À LUZ DO UNIVERSO

Debaixo do céu, pisados pelas

nuvens, como poderemos saber o que existe

na outra dimensão onde não cabem

as estrelas? Por vezes, no grande silêncio

da noite, quando nem os insectos

se ouvem e todos os cães se escondem, apuro

o ouvido: e aquela música que os matemáticos

sonharam, a primeira que soou

antes de haver aves, antes que o canto

do poeta a tivesse calado, desce de um confim

em que já nem os deuses habitam. Não é uma voz,

nem sei que instrumento a faz soar; mas

quando a ouço, as nuvens dissipam-se e

é como se o horizonte se abrisse para uma cor

que não faz parte de nenhum arco-íris, e para

um espaço que só adivinho no mais fundo

do teu ser. Depois, a música acaba,

como se o universo pudesse acabar: e

é quando sei o que existe nessa dimensão

onde só cabem as estrelas que brilham

no mais fundo de ti.