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Hess está de costas voltadas para a saída, a fumar, enquanto o vento faz subir o fumo por entre o edifício e as árvores. À sua frente está o grande parque de estacionamento escuro com as árvores velhas e negras, cujas raízes se curvam sob o asfalto e fazem pressão para cima. Thulin vê uma única ambulância avançar aos solavancos e entrar na garagem, quando as portas de vidro electrónicas se abrem para a deixar entrar.

Thulin teve de falar com a enfermeira depois. E de se certificar de que o rapaz recebe os melhores cuidados possíveis. Quando terminou a conversa com a enfermeira, Hess saiu e, agora que Thulin se dirige para o estacionamento, sente-se feliz por ele ter esperado por ela.

— O que lhe vai acontecer?

A pergunta pessoal parece-lhe estranha, porque conhece Hess há menos de 24 horas, mas sabe perfeitamente o que ele quer dizer.

— Os assistentes sociais assumiram o caso. Infelizmente, ele não tem outros familiares, por isso, provavelmente vão procurar encontrar uma solução com o padrasto. A menos que ele seja culpado, claro.

Hess olha para Thulin.

— Achas que é?

— Ele não tem álibi. E, em 99 por cento dos casos, o parceiro da pessoa é o culpado. O que ele nos disse não trouxe nenhuma informação nova.

— Não?

Hess olha-a nos olhos enquanto continua:

— Se o rapaz está a dizer a verdade, a figura com a impressão digital foi colocada no local do crime na mesma noite em que o crime aconteceu. É no mínimo estranho e não pode ser explicado pelo facto de alguém ter comprado o boneco numa venda à beira da estrada, há um ano.

— As duas coisas não têm de estar relacionadas. O padrasto pode muito bem ter matado a mulher, e o rapaz pode estar enganado em relação à figura. Não vejo lógica numa ligação.

Hess prepara-se para dizer algo, mas depois interrompe-se e pisa o cigarro.

— Não. Talvez não.

Faz um aceno abrupto com a cabeça, em despedida, e Thulin vê-lo a atravessar o parque de estacionamento. Ela abre a boca e prepara-se para lhe perguntar se quer boleia para a cidade, mas uma rajada de vento faz algo cair no chão atrás dela. Thulin vira-se e vê a bola espinhosa, castanha-esverdeada, que caiu e se junta a outras iguais a ela. Percebe então o que é. Ergue o olhar para o castanheiro com os ramos oscilantes, fixando as outras bolas espinhosas à espera de amadurecerem, e, por um breve momento, lembra-se de Kristine Hartung, a fazer bonecos de castanhas em casa, à mesa da sala de estar. Ou noutro sítio qualquer.