Thulin bate deliberadamente à porta do número 7 de Cedervænget com mais força do que o necessário. Corre debaixo de chuva e tem de saltar para o lado para se desviar de um ciclista sem reflectores antes de chegar ao carro e entrar. Tem as roupas ensopadas da corrida entre as casas dos vizinhos, mas, ao menos, Hess vai ter de ir a pé para a esquadra quando regressar à cidade. Não alcançaram nada naquele dia, continuam a não ter uma pista clara para seguir, e é como se a chuva estivesse a eliminar todas as marcas enquanto eles correm em círculos sem chegarem a lado nenhum.
Thulin roda a chave na ignição, mete a mudança e conduz apressadamente pela rua abaixo. Vai recolher todo o feedback, todos os resultados do grupo para aquele dia, mas o que queria realmente era voltar para a esquadra e ler os ficheiros do caso. Começar de novo, rever tudo novamente e encontrar uma ligação. Talvez contactar Hans Henrik Hauge e Erik Sejer-Lassen e perguntar-lhes o que sabem do médico Hussein Majid, que conheceu ambas as vítimas. Thulin está a afastar-se de Cedervænget e a dirigir-se para a rua principal, quando algo no espelho retrovisor capta a sua atenção e a faz travar a fundo.
Pelo espelho retrovisor, vê o carro que está estacionado 50 metros atrás dela. Está estacionado sob os grandes pinheiros no final do beco adjacente à rua Cedervænget. Quase se funde com as árvores e os arbustos que rodeiam o parque infantil. Thulin faz marcha-atrás e pára ao lado do veículo. É um carro preto. Não tem nenhum traço especial, nem mesmo no interior do veículo. Mas a chuva cai no capô, e a leve nuvem de vapor que se ergue dele diz-lhe que o motor está quente e que o carro deve ter sido estacionado ali há poucos momentos. Thulin olha em volta. Quando uma pessoa vai entregar uma encomenda, estaciona em frente à casa do destinatário, mas este carro está sozinho no beco ao fundo da rua. Por um momento, pensa em mandar investigar a matrícula. Mas, então, o telemóvel toca, e o nome no ecrã diz-lhe que é Le. Thulin dá-se conta de que se esqueceu de a ir buscar à casa do avô e, portanto, atende a chamada e vai-se embora.