Acordou a chorar, com a cara alagada, por isso recordou uma manhã na praia, anos antes; brincara todo o tempo à beira da água com a prima, agarrando-a pelas pernas e caindo-lhe em cima às cavalitas, para furarem ondas; sentia um prazer vivo vindo das costas dela, como quando trotava sobre o burro da quinta, o que tirava à nora; o pai disse que eram horas do almoço: toca a arranjar-se, tenho pressa; começou a vestir-se ao fundo da barraca, tirando o fato de banho o mais rapidamente que podia, para enfiar as calças curtas brancas de que, contudo, atrapalhado, não era capaz de acertar com as pernas, ora trocando-lhes o lado, ora metendo ambas na mesma, voltando-se de costas, curvado, cheio de pejo; ouviu, nítida, atrás, a voz do pai:
– olha pràquilo, até parece que tem a esconder qualquer coisa
– pois tenho
– tem o quê, mostre lá?
– tenho pois
– atão mostre lá
– nã mostro
– não tem mas é nada
– nã é pròs outros verem
– o quê? esse berloque ou lá que é?
– qual berloque?
– então se não é mostre
– mostre o pai o seu antes
só se lembra que pesado, ardente formigueiro lhe embateu na cara, a mão do pai, deitando-o para o lado, contra o pau da barraca, tonto sem ver nada, e daí para o chão, sentindo-se despido e tapando, aflito, o meio das pernas.