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19

O sonho

Os vestidos farfalhavam na escuridão enquanto Willa e Paxton subiam os degraus do pórtico. Que noite mais estranha e encantadora acabou sendo. Algumas semanas antes, pensou Willa, ela não tinha intenção alguma de ir a esse baile de gala. Ela também não tinha intenção de se apaixonar nem de encontrar uma melhor amiga ou de desenterrar uma porção de segredos de família.

Ela pensava que sua vida estava perfeitamente bem do jeito que estava.

Colin e Sebastian esperavam por elas no pórtico. Sebastian estava recostado no portal com um drinque na mão e a luz de dentro da casa lançando um foco sobre ele. Colin estava recostado na parede próxima, com a gravata afrouxada e as mãos nos bolsos. Willa foi até Colin e ele imediatamente a pegou nos braços e segurou sua cabeça junto ao peito. Paxton parou diante de Sebastian. Ele lhe entregou o drinque, depois passou uma das mãos ao redor de sua cintura, puxando-a para perto e dando-lhe um beijo.

Os quatro voltaram ao salão de banquete, despedindo-se dos últimos convidados que pernoitariam ali e foram sentar-se a uma das mesas. Eles acabaram ficando ali a noite toda, conversando e rindo, enquanto a equipe de limpeza trabalhava em volta deles.

Essa foi a primeira vez que Willa vira Paxton e Sebastian agindo como um casal, de forma confiante e à vontade. Ao vê-los, ela percebeu que eles tinham tudo a ver juntos. Cada olhar, cada toque era uma reafirmação quase elétrica, como se eles dessem choques um no outro a cada contato.

Quanto a ela e Colin, eles estavam fazendo de conta que viviam um dia de cada vez, divertindo-se, sem levar as coisas muito a sério, mas era apenas um faz de conta, pois estavam muito mais sérios do que preparados a admitir. Ultimamente, vinham conversando bastante sobre o que queriam fazer. Será que Colin estava realmente pronto para se mudar de volta? Estaria Willa pronta para ir embora? Saber que seu pai tinha planos de partir, mesmo com a mãe na casa de repouso, tornou isso uma questão menos complicada do que já tinha sido. Eles resolveram que Willa voltaria com ele para Nova York a fim de passar algumas semanas, depois ele voltaria com ela para Walls of Water, por mais algumas semanas, estendendo os períodos cada vez mais, até que ambos soubessem o que seria o certo. Ainda não tinham contado a ninguém. Ainda estavam no estágio de perguntar um ao outro se realmente fariam isso. Mas, na verdade, no instante em que o assunto surgiu pela primeira vez, ambos decidiram. Cada um deles queria estar onde o outro estivesse, e não importava onde fosse.

O futuro era deles.

Quando clareou, Paxton e Willa ainda estavam acordadas, com os pés calçados por meias finas sobre o colo dos homens, mas Colin e Sebastian dormiam com a cabeça apoiada sobre a mesa. Colin estava com uma serpentina prateada sobre os ombros e uma flor do arranjo da mesa atrás da orelha. Willa o enfeitara enquanto ele dormia. Ele roncava baixinho.

Paxton olhou para Willa, que riu baixinho.

— Eu fico com ele assim mesmo — sussurrou ela.

Paxton tirou os pés do colo de Sebastian e se levantou.

— Vou ver se peço para trazerem um café da manhã para nós. Estou com fome. Você está?

— Faminta. Vamos acordá-los? — perguntou Willa.

— Ainda não. — Paxton virou para se afastar, depois parou. — Willa?

— Sim?

— Estou contente por você ter vindo esta noite. Estou contente por... — Ela parecia não saber como terminar a frase. Mas Willa entendeu.

— Eu joguei spray de pimenta nos outros para defender você— disse Willa. — Estou contigo pelo resto da vida.

Quando Paxton saiu, Willa fechou os olhos. Se o futuro era dela, então ela queria imaginar como seria.

Imaginou que, daquele dia em diante, sempre que ela e Paxton se encontrassem de repente, na rua, ou numa loja, elas ririam, como se compartilhassem um segredo que só elas soubessem. A vovó Georgie ainda estaria ali, pois era impossível imaginar um futuro sem ela. Willa sabia que ela partiria um dia, mas, por enquanto, nesse futuro que ela estava criando, Georgie ainda estava presente. Agatha continuaria a cuidar dela, e todas elas certamente fariam Agatha ganhar todo o chocolate que quisesse. Por alguns anos, Willa e Colin dividiriam o tempo entre Nova York e Walls of Water, deixando que Rachel cuidasse da loja e continuasse seus estudos sobre o café. Um dia, Rachel provavelmente publicaria um livro sobre isso e patentearia o termo cafeologia. Willa e Colin voltariam para casa de vez quando Willa ficasse grávida. Grávida. Era um pensamento distante, mas ainda dava uma sensação maluca na barriga, como planejar a maior e melhor aventura do mundo. Sebastian e Paxton, por outro lado, provavelmente se casariam logo e teriam três filhos, um atrás do outro. Eles eram enérgicos assim. E com os casamentos e filhos, Willa e Paxton continuariam a se falar quase toda noite, às vezes só para dar boa-noite. Às vezes, Willa saberia que era Paxton sem que ela disesse nada. Ela estaria na cama, com Colin dormindo ao seu lado, o telefone tocaria, ela atenderia e diria:

— Boa noite, Paxton. Estou aqui se precisar de mim.

Elas sabiam que isso era amizade verdadeira.

E sabiam que, quando se tem sorte suficiente para encontrá-la, você a mantém.

Você a mantém sem jamais abrir mão.

Ela abriu os olhos e viu que Colin tinha acordado. Seus cabelos estavam despenteados e seus olhos ainda estavam caídos de sono. Ele sorriu para ela, esfregando as mãos em suas pernas. Parecia bêbado de ponche e feliz ao dizer:

— Eu tive um sonho incrível.

Ela retribuiu o sorriso e disse:

— Eu também.