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A neve está intocada no caminho irregular que atravessa a floresta. Há uma enorme área desmatada, os canos e os tubos para cabos já foram enterrados, e o sistema de saneamento está preparado. O piso principal, com uma área de 40 000 metros quadrados, já foi cimentado, e alguns edifícios secundários estão concluídos, enquanto outros só têm os pilares. A neve cobre as escavadoras e os contentores.
Durante a viagem até Älgberget, Joona recebeu no telemóvel um plano geral do complexo. Anja descobrira a planta anexa à licença de construção nos registos no Gabinete de Planeamento e Gestão Urbanística.
Magdalena Ronander analisa o mapa com as unidades de intervenção antes de estas saírem dos carros e convergirem no local, a partir de três direções.
Avançam até à orla da floresta, mergulhada na escuridão. No solo, a neve tem um aspeto irregular. Ocupam rapidamente as suas posições e começam a aproximar-se devagar, observando a área descoberta.
No local reina um ambiente estranho sonolento. Há uma enorme escavadora estacionada diante de um buraco.
Marita Jakobson corre para junto de uma pilha de esteiras de proteção para explosões e baixa-se. Marita é uma mulher de meia-idade, que tem o cargo de intendente da Polícia e uma longa experiência profissional. Examina minuciosamente toda a área através dos binóculos e depois faz sinal às unidades para avançarem.
Joona pega na pistola e acompanha uma unidade que contorna um dos edifícios baixos periféricos. O vento arranca a neve do telhado, e ela voa, brilhando, até pousar no chão.
Todos os elementos estão equipados com coletes à prova de bala e capacetes, e dois deles têm espingardas automáticas Heckler & Koch.
Em silêncio, contornam uma estrutura de madeira e chegam ao piso de cimento.
Joona aponta na direção do plástico de proteção que se encontra solto, abanando com o vento. O plástico desprendeu-se entre duas vigas e pende para um lado.
O grupo segue Marita. Atravessam um espaço que serve de armazém de material e encontram a porta com a vidraça partida. No chão e na porta há manchas escuras de sangue.
É este, sem dúvida, o local de onde Mikael fugiu.
Os cacos de vidro rangem sob as botas. Eles começam a atravessar o corredor, abrindo todas as portas e inspecionando cada divisão.
Estão desertas.
Numa das divisões encontram uma caixa com garrafas vazias, e mais nada.
Ainda não é possível determinar em qual das divisões se encontrava Mikael quando acordou, mas seria, com grande probabilidade, uma das do corredor.
As unidades de intervenção inspecionam eficientemente toda a área de construção e revistam todos os espaços antes de regressarem aos veículos.
Só então entram os técnicos forenses.
Seguidamente toda a área de floresta é batida por patrulhas com cães.
Joona, com o capacete na mão, tem o olhar perdido na neve brilhando sobre o solo.
No fundo, eu sabia que não encontraríamos a Felicia aqui, pensa ele. A cela a que Mikael chama cápsula tinha paredes grossas, de betão armado, uma torneira na parede e um postigo para passar a comida. Foi concebida para encarcerar pessoas.
Joona leu na ficha hospitalar que os médicos encontraram vestígios do anestésico sevoflurano no tecido adiposo de Mikael, e pensa que ele foi drogado e transferido para aqui enquanto estava inconsciente. Isto está de acordo com a afirmação dele de que acordou simplesmente noutro sítio. Adormeceu na cápsula e acordou aqui.
Por qualquer razão, Mikael foi transportado para este local ao fim de treze anos.
Teria chegado o momento de o fecharem num caixão quando ele conseguiu fugir?
A temperatura desce mais enquanto os polícias se encaminham novamente para os carros. O rosto desgastado de Marita Jakobson está tenso e triste.
Se Mikael foi posto a dormir antes do transporte, não poderá indicar-lhes o caminho para a cápsula.
Não viu nada durante todo o trajeto.
Nathan Pollock acena a Joona, fazendo-lhe sinal de que têm de regressar. Joona faz menção de acenar também, mas não consegue.
Não pode acabar assim. Não pode estar tudo terminado, pensa ele, passando a mão pelo cabelo.
O que falta fazer?
Quando Joona se encaminha para o sítio onde estacionaram os veículos, já conhece a assustadora resposta à sua pergunta.