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— Chegou hoje de manhã cedo, enviado para o seu e-mail oficial. Os investigadores da polícia estão a tentar identificar o remetente, e provavelmente vão conseguir, mas pode demorar algum tempo. Sinto muito — diz Engells.

Rosa acabou a visita ao ministério, em que cumprimentou a sua equipa, e Engells estava à espera no seu gabinete quando ela regressou. Agora está parada à janela por trás da secretária, enquanto o seu chefe de departamento a olha com uma expressão compassiva que não consegue suportar.

— Já recebi e-mails de ódio outras vezes. Normalmente são enviados por cobardes que não têm coragem de fazer o que ameaçam.

— Este é diferente. Mais malicioso. Continha imagens do Facebook da sua filha, que foi fechado quando ela… quando ela desapareceu. Significa que é de alguém que está interessado em si há muito tempo.

A mensagem abala Rosa, mas está determinada a ignorar a surpresa.

— Quero ver o e-mail.

— Foi enviado para os investigadores da polícia e para a equipa de segurança, e eles estão…

— Engells, você nunca envia nada sem fazer pelo menos sete cópias. Quero vê-lo.

Engells olha para ela e hesita, mas depois abre a pasta e tira de lá uma folha de papel que pousa na mesa. Ela pega na página. A princípio, Rosa não se consegue orientar no meio dos fragmentos coloridos espalhados pela página. Mas depois compreende. Reconhece as belas selfies de Kristine: ela deitada a sorrir, suada, com o seu uniforme de andebol no chão do pavilhão desportivo. Quando estava a caminho da praia na sua nova bicicleta de montanha. Quando fez uma luta de bolas de neve no jardim de casa com Gustav. Ela a vestir-se em frente ao espelho da casa de banho. Há mais fotografias dela sorridente e feliz, e Rosa sente as saudades e a dor a crescerem dentro de si, até que o seu olhar encontra as palavras que lhe foram dirigidas.

«Bem-vinda. Vais morrer, puta.»

As frases estão escritas a vermelho e num arco por cima das imagens, e a mensagem parece especialmente maliciosa por ter sido escrita com letra infantil. Quando Rosa recupera a fala, tenta soar normal.

— Já recebi outras brincadeiras de mau gosto. Não significa nada.

— Não, mas esta…

— Não vou deixar que me metam medo. Vou fazer o meu trabalho, e os investigadores farão o seu.

— Todos achamos que devia ter guarda-costas. Podem protegê-la se…

— Não, não quero seguranças.

— Porquê?

— Porque acho que não é necessário. O e-mail era o objectivo. Foi escrito por algum pobre coitado que se esconde atrás de um ecrã, e não é coisa que queira ter na nossa casa neste momento.

Engells olha-a, um pouco surpreendido, como sempre faz quando ela escolhe trazer à baila o assunto da sua privacidade.

— Precisamos de que as coisas corram dentro da normalidade, para podermos avançar…

O chefe de departamento prepara-se para dizer algo, e Rosa percebe que ele não concorda.

— Engells, agradeço a sua preocupação, mas, se não tem mais nada para me dizer, quero ir assistir ao discurso de abertura do primeiro-ministro.

— Sim, senhora. Voltaremos a falar mais tarde.

Rosa dirige-se para a porta, onde Liu já está à sua espera. Engells olha para ela, e Rosa sente que ele fica ali parado até muito depois de ela ter partido.