Assim, ela por fim acabou, para Pál Kelemen e para todos eles.
Elfriede Kuhr se encontrava no mesmo lugar onde vivia quando a guerra começara, quatro anos antes — Schneidemühl. Ao menos uma cena era igual à do passado: havia uma multidão reunida em frente à redação do jornal e, assim como em 1914, a situação estava mudando com tanta rapidez que as notícias mais recentes eram anunciadas através de anotações feitas à mão em quadros de avisos e escritas com caneta azul nos jornais empilhados. Mas, ao contrário de quatro anos antes, a desordem e a falta de união eram muito maiores agora. Elfriede viu um menino chorando, inconsolável, pois dissera algo ofensivo e alguém lhe batera. Quase não se ouviam gritos de júbilo, e as discussões eram muitas. Soldados andavam pela rua de braços dados, cantando. Um tenente que começou a gritar com eles teve o gorro arrancado da cabeça. Pálido, recolheu o gorro do chão. Alguns civis chamavam os soldados de traidores. Elfriede correu para casa. Logo, alguém bateu à porta. Era Androwski, o amigo de seu irmão, e ele se jogou em uma cadeira e gritou: “A guerra está morta! Viva a guerra!”. Quase em seguida, chegou o irmão. Ele estava sem gorro, sem cinto, uniforme rasgado, os botões arrancados, assim como as insígnias e divisas. Seu rosto mostrava sinais de choque e perplexidade. Androwski começou a rir da situação e, após hesitar um pouco, seu irmão deu um sorriso.
Richard Stumpf ainda se encontrava em Wilhemshaven. O que começara como loucura se transformou em histeria. Havia rumores de que tinham sido traídos e que tropas leais ao antigo regime estavam a caminho:
As ruas pareciam um hospício. Homens armados corriam de um lado para o outro. Podia-se até ver algumas mulheres carregando caixas de munição. Que loucura! Era assim que tudo iria terminar? Depois de cinco anos de combates brutais, iríamos agora apontar as armas contra os nossos compatriotas?
Mais tarde, ele se sentou para escrever, quando de repente ouviu gritos de júbilo, sirenes, tiros de armas de pequeno calibre e até de canhões. Foguetes sinalizadores estouraram no céu da tarde, em uma paleta de vermelho, verde e branco. Ele pensou: “Um pouco mais de dignidade não faria mal a ninguém”.
Andrei Lobanov-Rostovski estava em um campo de treinamento em Sables d’Olonne, perto da costa do Atlântico. Ele não chegara a ir para o front com sua rebelde companhia e acabara passando um período entediante e desmoralizador na reserva, à espera de ser chamado. Depois disso, fora contaminado pela gripe espanhola. Estivera muito doente, com alucinações e febre alta, mas havia se recuperado, para então ser informado de seu rebaixamento do posto de comandante da companhia, o que o deixara bastante aliviado. Na mesma época, estava completamente apaixonado por uma jovem russa que vivia em Nice. Durante o período de convalescença, ele continuara a devorar livros de história, e os estudos reforçaram sua convicção de que os bolcheviques não ficariam no poder por muito tempo. Ainda que ele achasse, assim como muitos outros, que a guerra estava no fim, não conseguia imaginar sua vida longe do uniforme. “Minha própria personalidade fora engolida pela situação toda. Acredito que é uma reação normal diante da mentalidade da guerra, e talvez atinja milhões de soldados.” Seus colegas oficiais fizeram discursos, exortando-os a integrar o Exército Branco e a participar da guerra civil, que estava prestes a estourar na Rússia. Lobanov-Rostovski não sabia o que fazer.a Naquela manhã, como sempre, estavam treinando lançamento de granadas de mão, quando um oficial francês apareceu e disse, irritado: “Interrompam todo e qualquer treinamento. A trégua foi decretada”. Na cidade, teve início um “selvagem carnaval”. Pessoas se abraçavam e dançavam nas ruas. A comemoração continuou por toda a noite.
Para Florence Farmborough, a guerra havia terminado no momento em que o navio, com ela e os outros refugiados a bordo, deixara o porto de Vladivostok. O navio para ela era como um palácio flutuante. Eles embarcaram ao som de música e, quando entrara em sua cabine, parecia estar sonhando. Havia lençóis brancos, toalhas brancas e cortinas brancas nas janelas.b Mais tarde, ela ficara no convés e vira esse país chamado Rússia, “que amo tanto e ao qual fui sempre fiel”, desaparecer ao longe, até restar apenas uma sombra azul-acinzentada no horizonte. Em seguida, surgira uma névoa azulada sobre o mar, impossibilitando-a de ver algo mais. Então, ela se dirigira para sua cabine e lá permanecera. Dissera a todos que se sentia enjoada em alto-mar.
A família de Kresten Andresen alimentara a esperança de que ele tivesse sido feito prisioneiro pelos britânicos ou que estivesse aprisionado em algum lugar, por exemplo, na África. Eles nunca mais ouviram falar dele, e suas investigações não tiveram resultado.c
Michel Corday estava em uma cidadezinha no campo, e não em Paris. Assim como a maioria, ele decidira, semanas antes, ficar longe de tudo, e suspeitava que o fim estava próximo. A atitude das pessoas que ele encontrara nessa ocasião variava. A alegria com a vitória era geral, viam-se muitos sorrisos nos rostos. Alguns, contudo, insistiam que não deviam ficar satisfeitos com a situação, e sim ir adiante, invadir a Alemanha e submetê-la aos mesmos sofrimentos que a França tinha enfrentado. Outros não tinham esperanças, já haviam se decepcionado antes. E havia quem ainda estivesse preso à ideia propagandística de que “paz” era uma palavra feia e apenas aguardava o curso dos acontecimentos. Uma frase se tornara clichê: “Quem acreditaria nisso quatro meses atrás?”. Ele vira soldados italianos já a caminho de casa, muito alegres, pois sua guerra chegara ao fim. Às sete horas daquela manhã, o quartel-general local foi alcançado por uma notícia no rádio, que dizia que o armistício fora firmado. Sinos tocaram, soldados dançaram nas ruas carregando bandeiras e flores. Na hora do almoço, ficaram sabendo que o imperador alemão fugira para a Holanda.
Alfred Pollard se encontrava em Montreuil, no quartel-general da Força Expedicionária britânica. Mais uma vez, seu batalhão havia sido enviado para prestar serviço de sentinela. No início de novembro, a unidade servira como reserva ambulante, sem participar de combates. Algo que ele lamentava em consideração aos seus soldados, mas pelo qual, no fundo, era grato. “Teria odiado perder essa façanha.” Pollard havia se recuperado da gripe espanhola e, quando ele e seus colegas souberam da trégua, passados alguns minutos das onze horas, todos “ficaram loucos de alegria”. Ao longo do dia, deram gritos de júbilo, ouviram música, visitaram outros oficiais, festejaram a vitória e relembraram os mortos. Ele estava provavelmente embriagado quando, à tarde, alguém o convidou para entrar na sala secreta de operações do comando e dar uma olhada em um enorme mapa com as posições das divisões do Exército alemão. Satisfeito, percebeu que a maioria das unidades alemãs estava concentrada em frente ao Exército britânico e que havia menos unidades perto dos belgas e dos americanos.
William Henry Dawkins fora sepultado, ao pôr do sol, no mesmo dia em que morrera, em um cemitério improvisado ao sul da enseada Anzac. Seu corpo ainda repousa no mesmo lugar, a menos de vinte metros da água.d
Sophie Botcharski estava passeando por uma gelada Moscou, com alguns amigos dos tempos de exército. A grande metrópole se tornara um lugar escuro e deprimente. As luzes estavam apagadas em quase todos os lugares e, devido à falta de gás, havia pouca iluminação nas ruas, praticamente vazias. Muitas lojas tinham sido fechadas e em seus muros viam-se buracos feitos à bala. Um caminhão transportando homens armados passou por eles. Eram bolcheviques. Em uma calçada, ela viu dois homens em uniformes velhos removendo a neve. Ela compreendeu que eram antigos oficiais, pois suas insígnias haviam sido arrancadas. Sophie e seus amigos passaram por um idoso, que ela suspeitou pertencer à classe dos recém-espoliados, um homem “com uma cabeça de estudioso, que vendia jornais com tamanha timidez e educação que ninguém se importava com ele”. Eles entraram em uma rua lateral, coberta de neve. Em sua direção, vinha um grupo de soldados. Sophie e seus companheiros olharam para eles e viram que carregavam metralhadoras. Quando os dois grupos se cruzaram, Sophie reconheceu um dos homens — era Alexis. Foi um reencontro muito amigável e alegre. Ele e os outros soldados haviam sido desmobilizados, mas não tinham para onde ir, nem o que comer. Então decidiram levar consigo as metralhadoras, “por razões de segurança”. Ela disse: “São tempos difíceis”. Ele respondeu: “Há cheiro de sangue”.
René Arnaud se encontrava na linha de frente, dentro de uma cratera feita por uma granada e que agora servia como quartel-general do batalhão. Ele acabara de fazer 25 anos, mas se esquecera completamente do seu aniversário. Na escuridão, apareceu um major, que disse que ia substituí-lo, pois Arnaud teria um posto de comando fora do front. Arnaud relatou: “Logo entendi que a guerra acabara e que eu havia sido salvo. Eu estava livre daquela angústia cruel que sentira durante esses três anos e meio. Não seria mais perseguido pelo fantasma da morte”. Ele mostrou tudo ao substituto, sem se importar com os tiros de metralhadora e as detonações das granadas, porque “eu estava feliz e aliviado. Sentia-me invulnerável”.
Rafael de Nogales estava a bordo de um navio a vapor a caminho do Bósforo. Viu as bandeiras inimigas por todos os lados: a da Itália, a da França, a da Grã-Bretanha. Teve certeza de que a maioria dessas bandeiras ondulava sobre casas pertencentes a “armênios, gregos e levantinos”.e À noite, ele foi parar em uma festa preparada por algumas moças gregas, que queriam comemorar a trégua. Rumores se espalhavam. Alguns líderes dos Jovens Turcos tinham fugido da cidade a bordo de um torpedeiro alemão. Uma revolta militar estava sendo planejada na Anatólia, como protesto contra “a intervenção aliada nos assuntos internos da Turquia”, e, Nogales acrescenta, essas intervenções “continuam a causar sérios conflitos armados, enquanto os Aliados insistem na divisão da Síria, da Palestina, da Arábia e da Mesopotâmia, em mandatos e protetorados”. Uma semana depois, ele se dirigiu ao Ministério de Guerra e pela segunda vez pediu demissão. Agora, seu pedido foi aceito sem problemas.
Harvey Cushing ainda se encontrava internado no hospital de Priez. No dia do armistício, seu ordenança lhe trouxe um espelho e uma escova de unhas, e levou consigo a jaqueta do uniforme, para costurar nela novas insígnias: Cushing fora promovido a coronel. Durante certo tempo ele analisara as notícias de vitória nos jornais com crescente surpresa — como podia ter acontecido tão rápido? — e seguira o avanço dos Aliados em um mapa com ajuda de alguns alfinetes e um fio de algodão. Às quatro e meia da tarde, comemorou o armistício em seu quarto, com a cozinheira, o padre do hospital e um colega cirurgião. A comemoração fora bastante calma. Eles se sentaram em frente à lareira, beberam chá e falaram sobre religião e futuro.
Para Angus Buchanan a guerra terminara em setembro de 1917, em um hospital de campo em Narunyu. Algumas semanas antes ele e os soldados do 25o Batalhão do Royal Fusiliers haviam substituído uma unidade de infantaria da África do Sul. Os homens estavam praticamente apáticos sob o infernal calor africano. A quantidade de soldados e carregadores diminuía a cada dia. O próprio Buchanan estava entre os exaustos e enfermos. Durante alguns dias ele tinha lutado para se manter ativo, apesar da febre alta, e conseguira, com muito esforço, se levantar cedo como os outros. Mas chegara o dia em que ele não tivera mais forças. Levaram-no para o hospital: “Eu estava abatido, completamente fatigado”. Os seus camaradas temiam por sua vida. Ele fora acomodado em uma cabana para aguardar sua evacuação para Lindi e depois, de barco, para Dar es-Salaam. A guerra terminara para Angus Buchanan. Um homem uniformizado entrara. Era O’Grady, o comandante do setor, um homem para quem Buchanan já trabalhara. O’Grady havia lhe dito algumas palavras encorajadoras e lamentado que as coisas tivessem chegado a esse ponto. E então, quando “ele se foi”, relatou Buchanan, “eu escondi o rosto na escuridão da cabana e chorei como uma mulher”.
Willy Coppens se encontrava no hospital em De Panne, onde estava em tratamento desde que fora ferido, em meados de outubro. Haviam surgido algumas complicações. A ferida da amputação não tinha cicatrizado e ele caíra em depressão profunda. (Coppens fora condecorado por todos os países aliados, inclusive por Portugal e pela Sérvia, mas, embora sempre tivesse tido apreço por condecorações, nada disso havia ajudado. Ele sabia que não poderia usar tantas medalhas ao mesmo tempo no uniforme e que a paz vindoura levaria a um mercado de insígnias sem paralelo.) À tarde, ecoaram de repente gritos de júbilo e risadas que penetravam nas enfermarias e corredores do hospital. Para seus ouvidos, o regozijo se transformou em algo que quase lembrava o último suspiro de um homem agonizante, mas amplificado e distorcido. A trégua acabara de ser anunciada. Coppens estava confuso: “Eu deveria estar alegre, mas foi como se uma mão fria apertasse a minha garganta. Eu me sentia angustiado perante o futuro. Compreendi que um período da minha vida chegava ao fim”.
Olive King estava em Salônica, tendo retornado havia pouco da Inglaterra. (A razão da viagem fora a necessidade de providenciar a necessária permissão oficial para a realização do seu próximo grande projeto — o estabelecimento de uma rede de cantinas para ajudar refugiados e soldados sérvios.) Os dias passados na Inglaterra constituíram uma experiência um tanto confusa para ela. Ao mesmo tempo que se sentira muito só e ansiosa para retornar de imediato, não queria mais voltar para Salônica. Voltara mesmo assim, e ficara bastante contente com essa decisão. Sua unidade já havia seguido para o norte, atrás do Exército búlgaro. (Nos últimos instantes da guerra, os milhares de soldados em Salônica tiveram muito o que fazer e em setembro haviam forçado a rendição da Bulgária, que foi seguida da rendição do Império Otomano, gerando um efeito dominó que se completou com a capitulação da Áustria-Hungria.) Os dois veículos de Olive haviam sido levados por sua unidade. Sua cabana de madeira fora transferida para outro lugar e se encontrava quase vazia. Seus pertences tinham sido empacotados pelos seus amigos sérvios. Antes da viagem para Belgrado, Olive revisara tudo o que juntara durante todos esses anos. A maior parte ela considerara “lixo”. Jogara fora inclusive um baú cheio de roupas velhas e pilhas de jornais e revistas. Tudo aquilo já fazia parte do passado.
Vincenzo D’Aquila se encontrava a bordo de um navio cargueiro, nos arredores das Bermudas, a caminho de casa. Sua cidadania americana, aliada ao fato de que ele nunca tinha feito o juramento militar, fora provavelmente a sua salvação. Com a opinião pública americana em mente, as autoridades italianas não quiseram fazer dele um mártir. Mesmo tendo sido obrigado a permanecer na Itália, e uniformizado, não fora obrigado a retornar ao front. Por fim, após algumas complicações burocráticas, concederam-lhe a permissão para retornar aos Estados Unidos. Depois de perder o navio para Nova York, D’Aquila conseguira lugar no cargueiro americano Carolyn, que zarpara de Gênova em setembro. Em Gibraltar, o navio fora carregado de minério e a seguir, devido ao aviso de que havia submarinos na área, o capitão tomara uma rota mais segura, passando pelo Brasil. A caminho do norte, em novembro, foram surpreendidos por algo incomum: uma embarcação navegava, à noite, com as luzes todas acesas. Ao amanhecer, viram outro navio. Eles fizeram sinais com bandeiras: “A guerra terminou?”. A resposta foi tecnicamente correta: “Não, é apenas um armistício”.
A guerra de Edward Mousley terminou quando ele subiu no barco que o levaria da prisão em Constantinopla para a liberdade em Esmirna. “Tudo é empolgação e desordem”, escreveu ele em seu diário. “Séculos de cativeiro terminaram. Por fora, aparento calma, mas estou ocupado demais para analisar psicologicamente o fantástico final dessa terrível eternidade.” A bordo do navio havia muitos prisioneiros de guerra recém-libertados. Ele dividiu a cabine com um homem que estivera na artilharia em Kut al-Amara e que se passara por louco para ser libertado. Quando o navio partiu, já era noite. Os contornos da cidade desapareceram na noite. Primeiro as formas suaves das grandes mesquitas, depois as linhas bem marcadas dos altos minaretes. Mousley foi para a cabine e ficou algum tempo com seu camarada, fumando e escutando o barulho das ondas. Quando ele e o amigo retornaram para o convés, a cidade havia desaparecido de todo. A única coisa que podiam ver era o seu brilho na água: “Era Constantinopla, a cidade eterna, a bela, a terrível”. Nenhum deles disse mais nada.
Paolo Monelli se encontrava na estação ferroviária em Sigmundsherberg, no nordeste da Áustria. Ele e os outros prisioneiros de guerra italianos estavam livres fazia alguns dias, quando dominaram suas confusas e desmoralizadas sentinelas com uma mistura de argumentação e violência. Tudo ficara de pernas para o ar. Alguns de seus camaradas tinham ido para a cidade, para se embriagar e encontrar mulheres. Outros começaram a planejar um grande ataque a Viena. Soldados italianos, armados de rifles austríacos, patrulhavam a estação de trem, ajudando a manter a ordem. Tropas de soldados húngaros tinham passado por ali de vez em quando e causado alguns tiroteios. As telefonistas austríacas trabalhavam normalmente. Nessa manhã, Monelli e um pequeno grupo de ex-prisioneiros escutaram um oficial austríaco, conhecido por ser um homem amigável, traduzir, palavra por palavra, os termos do armistício. Monelli estava muito aliviado por estar livre e pelo fato de a guerra ter terminado, mas sentiu certa amargura: “Esta será nossa má ou boa herança. Será, de qualquer forma, nossa herança irreversível, que estará acorrentada à nossa memória para sempre”.
a. Seus estudos intensivos de história fizeram com que ele pensasse na intervenção armada na Rússia pelas nações aliadas como uma má ideia. Reino Unido, França, Estados Unidos, Japão e os outros países envolvidos na verdade não tinham um plano. Originalmente, haviam começado a intervenção não para apoiar os brancos, mas para manter na guerra seu grande aliado oriental. De início, foram até encorajados pelos bolcheviques. Ele sentia agora que o apoio geral para os brancos enfraquecera.
b. Um dos primeiros passageiros que ela conheceu a bordo fora Maria Bochkareva, a sargento que fundara os batalhões de mulheres e que agora era procurada pelos bolcheviques. As unidades femininas haviam sido fiéis a Kerenski até o fim, e alguns dos soldados de Maria Bochkareva se encontravam no Palácio de Inverno quando ele fora invadido.
c. Um homem chamado Christian Andresen, dado como desaparecido em 10 de agosto de 1916, está sepultado no cemitério alemão de Wervicq-Sud (área 4, sepultura 140). Pode tratar-se ou não de Kresten. O cemitério situa-se junto à fronteira belga, mais próximo de Ypres do que do Somme, e não fica claro de imediato por que o corpo de Kresten teria ido parar tão longe, ao norte. Há duas explicações possíveis. A primeira é que seus restos mortais podem ter sido levados para lá durante um dos inúmeros reenterros que ocorreram na França depois da guerra, quando corpos foram transferidos de muitos cemitérios pequenos para outros maiores. (Esta é a razão pela qual, em diversos cemitérios de guerra, há valas comuns nas quais constam muitos nomes. Escavava-se todo o cemitério, onde os mortos repousavam em sepulturas individuais, e colocavam-se, sem qualquer cerimônia, todos os restos mortais encontrados em uma única sepultura. Esse fenômeno era bastante comum.) A outra explicação tem relação com a primeira. O corpo teria sido levado para lá durante uma das escavações, mas buscado por alguém do cemitério dos prisioneiros de guerra, que se encontrava no lado do front dos Aliados. (Havia tais cemitérios nessa vizinhança.) Nesse caso, o que aconteceu com Kresten pode ter sido o seguinte: ele caiu em mãos do inimigo no dia 8 de agosto de 1916, foi transferido para o norte e logo faleceu. Talvez estivesse gravemente ferido, o que explicaria a ausência do nome dele nas listas de prisioneiros de guerra.
d. O cemitério é conhecido como Beach Cemetery e fica na estrada entre Kelia e Suvla. A sepultura é a de número 3, na área 1, fila H. De lá pode-se atirar uma pedra no mar Egeu.
e. Nogales utiliza essa palavra como sinônimo de judeus.