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Nylander detesta o facto de estar num bosque no Norte da Alemanha, com uma equipa táctica alemã, e quer saber o quanto antes se Kristine Hartung está na pequena casa de madeira ou não. Tudo parece fora do seu controlo, e tem sido assim desde sexta-feira, quando o tapete lhe foi tirado de debaixo dos pés. A humilhação acontecera diante de todos. Incentivado pela agente de comunicação que tencionava levar para a cama num quarto de hotel, recebera ordens da chefia para se rebaixar e admitir o erro na conclusão anterior do caso. E, claro, elogiar Hess e Thulin pela resolução.

Do ponto de vista de Nylander, foi o mesmo que cortarem-lhe os tomates e pendurarem-nos na fachada da esquadra. Mas cumprira o que lhe fora ordenado e depois tivera de se certificar de que a sua equipa e os especialistas se debruçavam sobre as poucas coisas que Genz deixara, na esperança de encontrarem o rasto da rapariga Hartung, caso que Nylander encerrara definitivamente diante das câmaras, alguns dias antes.

Por esse motivo, Nylander sente que está enterrado em merda até às orelhas, mas ainda assim decidiu integrar a caravana de três carros que partira da esquadra de Copenhaga cedo nessa manhã. Em breve, o suspense vai terminar, e ele vai descobrir se é o seu fim. Se Kristine Hartung não estiver na casa, o erro será ignorado, e o caso continuará provavelmente a ser um mistério que pode distorcer um pouco perante os media. Se Kristine Hartung estiver naquela casa, é o fim. A menos, claro, que consiga vender o argumento de que o seu erro fora compreensível e de que se devera unicamente ao facto de alguém, que não ele, ter feito a asneira fenomenal de contratar um psicopata como Genz para um cargo tão importante.

A equipa táctica alemã cercou a casa, e os homens começam a avançar em grupos de dois. Mas então param subitamente. A porta da casa abriu-se, e uma figura magra sai a correr, a toda a velocidade. Nylander segue-a com o olhar. Quando ela chega ao meio do relvado molhado pelo orvalho no jardim descuidado, pára, espantada, e fita-os.

Todos ficam imóveis. Os movimentos dela são diferentes. Cresceu, e o seu olhar é selvagem e sombrio. Mas Nylander viu a fotografia dela centenas de vezes e reconhece-a imediatamente.