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A luz da lanterna de Thulin dança por entre as árvores molhadas e passa por cima de cotos e rebentos, enquanto ela chama pela mulher no meio da escuridão. À sua frente, a uma grande distância, do lado esquerdo, Thulin ouve Hess fazer o mesmo e vê o brilho da lanterna dele a avançar constantemente. Já percorreram uma longa distância, vários quilómetros, e Thulin quer gritar novamente, mas ao mesmo tempo sente a dor nos pés que a impede de avançar e deixa-se cair no chão. A escuridão engole-a, e Thulin procura a lanterna, que deve ter-se apagado. Põe-se de joelhos, enterra as mãos nas folhas molhadas e começa a vasculhar a área. Subitamente, sente a forma e pára. Está em silêncio e fita-a do outro lado de um clarão, a apenas 20 metros de distância e quase fundida com a escuridão.

— Hess!

O grito ecoa pelo bosque, e ela leva a mão à pistola que tem no coldre, enquanto Hess corre na sua direcção com a lanterna. Quando ele a alcança, ela tem a arma apontada à figura, e Hess aponta a lanterna nessa direcção.

Anne Sejer-Lassen está pendurada numa árvore. Dois ramos projectam-se debaixo dos seus braços e mantêm o corpo direito. Os seus pés descalços balançam acima do chão, e tem a cabeça curvada contra o peito, fazendo os longos cabelos negros cobrirem-lhe o rosto. Quando Thulin se aproxima, percebe o que a confundiu. Os braços de Anne Sejer-Lassen são demasiado curtos. Ambas as mãos desapareceram. E é então que o vê. O pequeno boneco de castanhas cravado na carne do ombro esquerdo de Anne Sejer-Lassen. Thulin tem a impressão de que está a sorrir.