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As três carrinhas de polícia com as sirenes e as luzes de emergência ligadas abrem caminho por entre os carros na Aaboulevard. Nylander vai no cortejo de carros que segue atrás delas, e, durante todo o caminho para fora da cidade e em direcção à morada para que se dirigem, pensa que deve haver outra explicação para além da que Hess lhe deu ao telemóvel. Olha repetidamente para a fotografia das crianças da escola que Hess lhe enviou, e, embora reconheça o rosto infantil do lado esquerdo da imagem, não consegue acreditar naquela ligação.

Pouco antes da chegada, desligam as sirenes para evitarem alertar os suspeitos, e, quando os carros da polícia param em frente ao edifício e à entrada do Departamento Forense, seguem nas direcções previamente combinadas. Em 45 segundos, o edifício está cercado, e, enquanto os primeiros curiosos começam a vir às janelas do edifício em forma de cubo, Nylander caminha pelo meio da neve em direcção à entrada principal, onde nada parece diferente do habitual. Na recepção ouve-se uma música suave e conversas sobre os planos para o fim-de-semana entre colegas que estão reunidos em volta da cesta de fruta em cima do balcão, e, quando a recepcionista, que cheira a limão, lhes diz que Genz está numa reunião no seu laboratório, Nylander começa a praguejar baixinho por ter dado ouvidos a Hess e soado o alarme.

Nylander ignora a obrigação de usar as protecções de plástico azul nos sapatos que são dadas aos visitantes por causa da neve, enquanto os técnicos de bata olham com curiosidade dos seus postos de trabalho atrás de divisórias de vidro ao verem Nylander e três assistentes criminais entrarem no grande laboratório que Nylander visitara tantas vezes quando queria certezas em relação às provas descritas nos relatórios ou em conversas telefónicas.

Mas o laboratório está vazio. O mesmo é verdade em relação ao gabinete de Genz, adjacente ao laboratório. No entanto, a normalidade de ambos os espaços transmite-lhe calma — tudo está limpo e arrumado, e há um copo de plástico com um resto de café na mesa em frente ao grande monitor.

A recepcionista, que os acompanhou ao laboratório, repara sem surpresa que o chefe não está no seu posto e diz que vai procurá-lo. Quando ela sai, Nylander começa a perguntar-se como pode arruinar a vida e a carreira de Hess como vingança pelo fiasco para o qual o enviou. Quando Genz chegar, vai explicar tudo, talvez até dê uma gargalhada e os faça ver que não é ele naquela fotografia. Que nunca se chamou Toke Bering — que não passou vários anos da sua vida a preparar uma vingança — que claro que não é o psicopata assassino que Hess diz que é.

Mas é então que os vê. No laboratório, olhando para o outro lado da sala, Nylander vê o gabinete de Genz e os objectos em cima da secretária, em que não reparou quando lá entrara. Os cartões de identificação, as chaves, o telemóvel do trabalho e o cartão de acesso ao edifício estão arrumados em cima da mesa vazia, quase como se tivessem sido deixados para nunca mais serem usados. Mas não é isso que lhe causa um arrepio. É o pequeno boneco de castanhas de aspecto inocente em cima da caixa de fósforos, ao lado deles.