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Joona emerge no meio dos pedaços de gelo, tentando manter-se calmo, e enche os pulmões de ar.
Está extremamente frio.
O ar gelado faz-lhe estalar a cabeça, mas ele mantém-se consciente.
O treino de paraquedista salvou-o – conseguiu conter o reflexo de arfar e respirar dentro de água.
Com os braços rígidos e a roupa pesada, começa a nadar na água negra. Não está longe do cais, mas a temperatura do corpo desce vertiginosamente a cada momento. Pedaços de gelo baloiçam em volta dele. Já perdeu a sensibilidade nos pés, mas continua a bater as pernas.
As ondas batem-lhe na cara.
Joona tosse e sente as forças esgotarem-se. Vê tudo negro, mas obriga-se a continuar e, com mais algumas braçadas, atinge a borda do cais. Com as mãos a tremer, procura agarrar as pedras, os espaços estreitos das junções. Vai-se deslocando para o lado até encontrar uma escada de ferro.
Começa a subir, chapinhando na água. As mãos geladas colam-se ao metal. Está quase a desmaiar, mas consegue continuar a subir, pesadamente, pelas travessas.
Quando chega ao cimo, arfando, rola no chão, levanta-se e começa a andar na direção do camião.
Com a mão trémula, verifica se ainda tem a pistola.
A neve fustiga-lhe o rosto molhado. Tem os lábios dormentes, e as pernas tremem violentamente.
Joona corre no estreito corredor entre as pilhas de contentores, tentando chegar ao camião antes de ele partir. A perda de sensibilidade fá-lo tropeçar, e ele bate com o ombro na esquina de um contentor. Segura-se e passa por cima de um monte de neve.
Sob a luz dos holofotes, chega junto do camião do contentor com a inscrição «Hamburg Süd».
O motorista está atrás do reboque a verificar as luzes de travagem quando vê Joona aproximar-se.
– Caiu à água? – pergunta o homem, recuando um passo. – Tem de se abrigar, senão morre gelado.
– Abra o contentor vermelho – diz Joona, com a voz entaramelada. – Sou polícia e tenho de…
– Só a administração do porto é que pode decidir isso, eu não posso abrir assim…
– Polícia Criminal – interrompe Joona, em voz débil.
Tem dificuldade em focar a vista e está consciente da incoerência que transparece na sua voz quando procura explicar ao homem as competências da Polícia Criminal.
– Eu nem sequer tenho chaves – diz o motorista, com um olhar amigável. – Só uma turquês e…
– Despache-se! – diz Joona, tossindo, cansado.
O motorista dá a volta ao camião, sobe e vasculha o espaço por trás do assento do passageiro. Por fim retira uma turquês comprida, que arrasta consigo um guarda-chuva até este cair no chão.
Joona dá pancadas no contentor e chama por Disa.
O homem volta à parte de trás, aplica a turquês ao fecho e, com as faces congestionadas, aperta com força as hastes.
O fecho parte-se com um estampido.
A porta do contentor abre-se, com os gonzos a chiar. O espaço interior está inteiramente preenchido, até ao teto, por caixotes empilhados em paletes e fixados com cintas de carga.
Sem uma palavra ao motorista, Joona pega na turquês e recomeça a andar. Todo o corpo lhe treme de frio e as mãos doem-lhe horrivelmente.
– Tem de ir para o hospital! – grita o homem, atrás dele.