A casa parece escura e fria, e Rosa grita o nome dela nos corredores e espreita para dentro dos quartos. Corre do rés-do-chão para o primeiro andar e examina os quartos com paredes tortas, mas com o mesmo resultado. Não há nada. Nem móveis, nem bens, apenas um cheiro de verniz e madeira nova que paira no ar. É uma casa vazia e recém-renovada, e é como se nunca tivesse contido nada. Quando desce as escadas para o andar de baixo, ouve-o. Está a murmurar algo, uma velha canção infantil, e, quando percebe qual é, o sangue gela-lhe nas veias. Ao passar a porta que dá acesso à sala, vê-o agachado de costas para ela, enquanto espicaça a lenha na salamandra. No balde azul ao seu lado há um machado, e ela puxa-o para si com um movimento rápido. Mas ele não reage. Ainda está agachado quando olha para ela, e as mãos dela começam a tremer enquanto as aperta em volta do cabo do machado para estar pronta para o usar.
— Conta-me o que fizeste…
Ele fecha a porta da salamandra.
— Ela está num sítio melhor. Não é o que se costuma dizer?
— Eu perguntei o que fizeste!?
— Pelo menos, foi o que me disseram sempre que perguntei pela minha irmã. É um pouco paradoxal. Primeiro, mandam dois gémeos para uma cave e deixam o pai fazer o que quer enquanto a mãe dá ideias e filma tudo. Depois, separam os gémeos durante anos, sem os deixarem ter contacto, porque acham que é melhor para eles…
Rosa não sabe o que dizer, mas aperta com mais força o cabo do machado quando ele se levanta.
— Mas um lugar melhor não é grande conforto. Para mim, a incerteza é o pior. Não concordas?
O homem é louco. Todas as ideias que Rosa teve na viagem até ali são inúteis. Não há senso comum, estratégia ou plano que possa usar contra o olhar que a fita, e em vez disso dá um passo em frente.
— Não sei o que queres. E também não me interessa. Tens de me dizer o que fizeste e onde está a Kristine. Ouviste!?
— Se não fazes o quê? Atacas-me com isso?
Ele aponta para o machado, e Rosa sente-se como se ele se desintegrasse nas suas mãos. Sente as lágrimas a virem-lhe aos olhos. Ele tem razão. Ela não vai usar o machado, porque, se o fizer, nunca vai ter certezas. Embora tente conter-se, as lágrimas começam a cair, e Rosa vê um leve sorriso a assomar ao rosto do homem.
— Vamos saltar essa parte. Ambos sabemos o que queres saber, e eu tenho muito gosto em contar-te. A questão é quanto o queres.
— Eu faço o que quiseres… Conta-me. Porque não podes contar-me…
O movimento dele é rápido, e ela não consegue reagir até ele pressionar algo suave e húmido contra o seu rosto. O cheiro forte invade-lhe as narinas. Rosa tenta soltar-se, mas ele é demasiado forte, e a voz sussurra-lhe demasiado perto dos ouvidos.
— Vamos… inspira. Isto vai acabar num instante.