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Quando Hess chega ao apartamento de Kvium, a porta está aberta, e, antes mesmo de entrar seguido por dois agentes, ouve o homem a gritar de dor. Hess acende a luz. O apartamento está numa confusão. No chão, entre a roupa suja e as caixas de pizza, está um homem de nariz ensanguentado e com os dois braços presos atrás das costas. Thulin está sentada em cima dele a prender-lhe o pulso entre as omoplatas com uma mão, enquanto acaba de o revistar com a outra.

— Que raio estás a fazer! Larga-me, porra!

Quando ela termina, os dois agentes posicionam-se de ambos os lados do homem, mantendo-lhe as mãos presas junto às omoplatas e fazendo-o gritar ainda mais.

Tem cerca de 40 anos de idade. É um homem musculado, com ar de vendedor, gel no cabelo e aliança no dedo. Só usa uma T-shirt por baixo do casaco e umas calças de fato de treino, como se tivesse acabado de sair da cama. Tem o nariz torto e inchado, e a queda espalhou-lhe o sangue pelo rosto.

— Nikolaj Møller. Mantuavej, 76, Copenhaga S.

É Thulin, que está a ler o cartão do seguro de saúde do homem que traz na carteira, juntamente com os cartões de crédito e as fotografias da família, que ela encontrou no bolso interior do casaco, além de um telemóvel e da chave de um Audi.

— O que se passa? Eu não fiz nada!

— O que está aqui a fazer? Eu perguntei o que está aqui a fazer?

Thulin agarrou o homem e puxa o seu rosto ensanguentado para cima para poder ver os olhos dele. Ele ainda está em choque e obviamente não está habituado a ver uma estranha vestida como Jessie Kvium.

— Eu só queria falar com a Jessie. Ela mandou-me uma mensagem agora mesmo a dizer-me para vir cá!

— Está a mentir. O que está aqui a fazer? Responda!

— Eu não fiz nada! Ela é que está a tentar lixar-me a mim!

— Mostre-me a mensagem. Já.

É Hess, que tirou o telemóvel da mão de Thulin e o estendeu ao homem. Os agentes soltam-no, e, com os dedos ensanguentados, ele começa a marcar o código para desbloquear o telemóvel.

— Vamos, despache-se!

Hess está impaciente. Instintivamente, sabe que aquela é a reacção de uma pessoa assustada, mas não sabe como nem porquê.

— Mostre-me, vamos!

Hess tira o telefone da mão do homem antes de ele ter tempo de lho estender e olha para o ecrã.

Não tem número de origem, apenas a informação «Número privado», e a mensagem é curta e simples:

«Vem ter comigo agora. Caso contrário, envio as fotografias à tua mulher.»

Hess vê uma imagem anexada à mensagem e carrega nela para a aumentar. A fotografia foi tirada a quatro ou cinco metros de distância, e Hess reconhece os caixotes de lixo do corredor da escola de dança onde encontraram Jessie Kvium. Há duas pessoas muito juntas, e o que estão a fazer é óbvio. A pessoa da frente é Jessie Kvium, com a mesma roupa que Thulin tem vestida, e a pessoa de trás é Nikolaj Møller, com as calças junto aos tornozelos.

Mil pensamentos cruzam a mente de Hess.

— Quando recebeu esta mensagem?

— Soltem-me. Eu não fiz nada!

— Eu perguntei quando!?

— Há meia hora. Que raio se passa?!

Hess fita o homem por um momento. Depois solta-o e corre para a porta.