Como eles apareceram

Eles não vieram para o Paraíso. Vir significaria que escolheram. Que primeiro olharam para o sol, sentaram-se de pernas cruzadas, palitaram os dentes e ponderaram a decisão. Que tiveram tempo de olhar para os seus reflexos em espelhos compridos, talvez ajeitar o cabelo, apertar o cinto, verificar o relógio no pulso antes de olhar para a estrada vermelha e, finalmente, anunciar: Agora estamos prontos. Eles não vieram, não. Eles só apareceram.

Apareceram um a um, dois a dois, três a três. Apareceram em fila indiana, feito formigas. Em enxames, feito moscas. Em ondas zangadas, como um mar triste. Apareceram no início da manhã, à tarde, na calada da noite. Apareceram com a poeira de suas casas esmagadas agarrada ao cabelo e à pele e às roupas, fazendo-os parecer saídos de outra vida. Tornozelos inchados e bolhas nas solas dos pés, eles apareceram cansados da longa caminhada. Apareceram carregando varas com as quais marcaram o terreno onde um barraco ia começar e terminar, e passaram cuidadosamente adiante, dividindo a nova terra com as mãos trêmulas, como se estivessem matando alguma coisa. De cócoras para marcar o chão desse jeito, eles pareciam quebrados — cacos de pessoas de vidro.

Apareceram com latão, papelão, plástico, pregos e outras coisas com as quais pudessem construir, e tentaram parecer calmos enquanto levantavam seus barracos, pregando latão em latão, pedaço por pedaço, olhando corajosamente para o céu e tentando dizer a si mesmos e uns aos outros que mesmo ali, naquele estranho novo lugar, o céu ainda era do mesmo azul familiar, um sinal de que as coisas dariam certo. Mas gente demais aparecia sem as coisas com as quais deveriam ter aparecido.

Mulher, onde está o banco preto do meu avô? Não estou vendo por aqui.

O que foi, ficou maluco? Não tenho nem roupas suficientes para as crianças e você falando do banco do seu falecido avô!

Você sabe que era para ficar na família — meu trisavô Sindimba passou para seu filho Salile, que passou para seu filho Ngalo, que passou para seu filho Mabhada, que passou para mim, Mzilawulandelwa, para passar para o meu filho Vulindlela. E agora ele sumiu! O que faço agora?

Não fui eu quem matou Jesus Cristo nem Mbuya Nehanda; por que não vai falar com os responsáveis?

Só o que eu estou dizendo é que aquele banco era toda a minha história...

E desse modo eles lamentavam passados extintos.

Alguns pareciam sem fala, sem palavras, e por um bom tempo ficaram andando por ali em silêncio, como os mortos que retornam. Mas então, com o tempo, lembraram-se de abrir a boca. Suas vozes voltaram como ladrões andando na ponta dos pés na escuridão, e isso foi o que eles disseram:

Eles não deveriam ter feito isso conosco, não, não deveriam. Salilwelilizwe leli, nós lutamos para libertar este país.

Não foi assim antes da independência? Você se lembra de como os brancos nos expulsaram da nossa terra e nos colocaram naquelas reservas miseráveis? Eu estava lá, você estava lá, não foi exatamente assim?

Não, esses eram os brancos maus que vieram roubar nossa terra e nos transformar em miseráveis no nosso próprio país.

O quê? Mas você não é um miserável agora? Esses negros não são maus por demolir sua casa e deixá-lo sem nada?

Vocês estão todos errados. Melhor um ladrão branco fazer isso com você do que o seu próprio irmão negro. Melhor um ladrão branco miserável.

É a mesma coisa e não é. Mas de que adianta, estamos aqui agora. Aqui no Paraíso, sem nada. E eles não tinham nada, exceto, é claro, memórias, as suas próprias e aquelas passadas que vieram de suas mães e das mães de suas mães. A memória de uma nação.

Alguns apareciam com crianças nos braços. Muitos apareciam segurando crianças pelas mãos. As crianças pareciam perplexas; não entendiam o que estava acontecendo com elas. E os pais seguravam seus filhos junto ao peito e acariciavam suas cabeças empoeiradas e despenteadas com palmas endurecidas, parecendo consolá-los, mas na verdade não sabiam muito bem o que dizer. Aos poucos, as crianças desistiram e pararam de fazer perguntas e só pareciam quase vazias, como se sua infância tivesse fugido e deixado apenas os ossos de sua sombra para trás.

A MotherLove apareceu com enormes barris onde podia preparar uma bebida forte que faria as pessoas esquecerem. Ela também apareceu com canções na sua garganta e vestidos muito coloridos em seus sacos. Apesar das circunstâncias, ela se recusava a aparecer caindo aos pedaços.

Em geral, os homens sempre tentavam parecer fortes; caminhavam aprumados, a cabeça ereta, os braços firmes ao lado do corpo e os pés bem plantados, como árvores. Sólidos, homens que eram como as Muralhas de Jericó. Mas quando iam para o mato fazer suas necessidades e ninguém estava olhando, eles desmoronavam como torres ruindo e choravam com a dor miserável de concubinas esquecidas.

E quando voltavam para a presença de suas mulheres e de seus filhos e todos os outros, enfiavam as mãos no fundo dos bolsos rasgados até sentir suas coxas secas, chutavam pedrinhas no caminho e se erguiam como muralhas de novo, mas as mulheres, que conheciam todas as formas de chorar e tudo o que havia para saber sobre cair aos pedaços, não se deixavam enganar; elas se levantavam suavemente das lareiras, batiam a poeira de suas saias e se plantavam como pedras na frente de seus homens e filhos e barracos, e só então tudo parecia quase tolerável.