O JOGO DA CULPA
Conduza sua vida com as próprias mãos, e o que acontece?
Uma coisa terrível: ninguém para culpar.
– Erica Jong
É uma pena que tantas pessoas não consigam encontrar no coração o desejo de serem mais amorosas. Como não conseguem, ocorrem conflitos. Isso acontece entre membros da família, amigos, organizações, comunidades e países. Nós preferimos culpar alguém por nossos erros e problemas a assumir a responsabilidade por nossas ações. O jogo da culpa parece ser uma parte normal da vida: se eu estou com a razão, você precisa estar errado. É muito mais fácil culpar do que tentar compreender os outros praticando o amor e o perdão.
Desde muito cedo aprendemos a culpar os outros. Por exemplo, se uma criança é surpreendida fazendo alguma coisa errada, ela tende a jogar a culpa em outra criança. Ela não quer sofrer as consequências de sua transgressão. Se uma criança consegue se safar dessa maneira muitas vezes, ela passa a achar que é certo culpar os outros.
Já conheci muitas pessoas que precisam – e querem – culpar os outros pelas circunstâncias das suas vidas, porque é muito mais fácil responsabilizar alguém por nossas frustrações. É difícil admitir que fizemos escolhas erradas. Se persistirmos nessa mentalidade, cairemos no que é chamado de consciência de vítima. Essa consciência de vítima, ou o que gosto de chamar de “grupo de chorões”, parece ser normal para muitos. Em síntese, assim como a criança que não quer ser castigada, não queremos assumir a responsabilidade por algo que saiu errado. Por isso, acabamos nos tornando vítimas das nossas circunstâncias e culpando alguma coisa ou alguém pela péssima situação em que nos encontramos.
Você não me amou o suficiente
O próximo relato é sobre consciência de vítima. A mulher envolvida culpava os pais por todos os seus problemas.
Adrienne Zeil foi a uma reunião da qual participei na Califórnia, em 2005. Havia um total de 40 mulheres provenientes de diversos segmentos econômicos, sociais e políticos de todo o país. Algumas estavam enfrentando sofrimentos, outras queriam esclarecimento espiritual, e ainda havia as que estavam lá por mera curiosidade.
Enquanto olhava para as mulheres sentadas diante de mim, recebi a imagem de um Impala 1967 e expliquei o que estava vendo.
– Esse carro está subindo uma montanha a caminho de uma cabana. Está tendo dificuldades em fazer as curvas e contornar os morros. Na realidade, de vez em quando, ele para no acostamento para esfriar um pouco.
Quase todas riram daquele cenário.
De repente, uma mulher baixinha disse:
– Eu compreendo essa imagem.
A mulher tinha cabelos pretos ondulados e usava óculos com aros de metal.
– Meu pai tinha um Impala e frequentemente ia nele para a nossa cabana na montanha.
Caminhei em direção a ela.
– Qual é o seu nome?
– Adrienne. Mas pode me chamar de Addie.
– Obrigado por reconhecer essa mensagem – eu disse.
– O meu pai está aqui? Venho esperando para falar com ele há muito tempo. Nunca nos despedimos.
Recebi então a informação de um nome.
– Você por acaso reconhece o nome Nathan ou Nat?
– Sim, esse é o nome do meu pai.
– E você reconheceria o nome Joan?
– Sim, é minha mãe.
Eu podia ver que toda a plateia estava impressionada e um pouco atônita.
– Você conhece o Jackson, que está sentado no banco de trás?
– Sim, é o meu irmão. Ele sempre sentava ao meu lado, e brigávamos o tempo todo. Meus pais sempre me culpavam por começar as brigas – ela disse, com uma risada nervosa.
– Seu pai quer que eu lhe diga que ele a ama, e sua mãe está ao lado dele, sorrindo.
– Isso é impossível – ela respondeu de repente. – Meu pai nunca soube o significado da palavra amor.
Olhei para o rosto do pai dela e vi que ele estava sorrindo. Na realidade, ele irradiava compaixão.
– Seu pai está dizendo que poderia ter dito isso a você mais vezes, mas, enquanto estava no nosso mundo, ele não se amava o suficiente e por isso não conseguia expressar seu amor pelos outros. Sua mãe está balançando afirmativamente a cabeça. Ela diz que percebia como você se sentia em relação a seu pai.
Adrienne não estava compreendendo bem aquilo.
– Minha mãe nunca mencionou isso.
A seguir, transmiti a mensagem da mãe dela:
– Sua mãe está me dizendo que eles tentaram lhe dar a melhor vida que podiam, mas que você se recusava a aceitar.
– Isso não é verdade! Eles não me deram nada. Estavam sempre me criticando. Nunca me incentivaram. Só pensavam no Jackson. Ele era o mais velho e por isso recebia toda a atenção. Eu nunca pedi muita coisa. Queria apenas que meus pais me apoiassem. As coisas poderiam ter sido muito melhores para mim se eu tivesse sentido o amor e a aprovação deles. Posso perguntar-lhes o motivo? Por que não me incentivaram?
De repente, Joan inundou minha cabeça com algumas lembranças incríveis da filha.
– Addie, você se lembra da competição de patinação no gelo?
Ela olhou para baixo.
– Você se lembra do que sua mãe disse para você?
– Sim. Eu ia desistir porque não achava que era suficientemente boa.
– E o que foi que ela disse?
– Ela me disse para fechar os olhos, me ver como vencedora, e patinar como tal.
– E então? – perguntei.
– Eu patinei. E venci a competição. Meu Deus, não me lembrava disso há anos.
A seguir, o pai dela me enviou outra mensagem.
– Você ganhou uma bolsa de estudos?
– Oh, meu Deus! Não consigo acreditar nisso. Ganhei, sim, uma bolsa parcial.
– Seu pai está mencionando um presente de formatura.
Ela pensou por um instante. E então foi como se uma luz se acendesse na mente dela.
– Sei o que ele está tentando dizer. Ele me disse que bancaria o restante das anuidades por quatro anos se eu aceitasse a bolsa.
– E o que foi que você fez? – perguntei.
– Eu achei que aquela seria apenas mais uma forma de ele poder me controlar e por isso não aceitei a oferta. Peguei o dinheiro, mas gastei num apartamento na cidade para estudar arte, algo em que, infelizmente, eu nunca fora boa.
– Sua mãe está dizendo que você era uma ótima artista, Addie. Ela disse que você fez alguma coisa para ela no Dia das Mães.
Ela sacudiu a cabeça e suspirou.
– Eu pintei o retrato dela. Modéstia à parte, ficou muito bom. Infelizmente, eu o vendi. Aquela foi a primeira e última peça de arte que vendi.
Essas diversas lembranças fizeram Addie rapidamente rever a própria vida e ver de onde vinha seu sentimento de fracasso. Ela olhou fixo para mim.
– Eu não acreditava nas minhas próprias possibilidades, achava mais cômodo ser vítima. Eu acusava os outros para não admitir que não queria assumir responsabilidade por mim mesma.
– Bem, Addie, seus pais querem lhe agradecer pelo seu amor.
– Como é que podem? Estou tão envergonhada e arrependida por tê-los culpado por tudo.
– Não. Eles querem agradecer por ajudá-los a ajudar você.
– Hem? Do que é que você está falando?
– Como você não acredita em si mesma, seus pais, como espíritos, têm uma oportunidade extra de ajudá-la. Eles podem auxiliá-la e orientá-la para que você encontre, em seu próprio coração, a luz que vem mantendo escondida há tanto tempo. Parece que eles não conseguiram fazer isso enquanto estavam vivos, mas agora é mais fácil motivá-la. Eles estão dizendo que você parece muito mais aberta, e por isso podem estar ao seu lado e ajudá-la a se lembrar do seu poder espiritual.
Ela ficou perplexa com este último comentário.
Eu continuei:
– Seus pais estão dizendo que você já começou a descobrir o seu poder. Eles a ajudaram a criar uma situação na semana passada, e você fez o que precisava ser feito! Eles estão muito orgulhosos de você.
– Não sei bem o que isso significa.
– Você não se matriculou num curso de arte na semana passada?
– É verdade. Eu estava caminhando por uma rua em que não costumo andar, e, na vitrine de uma loja, vi um anúncio de um curso de arte. Não sei o que deu em mim, mas entrei e me matriculei. Naquele momento, me senti compelida a fazer isso.
– Joan e Nat armaram aquilo. Eles querem que eu lhe diga mais uma coisa. Que não é tarde demais para descobrir o seu talento e que eles sempre estarão ao seu lado.
– Obrigada, James. – A seguir, ela olhou para o alto e disse: – Eu amo vocês, mamãe e papai.
Todas as pessoas na sala aplaudiram.
Quando iniciei a conversa com Adrienne, ela estava agressiva e zangada. Foi fantástico ver como, no final da sessão, ela parecia mais leve. Os pais lhe deram um dos melhores presentes de cura. A comunicação deles ajudou Addie a se olhar pela primeira vez sob uma nova perspectiva. O resultado foi que ela deu os passos necessários para se libertar da prisão que criara em sua própria mente.
Estamos aqui na Terra para aprender muitas lições, mas a lição mais importante é a de nos amarmos e nos aceitarmos como somos. Existe sempre uma luta interna para correspondermos às expectativas alheias. Quando julgamos a nós mesmos ou aos outros, não vemos a verdade, porque a crítica é produto do medo. Quando nos vemos como vítimas, perpetuamos e projetamos o medo, porque a tendência de uma vítima é sentir medo. Quando vemos pelos olhos do medo, imediatamente ficamos sujeitos ao erro e à limitação: “Não sou bastante bom. Não nasci para ter sucesso na vida.” Essas são mentiras que atentam contra a nossa natureza divina.
As vítimas fazem escolhas a partir de uma visão distorcida. Elas atraem para si experiências negativas e acabam presas no infindável círculo vicioso dessa mentalidade autodestrutiva. Em geral, as vítimas agem como vítimas em todos os aspectos de suas vidas. Se elas acham que não têm capacidade, como poderão mudar as coisas?
Muitos de vocês conhecem pessoas cujas atitudes são autodestrutivas e depressivas. Essas pessoas não são muito populares, porque sua atitude negativa afasta quem as cerca. Ao mesmo tempo, elas tendem a atrair outras vítimas para a vida delas, isto é, pessoas com a mesma mentalidade. Como pode alguém ter sucesso quando vive cercado de energia negativa? Com uma visão tão lúgubre da vida, essas vítimas sempre se sentem azaradas.
Eu honestamente acredito que muitos problemas de convívio social têm como origem essa mentalidade de vítima. De muitas maneiras, a depressão, a raiva, a insegurança, a falta de confiança e a violência são provenientes desse modo de pensar. Sim, é verdade que muitas pessoas vivem em condições precárias. Mas, apesar das circunstâncias, se elas não reagirem e procurarem tomar posse do seu verdadeiro eu e de seus recursos, continuarão a viver nessas condições adversas. Como muitas pessoas estão presas àquilo que lhes é familiar, elas relutam em sair do casulo e se arriscar. Infelizmente, quando as pessoas continuamente se recusam a se responsabilizar por suas escolhas, elas passam a ter uma mentalidade de “eles contra mim”. Eles estão me impedindo de conseguir um emprego melhor, um salário melhor, uma casa melhor, etc. E se perpetuam no papel de vítimas.
Frequentemente me perguntam: “Se um ente querido morre, ele passa a ter uma total percepção e um total conhecimento do Universo?” Minha resposta é:
– Não, de fato, não. Os espíritos, na verdade, têm uma perspectiva mais ampla sobre a vida e a morte. Mas, se estiverem presos a determinadas mentalidades na Terra, especialmente à de consciência de vítima, eles não se livrarão disso com muita facilidade, mesmo após entrarem na luz. Infelizmente os sentimentos negativos ligados a essas mentalidades ainda estarão intactos.
A culpa é toda deles
Gostaria de compartilhar com você uma mensagem transmitida durante um evento em Detroit, Michigan. Espero que aprecie o imenso valor de ter uma mente aberta.
Durante essa reunião, comentei com um dos meus assistentes que a energia da sala estava maravilhosa. As pessoas pareciam muito receptivas e dispostas a questionar suas percepções e seus sentimentos. Eu tinha encerrado três comunicações comoventes e a plateia estava ansiosa pelo que viria em seguida. Por isso, dizer que fiquei chocado e surpreso com a mensagem do espírito que veio a seguir é pouco.
Desde o início da noite, eu tinha notado um espírito feminino, usando um vestido branco e cinza coberto por um avental, perto de uma mulher jovem na plateia. Aquele espírito ficou perambulando por ali com os pés cobertos por meias brancas. Segurava o que parecia ser uma Bíblia ou um livro de orações, e sua cabeça permanecia abaixada, como se estivesse lendo. De tempos em tempos, ela me olhava. Após virar uma página do livro, finalmente me mandou a seguinte mensagem telepática: Quem é você? Quero falar com a minha neta.
Mentalmente perguntei qual era o seu nome.
Sophie, ela respondeu.
Olhei para a área onde o espírito se encontrava e perguntei:
– Alguém aqui tem uma avó chamada Sophie? Ela está dizendo que morava num lugar cujo nome parece ser Otter ou Otterville.
Imediatamente a jovem se levantou.
– É minha avó. Ela se chamava Sophie e morava em Otterville, Ohio! Ela está aqui?
– Está, sim.
Sophie pareceu surpresa com o fato de sua neta ter se levantado tão depressa. A seguir, ela gritou para mim: Você é o diabo! Você vai para o inferno!
– A sua avó acha que o que estou fazendo é errado. Ela era uma mulher muito religiosa?
– Era, sim. Era uma batista fanática e achava que qualquer pessoa que não tivesse as mesmas crenças religiosas que ela arderia no inferno.
Ao ouvir aquele comentário, Sophie apontou para o seu livro de orações.
A jovem então perguntou:
– Existe inferno? Será que ela pode me dizer?
– Ela está dizendo que não tem como saber, porque aceitou Jesus como seu salvador.
– Ela já viu Jesus?
– Não. Mas está me dizendo que um dos seguidores dele está cuidando dela. Que ali é o paraíso dele. Aqueles que não conhecem Jesus vão para outro lugar.
A neta pareceu um pouco constrangida pela atitude da avó.
– Qual é o seu nome, por favor? – perguntei à jovem.
– Celeste.
Nesse momento, Sophie me interrompeu. Estou aqui porque estou feliz por estar livre de tudo isso aí. Quero que a minha neta saiba disso. Eu estava doente e cansada de ser usada.
– A sua avó está dizendo que o seu pai era um homem bom, mas que ele deveria ter cuidado melhor da família dele. Que ele era um pouco preguiçoso, que deveria ter provido mais, especialmente por causa de suas origens. – Eu me virei para Celeste: – Isso faz algum sentido para você?
– Faz, sim. Vovó não gostava do meu pai porque ele era judeu. Ela foi contra o casamento dele com minha mãe, e elas nunca se deram bem por causa disso.
A seguir, Sophie gritou na minha cabeça: Ele era um judeu e essas pessoas devem ficar com aqueles de sua própria raça. Foi por causa deles que tudo mudou.
Cobri os ouvidos quando o espírito ficou mais zangado e barulhento. A seguir, repeti o que ela tinha dito para Celeste.
– Sophie está muito zangada. Está dizendo que eles chegaram à cidade e tomaram tudo. Bancos, armazéns, tudo. Eles tiraram a casa do pai dela durante a Depressão.
Eu podia ouvir a plateia murmurando, mas precisava acompanhar a mensagem do espírito.
– Sua avó tem muito preconceito no coração. Ela sempre culpava os outros pelas circunstâncias da vida dela?
– Ela sempre culpava alguém por alguma coisa, especialmente os judeus. Minha avó não era uma pessoa feliz. Para dizer a verdade, ficamos aliviados quando ela finalmente morreu. Sinto muito dizer isso, mas foi um alívio.
Era óbvio que Sophie ainda tinha muito a aprender. Enviei-lhe um pensamento de compaixão e amor.
– A senhora está feliz, vovó? – Celeste perguntou.
– Sua avó disse: Acho que estou. Ela está dizendo que nunca soube quanto a deixava constrangida, que sente muito.
Celeste sorriu.
A seguir, repeti os comentários de Sophie para a plateia. É bonito aqui, muito bonito. Este lugar me faz sentir bem. Sabe, é a primeira vez na vida que sou tão bem tratada, ou, pelo menos, é isso o que sinto. O céu não se parece nem um pouco com aquilo que eu esperava. Há um senhor alto e gentil que me ajuda.
– Quem é ele? – Celeste quis saber.
– Sua avó disse que não sabe, mas que ele a acompanha desde que ela chegou. As palavras dela são: Nunca conheci alguém tão delicado. Ele deve ser um anjo enviado por Jesus. Ela está dizendo que esse anjo lhe mostra coisas que ela jamais teria compreendido sozinha. Que foi por isso que ela ousou vir aqui hoje. Caso contrário, teria achado que isso era coisa do diabo.
A plateia ficou em silêncio enquanto ouvia atentamente o que Sophie tinha a dizer.
– Ela está me dizendo que o anjo achou que seria bom ela sentir o amor nessa sala. Ela também queria lhe dizer que você não precisa temer a morte. Ela disse que desde que começou a falar comigo a sala ficou mais bonita. Que há um brilho que a envolve.
– Quem é esse anjo? – Celeste tornou a perguntar.
– Ela acha que é um tipo de ajudante que auxilia as pessoas a se adaptarem à vida lá. Sua avó está dizendo que agora precisa ir, porque outras pessoas precisam vir até aqui. Ela quer que você se cuide. Ela sente muito orgulho de você.
Celeste sorriu. Eu vi Sophie se virar e caminhar em direção a um senhor alto. Pela energia que ele irradiava, eu podia ver que aquele anjo era um ser evoluído e um dos seus guias. Pude vê-lo sorrir para ela, como se estivesse dizendo “Muito bem”. Quando se viraram para partir, vi na cabeça dele um solidéu. Que ironia, pensei comigo mesmo. O guia de Sophie parece um rabino.
Sophie foi uma verdadeira vítima da vida. Para ela, era mais fácil culpar um determinado grupo de pessoas por sua infelicidade do que mudar algo de que não gostava na sua vida. Ao escolher esse caminho, ela caiu numa armadilha. Culpar os outros se tornou automaticamente um mau hábito.
Até assumirmos a responsabilidade por nossos pensamentos, ficaremos presos a essa mentalidade do jogo da culpa. A vida nem sempre é agradável; na realidade, ela pode ser muito dolorosa. Às vezes precisamos escolher entre alguma coisa ruim e outra ainda pior. Essas escolhas, no entanto, nos fazem aprender, e por isso evoluímos. Qualquer que seja o resultado, foi você que o provocou. Você – e apenas você – é o autor do seu destino. Quando você assume a responsabilidade por todas as escolhas que faz e por todos os passos que dá nesse caminho da vida, você se sente mais confiante e corajoso. As pessoas que assumem a responsabilidade atraem outros seres humanos responsáveis para a vida delas.
Por fim, são os seus pensamentos que colorem a atmosfera que o cerca. Ninguém pode fazê-lo sentir alguma coisa. Você precisa reagir contra pensamentos depressivos, mesmo que não seja fácil. Precisa assumir a responsabilidade por suas ações e pensar sempre em que medida os seus atos e pensamentos afetam a vida dos outros.
Eu me culpo
A próxima comunicação mostra exatamente o que quero dizer sobre assumir a responsabilidade por nossos pensamentos e comportamentos e encontrar a paz dentro de nós até mesmo quando nos damos conta de que tomamos uma decisão errada. Ela mostra também o preço final que pagamos por não sermos fiéis a nós mesmos.
Eu estava em Nova York, no meu encontro anual, e tinha passado cerca de 20 minutos servindo de juiz entre os dois irmãos Salerno. Louis, que já havia falecido, culpava seu irmão de 50 anos, Anthony, que estava na plateia, de ter prejudicado os negócios do restaurante deles.
– O Louis disse: Tony, você sempre foi um irresponsável. Você pedia dinheiro emprestado e prometia pagar de volta. Você fez o negócio falir. Eu por acaso vi um centavo alguma vez?
– Você está me gozando? – Anthony retrucou. – Você sempre pegava dinheiro para gastar com as garotas.
Naquele momento, notei o espírito de um homem jovem. Ele parecia ter cerca de 20 anos e estava perto de Anthony. Ele me enviou seus pensamentos.
Eu perguntei ao Anthony:
– Você sabe alguma coisa sobre uma missão de interceptação? Está aqui um jovem de cabelos castanhos dizendo isso. Você sabe do que se trata?
– Não, não sei do que você está falando.
Pedi ao espírito que me fornecesse mais informações. De repente, dois outros jovens vieram para a frente e se posicionaram do lado esquerdo de Anthony. Uniram seus pensamentos e os enviaram a mim. O Esquadrão Eagle. Nós somos do Esquadrão Eagle.
Mais uma vez, perguntei ao Anthony:
– Você conhece o Esquadrão Eagle?
De novo, ele respondeu:
– Não, nunca ouvi falar.
Muitas vezes, quando sirvo de elo entre o mundo espiritual e o mundo físico, estou trabalhando com uma pessoa e outro espírito chega e se mete no meio. Levo algum tempo para perceber que aquele novo espírito não tem nada a ver com a pessoa com quem estou falando. Esse parecia ser o caso com Anthony.
– Sinto muito, Anthony, mas a energia do seu irmão se esvaneceu, e neste momento vejo vários jovens se aproximando de mim e me dizendo que eles lutaram juntos com alguém desta plateia.
Vi que várias pessoas ficaram bastante surpresas com a minha rápida mudança de imagens.
– Há alguém na sala que possa entender isso?
Um jovem que estava sentado no fim da fileira de Anthony esfregou as mãos e murmurou:
– Talvez.
A mulher que estava ao seu lado prontamente agarrou a mão dele e sussurrou alguma coisa em seu ouvido. A seguir, vi um espírito feminino em pé, postado atrás da mulher. Tinha cabelos ruivos e estava com o rosto totalmente maquiado, como se estivesse pronta para ir a uma festa. Percebi imediatamente que aquele espírito era a falecida mãe da mulher e avó do jovem.
– Senhora, há uma mulher em pé atrás da senhora. Ela está toda maquiada e usando um vestido amarelo.
– Ah, parece ser a minha mãe. Ela não ia a lugar nenhum sem estar maquiada.
O espírito queria mandar uma mensagem para o neto.
– Ela está dizendo o nome Jason. Este nome está relacionado a alguma pessoa?
– Sim – disse o jovem. – Esse é o meu nome.
– Sua avó quer que você saiba que ela está aqui para lhe trazer amor e coragem, e que sempre estará ao seu lado.
– Obrigado – ele respondeu.
A seguir, o espírito feminino disse: Fale a ele sobre a fotografia.
– Ela quer que eu lhe diga que ela sabe que você guarda uma fotografia dela na carteira.
Jason ficou surpreso com a mensagem.
– É… é verdade. Eu sempre a tenho comigo. – Os olhos dele se encheram de lágrimas.
– Você serviu com os Fuzileiros Navais? Ela está me mostrando uma imagem de um tanque, e você vestindo um uniforme. Estou vendo a fotografia dela com você.
Essa informação pareceu deixá-lo um pouco desconfortável. A mãe passou a mão pelos cabelos do filho, dizendo que estava tudo bem.
Após alguns segundos, Jason olhou para mim e disse:
– Sim. Eu servi no Corpo de Fuzileiros Navais. Eu era um operador de canhão.
Fiz sinal de que compreendia.
– Sua avó estava com você. Ela disse que você costumava colocar a fotografia dela em cima da janela do tanque.
– Sim, eu a prendia lá com chiclete.
Enquanto ele falava, os três espíritos apareceram junto à avó dele. Todos tinham no rosto uma expressão de compaixão.
De repente, a avó de Jason implorou: Por favor, por favor, diga a meu neto que ele está perdoado. Ele precisa se perdoar. Ninguém está zangado com ele. No meu mundo, tudo está bem. Não julgamos como vocês julgam no mundo de vocês. Eu lhe imploro para dizer a ele que não faça isso consigo mesmo. Foi um acidente, ele não teve culpa.
Enquanto eu transmitia a mensagem, Jason chorava baixinho com as mãos sobre os olhos, fazendo uns barulhos estranhos, ininteligíveis.
Um dos espíritos masculinos falou comigo, e eu transmiti.
– Você conhece o Keith? Ou o Johnny Q? Ou o Benson? Estou recebendo esses nomes.
Jason rapidamente levantou a cabeça.
– Conheço, sim! Eles eram pilotos do Esquadrão Eagle numa missão de reconhecimento. – De repente, ele se levantou e gritou: – Não foi minha culpa! Eu disse ao Clark para não atacar. Ninguém tinha certeza. Não foi minha culpa. Deixe-me em paz!
Perturbado, o jovem saiu correndo da sala seguido por sua mãe. Os três espíritos masculinos e a avó se afastaram.
Fiquei perplexo. Fez-se um profundo silêncio na plateia.
Sentindo-me exaurido, sentei, olhei para a plateia e disse:
– Acho que está na hora de encerrarmos.
Fiz uma oração curta, mencionando Jason, para ter certeza de que todos ali o manteriam em seus pensamentos.
Na maioria dos eventos, após o encerramento, eu geralmente permaneço no local para autografar livros e tirar fotografias com os participantes. Embora estivesse exausto, fiquei mesmo assim. Várias pessoas desfilaram na minha frente. Ao esticar o braço para pegar o próximo livro, vi que o homem diante de mim era Anthony Salerno.
Com seu sotaque característico, ele perguntou:
– Então foi isso? Meu irmão simplesmente foi embora?
– Sinto muito, Anthony, mas eu já encerrei esta noite. Sinto muito.
– Não tem problema – ele disse. Enfiou a mão no bolso, pegou um cartão de visita e o entregou a mim. Pude ver que ele era presidente da sua empresa de artigos de papelaria.
– Se o Louis voltar outra vez, você poderia me telefonar?
– Bem, não creio que ele vá fazer isso, Anthony. Você tem mais chance de vê-lo do que eu. Afinal de contas, ele é seu irmão.
– O.k. Você acha que vai descobrir o que aconteceu com aquele rapaz que saiu correndo? Eu servi nos Fuzileiros Navais há muito tempo e sei o que caras como ele enfrentam. Se você tiver notícias, e ele estiver precisando de qualquer coisa, me telefone.
– Obrigado, Anthony. Isso é muito gentil da sua parte.
Alguns meses depois recebi uma carta:
Prezado James,
Meu filho Jason e eu estivemos no evento de setembro em Nova York. Você talvez se lembre de nós porque meu filho saiu correndo da sala muito perturbado. Desde aquela ocasião, ele só fez piorar. Sonhava com os três pilotos mortos que você mencionou na sessão. Infelizmente, ele começou a tomar remédios para dor e antidepressivos. Um dia, ao chegar em casa, eu o encontrei morto na cama. Junto dele havia um bilhete de despedida. Fiz uma cópia para você. Pelo bilhete fiquei sabendo que ele tinha participado de uma missão em que, acidentalmente, três soldados morreram em consequência de fogo amigo. Ele ficou muito perturbado e não conseguia se perdoar. Eu me culpei muitas vezes por tê-lo levado ao seu evento, mas foi uma tentativa de ajudá-lo, porque ele estava deprimido há muito tempo. James, sei que você não teve qualquer culpa por aquilo que o meu filho fez, mas eu queria que você soubesse o que tinha acontecido a ele.
Atenciosamente,
Sherry Troy
Chocado e perturbado, peguei a cópia do bilhete de despedida. Nele estava escrito:
Mamãe,
Não consigo mais viver sabendo que matei meus irmãos. Por não ser suficientemente forte para assumir a responsabilidade, atribuí a culpa pela morte deles a outra pessoa. Sinto muito não ter podido ser tudo aquilo que eu deveria ser. Eu amo você.
Jason
Permaneci sentado ali por um bom tempo, sentindo-me desolado. Então, lembrei do cartão que Anthony me deu. Localizei-o e lhe telefonei, explicando o que tinha acontecido.
Cerca de um ano depois, encontrei o Anthony em outro evento.
– Olá, James, você se lembra do meu irmão Louis e do fuzileiro sobre o qual você me telefonou?
– Claro que sim, Anthony.
– Bem, meu irmão estava com a razão. Eu peguei de fato o dinheiro, mas o guardei para uma necessidade. Quando você me telefonou para contar da morte do rapaz, senti vontade de fazer alguma coisa. Pobre cara, ele estava tão confuso! Imagino quantos soldados devem estar assim. Por isso, peguei aquele dinheiro e abri uma organização para veteranos com síndrome do estresse pós-traumático.
Fiquei totalmente perplexo.
– Estou muito orgulhoso de você, Anthony. Que coisa boa!
– Eu sabia que você ia dizer isso. Aposto que essa minha atitude deixou o Louis muito feliz.
– Não tenho a menor dúvida.
Jason tinha ficado neurótico por causa de um sentimento de culpa que o fez cair num lugar muito escuro. Todos nós poderíamos aprender a seguinte lição com ele: Você – e apenas você – pode tocar sua vida para a frente. Você não precisa se sentir uma vítima das circunstâncias. Apesar de não ter qualquer controle sobre os acontecimentos da guerra, a culpa abriu uma enorme ferida na alma de Jason.
Por isso, eu incentivo você a parar de se culpar, ou de culpar as pessoas que o criaram, seus professores, seu chefe ou determinadas circunstâncias por seus problemas. Isso não resolve nada! Você é um adulto que pode escolher tratar-se dos traumas deixados por experiências antigas e seguir em frente. Cuide de si mesmo, não se deixe paralisar pela culpa nem se fixe na posição de vítima!
Muitos sentem grande dificuldade em perdoar a si mesmos por erros passados. Se Jason tivesse compreendido que ele apenas fazia parte de um quadro muito maior, e que a morte de seus colegas tinha sido necessária e natural para o desenvolvimento de suas almas, ele talvez ainda estivesse vivo hoje. Ele precisava se perdoar, mas essa deve ter sido uma lição difícil demais para ele aprender. A alma lhe trará essa lição outra vez numa próxima vida.