Messalina

Primeiro pôs algumas folhas de jornal na tábua de corte, depois deu início à operação: levantou a vítima pela cauda e começou a raspar as escamas com uma faquinha. Terminou a tarefa na pia, sob o jato da torneira. Quando estava limpa e praticamente lisa, jogou o jornal no lixo, passou um pano na tábua e deitou a criatura para ser dissecada. Abriu um corte no ventre, das brânquias à cauda, com a faca de legumes, e retirou as tripas. Submeteu o corpo à água fria, esfregando delicadamente para limpar a pele preta, em seguida passou à extração dos olhos e ao corte das nadadeiras laterais e das guelras. Estava disposta a cozinhar com a pele, porque parecia um incômodo retirá-la e porque tinha certeza de que seu sabor ficaria melhor. Ainda assim, mais tarde teria inevitavelmente de cortá-la, isto é: retirar a cabeça e fazer uma incisão funda pelo dorso. Desse momento em diante, deveria ter muito cuidado. Separar lentamente a carne da espinha, abrir e cortar os filés. E esconder, sem que ninguém percebesse, a faca. Mais tarde, debaixo do chuveiro, precisaria apunhalar o peito e cortar as veias.