Epílogo
–Amo-te. Quando as palavras de Coração de Ferro lhe abandonaram os lábios, ouviu-se um grito do feiticeiro malvado.
– Não! Não! Não! Não pode ser! – A cara do horrível homenzinho ficou vermelha até lhe sair vapor do nariz. – Esperei sete longos anos para roubar o teu coração de ferro e fazer minha a sua força! Se alguma vez tivesses falado durante esses sete anos, tê-lo-ia ganho, e tu e a tua mulher seriam condenados ao inferno. Não é justo!
E o feiticeiro malvado girou num círculo, furioso por o seu feitiço ter sido em vão. Girou, girou cada vez mais depressa, até saírem faíscas do seu corpo rodopiante, até sair, em grandes ondas, fumo negro dos seus ouvidos, até o próprio chão tremer por baixo dele, e depois, pum!, ele foi subitamente engolido pela terra! Mas a pomba branca que tinha no pulso voou quando ele desapareceu, a corrente de ferro quebrada, e, quando a ave pousou, transformou-se imediatamente num bebé a chorar – o filho de Coração de Ferro.
E depois, que regozijo houve na Cidade Brilhante! As pessoas festejaram e dançaram de felicidade nas ruas por lhes ter sido restituído o seu príncipe.
Mas que aconteceu a Coração de Ferro e ao seu coração partido? A princesa Consolação baixou os olhos para o marido, ainda nos seus braços, receando que estivesse já morto, e deu com ele ileso e a sorrir-lhe. Por isso, fez a única coisa que uma princesa podia fazer: beijou-o.
E, embora muitos, na Cidade Brilhante, sejam de opinião, até hoje, de que o coração de Coração de Ferro se curou quando o feitiço do feiticeiro malvado se quebrou, eu não tenho tanta certeza. Parece-me que deve ter sido o amor da princesa Consolação que o reanimou.
Pois, que mais pode consertar um coração partido além do amor verdadeiro?