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Zejna era uma mulher sozinha que o destino havia submetido a duras provações, privando-a em pouco tempo dos afetos mais importantes, sem justiça e sem explicações. Todavia, com nobreza e altivez, evitara os golpes da vida. Cada lágrima tornara-a mais forte, porém igualmente mais fria e indiferente. O rosto impassível era a triste confirmação disso. Zejna era bela e decidida, ágil e habilidosa, capaz de fazer qualquer coisa sozinha, pois não desejava ninguém junto de si. Nem amigos, nem um amor. Sorria com amargura para si mesma, afirmando que dessa maneira não haveria a possibilidade de ser abandonada, e por ser abandonada queria dizer uma única coisa: a morte. O restante era desapego, distanciamento, irrelevância, pois somente a morte sabia e podia abrir um abismo, um abismo pelo qual Zejna já havia sido engolida muito tempo atrás. À sua volta, o vazio e a grandiosa mansão do século passado, com pouquíssimos serviçais, os quais renovava com frequência para não poder se apegar, para não sentir saudades. Zejna pagava. Pagava com moedas de ouro pelos serviços que solicitava: para manterem a casa em ordem, por um almoço, para fazerem a manutenção do jardim, para cuidarem dos cavalos, para removerem a neve quando havia neve ou para varrerem as folhas quando havia folhas. Zejna não tinha uma boa reputação no mundo em que vivia e na época que o destino lhe reservara: os últimos anos do século dezoito, em um vilarejo da profunda Transilvânia. Era uma mulher sozinha e que pagava, que não tinha senhores, que não tinha marido. Ou seja, era uma mulher malvista. Ao seu redor eram todos camponeses, e havia também alguns poucos “nobres” que haviam ousado bater à sua porta após a morte de toda sua família. Não se lembrava nem ao menos de quantos eram os seus parentes mortos, recordava-se apenas de sucessivos funerais em um intervalo de poucos dias, e depois mais nenhum funeral. Era uma sobrevivente que havia herdado tudo o que se podia herdar, tanto em linha sucessória direta como indireta, e perguntava-se com frequência qual seria o motivo por trás daquilo. Não mantinha em seu lar qualquer crucifixo ou imagem religiosa, pois, quando olhava para o céu, não via mais Deus. Sinceramente, nunca O havia visto, sempre mentira quando rezava, dizendo crer. Assim como podia viver sem amor, podia viver sem Ele. E Ele que ficasse longe, muito longe, pois ela não O amava.