Eu ainda estava tonta com os efeitos do beijo que eu tinha acabado de trocar com Eddie. O sangue estava correndo em minhas veias na velocidade da luz, enquanto a minha calcinha estava mais molhada do que me lembro de já ter ficado antes. Eu tinha sido beijada muitas vezes, mas nunca da maneira como Eddie me beijou. Ele me deixou num estado em que, tudo que eu queria, era rasgar minhas roupas e me atirar em cima dele, para que ele fizesse o que quisesse comigo. O calor durante o beijo tinha sido tão intenso, que eu sentia como se alguém tivesse acendido fogos de artificio dentro da minha alma e me deixado em chamas. Eu não tinha certeza de que meu corpo voltaria a ser o mesmo novamente, mas me dei conta de que não queria que ele voltasse ao normal. Eu sabia que Eddie tinha jeito com as mulheres, que só de olhar para ele, elas arrancavam a calcinha, mas o que eu sentia era tão intenso que não sabia se era o mesmo que elas sentiam.
Talvez eu estivesse me deixando levar pela sua habilidade de playboy, ou o que eu estava sentindo era realmente diferente, porque isso não parecia algo comum. Minha mente estava tão absorta com o desejo que eu estava sentindo por ele, que fiquei surpresa quando paramos em frente a enormes portões de ferro. Ele apertou um botão no carro, e quando as portas se abriram, surgiu uma via pavimentada com árvores alinhadas na estrada, e ele dirigiu por ali até chegarmos a uma casa... não, isso era uma espécie de palácio. A rústica construção tinha três andares, com trepadeiras subindo pelas paredes. Olhei para a varanda e havia um caro lustre pendurado no alto, onde parecia ser a entrada principal da mansão. O paisagismo era incrível, fazendo-me sentir como se tivesse acabado de entrar numa terra de conto de fadas. Havia uma variedade de flores no jardim e, em algum lugar distante, com certeza havia uma piscina. Este era um lugar completamente diferente do que eu havia sido criada.
― Você está pronta? ― ele perguntou, colocando a mão em meu ombro, quando me virei para olhar para ele.
― Sim, vamos conseguir. ― Respirei fundo quando Eddie abriu a porta e caminhou ao redor do carro até o meu lado, abrindo a porta para mim. Ele estendeu a mão e me ajudou a sair.
― Você está bem, Amanda? Parece estar se sentindo mal. ― Ele parecia preocupado.
― Sim, estou bem. É melhor terminarmos com isso logo ― eu disse, seguindo para a porta da frente, de mãos dadas com ele.
Respirei profundamente, meu coração batendo forte, quando Eddie abriu a porta e me levou para dentro da casa. Certamente, este não era um lugar para formar uma família. Era tão grande, que poderia ser uma escola ou algo assim. A porta principal abriu para um hall de entrada, com enormes escadarias duplas, que conduziam aos andares superiores. As paredes da casa eram brancas, e adornadas com obras de arte, e os móveis eram todos de mogno. Aqui, tudo gritava dinheiro e, de imediato, lembrei da minha infância humilde, sentindo-me fora do meu ambiente imediatamente.
Ouvi saltos clicando no chão de mármore e, quando olhei para ver de onde vinha, a mãe de Eddie, parecendo muito elegante, estava caminhando em nossa direção.
― Eddie, querido, bem-vindo. Estou tão feliz que você esteja aqui ― disse a Sra. Fairchild caminhando até nós.
― Oi, mãe.
Ela parecia tão linda, com os mesmos olhos azuis de Eddie e, até mesmo seu cabelo tinha o mesmo tom de castanho. Ela se cuidava tão bem que qualquer um poderia achar que ela tinha uns quarenta e poucos anos. Ela usava uma roupa sofisticada e, olhando para os seus sapatos, soube que custavam mais de seis meses do meu salário.
― Bem, mãe, gostaria que você conhecesse a mulher que conquistou meu coração. Esta é Amanda ― disse Eddie, segurando na base das minhas costas.
Sua mãe me olhou e, em seguida, estendeu as mãos, me puxando para um abraço caloroso.
― Estou tão feliz por finalmente conhecê-la, a mulher que conseguiu conquistar o amor do meu menino. Bem-vinda à nossa casa.
― Obrigada, Sra. Fairchild, é um prazer conhecê-la, também.
― Vamos, filha, agora estamos em família, por favor, me chame de Diana, essa coisa de senhora é muito formal.
― Onde está o papai? ― Eddie perguntou a sua mãe.
― Ele disse que estava indo para o escritório, trabalhar como de costume. Tenho certeza de que ele vai ficar satisfeito quando você o interromper, ele tem estado ansioso para conhecê-la. ― Sua mãe sorriu para ele.
― Bem, então vamos até lá dizer olá para ele ― disse Eddie, ainda segurando minha mão e me levando por um dos corredores.
Seguimos até o fim do corredor, parando diante de uma porta que dava para um escritório. A sala estava cheia de livros em prateleiras que iam do teto ao chão, e eu podia sentir um suave cheiro de fumaça de charuto. Os móveis do escritório tinham um toque masculino, com couro e madeira e, atrás de uma enorme escrivaninha de mogno que ficava no centro da sala, estava sentado um homem impecavelmente vestido em um smoking. O homem olhou para cima enquanto nós caminhamos até a mesa.
― Oi papai, espero que nós não estejamos interrompendo você ― disse Eddie ao pararmos em frente à mesa.
― Não, Eddie, seja bem-vindo. Acredito que ela seja o mais novo membro da nossa família.
― Sim, pai, quero que você conheça Amanda, minha esposa.
― É um prazer conhecê-la, Amanda ― disse ele, olhando para mim.
― Obrigada, senhor ― eu disse, sorrindo timidamente para ele.
― Então ― ele disse, olhando de Edmond para mim. ―, há quanto tempo vocês dois se conheciam, já que nunca ouvi falar de você antes?
Eddie olhou para mim rapidamente, como se esperasse que eu respondesse isso e minha criatividade falou mais alto.
― Bem, senhor, nós nos conhecemos há quatro anos, quando ele foi visitar Christian.
― Sim, ela trabalha com Christian.
― Excelente, então você é advogado, também? ― o pai perguntou, olhando-me e me deixando desconfortável.
― Na verdade, não sou advogada ― eu disse, começando a me sentir intimidada. ― Sou assistente de Christian.
O rosto do Sr. Fairchild vincou com a decepção, quando falei. Era de conhecimento geral que o pai de Eddie esperava que ele casasse com uma mulher da alta sociedade, e aos seus olhos, eu estava num nível muito abaixo do dele. O jeito que ele me olhou, fez eu me sentir como se tivesse meio metro de altura. Nunca me incomodei com o que as pessoas pensavam de mim e não deveria me sentir incomodada com o que o Sr. Fairchild pensava, mas percebi que realmente queria sua aprovação e foi doloroso que ele não tenha dado. Se ele não fosse o pai de Eddie e eu não estivesse ajudando-o, eu teria esbofeteado o homem e o mandado para o inferno.
― Querido, você poderia me mostrar onde fica o banheiro? ― perguntei, a necessidade de fugir oprimindo meu peito, quando puxei a mão de Eddie.
― Você está bem? ― ele perguntou, me levando para fora da sala que estava me sufocando.
Concordei e ele me levou para o banheiro, que era em algum lugar ao longo do corredor. Entrei e fechei a porta atrás de mim. Eu queria vir aqui para que eu pudesse me esconder, esconder toda a humilhação que eu estava sentindo. Eu certamente não era da classe dos Fairchild, que viviam em um palácio, comiam caviar e bebiam champanhe. Eu, por outro lado bebia cerveja barata, e enquanto eles participavam de encontros sociais, eu participava de concurso de comer pizza ou algo assim. Este era, definitivamente, um grande erro. Como eu poderia ter pensado que algo poderia acontecer entre Eddie e eu?
Fiquei no banheiro por alguns minutos, até que finalmente abri a porta e espreitei para fora, olhando para ambos os lados do corredor. Não vendo ninguém à vista, saí do banheiro e segui pelo corredor. Abrindo uma porta, me encontrei olhando para um quintal bem cuidado, que tinha até uma cachoeira. O ar fresco foi uma mudança bem-vinda à asfixia que eu estava sentindo dentro da casa. Tirando o sapato, pisei na grama, amando a sensação das folhinhas em meus pés. Fui em direção a um gazebo próximo a cachoeira e sentei, olhando para a água descendo em cascata, por cima de uma pedra. Sentei ali, ouvindo os sons da natureza, que era algo raro em Nova York, quando ouvi passos vindo em minha direção.
― Não me diga que você já está se escondendo ― Eddie disse quando me virei para olhá-lo caminhar até a mim.
Sorri para ele, refletindo seu próprio sorriso.
― Só pensei em pegar um pouco de ar fresco. É tão tranquilo aqui fora.
― Ele já torrou seus nervos, não foi? Te avisei sobre meus pais, talvez agora você me entenda melhor.
― Tudo bem, eles estão fazendo o que qualquer pai faria. Só não sei direito como estou me sentindo....
― Está se sentindo mal? Tem algo que eu possa fazer? ― perguntou Eddie, com um olhar preocupado nublando seu rosto.
― Acho que estou me sentindo mais sobrecarregada que doente.
― Eu entendo como se sente, Amanda. Mas está tudo bem.
― Eddie, você sabe que não sou uma socialite. E talvez eles não achem que eu sou adequada para...
― Foda-se o que eles pensam, Amanda, não dou a mínima o que eles pensam de você, não foi com ele que você se casou, foi comigo. ― Eddie deu de ombros.
― Eddie, acorda, se você não desse a mínima para o que eles pensam, não acho que estaríamos aqui. Fiz isso por você, quero que isso dê certo, mais do que qualquer outra coisa. Seja lá o que eles acham de mim, vou tentar relevar, para que possamos passar por isso, ok? ― falei séria, para ele.
― Nem sei o que dizer, Amanda. Tenho certeza que isso deve estar te machucando muito mais do que você está disposta a admitir.
― Ouça, Eddie, eu não nasci em berço de ouro, como você. Minha mãe teve que trabalhar em dois empregos para colocar comida na mesa. Quando completei dezesseis anos, tive que arrumar empregos no verão para ajudar no orçamento familiar, mas uma coisa nunca me faltou, Eddie: felicidade. Sempre fui feliz, Eddie, e isso não tem preço. É algo que nem mesmo o dinheiro pode comprar.
― Bem, já que você tem toda a felicidade que precisa, suponho que agora você queira dinheiro, certo?
― Não! E por que diabos você acha que eu iria querer o seu dinheiro?
― Me desculpe, não quis dizer isso assim, Amanda, é que todas as pessoas que conheci até hoje, esperavam isso de mim, então, é o que sempre esperei que as pessoas quisessem ― ele disse.
― Eddie, quero deixar claro que não estou atrás de dinheiro. Não quero o seu dinheiro, entendeu?
― Está claro como um céu de verão, querida.
― Obrigada.
Eu me perguntava por que Eddie tinha achado que eu estava atrás da sua conta bancária, quando eu não havia sequer pensado nisso ao concordar com esse negócio louco. Eu não pensei em seu dinheiro quando o pedi em casamento. Eu nem mesmo sabia que gente rica assinava contrato pré-nupcial antes de casar, pelo amor de Deus! Seu pai deveria estar pensando que eu o tinha forçado a casar sem assinar o contrato pré-nupcial e isso era algo que me magoava muito. Era uma pena ter tanto dinheiro e ser tão inseguro.
― Há algo realmente sério que eu gostaria de lhe perguntar, Eddie ― falei, olhando em seus olhos.
― Vá em frente e fale, querida, o que está lhe preocupando?
― Fiquei me perguntando, ao final de tudo isso, o que você deseja conquistar, Eddie?
― Não sei, Amanda ― ele disse. ― Não sei mesmo. Achei que meu pai agiria de uma forma mais racional, mas acho que isso é algo que jamais acontecerá. A coisa é que ele coloca tudo num nível tão alto que não posso atingir, o que me deixa muito mal.
― Deve haver uma razão para que ele seja assim. Você faz ideia do porquê?
Olhei para ele e vi que sua expressão era de dor, quase como se eu tivesse lhe atingido um nervo. Tinha que ter uma razão para que tudo isso tivesse acontecendo com Eddie, e eu queria saber o que era. Talvez, se eu pudesse chegar na raiz do problema, isso me ajudasse a entendê-lo, que era o que eu, surpreendentemente, queria fazer.
― Eddie, quero que saiba que você pode falar comigo, quero te entender e ajudá-lo ― eu disse, quando ele se virou, com as costas de frente para mim.
Achei que Eddie estava indo embora sem falar nada, mas não o fez. Em vez disso, ele começou a falar em voz baixa.
― Amanda, eu tive um irmão, Tristan. Tristan era mais velho do que eu quase quatro anos e meu ídolo. Fazíamos praticamente tudo juntos, até mesmo nos meter em encrencas, deixando nossos pais louco. Quando estávamos na escola, ninguém podia tentar me intimidar porque Tristan teria certeza de colocá-los em seus lugares. Ele fez do meu pai o homem mais orgulhoso do planeta quando se formou em Harvard, e Tristan o deixou ainda mais orgulhoso quando entrou nos negócios da família e o tornou ainda mais rentável. Tristan tinha uma maneira fazer tudo com sucesso, provavelmente era o cara mais inteligente que eu já conheci ― disse Eddie, sua expressão suavizando, enquanto falava de seu irmão, e eu podia dizer que ele realmente o adorava.
― O que aconteceu com ele, Eddie, como ele morreu? ― perguntei cuidadosamente.
― Uma noite, ao sair do escritório, seu carro teve um pneu furado na estrada. Ele parou para trocá-lo, e quando saiu do carro, ele não viu outro que vinha... ― disse, com lágrimas nos olhos. ― O carro bateu nele e seguiu em frente após o atropelamento. Desde que aquele incidente ocorreu, meu pai passou a me tratar como lixo, quase como se eu não fosse seu filho. É como se ele me culpasse por tudo de ruim que acontece, e esfrega o fato de que nunca vou ser como Tristan em minha cara. Não sei, Amanda, talvez ele ainda me odeie.
― Eu realmente sinto muito, Eddie ― eu disse, levantando-me e indo em sua direção, tentando abraçá-lo, mas ele se afastou de mim.
― Olha, Amanda, sei que você não dá a mínima para isso.
― Eddie...
― Não, Amanda. Sei que você está aqui para cumprir o nosso acordo, então, pode parar com essa coisa de simpatia, que está me fazendo mal.
As palavras que ele disse doeram tanto que achei que eu ia morrer. Lágrimas encheram meus olhos, enquanto eu o observava se afastar de mim, indo em direção à casa. Uma coisa era certa, ele tinha razão, nós dois estávamos aqui, porque tínhamos um acordo. Eu não tinha nada a ver com o fato de Eddie ser tão distante da sua família. Eu não era a causa da dor que ele sentia por dentro, e só estava tentando ajudá-lo como ele havia me pedido. A vida era boa quando era repleta de amor, alegria e felicidade, e acho que Eddie merecia isso.