O edifício novo do departamento de segurança, situado numa área quadrada perto do hospital psiquiátrico, está rodeado por um muro duplo com seis metros de altura e com um fosso entre os muros. O único acesso disponível é pelo lado sul, onde um sistema de portões com abertura retardada dá para o parque de estacionamento, e Hess e Thulin param junto à cabine da segurança com um sistema de altifalantes, ao lado de portão pesado e enorme.
Ao contrário de Hess, Thulin nunca tinha estado no Departamento de Segurança, mas claro que já tinha ouvido falar dele. O Departamento de Segurança, conhecido na gíria apenas como a Segurança, é a maior unidade de detenção psiquiátrica do país, e abriga os criminosos mais perigosos. Os cerca de 30 reclusos foram condenados com base no chamado decreto do perigo que o tribunal, em casos raros, pode invocar se tiver motivos para suspeitar de que o criminoso em questão representa um perigo constante para os outros. Uma vez que se supõe que o perigo é devido a doença mental, o assassino é colocado na Segurança, que funciona como um híbrido de hospital psiquiátrico e prisão de alta segurança, e fala-se sempre em detenção por tempo indefinido. Os reclusos, chamados pacientes, são assassinos, pedófilos, violadores em série e pirómanos, e alguns deles nunca serão considerados capazes de ser reintegrados na sociedade, porque a sua doença mental não se altera.
O portão eléctrico abre-se, e Thulin segue Hess para uma espécie de garagem vazia, onde um guarda está atrás de uma divisória de vidro à prova de bala. Atrás dele há outro guarda voltado para os monitores que mostram as imagens das câmaras de vigilância. E são muitos. Como lhe é ordenado, Thulin entrega telemóvel, cinto, atacadores e outros objectos que possam ser usados como arma ou para cometer suicídio. No caso de Thulin e Hess, também têm de entregar as armas, mas é do telemóvel que mais lhe custa separar-se, porque Thulin fica privada do contacto com os colegas no ministério, coisa que não previra. Um scan de corpo inteiro isenta-os de serem revistados, e ela e Hess esperam na garagem pela abertura de uma nova porta. Entram, e, antes que a próxima porta se abra, a anterior tem de se fechar completamente. Uma pesada porta metálica abre-se por meio de um mecanismo electrónico na outra ponta da sala para deixar entrar um enfermeiro corpulento cuja placa de identificação diz que se chama «Hansen».
— Bem-vindos. Sigam-me, por favor.
Com os seus corredores bem iluminados e janelas com vista para os jardins, o local parece um centro de formação moderno à primeira vista. Mas só quando entram percebem que tudo lá dentro está preso ao chão e às paredes, como no interior de um navio. O som de chaves ouve-se constantemente, e o sistema de portas de abertura retardada continua, como numa prisão comum, à medida que entram. Alguns pacientes estão sentados em sofás ou a jogar ténis de mesa. São homens de barba, alguns deles claramente medicados, e a maioria usa chinelos de banho. Os pacientes que Thulin vê têm uma expressão triste. Parecem residentes de um lar de terceira idade, mas Thulin reconhece alguns rostos de fotografias que viu nos jornais, e, embora esses rostos pareçam amorfos e vazios, sabe que têm na consciência o peso de vidas humanas.
— Isto é um grande transtorno. Não entendo porque não nos informaram antecipadamente.
O chefe de psiquiatria, Weiland, não parece feliz por os ver. Embora Hess tenha explicado o motivo da visita ao funcionário com quem falou ao telefone, recomeça a explicar desde o início.
— Lamento muito, mas precisamos de falar com ele.
— Linus Bekker está a fazer progressos. Não pode ser confrontado com notícias de morte e violência, porque isso pode reverter o progresso que já fez. Linus Bekker pertence ao grupo de pacientes que estão privados de acesso a qualquer tipo de media, à excepção de um documentário sobre natureza durante uma hora por dia.
— Precisamos de fazer algumas perguntas a Linus Bekker sobre coisas que ele disse anteriormente. É crucial falarmos com ele. Se não nos der acesso, posso pedir um mandado do tribunal, mas será um atraso que pode custar uma vida humana.
Thulin percebe que o chefe de psiquiatria não estava preparado para aquela resposta. O homem hesita por um momento, porque obviamente não gosta de se ver na mó de baixo.
— Esperem aqui. Se ele aceitar, está tudo bem, mas não vou obrigá-lo a nada.
Pouco depois, o homem regressa, dizendo com um aceno de cabeça para Hansen que Linus Bekker concordou, e depois desaparece. Hansen fica a observá-lo por um momento enquanto ele se afasta e depois começa a descrever-lhes as medidas de segurança.
— Não pode haver contacto físico. Se notarem alguma agitação em Bekker, puxem o cordão do alarme na sala de visitas. Estamos sempre a postos do lado de fora da porta para o caso de surgir algum problema, mas não deve acontecer nada. Entendido?