Linus Bekker inspira o ar fresco, mas por cima dele há nuvens cinzentas. A plataforma da estação de Slagelse está vazia, e a pequena mochila que contém as coisas que quis trazer consigo da Segurança está pousada aos seus pés. Acaba de ser libertado, e devia sentir-se feliz e aliviado, mas não sente. Está livre — mas para quê?
Algo em Linus Bekker considera a proposta do advogado de pedir uma indemnização por tortura e coacção. Já cumpriu uma pena demasiado longa para o único crime que cometeu nessa altura, que foi o de invadir o arquivo digital de fotografias de locais do crime. O dinheiro será bom, pensa, mas também sabe que o dinheiro não pode alterar a desilusão que sente. O percurso do Homem das Castanhas não teve o fim que esperava. Desde que percebera, no interrogatório, um ano antes, que era uma peça importante do plano, sentira-se feliz. A princípio, não entendera quem poderia ter posto o machete na garagem, mas, quando os detectives tentaram fazê-lo confessar confrontando-o com a imagem da arma na prateleira, descobrira o pequeno boneco de castanhas no fundo da imagem. Linus somara dois mais dois. Confessara o crime e, todos os dias, na Segurança, ansiara pela chegada do Outono, quando o Homem das Castanhas revelaria o seu próximo passo. Valera a pena a espera quando as notícias dos homicídios começaram a aparecer, mas depois a festa terminara, e o Homem das Castanhas revelara ser apenas um amador disfarçado, em quem ele nunca deveria ter confiado.
O comboio chega, e Linus Bekker pega na mochila e levanta-se. Quando se senta à janela, ainda sente o peso do tédio da vida. Mas só até descobrir a mãe sozinha com a filha pequena num lugar à frente e do outro lado do comboio. A mãe sorri e acena cordialmente com a cabeça. Linus Bekker retribui a cortesia e sorri-lhe também.
O comboio começa a andar. As nuvens negras desaparecem, e Linus Bekker pensa que, apesar de tudo, vai encontrar uma maneira de passar o tempo.