“Eu vejo pessoas mortas.” Estas quatro palavras do filme O sexto sentido estarão associadas para sempre a alguém capaz de enxergar espíritos e se comunicar com eles. O lançamento desse filme de tanto sucesso, em 1999, provocou um movimento significativo. Um grande número de pessoas me procura para descrever suas incríveis experiências com aparições de espíritos. Sinto-me extremamente grato por ter sido capaz de orientá-las a respeito da comunicação com a vida após a morte.
Para começar nossa jornada de descobertas, quero antes de tudo assegurar a todos que a morte não existe. A morte está ligada apenas ao fim do corpo físico. Digo isso com total convicção, porque desde os 2 anos tenho me comunicado com os “mortos”. Espíritos caminham entre nós, nos influenciando com seu amor, nos orientando com sua sabedoria e nos protegendo do perigo.
O amor de um avô
Nunca me esquecerei da primeira vez em que me dei conta de que existiam outros seres de um mundo diferente. Eu era bem pequeno e estava no berço quando ouvi o som de risadas de adultos vindo de outro cômodo. Pensei que fossem meus pais e chorei para chamar a atenção deles. Minha mãe entrou no quarto, me pegou no colo, me ninou por algum tempo e me deixou sozinho de novo. A partir daí, noite após noite, eu ficava acordado ouvindo o som das risadas.
Depois de algum tempo, comecei a perceber que havia luzinhas brilhantes dançando no meu quarto e formando um desenho na parede e em torno do meu berço. Essas luzes me fascinavam. Vi a sombra de um homem de pé no canto do quarto, seus olhos azuis brilhando na escuridão. Havia uma luz em torno dele que parecia vir do seu interior. Senti o amor que emanava de sua presença e me acalmei. Ao se aproximar do meu berço, o homem sorriu. Não havia nada a temer, e ele me parecia familiar. Não disse nada, mas captei seus pensamentos. Esse espírito passou a me visitar de vez em quando e a me enviar pensamentos telepáticos de pôneis pintados trotando ao redor de um anel de formas coloridas. Seus pensamentos chegavam em forma de imagens, e eu sentia muito amor e luz vindo dele. À medida que fui crescendo, ele deixou de me visitar.
Na época em que entrei no jardim-de-infância, eu passava freqüentemente os fins de semana na casa de minha avó, com quem eu tinha uma forte ligação afetiva. Em uma dessas visitas, vimos juntos um álbum de fotos de família. Ao ver a foto de um homem de olhos azuis brilhantes, perguntei quem era.
– É seu avô – respondeu vovó. – Ele morreu antes de você nascer. Ele veio da Inglaterra e foi trabalhar no rodeio, com pôneis e cavalos.
– Eu conheço esse homem, vovó. Ele me visitava quando eu era bebê e me contava histórias sobre os cavalos.
Minha avó sorriu. Percebi que ela não acreditava em mim, mas acrescentou:
– Ele adorava contar histórias sobre caubóis e índios.
Anos mais tarde, quando comecei meu trabalho como médium, ao terminar uma sessão, ouvi um espírito dizer, do canto da sala:
– Você é um bom menino, James. Estou orgulhoso de você!
Aquele tom carinhoso reavivou a lembrança do homem de olhos azuis brilhantes. Eu sabia que era meu avô. Fiquei feliz ao pensar que ele ainda estava por perto e que me protegia.
A sensibilidade de uma criança
As visitas dos espíritos se tornaram uma parte especial da minha vida. Ao contrário do menino do filme O sexto sentido, nunca tive medo de vê-los ou ouvi-los, porque eles apareciam para mim como esferas de luz. Eu achava tão natural que pensava que todo mundo podia vê-los.
Eu era uma criança sensível e tímida. Falava com muito pouca gente além da minha mãe e dos meus irmãos. Tive uma infância relativamente normal, a não ser pelo fato de que via espíritos. Morava em uma casa pequena na região de Bayside, Queens, em Nova York. Fui superando a timidez e me tornando mais falante e extrovertido. Mas minha sensibilidade era muito aguçada em relação às pessoas ao meu redor, pois eu era capaz de prever suas ações. Conseguia também saber se alguém falava a verdade e era digno de confiança ou se era falso e mentiroso.
Ninguém sabia que eu era capaz de ver espíritos, o que me fazia sentir estranho. Tinha consciência de que era diferente dos outros e de que era preciso aceitar esse fato.
As únicas pessoas em quem eu realmente confiava eram os espíritos. Eles sempre se mostravam amistosos e interessados no meu bem. Eu esperava ansiosamente para me comunicar com esses seres porque eram os únicos que pareciam saber quem eu era e que me davam segurança. Só minha mãe tinha conhecimento da minha vida secreta com os espíritos. Temendo pelo meu bem-estar, ela me alertava dizendo:
– Jamie, nunca conte a ninguém a respeito do que vê. As pessoas não vão entender. Você é diferente das outras crianças.
Acontece que minha mãe também era diferente. Tinha habilidades psíquicas extremamente aguçadas e o dom da premonição. Às vezes eu a via conversando com sua mãe e seu pai, já mortos, pois percebia a silhueta dos dois ao pé da cama.
Espíritos assombram a igreja
Assim como muitas crianças católicas do meu bairro, estudei no Colégio Sagrado Coração. Minha mãe e eu íamos à missa todo domingo. Adorávamos sentar no mezanino, de onde podíamos ver as pessoas nos bancos e o padre no altar. A única coisa que realmente me assustava era o enorme crucifixo com Jesus pregado nele. Eu me perguntava por que as pessoas representavam Deus sofrendo daquele jeito. Admito que nem sempre compreendia o que estava acontecendo, e também não me interessava muito. Eu gostava dos cânticos e do cheiro de incenso. Geralmente ficava meio adormecido e hipnotizado enquanto o padre recitava orações em latim. Eu via muitos espíritos circulando por entre as fileiras de bancos da igreja. Alguns se ajoelhavam em frente às estátuas, outros iam até o altar, mas a maioria ficava perto dos fiéis. Via pais e mães falecidos ao lado dos filhos, via muitos espíritos de crianças correndo pela igreja, mexendo nos cabelos e nas roupas das crianças vivas. Algumas percebiam a presença dos espíritos e brincavam com eles. Mas havia aquelas que ficavam apavoradas e soltavam gritos, fazendo a mãe ou o pai repreendê-las. Para mim, tudo aquilo parecia uma brincadeira. Certos espíritos se ajoelhavam em frente às imagens de Maria, de Jesus ou de um santo. Eu perguntava à minha mãe:
– Por que eles precisam vir à igreja e rezar para as estátuas? Será que não vêem que Maria e Jesus de verdade estão no céu?
Minha mãe respondia:
– Algumas pessoas têm hábitos antigos que as fazem sentir-se bem.
De modo geral, as igrejas são vórtices de energia espiritual, independentemente da crença que professam. As pessoas se reúnem para louvar, contemplar e rezar em nome de Deus. Essas ações energizam o mundo espiritual e os espíritos aparecem para nos influenciar com seu amor e sua orientação. Não é à toa que muitos consideram as igrejas refúgios seguros.
Tenho uma lembrança extremamente nítida de um domingo específico. O padre no altar estava erguendo a hóstia e repetindo uma prece em latim. No momento em que todos responderam, vi vários espíritos iluminados, vestidos com mantos brancos, atravessar a parede do tabernáculo. Eu sabia que eram espíritos especiais vindos do céu, porque sentia um clima de adoração e reverência. Muito emocionado, perguntei em voz alta:
– Mamãe, olha aqueles homens de branco no altar. Eles são anjos?
Todos me olharam espantados, e minha mãe fez sinal para que eu me calasse. Mas sempre me lembrarei da bela visão daqueles mensageiros celestiais. Ela acabou se revelando uma das muitas fontes de inspiração que tive ao longo dessa maravilhosa jornada.
A dama de rosa
Um ano depois, eu estava na missa dominical, esperando o momento da comunhão, quando senti uma dor de estômago tão intensa que tive que me deitar no chão entre o assento e o genuflexório. Eu queria que alguém me ajudasse, mas como tinha muito medo de ser repreendido pelas freiras, permaneci onde estava. De repente, olhei para cima, e uma mulher bonita, de vestido rosa, cabelos ruivos e olhos azuis inclinou-se sobre mim. Olhei em seus olhos, e pude ouvi-la claramente por sobre o som da missa.
– Não ligue para o que os outros pensam, James. Você nunca deve ter vergonha de ser quem é. Assim como hoje eu o estou ajudando, um dia você ajudará também os outros, trazendo-lhes paz. Ame a si mesmo e tudo ficará bem.
Despertei de meu estado de transe e consegui me sentar. A essa altura, o padre já estava recitando as preces finais. Olhei em volta. A mulher de rosa havia desaparecido. Observei as outras crianças, que desviaram o olhar de mim. Perguntei-me o que elas estariam pensando, mas fiquei calado, ainda meio tonto e confuso por causa da aparição. Só anos mais tarde compreendi sua mensagem. Foi uma das muitas que recebi falando sobre minha missão de levar paz, esperança e amor a outras pessoas.
Um resgate espiritual
Por ser um jovem tímido e sensível e por não gostar de esportes, eu não tinha muitos amigos. Procurava ser simpático e amigável, mas evitava os encrenqueiros.
Mike Marks era o valentão da classe na quinta série. Sentava-se no fundo da sala e passava o tempo todo fazendo o que pudesse para prejudicar a concentração da turma. Ele se irritava facilmente e parecia ter uma maldade intrínseca, difícil de controlar. Nosso professor de história, o Sr. Reed, era um homem calmo, que dava aulas vivas e interessantes. Um dia, Mike abusou da paciência do Sr. Reed. O professor chamou-o para a frente do grupo e bateu nele várias vezes com a vareta que usava para fazer os apontamentos na lousa. Então, vi o espírito. Como muitas de minhas visões, ele tinha um halo luminoso a seu redor. Era um homem alto, moreno, de cabelos castanhos. Ficou em pé à direita de Mike e assistiu com tristeza à surra que o garoto levava. A certa altura, levou as mãos ao rosto para evitar ver aquela cena terrível. Percebi que era o espírito do pai de Mike e que ele queria pedir desculpas ao filho. Eu gostaria de ter podido transmitir a mensagem a Mike, mas na ocasião foi impossível. Senti pena do garoto, imaginando que o coitado devia apanhar do pai e que por isso agia daquele jeito. Talvez suas explosões fossem um grito por socorro.
Um dia, a caminho da escola, Mike perguntou se podia me acompanhar. Concordei, achando que seria legal andar ao lado do valentão da turma. Ele sugeriu que fôssemos até a ponte que passava sobre os trilhos do trem. Quando protestei, dizendo que ficava longe, pegou uma pedra e mirou na minha cabeça. Apavorado, não tive alternativa senão obedecer.
Caminhei com Mike durante 45 minutos até chegar à ponte, que ficava em um local deserto. Mike me mandou sentar e tirar os tênis. Protestei mais uma vez, e ele voltou a me ameaçar. Desamarrei os sapatos rapidamente e entreguei-os a Mike. Segurando meus tênis por cima da via férrea, ele disse:
– Diga que eu sou o maior ou vou soltá-los. – Tentei fugir, mas Mike me segurou e me jogou no chão. Minhas mãos e meu rosto bateram no solo com força. Implorei, chorando, que me deixasse partir, mas Mike ameaçou me atirar da ponte. Eu estava morto de medo, pois ele era suficientemente louco para me jogar dali.
– Me larga! – gritei. Mas Mike apenas riu.
De repente, o espírito que havia estado ao lado de Mike na sala de aula apareceu de novo, parecendo ainda mais brilhante. O espírito me enviou seus pensamentos.
– Eu sou Michael, o pai do Mike.
– Seu pai está falando comigo – disse a Mike.
– Você ficou louco! – gritou Mike.
– Seu pai está aqui conosco. Está dizendo que não foi culpa sua. Ele tinha bebido muito quando sofreu o acidente de carro.
Mike me olhou fixamente. Continuei:
– Ele está dizendo que não foi ao seu jogo da Liga Mirim porque morreu na noite anterior.
– Não é verdade – insistiu Mike. – Minha mãe disse que ele nos abandonou.
O pai de Mike contou que sua esposa mentira porque se sentia culpada demais por ter um caso extraconjugal. Ela havia pedido o divórcio ao pai de Mike no dia em que ele morreu.
– Não se culpe – prossegui, transmitindo a mensagem do pai. – Não foi sua culpa. Seu pai está dizendo que fica muito orgulhoso de você e sente muito por você não saber a verdadeira história da morte dele.
Mike jogou os tênis em mim e saiu correndo. O espírito me agradeceu por ter contado a verdade ao seu filho. Senti pena do espírito, mas agradeci por ele ter salvado a minha vida.
Mike nunca mais falou comigo. Mais tarde, minha mãe me contou que o pai de Mike havia morrido em um desastre de carro. Um ano depois do incidente, Mike desapareceu do bairro. Tempos depois, fiquei sabendo que ele tinha ido para uma escola militar no interior do estado de Nova York.
Recomeço
À medida que ficava mais velho, fui perdendo o interesse pelos espíritos. Passei um ano em um seminário, até perceber que a Igreja Católica não tinha as respostas que eu procurava. Os problemas da adolescência me afastaram das preocupações com o outro lado. Eu era muito intuitivo, mas de certa forma fechei o portal para minhas visões. A essa altura, eu já tinha entrado para a faculdade, onde estudava Rádio e TV. Queria seguir carreira como redator de comédias para a TV.
Depois de formado, me mudei para Los Angeles, onde arranjei um monte de empregos esquisitos na indústria do cinema. Um dia, Carol, uma amiga do trabalho, me convidou para acompanhá-la a uma sessão espírita. Hesitei, sem saber se queria recomeçar essa história de espíritos, mas fui, movido pela curiosidade. Lá conheci Brian E. Hurst, um médium talentoso. No meio da sessão, ele virou-se para mim e falou:
– Os espíritos estão dizendo que você tem um grande poder mediúnico e um dia fará este trabalho também.
Pensei imediatamente: “De jeito nenhum! Não sou doido. Vou ser roteirista de TV, e não alguém que fala com os mortos.” Mas meu interesse foi despertado e continuei freqüentando as sessões semanais de Brian.
Acabei voltando a ver espíritos, como acontecia na infância. Então comecei a fazer minhas próprias sessões individuais, primeiro com amigos, em seguida com pessoas encaminhadas a mim. Depois de um ano, as sessões me ocuparam integralmente, e tive que fazer uma escolha. Não preciso dizer que larguei meu emprego no show business e me dediquei inteiramente ao trabalho com os espíritos. Isso foi há quase 25 anos, e minha vida tem sido uma verdadeira montanha-russa desde então.
Depois de ter viajado pelo mundo todo, posso dizer, sem nenhuma dúvida, que os espíritos estão à nossa volta em toda parte.