Quando ela vira para o bosque e acelera, a luz do dia já quase desapareceu. Começou a nevar outra vez, e a neve quase cobriu o caminho estreito que Rosa mal consegue distinguir à sua frente, à luz dos faróis.
Primeiro, foi longe demais e teve de parar o carro e correr até uma casa próxima para pedir indicações de caminho. Nunca tinha estado em Møn e, mesmo que tivesse estado, não faria diferença. Quando seguiu as indicações da mulher da casa e voltou pelo mesmo caminho por onde tinha vindo, percebeu que tinha ignorado completamente o grande castanheiro e o caminho de terra batida que conduzia ao interior do bosque. Ladeada por velhas árvores despidas e algumas de folha perene, a estrada transforma-se agora numa sucessão de curvas apertadas, mas, graças ao rasto de pneus que está a seguir, consegue manter a velocidade e permanecer na estrada. Quando o rasto se torna mais fraco e acaba por ser completamente tapado pela neve, entra em pânico. Não há ali nenhuma quinta. Não vê pessoas, nada, apenas a estrada e o bosque, e, se tiver seguido na direcção errada, pode já ser tarde demais.
No momento em que Rosa começa a entregar-se ao desespero, o bosque abre-se à sua frente. A estrada continua subitamente para uma grande clareira coberta de neve e rodeada de grandes árvores. Não é como ela imaginara. A descrição do relatório que lera no computador do ministério dera-lhe uma imagem de um lugar decrépito, abandonado e feio, mas não é assim. É idílico. Rosa pára o carro, desliga o motor e esquece-se completamente de fechar a porta do carro quando sai a correr para o meio da neve e olha em volta. A sua respiração forma nuvens em todas as direcções.
É uma casa em forma de L, com dois pisos e telhado de colmo, e à primeira vista parece uma mansão bem cuidada de uma história de Morten Korch. A fachada caiada é iluminada por candeeiros de exterior modernos, cuja luz se estende até ao pátio onde se encontra naquele momento, e de ganchos por baixo do telhado estão suspensas pequenas caixas de vidro que Rosa percebe serem câmaras de videovigilância. Pelas grandes janelas vê uma luz quente no piso inferior e só quando lê a inscrição por cima da entrada, que diz «Quinta das Castanhas», tem a certeza de que está no sítio certo. Rosa não consegue esperar mais. Grita a plenos pulmões, e, quando inspira e grita, o nome ecoa por todo o pátio e por entre as árvores.
— Kristine…!
Um bando de corvos levanta voo das árvores atrás da quinta. Mergulham por entre os remoinhos de neve e voam para longe. Só quando o último corvo desaparece ela descobre a figura à porta do celeiro.
É alto, tem cerca de um metro e oitenta e cinco. Usa um impermeável aberto e, numa das mãos, tem um balde azul com pedaços de lenha e na outra segura um machado. O rosto é suave e jovem, e ela não o reconhece imediatamente.
— Encontraste-a… Bem-vinda.
A voz dele é neutra, quase amigável, e, depois de um breve olhar, atravessa o pátio e dirige-se para a porta da casa, enquanto a neve lhe estala debaixo dos pés.
— Onde é que ela está!?
— Quero começar por pedir desculpa por a quinta estar tão diferente do que foi no passado. Quando a comprei, tinha planos de a restaurar, para poderes ver como era... mas a ideia de o fazer era demasiado deprimente.
— Onde é que ela está!?
— Não está aqui. Podes entrar e procurá-la, se quiseres.
O coração de Rosa bate depressa. A situação é surreal, e ela está sem fôlego. O homem está parado à porta da casa, que deixou entreaberta enquanto sacode a neve das botas.
— Anda, Rosa. Vamos despachar isto.