19
Ao ver o coração rubro-branco de Coração de Ferro, a princesa Consolação deu um grito de desespero. A sua agonia era horrível de mais para poder suportá-la. Começou a correr e, com as suas próprias mãos, lançou um balde de água para cima dele, com o intuito de lhe aliviar a dor. Mas, infelizmente, embora as chamas se apagassem, é bem sabido o que acontece quando o metal arrefece de repente.
O coração de Coração de Ferro estalou com um grande estoiro…
Excerto de Coração de Ferro
A arma estava firmemente encostada às costelas de Rebecca e não se movia um milímetro mesmo quando a carruagem dava solavancos e balançava ao descrever curvas. Emeline mordeu o lábio. De cada lado dela, estava sentado um rufião, os criados de Mr. Thornton, a encurralarem-na. Ela e Rebecca nem sequer tinham visto os homens até estarem no interior da carruagem. Não que isso importasse. Mr. Thornton espetara em Rebecca a sua arma repelente e ordenara às duas que saíssem e subissem para a carruagem, e Emeline não quis desafiá-lo nessa altura. O perigo de ver Rebecca morrer à frente dos seus olhos parecera demasiado iminente.
Depois de ir na carruagem com Mr. Thornton e seus guarda-costas malcheirosos, não tinha a certeza de ter tomado a decisão certa. Ele ainda podia matar as duas assim que chegassem ao cais. Nos últimos minutos, considerara a hipótese de fazer uma tentativa de saltar da carruagem. Infelizmente, teria de a fazer passando primeiro pelos rufiões, e isso sem considerar a arma espetada na ilharga de Rebecca. Emeline não tinha a mais pequena dúvida de que Mr. Thornton puxaria o gatilho quanto mais não fosse por despeito. O homem era absolutamente, absolutamente louco. Como ele escondera o seu drama até àquela altura era um mistério, porque agora não passava de um feixe de nervos. Mr. Thornton sorria e piscava o olho de poucos em poucos minutos, e a sua expressão assemelhava-se cada vez mais a uma careta.
– Estamos quase lá, senhoras – disse ele então, voltando a piscar o olho daquela maneira horrível. – Alguma vez estiveram no Oriente? Não? Bem, a maior parte das pessoas não esteve, suponho. Que grande aventura vamos ter!
O homem à direita de Emeline grunhiu e mexeu-se, e o movimento libertou um fedor pavoroso do seu casaco escarlate. A carruagem encaminhava-se para a parte oriental de Londres, o caminho ladeado de armazéns. Lá em cima, o céu tornava-se cada vez mais escuro.
Emeline juntou as mãos no colo e tentou falar com voz firme.
– Pode deixar-nos sair aqui, Mister Thornton. Na realidade, não há qualquer necessidade de nos levar para mais longe.
– Oh, mas eu gosto tanto da vossa companhia – cacarejou o homenzinho asqueroso.
Emeline inspirou devagar e depois falou calmamente.
– A nossa presença aqui é uma razão para o Jasper e o Samuel continuarem a persegui-lo. Deixe-nos ir embora e talvez consiga escapar.
– Que amabilidade da sua parte ter em atenção o meu bem-estar, minha senhora – respondeu ele. – Mas acho que o seu noivo e o Samuel Hartley vão continuar a perseguir-me quer eu as deixe ir embora quer não. Mister Hartley, em particular, parece completamente obcecado. Tenho-o sob a minha vigilância – indicou com a cabeça o rufião de casaco escarlate sentado ao lado dela – desde o momento em que ouvi dizer que ele andava a fazer perguntas a todos os sobreviventes do nosso regimento. Portanto, se tudo correr como previsto, acho que vou ter a vossa doce companhia.
Emeline cruzou o olhar com Rebecca. A rapariga não dissera uma única palavra desde que tinham sido forçadas a entrar na carruagem, mas, nos seus olhos, Emeline viu o mesmo desespero que ameaçava afetar as suas próprias sensibilidades. Não fazia qualquer sentido Mr. Thornton tê-las raptado, e essa falta de sentido esmagava-lhe o peito, fazendo a respiração ficar mais acelerada.
Lá fora, a chuva começou a cair, tão repentina como o pano a baixar no fim de um espetáculo. Precisava de pensar, e o tempo que tinham podia ser pouco.
Receava muitíssimo que Mr. Thornton tencionasse matá-las.
O CÉU ABRIU-SE e a chuva começou a cair torrencialmente. Sam encolheu-se quando a primeira onda o atingiu como uma bofetada na cara, mas continuou a correr. Na verdade, a chuva até tornava as coisas mais fáceis. Os que conseguiram, correram de imediato a abrigar-se, fugindo das ruas tão depressa quanto possível. Porém, isso ainda deixava alguns veículos por ali. A carroça do produtor de cerveja, por exemplo, estaria provavelmente a bloquear a carruagem de Vale. Sam saltou uma fila de pedras partidas, transformadas pela chuva num riacho miniatura-urbano, e focou a atenção na corrida. Nada podia fazer em relação ao que estava para trás de si ou à sua frente. Naquele momento, correr era toda a sua essência.
A carruagem estava algures em Fleet Street quando ficou parada, mas Sam evitara aquela via cheia de gente. Corria paralelamente ao Tamisa, estando o rio fora do alcance da sua vista, algures à direita.
Sentiu a tensão nos músculos das pernas ao bater-se por ir ainda mais depressa. Não corria daquela maneira – esforçadamente, em desespero e esperança – desde Spinner’s Falls. Nessa altura, apesar de se ter esforçado muito, chegara tarde de mais. Reynaud morrera.
Desviou-se bruscamente, para evitar uma rapariga jovem que levava um bebé ao colo, e chocou com um homem corpulento com um avental de couro. O homem praguejou e tentou bater-lhe, mas Sam já desaparecera. Os pés doíam-lhe, fragmentos agudos de dor a subir-lhe pelas canelas. Não sabia se não teria reaberto as feridas das plantas dos pés.
E, nessa altura, sentiu o cheiro.
Se era do homem do avental de couro ou de alguém que ia a passar, ou talvez apenas produto da sua imaginação febril, não sabia, mas cheirou-lhe a suor. Suor de homem. Oh, Deus, agora não. Manteve os olhos abertos e as pernas a bombear, embora quisesse tapar a cara e deixar-se cair no chão. Os mortos de Spinner’s Falls pareciam persegui-lo. Corpos invisíveis empestados de suor e sangue. Mãos fantasmagóricas que lhe agarravam as mangas e lhe imploravam que esperasse. Sentira esses espetros na floresta, depois de Spinner’s Falls. Seguiram-no durante todo o caminho até Fort Edward. Algumas vezes até os vira, os olhos de um rapaz cavados nas órbitas, de medo, o soldado velho com o escalpe arrancado. Nunca soubera se sonhara – correndo apenas meio acordado – ou se os mortos de Spinner’s Falls se tinham infiltrado no seu corpo vivo. Provavelmente levava-os consigo para toda a parte e apenas dava por isso quando estava aflito. Levá-los-ia talvez sempre consigo, do mesmo modo que alguns homens levavam estilhaços, debaixo da pele, uma dor silenciosa, um lembrete invisível daquilo a que sobrevivera.
Passou a correr por uma poça, os salpicos a bater-lhe nas coxas. Não que isso tivesse importância; havia muito que a sua roupa estava completamente encharcada. Agora corria mais perto do cais, e cheirava-lhe à podridão do rio. De cada lado da ruela por onde corria erguiam-se armazéns altos. A sua respiração era penosa, arfante e sentia uma dor ardente na ilharga. Perdera a noção do tempo, não sabia quanto tempo ou que distância tinha corrido. E se elas estivessem já dentro do navio? E se Thornton as tivesse matado?
A sua mente captou de repente uma imagem horrível: Emeline esparramada no chão, nua e ensanguentada, o rosto branco e parado. Não! Fechou os olhos com força ante essa imagem e tropeçou, batendo violentamente com as mãos e os joelhos nas pedras da calçada.
– Cuidado! – gritou uma voz rouca masculina.
Sam abriu os olhos e viu cascos de cavalos a centímetros do seu rosto. Afastou-se dali desajeitadamente, ainda de joelhos, enquanto o condutor da carroça lhe amaldiçoava os antepassados. Doíam-lhe os joelhos, em especial o direito, que devia ter sido o mais castigado com a queda, mas Sam pôs-se de pé.
Ignorando o condutor, ignorando a respiração a raspar-lhe nos pulmões, ignorando a dor, recomeçou a correr.
Emeline.
A CARRUAGEM DESCREVEU uma volta larga, e Emeline viu as docas pela janela. A chuva continuava a cair torrencialmente, velando os altos navios atracados no meio do Tamisa. Barcos mais pequenos estavam apinhados entre os navios, fazendo o transporte de bens e pessoas entre navio e margem. De uma forma geral, as docas encontrar-se-iam cheias de operários, prostitutas, e dos bandos de ladrões que viviam de roubar as cargas dos navios. Mas, por causa da chuva, o cais estava pouco povoado.
A carruagem parou com um estremeção.
Mr. Thornton enterrou a pistola na ilharga de Rebecca.
– ’tá na hora de sair, Miss Hartley.
Rebecca não se mexeu. Virou um rosto extremamente corajoso para o raptor.
– Que vai fazer connosco?
Mr. Thornton inclinou a cabeça e fez aquele seu sorriso cruel, piscando o olho.
– Nada de muito mau, asseguro-lhe. Bem, tenciono mostrar-lhes o mundo. Venham ver.
Estranhamente, a sua jovialidade mundana confirmou todos os piores receios de Emeline. Olhou para fora da porta da carruagem, para as águas do Tamisa, cinzentas da chuva. Se entrassem num navio com Thornton, decerto não sobreviveriam à viagem. Mas, naquele momento, não tinham alternativa. Thornton acenou com a cabeça aos dois homens que a ladeavam.
– Despachem-se – grunhiu o guarda-costas de casaco escarlate à direita de Emeline.
Colocou dedos que mais pareciam salsichas em volta do braço dela, deixando, sem dúvida, marcas de gordura. Era ligeiramente mais baixo do que o outro e usava um tricórnio muito gasto. Mr. Thornton não devia pagar-lhe bem, porque as suas botas eram quase só buracos e, do couro de uma, espreitava um grande e sebento dedo do pé.
Emeline sorriu, tensa, a Rebecca, tentando dar-lhe um pouco de coragem, antes de segurar as saias. Desceu da carruagem para a chuva, a mão do rufião ainda no seu braço. Seguiu-se o segundo rufião. Era um homem alto e musculado, com braços extremamente compridos e cabelo grisalho a rarear. Levantou os ombros e ficou calado enquanto Mr. Thornton descia com Rebecca.
– Agora – disse Thornton a sorrir. Ele sorria a tudo. – Vamos lá a despachar. Deve estar um barco à nossa espera para nos levar para o The Sea Tiger. Estou certo de que as senhoras querem sair da chuva. Se nós…
Mas ele não acabou a frase. Rebecca soltou-se abruptamente, baixando-se para o lado e para trás do guarda-costas alto, quase careca. Por uma fração de segundo, Mr. Thornton não soube para onde apontar a arma, e esta vacilou. Depois, fez aquele sorriso horrível e virou o cano, apontando-o à barriga de Emeline.
Ela ficou paralisada. Passou-se um longo momento enquanto ela o viu piscar o olho e estabilizar o alvo, sabendo que estava prestes a ser morta.
E depois não foi.
Samuel surgiu de nenhures e atirou-se contra o braço de Thornton que segurava a arma, desviando-lhe o alvo. A arma explodiu, lançando no ar lascas de pedra da calçada. O guarda-costas alto, quase careca, saltou para Samuel, agarrando-o por trás, e os três homens caíram num monte de braços e pernas desesperados a contorcer-se. Rebecca deu um grito e puxou pelo casaco do guarda-costas quase careca. O rufião de casaco escarlate soltou o braço de Emeline, mas, antes de poder mexer-se, ela pisou-lhe, com o salto, o dedo do pé que espreitava da bota. O homem uivou e atacou. Emeline viu uma explosão de estrelas brancas quando a mão dele lhe atingiu o lado da cabeça e depois deu consigo no chão, deitada numa poça de água fria.
– Está bem? – arfou Rebecca ao lado dela.
– Samuel – sussurrou Emeline.
Ele estava nessa altura debaixo dos três homens, quase escondido pelas pernas que o pontapeavam, pelos braços que lhe batiam. Espancá-lo-iam até à morte se ela não fizesse nada.
Não havia pedaços de madeira nem pedras que pudesse usar. Tudo o que tinha era ela própria, por isso Emeline utilizou isso. Levantou-se de um salto e correu para o homenzinho horrível e para os seus guarda-costas. Agarrou uma mão-cheia de cabelo e puxou com toda a força. O homem que ela agarrava – um dos guarda-costas – afastou-a para o lado com um empurrão. Emeline cambaleou, quase caiu, mas ergueu-se outra vez. Lançou-se aos pontapés, aos gritos, aos arranhões, aos corpos que atacavam Samuel. Pelo canto do olho, viu Rebecca aos murros às costas de um dos homens, os seus punhos pequenos e franzinos. A chuva misturava-se com lágrimas quentes e salgadas sobre o rosto de Emeline, e ela estava meio cega, mas não ia desistir. Se eles matassem Samuel, teriam de a matar a ela também.
O sapato dela atingiu o traseiro de Mr. Thornton, e ele virou-se e olhou para ela com uma expressão comicamente espantada. Samuel tirou partido da distração do outro homem e deu-lhe um murro na cara. A cabeça de Mr. Thornton girou para trás, e ele rodopiou para as pedras da calçada, com uma mão estendida para lhe aparar a queda. Fez tenção de se levantar, e Emeline bateu-lhe com o pé na mão estendida, sentindo-se muito satisfeita quando qualquer coisa estalou por trás do salto do seu sapato.
Thornton gritou.
Atrás de Emeline soou um tiro.
– Deus do Céu, Emmie, não fazia ideia de que fosses tão sanguinária – disse uma voz de homem.
Emeline olhou para cima e viu Jasper a descer de uma carruagem com um lacaio atrás de si. O lacaio tinha uma arma em cada mão, a da direita a fumegar.
Medo e irritação superaram todas as suas boas maneiras.
– Jasper, não sejas idiota. Vem imediatamente ajudar o Samuel!
Jasper, como seria de esperar, pareceu espantado.
– Tens toda a razão, Emmie. Vocês os dois, saiam de cima de Mister Hartley. Devagar.
Os rufiões olharam um para o outro, sorumbáticos, e levantaram-se, afastando-se de Samuel. Este estava muito quieto, a chuva a bater-lhe no rosto pálido.
Emeline correu para ele, terrivelmente assustada.
– Samuel! – Tinha-o visto dar um murro a Mr. Thornton, mas entretanto ele não se mexia. – Samuel! – Ajoelhou-se nas pedras sujas e molhadas da calçada e, cheia de ternura, levou-lhe os dedos à face.
– Emeline.
– Sim. – Era uma loucura, mas não conseguia evitar sorrir-lhe, ali à chuva, com lágrimas quentes a escorrer-lhe pelas faces. – Sim. – Só Deus sabia o que ela dizia, mas Samuel parecia compreender.
Ele virou a cabeça e beijou-lhe a mão com os lábios feridos, e o coração dela rejubilou.
Depois, o seu olhar agudizou-se e ele olhou para trás dela.
– Apanharam o Thornton?
Começou a soerguer-se, e ela pôs o ombro debaixo do dele para o ajudar.
– Sim, o Jasper tem tudo sob controlo.
De facto, o lacaio estava a amarrar as mãos dos dois guarda-costas à carruagem de Mr. Thornton, enquanto Rebecca segurava as armas. Jasper agarrava Mr. Thornton.
– O que vamos fazer-lhe agora? – perguntou Jasper. Parecia que segurava uma víscera.
– Atirá-lo ao rio – rosnou o lacaio por cima do ombro, e Rebecca sorriu-lhe.
– Não é má ideia – disse Samuel, em voz baixa, e Emeline nunca lhe ouvira a voz tão fria.
Mr. Thornton riu-se.
– Porquê?
Jasper abanou-o como um cão abana um rato.
– Por tentar fazer mal a Miss Hartley e a Lady Emeline, seu salafrário.
– Mas não fiz, pois não? – disse Thornton. – Elas não sofreram absolutamente nada.
– Tinha uma arma apontada a elas…
– Lérias! Pensa que algum magistrado se importa? – Mr. Thornton sorriu, feliz, quase normalmente. Parecia não fazer ideia do sarilho em que estava metido.
Emeline tremia no abraço de Samuel. A confiança fanática de Thornton de poder levar a melhor sobre Jasper – um visconde – era a evidência final de que o homem tinha perdido o juízo.
– Você matou uma mulher na América – disse, calmamente, Samuel. – Vão enforcá-lo por causa disso.
Mr. Thornton inclinou a cabeça, imperturbável.
– Não sei a quem se refere.
Jasper expirou, impaciente.
– Vamos ao que interessa. Nós sabemos que você é o MacDonald, sabemos que matou essa mulher, sabemos que nos traiu aos franceses e aos seus aliados índios em Spinner’s Falls.
– E como provam tudo isso?
– Se calhar, não temos de o fazer – disse Samuel em voz baixa. – Se calhar, limitamo-nos a afogá-lo no Tamisa e pronto. Duvido que alguém sinta a sua falta.
– Samuel – sussurrou Emeline.
Samuel olhou para ela e, embora a sua expressão não mudasse, a sua voz suavizou-se um pouco.
– Mas acho que não vamos ter dificuldade em condená-lo em tribunal. Há uns sobreviventes que devem lembrar-se tanto do MacDonald como do Thornton, e, quanto mais não seja, podemos perguntar ao seu sogro.
Emeline sorveu a respiração.
Samuel acenou com a cabeça.
– Sim, foi uma das coisas que descobri hoje. O Thornton tem um sogro idoso que nunca mais viu desde que se casou com a filha do homem. O sogro vive na Cornualha, sabem. O homem está mal de saúde, mas tem tido suspeitas desde que a filha supostamente caiu pelas escadas abaixo. Tem insistido com vários advogados para investigarem a morte, e hoje, nas minhas buscas, encontrei um que, por fim, aceitou o caso do velhote. Não tenho qualquer dúvida de que, se lhe arranjarmos uma carruagem, ele vem a Londres testemunhar que este não é o homem que se casou com a filha.
Mr. Thornton entrou num verdadeiro espasmo de piscadelas de olhos e sorrisos.
– Experimente! O velho está nas últimas. Nunca sobreviverá a uma viagem a Londres.
– Deixe que sejamos nós a preocuparmo-nos com isso – disse Jasper, voltando a abanar Thornton. – Você, acho eu, devia estar mais preocupado com a forca. – Jasper virou-se para Samuel. – Importa-se que eu lhe peça o seu homem emprestado para acompanhar estes três a Newgate4?
Samuel acenou com a cabeça.
– Com certeza. Eu levo as senhoras a casa na sua carruagem. – Virou-se com Emeline, dirigindo-se à carruagem de Jasper, mas um grito de Thornton fê-lo parar.
– Hartley! – gritou o homenzinho asqueroso. – Pode apanhar-me por causa da mulher na América, mas não por causa de Spinner’s Falls. Eu não traí o regimento em Spinner’s Falls. Não sou o traidor.
Samuel lançou um olhar ao homem, o rosto desinteressado.
A sua falta de reação pareceu inflamar Thornton.
– O senhor é um cobarde, Hartley. Fugiu em Spinner’s Falls; toda a gente sabe. É um cobarde.
Vale ficou escarlate e Emeline ouviu o arfar horrorizado de Rebecca.
Mas, surpreendentemente, Samuel sorriu.
– Não – disse com suavidade. – Não sou.
4 Célebre prisão em Londres. (N. da T.)