelmente um morador. Somente os moradores sabiam aonde ir a essa hora da manhã. Os turistas se perdiam e dirigiam em círculos até que a neblina se dissipasse.

Ela tinha começado a fazer o café quando a campainha acima da porta tocou e Paxton entrou.

— Oi — disse Willa, surpresa. — O que está fazendo aqui?

Paxton deu de ombros.

— Eu peguei um caminho diferente para o trabalho esta manhã e vi sua luz acesa.

— Gostaria de um café?

— Sim, seria ótimo. Bastante creme, sem açúcar — disse Paxton.

Willa folheou o caderno de Rachel sobre o balcão do bar e disse:

— Segundo Rachel, que trabalha aqui no café, seu pedido significa que você quer consolo, mas tem medo de pedir.

Paxton não perguntou quem era Rachel, nem que estranha antropologia de café ela estava estudando. Apenas riu e disse:

— Isso é de uma precisão desconfortável.

— Ela alega que é uma ciência.

— Esta loja é ótima — disse Paxton, olhando em volta. Houve um breve silêncio até que ela finalmente dissesse: — Na verdade, eu parei para agradecê-la.

— Pelo quê? — perguntou Willa ao servir café em duas canecas grandes, listradas de vermelho e branco.

— Por ter ido ver o Sebastian ontem. Por dizer a ele que fosse me ver.

Willa pegou as duas canecas de café e caminhou até uma mesa.

— Então as coisas deram certo?

— Deram muito certo — disse Paxton, enquanto elas puxavam as cadeiras para se sentar. — Eu passei a noite na casa dele ontem.

Isso fez Willa sorrir.

— Foi por isso que você pegou um caminho diferente para ir trabalhar.

Paxton escondeu o sorriso por trás da caneca de café.

— É, tenho culpa no cartório. Imagino que Colin tenha ficado com você.

— Eu o deixei dormindo. Não tive coragem de acordá-lo.

— A essa hora, minha mãe deve estar tendo um ataque — disse Paxton.

— Você não parece muito infeliz com isso.

— Não estou.

Willa recostou-se em sua cadeira.

— E qual é a programação para hoje?

— Vou passar o dia todo na Madam, vendo os últimos detalhes para o baile de gala. Além disso, preciso escrever meu discurso. — Paxton lançou um olhar preocupado. — Você ainda vai, não é?

— Sim. Vou usar aquele vestido vintage com pedrarias que sua avó deu para Georgie.

Paxton resfolegou.

— Ah, Willa, ele é perfeito.

A campainha acima da porta tocou e ambas se viraram em suas cadeiras. Woody Olsen tinha acabado de entrar.

Como sempre, depois de vê-lo, Willa levou alguns instantes para se recuperar e superar as possíveis más notícias que ele poderia trazer.

Paxton disse:

— Bom dia, Detetive Olsen.

Willa finalmente encontrou a voz.

— Woody, o que você está fazendo aqui?

Ele ficou sem jeito, parado perto da porta.

— Estou a caminho do trabalho. Vi sua luz acesa. Deixei-a preocupada quando passei por aqui, algumas semanas atrás, e queria tranquilizá-la. Ainda bem que você também está aqui, Paxton. Eu ia contar-lhes hoje. Não podemos definir a causa da morte daquele esqueleto que encontramos na Madam. Havia um trauma no crânio, mas também parecia que ele sofrera uma queda que pode ter sido fatal. Talvez tenha sido um acidente. Acho que jamais saberemos o que aconteceu, ou como ele foi parar ali.

— Uma queda? — repetiu Paxton.

— Com licença um instante — Willa disse a Paxton, enquanto se levantava e caminhava até Woody. — Eu tenho pensado na última vez em que você esteve aqui. Você me perguntou se eu reconhecia alguma coisa daquela maleta enterrada com o esqueleto. Estava se referindo à fotografia do álbum, não é? A foto de Tucker Devlin, que parece tanto com o meu pai.

Exceto por desviar os olhos para Paxton, que ainda estava perdida em pensamentos à mesa, Woody não deixou transparecer nada em sua expressão.

— Fui o único que fez a ligação. E não disse coisa alguma.

— Obrigada, Woody.

Ele assentiu.

— Seu pai era um homem maravilhoso. O melhor professor que eu já tive.

A campainha acima da porta tocou novamente. Woody automaticamente saiu do caminho para deixar quem quer que fosse entrar. Mas não havia ninguém ali.

— Não dê atenção a isso — disse Willa. — Acontece toda hora. Está quebrada.

— Você conhece aquela velha superstição, não conhece? Aquela que diz que, quando você ouve uma campainha tocar, está chovendo boa sorte? Significa que você deve estender as mãos em concha para pegá-la.

Willa automaticamente estendeu as mãos.

— Assim?

— Exatamente — disse ele ao se virar para ir embora. — Agora, eu aposto que sua campainha está consertada.

Willa sorriu e sacudiu a cabeça, depois caminhou de volta até Paxton.

— Acho que, na verdade, ele está tentando me dizer que minha avó está liberada. Portanto, agora sabemos que Agatha também não será arrastada para isso.

— Mas eu não entendo — disse Paxton. — Se Tucker Devlin morreu de uma queda, por que a Nana Osgood disse que o matou?

Willa pôs as mãos em volta da caneca de café quente.

— Tenho a impressão de que nossas avós queriam que ninguém jamais soubesse da história toda.

— Mas o que pode ser pior do que aquilo que a Nana Osgood nos contou?

Willa ergueu as sobrancelhas.

— Você quer realmente saber?

— Não, você está certa — disse Paxton, sacudindo a cabeça. — Está na hora de finalmente deixar as coisas como estão.

Quando Paxton seguiu de carro para a Madam na sexta-feira à noite, duas horas antes do início do baile de gala, o céu estava com o tom azulado do crepúsculo e as janelas da Madam tinham um tom amarelo radiante, contrastando com as nuvens noturnas, dando a impressão de que o sol tinha se posto dentro da própria casa. O antigo carvalho, ao lado da casa, estava equilibrado por vários cabos presos ao solo, com refletores de luz voltados para ele. O efeito era o de um velho ator no palco, desfrutando radiante da última ovação. Conforme ela se aproximou, pôde ver as folhas sacudindo ligeiramente, efeito parcial dos irrigadores automáticos sobre os galhos, para mantê-lo hidratado enquanto assentava a raiz, mas também pelas dúzias de pássaros que tinham voado até ali, em massa, fixando residência na árvore. Eles foram o tormento da existência de Colin ao longo da semana. Ele conseguia fazê-los voar, mas os pássaros sempre voltavam.

Ela estacionou e subiu os degraus da frente, com o ar preso no peito. A restauração tinha finalmente sido concluída e a casa estava linda. Essa construção estava erguida como testemunho à vida, à amizade, às coisas boas que resultam de situações ruins. Quando o trabalho foi iniciado, ela não fazia ideia de que representaria tanto.

Já lá dentro, Paxton fez uma ronda geral. Ao anoitecer, o interior ficava maravilhoso, com a iluminação elaborada para lançar um brilho amarelo no forro de madeira de todos os cômodos. O salão de banquetes estava decorado com fitas cintilantes e arranjos de flores acesos em todas as mesas. Cada lugar tinha um livrinho registrando as ações beneficentes que o clube apoiara ao longo dos anos, incluindo alguns ensaios de ganhadores de bolsas de estudos, assim como sacolinhas de presentes com velas e chocolates personalizados, todos estampando a logomarca do aniversário de 75 anos. Na plataforma na parte da frente do salão havia um pedestal e um telão, no qual eram exibidas fotografias das integrantes do clube ao longo dos anos. Num canto, havia um quarteto de cordas afinando seus instrumentos.

Mais tarde, quando foi até a cozinha verificar se tudo estava dentro da programação, Paxton ouviu a música, depois o murmúrio de vozes entrando no lobby. Os primeiros convidados estavam chegando. Logo haveria gente por toda parte, e os garçons carregavam bandejas de champanhe e canapés, que pareciam flutuar por entre a multidão. Paxton cumprimentava todos, incluindo seus pais, que, apesar de todo o tempo e o trabalho que foram dedicados ao lugar, nunca chegaram a vê-lo, desde o primeiro dia, havia mais de um ano, quando andaram pela propriedade e decidiram assumir a restauração como um empreendimento da família Osgood.

Seu pai estava impressionado, mas a mãe não admitia nada. Ela ainda não estava feliz por Paxton se mudar e ficou menos feliz ainda quando Paxton passou a se referir a Sebastian como seu namorado. Mas Paxton amava a mãe e a aceitava como ela era. Ela até contornou com facilidade quando a mãe descobriu que se sentaria com Nana Osgood e exigiu que seu lugar fosse transferido para outra mesa. Nana Osgood tinha chegado mais cedo, com a enfermeira que Paxton contratara para acompanhá-la naquela noite, e era a única pessoa sentada no salão de banquetes. Paxton ficou imaginando o que Nana Osgood achava de estar ali, depois de todos aqueles anos. Mas, logo que ela chegou, só fez reclamar do calor e exigiu um coquetel.

A troca de lugares no último minuto foi apenas uma das pequenas emergências que exigiram a presença de Paxton até que a comida estivesse pronta para ser servida. Ela tinha acabado de providenciar uma troca de quartos, lá em cima, e estava prestes a descer a escada para dizer a Maria que avisasse a todos para se sentarem quando parou no topo dos degraus e olhou para baixo.

Era um cenário de sonho, com trajes de princesas e smokings. Era mágico, tudo o que ela esperava. Mas Paxton estava pronta para que terminasse, pois o baile de gala havia sido planejado de acordo com tudo o que o Clube Social Feminino não deveria ser. E ela tinha caído direto na armadilha.

Aliviada, ela viu que Willa e Colin tinham finalmente chegado. Willa estava linda, parecia ter viajado no tempo com aquele vestido vintage e, por um momento, Paxton quase pôde ver a avó de Willa quando jovem percorrendo os cômodos da Madam. Colin estava perto dela. Paxton conhecia bem o irmão para reconhecer a mudança sutil que estava acontecendo com ele. Ela já o vira com frequência na Madam durante aquela semana, à medida que o paisagismo era concluído, e ele estava centrado, quase calmo. Uma vez, Colin até perguntou se havia algum outro sobrado à venda perto do seu. Ele disse que queria ter uma base para quando viesse visitar, mencionando isso com um subtexto tão óbvio que era bom demais para ser verdade. Ela foi cautelosa em não fazer alarde demais, porém, mesmo assim, seu coração se alegrou. Sebastian, Willa e agora Colin. Se você abrir espaço em sua vida, boas coisas entrarão.

Paxton viu a gerente observando-a e assentiu, e o sinal foi dado para que então todos fossem para o salão de banquetes.

Paxton foi ao toalete feminino checar sua maquiagem, depois ficou olhando para seu reflexo, dizendo a si mesma que realmente podia fazer isso até o fim.

Sebastian esperava por ela nos fundos do salão de banquete, depois que todos estavam sentados. Fazia dois dias que ela não o via, e Paxton sentia isso fisicamente como abstinência. Eles se telefonavam com frequência, mas não era a mesma coisa. Ela queria tocá-lo, tê-lo por perto. Isso ainda era tão novo. Ela tinha medo de perder. Mas os preparativos para o baile de gala a mantiveram na Madam até as primeiras horas da madrugada durante os últimos dias. Na noite anterior, ela até dormira ali, e só voltara à Cabana da Nogueira para trocar de roupa.

— Você está linda, querida — disse Sebastian quando ela entrou.

— Estou tão contente por você estar aqui. — Ela pegou as mãos dele e as apertou. Ele deve ter sentido que ela estava tremendo.

— Está tudo perfeito. Fiquei surpreso em ver que você até conseguiu convencer sua avó a vir. Quanto foi preciso para fazer que uma daquelas enfermeiras acompanhasse Agatha esta noite?

Um sorriso tremulou nos lábios dela.

— Nem queira saber.

— Está quase acabando. — Ele se aproximou dela e sussurrou: — Senti sua falta.

Ela deixou que isso a tomasse, como uma onda terna e confortante.

— Também senti sua falta.

— Sei que você não teve tempo de encomendar móveis para sua casa — disse ele.

— Estive ocupada demais. Esse é o próximo item em minha lista.

— Mandei entregar uma cama lá hoje — disse Sebastian.

Isso a fez rir.

— Está brincando?

— Não.

— Então mal posso esperar para ir para casa — disse ela.

— Mal posso esperar para levá-la para lá. Eu já tenho lembranças muito boas naquela casa. — Ele a conduziu até o palanque na frente do salão, depois sussurrou: — Boa sorte. Você se sairá muito bem. — O quarteto finalizou a canção. À medida que ela seguia para o palanque, as pessoas aplaudiram, e Paxton ficou observando enquanto Sebastian assumia um lugar na mesa, com Willa, Colin e Nana Osgood.

Ela estava tremendo por dentro e, por um instante, achou que não fosse conseguir. Mas depois pensou em sua avó e em Georgie, na forma que tudo naquela casa e no clube tinha a ver com elas, com o fato de homenageá-las, e ela soube que foi a decisão certa.

Paxton limpou a garganta e disse:

— Sejam todos bem-vindos ao baile de gala do septuagésimo quinto aniversário do Clube Social Feminino.

Mais aplausos.

— Escrevi um discurso, meses atrás. Aqueles que me conhecem não estão surpresos. Sou uma pessoa de muito planejamento. — Algumas pessoas riram. — O discurso era sobre o bom trabalho que fizemos e quanto devemos nos orgulhar de nós mesmas. — Ela fez uma pausa. — Mas esta semana eu o rasguei, porque percebi que entendemos tudo errado.

Houve uma mudança no ar. Todos perceberam que estava acontecendo alguma coisa.

— Esse clube foi formado para oferecer ajuda umas às outras. Não aos outros. Umas às outras. Estamos nisso juntas. Ele não foi formado para distanciar umas das outras, nem para que competíssemos umas com as outras. Ele foi criado porque, há setenta e cinco anos, duas melhores amigas, nos piores momentos de suas vidas, disseram “Tudo que temos é nosso profundo e duradouro amor uma pela outra. Não podemos perder isso, ou vamos perder a nós mesmas. Se não nos ajudarmos, quem irá fazê-lo?”. Não sei quando aconteceu, nem sei como aconteceu, mas o Clube Social Feminino perdeu seu verdadeiro foco. Não é mais o que era, e eu não consigo trazê-lo de volta. É por esse motivo que, esta noite, estou deixando a presidência e retirando meu nome da lista. — Reações estrondosas tomaram conta do salão. — Nem sempre fui a melhor amiga de vocês — continuou ela, olhando a multidão, à procura de Kirsty Lemon, Moira Kinley, Stac Herbst e Honor Redford. — Mas juro que, desta noite em diante, estarei disponível para vocês, caso precisem de mim, a qualquer hora, em qualquer lugar. Essa é a verdadeira natureza do clube. A intenção nunca foi que ele fosse uma instituição. Foi um juramento selado com os dedos mindinhos, feito entre adolescentes assustadas, sabendo que o fato de poderem contar umas com as outras as fazia se sentirem melhor. Nossas avós sabiam que seriam amigas pelo resto da vida. Quantas de nós podem dizer isso? Como podemos saber o verdadeiro significado da caridade se nem sabemos como ajudar as que estão mais perto de nós? — Paxton de um passo para trás. — Isso era tudo que eu queria dizer.

Ela esfregou a testa, estreitando os olhos contra a luz. A sala estava em silêncio. Subitamente, todos viraram na direção de um som baixinho, vindo da mesa da frente.

Agatha estava rindo, soltando um som enferrujado, como a peça de um maquinário que não é usado há anos.

— Essa é a minha garota — disse ela.

Depois disso, não havia muito a comemorar. O jantar foi servido, depois os prêmios foram entregues e mais alguns discursos foram feitos. No entanto, a cerimônia tinha um clima estranho e apressado, e a maioria das pessoas estava ávida para partir. Terminaria como um pequeno desastre e decididamente um escândalo, mas daria às pessoas algo sobre o que falar, o que as deixava feliz. Paxton não ligava. Era a coisa certa a fazer e ela se sentia muito melhor agora, mesmo que sua mãe não falasse com ela.

A maioria das pessoas evitou Paxton ao sair. Ela tinha certeza de que todos queriam primeiro falar uns com os outros e chegar a um consenso sobre como se sentiam a respeito. De uma forma ou de outra, Paxton sabia que aqueles que decidissem ficar do seu lado seriam seus verdadeiros amigos. Os outros seriam apenas figurantes.

Ao fim da noite, Paxton e Willa acompanharam Agatha até o carro da enfermeira, depois que Agatha levou-as por um passeio pela casa, apontando e apalpando todas as coisas de que sua memória lhe permitia se lembrar na casa. Ela e Georgie escorregando pelo corrimão com as saias voando. Brincando de bonecas no quarto de Georgie. Comendo torta de abacaxi virada ao contrário, feita na frigideira, pela cozinheira dos Jackson, para que o açúcar queimado de cima ficasse crocante. Um compartimento secreto deslizante dentro da estante de livros, onde elas costumavam deixar bilhetes uma para a outra.

— Estou orgulhosa de você, Paxton. Este lugar está com cheiro de novo. Diferente. Voltou a ser um bom lugar — disse Agatha, cambaleando ligeiramente conforme Willa e Paxton ajudavam-na a descer os degraus da frente. Paxton não tinha certeza, mas talvez sua avó estivesse ligeiramente bêbada. — E o que você fez lá dentro, esta noite, exigiu coragem.

— Obrigada, Nana. A mamãe nunca mais vai falar comigo.

— O azar é dela. — Antes que Agatha entrasse no carro da enfermeira, ela disse: — Acho que você e Willa finalmente o fizeram ir embora. A única coisa que ele temia era a amizade verdadeira.

— Ele? — perguntou Willa.

— Tucker. Ele tem rondado o lugar nas últimas semanas. Vocês não notaram? Eu senti. Há um cheiro adocicado no ar. E não venham me dizer que vocês não viram os pássaros agindo de forma estranha ultimamente.

Willa e Paxton se aproximaram uma da outra depois que Agatha entrou no carro e a enfermeira esticou o braço e afivelou seu cinto de segurança.

— O que aconteceu aqui de verdade, Nana? Você realmente... — Paxton não podia terminar a frase com a enfermeira ali.

— Sim, eu fiz — disse Agatha. — Não se esqueça.

Paxton e Willa ficaram olhando o carro partir, depois trocaram olhares estranhos. Quando se viraram para subir novamente os degraus, o aroma de pêssegos permeou o ar, por um momento denso e nauseante, antes de se dissipar na noite, atravessando a lua num fiapo de fumaça, desaparecendo em seguida. Subitamente o carvalho começou a balançar, assim que dúzias de pássaros alçaram voo com as asas negras mostrando vislumbres de amarelo, como se fossem fogos de artifício.

— Coincidência? — perguntou Willa, enlaçando o braço no braço de Paxton.

— Não existe tal coisa — respondeu Paxton, segurando firme, enquanto elas observavam os pássaros revoarem.