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Saga, algemada de mãos e pés, é conduzida ao longo de um corredor deserto por dois guardas armados, que caminham rapidamente, segurando-a com força pelos braços.

É tarde de mais para se arrepender: vai a caminho do seu encontro com Jurek Walter.

O papel de parede está rasgado e os rodapés velhos e gastos. No chão bege-claro há um caixote com pantufas plásticas protetoras usadas. As portas fechadas ao longo do corredor têm pequenas placas de plástico com um número.

Saga tem uma cólica e tenta parar, mas eles empurram-na.

– Continua a andar – diz um dos guardas.

A secção de isolamento do Hospital Löwenström tem requisitos de segurança elevadíssimos, muito acima do nível 1, o que significa que o próprio edifício está preparado para que seja impossível forçar a entrada ou a saída. As celas de isolamento têm portas de aço à prova de fogo, tetos inamovíveis e paredes reforçadas com chapa de 35 milímetros.

Passam um portão pesado, que se fecha atrás deles com um ruído metálico, e descem ao piso zero.

O guarda da unidade postado na passagem em comporta recebe o saco com os documentos de Saga, examina-os e regista-a no computador. Do outro lado da comporta, está um homem mais velho, de cabelo ondulado e óculos grandes, com um bastão pendurado no cinto. Saga olha-o através do vidro blindado.

O homem do bastão recebe os documentos de Saga, olha para ela um momento, continua a passar as folhas.

Saga tem tantas dores na barriga que precisa de se deitar. Procura respirar calmamente, mas a dor acentua-se e ela dobra-se para a frente.

– Está quieta – diz o guarda numa voz neutra.

Do outro lado do vidro, um homem novo, com uma bata de médico, passa um cartão no leitor, marca um código e sai.

– Muito bem. O meu nome é Anders Rönn. Sou o médico-chefe interino – diz ele secamente.

Após uma revista superficial, Saga, acompanhada do médico e do homem de cabelo ondulado, passa a primeira porta. No pequeno espaço entre as duas portas, antes de a segunda porta se abrir, ela sente o cheiro a suor dos dois homens.

Saga reconhece todos os traços da unidade, da planta que memorizou.

Em silêncio, viram uma esquina e chegam à pequena sala de videovigilância. Diante dos monitores do sistema de vigilância e alarme, está sentada uma mulher com piercings na cara. A mulher cora quando vê Saga, mas cumprimenta afavelmente e depois desvia o olhar e escreve alguma coisa no livro de registo.

My, pode desalgemar os pés da paciente, por favor? – pede o médico.

My ajoelha-se e abre o fecho das algemas. Os cabelos dela põem-se em pé por causa da eletricidade estática da roupa de Saga.

O médico e o enfermeiro passam a porta com ela, esperam pelo apito e continuam a andar até chegarem a uma das três portas do corredor.

– Abra a porta – diz o médico ao homem do bastão.

O guarda pega numa chave, abre a porta e diz a Saga que entre e se coloque sobre a cruz vermelha pintada no chão, de costas para a porta.

Ela obedece e ouve em seguida o mecanismo da fechadura a ser acionado pela chave.

Em frente dela há outra porta metálica. Saga sabe que essa porta está fechada à chave e que conduz diretamente à sala comum dos pacientes.

A cela está mobilada unicamente segundo critérios de funcionalidade e segurança. Tem apenas uma cama pregada à parede, uma cadeira de plástico, uma mesa de plástico e uma retrete sem assento nem tampa.

– Volta-te, mas fica em cima da cruz.

Ela obedece e verifica que o pequeno postigo da porta está aberto.

– Vem até aqui, devagar, e estende as mãos.

Saga avança para a porta, junta as mãos e passa-as pela abertura estreita. As algemas são retiradas e ela recua novamente.

Senta-se na cama enquanto o guarda a informa das regras e das rotinas.

– Podes ver televisão e conviver com os outros pacientes na sala comum entre as treze e as dezasseis horas – conclui ele, continuando a olhá-la por uns segundos antes de fechar e trancar o postigo.

Saga fica sentada na cama, pensando que a sua missão teve início agora. A gravidade da situação provoca-lhe um ardor no estômago que se espalha pelo corpo, com uma sensação de formigueiro nos braços e nas pernas. Sabe que é uma paciente sob severa vigilância na unidade de alta segurança do Hospital Löwenström e tem consciência da presença próxima do assassino Jurek Walter.

Saga dobra-se, deita-se de lado e depois vira-se e deita-se de costas, a olhar diretamente para a câmara de vigilância no teto. Tem a forma de um hemisfério negro e liso como um olho-de-boi.

Saga engoliu o microfone há bastante tempo e não ousa esperar mais. Não pode deixá-lo descer até ao duodeno. Vai à torneira e começa a beber água. As dores de barriga regressam.

Saga respira devagar, deixa-se cair de joelhos junto ao ralo no chão, vira-se de costas para a câmara e enfia dois dedos na garganta. Vomita a água, empurra mais os dedos e por fim consegue expelir a pequena cápsula com o microfone, que esconde rapidamente na mão.