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— Como pode ver, mudámos um pouco a decoração, porque recebemos sofás novos, mas se quiser os antigos de volta…

— Não, está bem assim. Gosto que sejam novos.

Rosa acabou de entrar pela porta do seu gabinete no quarto piso do Ministério dos Assuntos Sociais. A chegada a Christiansborg e ao subsequente serviço religioso envolveu muitos encontros, e é agradável afastar-se toda aquela atenção. Os colegas do Parlamento abraçaram-na, outros ofereceram-lhe acenos simpáticos e compassivos, e ela tentou manter-se sempre em movimento, excepto durante o serviço, quando tentou concentrar-se no discurso do bispo. Depois disso, Vogel teve de falar com vários representantes, e, com a sua secretária e alguns assistentes à sua espera, Rosa atravessara a praça do palácio em direcção ao grande edifício do Ministério dos Assuntos Sociais. A ausência de Vogel vem a calhar, pois agora pode concentrar-se em reunir com o pessoal e falar com a secretária do ministério.

— Rosa, não sei como dizer isto, portanto, vou directa ao assunto. Como te sentes?

Só agora tem espaço e tempo para falar sobre isso, e Rosa conhece a sua secretária suficientemente bem para saber que pergunta com boa intenção. Liu é de origem chinesa, casada com um dinamarquês, mãe de dois filhos e ainda uma das pessoas mais bondosas que Rosa conhece, mas tem de se esquivar àquela pergunta pessoal da mesma forma que se esquivou em Christiansborg e na igreja.

— Não há qualquer problema em perguntar. Sinto-me bem e agora estou ansiosa por começar a trabalhar. E tu?

— Bem, está tudo bem. O mais pequeno tem tido cólicas. E o mais velho… Mas está tudo bem.

— Estas paredes parecem um pouco despidas?

Rosa aponta e sente Liu aproximar-se cuidadosamente.

— Era onde estavam as fotografias. Mas acho que tu é que deves decidir. Há algumas de vocês todos juntos, e eu não sabia se querias tê-las aí penduradas outra vez.

Rosa olha para a caixa que está junto à parede, reconhecendo uma fotografia com Kristine.

— Tratarei disso mais tarde. Agora diz-me quanto tempo tenho antes das reuniões de hoje.

— Pouco. Tens de cumprimentar o pessoal, e depois há a abertura oficial, com o discurso do primeiro-ministro, e depois…

— Não há problema, mas gostava de começar as reuniões já hoje. Nada de especial, apenas durante as pausas e nada oficial. Tentei enviar alguns e-mails no caminho para aqui, mas o e-mail estava em baixo.

— Infelizmente ainda está.

— Bem, então manda entrar o Engells, para poder dizer-lhe com quem quero falar.

— Infelizmente, o Engells saiu para fazer alguns recados.

— Agora?

Rosa olha para ela, e subitamente percebe que deve haver outra razão para a incerteza e nervosismo da secretária do ministério. O chefe de departamento do ministério devia estar a postos para a receber num dia como este, e o facto de não estar parece-lhe subitamente estranho.

— Sim. Ele teve de ir porque… Mas ele pode contar-te tudo quando regressar.

— Regressar de onde? O que se passa?

— Não sei ao certo. E provavelmente vai ser resolvido, mas, como eu disse…

— Liu, o que se passa?

A secretária do ministério está hesitante e parece muito infeliz.

— Sinto muito. Recebemos tantos e-mails de pessoas que te apoiam e te querem bem, e não entendo como alguém pôde enviar uma coisa daquelas.

— Enviar o quê?

— Eu não o vi. Mas acho que é uma ameaça. Pelo que o Engells disse, entendi que tem alguma coisa a ver com a tua filha.