DUAS CABEÇAS SÃO MELHORES DO QUE UMA

A história anterior não foi a minha primeira tentativa de coescrita de um projeto. Essa honra duvidosa cabe a uma autora de talento indiscutível, Rebecca Cantrell.

Conheci Rebecca num retiro para escritores associado à Maui Writers Conference. Eu liderava um pequeno grupo de autores durante esse retiro de fim de semana e deparei-me com uma escritora claramente talentosa já prestes a ser publicada. Era de tal forma talentosa que até me apoiei nela enquanto lecionava aquela aula. Depois, mantivemos o contacto, e o primeiro livro da sua série de mistérios Hannah Vogel (A Trace of Smoke) foi publicado pouco depois, com grande aclamação.

Os anos passaram, e como tantas vezes acontece, descobri uma nova história enquanto fitava o quadro de Rembrandt A Ascensão de Lázaro. Tratava-se de uma nova perspetiva sobre o vampirismo e a Igreja Católica. A ideia ficou-me presa na mente e não conseguia afastá-la. Por fim, fiz alguma investigação, construí uma nova mitologia, juntamente com um panteão de personagens. O único problema: não acreditava que se tratasse de uma história à qual sozinho pudesse fazer verdadeira justiça. Não estava bem no meu território. Sentia-me confiante de que podia dar vida às criaturas em cada página, até construir um enredo que se assemelhasse a uma montanha-russa, repleto de quedas súbitas e reviravoltas inesperadas, mas esta história também precisava de uma qualidade gótica e rica que seria difícil de alcançar sozinho.

Ao reconhecê-lo, contactei Rebecca. Eu sabia que ela tinha as competências necessárias para ajudar a conceder a melhor luz a esta história e perguntei-lhe se estaria disposta a trabalhar neste projeto comigo.

Ela perguntou: «É sobre o quê?»

Eu disse: «Vampiros.»

Ela respondeu: «Nem pensar.»

Depois apresentei lentamente o projeto, partilhando a história — tanto canónica como sobrenatural — juntamente com o seu conjunto de personagens. Ela foi lentamente conquistada e começámos a trabalhar juntos nesta história. Nunca nenhum de nós tinha escrito um livro em parceria, por isso tivemos ambos de aprender a fazê-lo. Depressa nos apercebemos que um dos melhores aspetos de um projeto conjunto residia no facto de termos duas mentes às quais recorrer. Podíamos desafiar-nos mutuamente, resolver problemas com que o outro se deparasse, chorar juntos nas trincheiras. Era difícil, mas mágico à sua maneira. Acredito que o resultado final foi algo melhor do que qualquer um de nós poderia ter produzido sozinho.

Para lhe dar um gostinho desta colaboração, os dois contos que se seguem estão relacionados com os dois primeiros romances dessa série vampírica. «Cidade dos Gritos» é uma história fantasmagórica que precede o primeiro livro da série A Ordem dos Sanguinistas, O Evangelho de Sangue. O conto apresenta uma das principais personagens do romance numa aventura a solo nas ruínas assombradas de um Afeganistão dilacerado pela guerra. A segunda história — «Irmãos de Sangue» — apresenta de forma mais direta os vampiros e mergulha na forma como o seu passado assombra o presente.