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— Que raio estão vocês a fazer? Exijo uma explicação — diz Erik Sejer-Lassen.

Thulin carrega no ícone das mensagens do telemóvel Samsung Galaxy e vê a lista de mensagens, enquanto Hess deita o conteúdo da mala de Erik Sejer-Lassen para o sofá de couro branco.

Estão no escritório do homem, no último piso do edifício. Enquanto a música de centro comercial e a multidão de pessoas lutam pelo espaço nos pisos por baixo deles, o piso mais próximo do céu é dedicado ao impressionante escritório da empresa de investimento de Sejer-Lassen. A luz do dia está quase a desaparecer, e, em frente à divisória de vidro que dá para o corredor, os funcionários estão reunidos, com expressões preocupadas, a olhar para o director, que foi arrancado do elevador momentos antes de uma forma incompreensível.

— Vocês não têm o direito de fazer isto. O que estão a fazer com o meu telemóvel?

Thulin ignora-o e desliga o telemóvel enquanto olha para Hess, que vasculha o conteúdo da mala.

— A mensagem não está aqui.

— Ele pode tê-la apagado. Dizem que o sinal veio daqui.

Hess debruça-se sobre o saco do 7-Eleven que também está dentro da mala, enquanto Erik Sejer-Lassen dá um passo na direcção de Thulin.

— Eu não fiz porra nenhuma. Ou me dizem do que se trata ou podem ir para…

— Qual é a sua relação com Laura Kjær?

— Quem?

— Laura Kjær, 37 anos, assistente clínica, acabou de lhe enviar uma mensagem do seu telemóvel.

— Nunca ouvi falar dela!

— O que fez ao seu outro telemóvel?

— Só tenho um!

— O que há nesta caixa?

Thulin vê que Hess levantou uma embalagem branca tamanho A5 de dentro da mala e que está a apontá-la a Erik Sejer-Lassen.

— Não sei, acabo de a receber! Vim de uma reunião e recebi uma mensagem de uma empresa de estafetas a dizer que havia uma encomenda para mim no 7-Elev… Então!?

Sejer-Lassen vê Hess começar a abrir a encomenda.

— O que está a fazer? Que raio se passa aqui!

Hess pára subitamente e larga a embalagem, que cai no sofá de couro branco. A abertura é suficientemente grande para Thulin ver o saco de plástico transparente manchado e o velho telemóvel Nokia, que está a piscar. Mas o Nokia está preso a uma estranha forma acinzentada, e só quando Thulin vê o anel no dedo percebe que deve ser a mão amputada de Laura Kjær que estão a ver.

Erik Sejer-Lassen fita-os.

— Que raio é isso?

Hess e Thulin olham-se, e Hess avança para o homem.

— Vou voltar a perguntar-lhe. A Laura Kjær…

— Mas eu não sei nada!

— Quem lhe enviou isto?

— Acabo de o receber! Não sei…

— Onde estava na noite de segunda-feira da semana passada?

— Na noite de segunda-feira?

As vozes da conversa de Hess e Sejer-Lassen desvanecem-se, enquanto Thulin olha em volta para o escritório do homem. Sabe instintivamente que a conversa não importa. É como se a confusão fosse intencional. Como se alguém já estivesse a divertir-se às suas custas e a rir-se deles enquanto dão voltas, como insectos dentro de um frasco, e ela tenta concentrar-se no motivo por que ali estão e por que o lugar lhe parece ao mesmo tempo certo e errado.

Alguém enviou deliberadamente a mensagem de texto para os atrair para ali. Alguém quis que perseguissem o sinal do telemóvel Nokia e que encontrassem a mão de Laura Kjær no escritório de Erik Sejer-Lassen. Mas porquê? Não era para ajudar, e aparentemente também não era por Sejer-Lassen poder dar-lhes alguma informação. Então, porque quiseram levá-los até ele?

O olhar de Thulin pousa na bela fotografia emoldurada de Erik Sejer-Lassen com a mulher e os filhos na estante atrás da secretária e percebe qual pode ser o motivo mais maléfico.

— Onde está a sua mulher?

A interrupção de Thulin faz Hess e Erik Sejer-Lassen pararem de falar e olharem para ela.

— A sua mulher! Onde é que ela está agora?

Erik Sejer-Lassen abana a cabeça, envergonhado, enquanto Hess olha de Thulin para a fotografia de família na estante, e ela percebe que ele está a pensar a mesma coisa. Erik Sejer-Lassen encolhe os ombros e ri-se.

— Não sei. Deve estar em casa. Porquê?