NOTA DO AUTOR
Ao olhar de repente para a capa deste livro seria fácil ser levado a pensar que se trata de mais um relato de perdição e trevas, de uma descrição dos apocalipses que esperam para cair sobre a humanidade e enviar o nosso estilo de vida aos trambolhões para um nível pré-industrial. Mas, como é frequente acontecer na vida, as primeiras impressões podem ser enganadoras, se não mesmo completamente erradas, e este não é, de facto, um volume destinado a pregar ao leitor um susto de morte. Bem pelo contrário. Se não é, pois, uma visão das coisas demoníacas que estão para vir, o que raio é?
O livro que segura nas mãos é uma história de possibilidades, possibilidades dramáticas mas raras, surpreendentes, com um impacto potencialmente desmesurado nas vidas humanas e em relação às quais gostamos de nos aferrar à ilusão de que “não podem acontecer connosco”. No vernáculo, estas possibilidades são geralmente reunidas na expressão abarcante “acontecimentos extremos”. Eu prefiro acontecimentos-X. Este livro debruça-se sobre estes acontecimentos remotos, essas surpresas que são complementares de tudo quanto acontece no que chamaremos a região “normal”. Em contraste, a região dos acontecimentos-X é de um tipo que tem sido muito menos investigado cientificamente, somente porque os seus elementos, que incluem coisas tão díspares como impactos de asteroides, crises dos mercados financeiros e ataques nucleares, são, pela sua própria natureza, raros e surpreendentes. A ciência diz sobretudo respeito a fenómenos repetíveis; os acontecimentos-X caem fora desta categoria, o que constitui uma razão de peso para atualmente não haver uma teoria decente a respeito de como, quando e porque ocorrem. Este livro é, pois, quanto mais não seja, um apelo ao desenvolvimento dessa teoria, daquilo a que poderíamos chamar “uma teoria da surpresa”. Poderíamos descrever abreviadamente que o objetivo principal do livro é propor uma resposta para a questão: Como caracterizamos o risco em situações em que a teoria das probabilidades e a estatística não podem ser utilizadas?
Os acontecimentos-X de variante humana, não causados naturalmente, resultam de uma compreensão demasiadamente pequena para uma excessiva complexidade dos nossos sistemas humanos. Um acontecimento-X, seja ele uma revolução política, uma falha global da Internet, ou o colapso de uma civilização, é a forma de a natureza humana reduzir uma sobrecarga de complexidade que se tornou insustentável. Cada parte do livro visa o esclarecimento das seguintes questões:
> Por que razão têm lugar os acontecimentos-X?
> Por que motivo estão os acontecimentos-X a verificar-se agora com maior frequência do que antes?
> Que impacto poderá ter um determinado acontecimento-X no estilo de vida do século XXI?
> Como podemos prever quando o risco de ocorrência de um acontecimento-X atingiu um nível perigoso?
> Quando é que podemos fazer alguma coisa para prevenir um acontecimento-X iminente e quando é que podemos somente preparar-nos para lhe sobreviver?
A resposta a cada uma destas questões está, à sua maneira, relacionada com o aumento exponencial dos níveis de complexidade necessários para preservar as infraestruturas cruciais da vida moderna. Esse facto é o fio condutor que percorre todo o livro.
Acontecimentos-X é um livro de conceitos e de ideias. Para tornar estas páginas tão acessíveis quanto possível ao leitor não especializado, não usei fórmulas, mapas, equações, gráficos ou jargão técnico (bem, usei um mapa!). O livro é essencialmente um conjunto de histórias inter-relacionadas que, no seu todo, defendem a ideia de que a complexidade pode matar – e acabará por fazê-lo – se a deixarmos sair fora do nosso controlo.
Como frequentemente acontece, vemos melhor em retrospetiva. Com este livro aconteceu o mesmo. Depois de terminar o esboço do manuscrito, ocorreu-me que este livro é na verdade uma trilogia em desenvolvimento sobre acontecimentos sociais humanos, as suas causas e consequências. O primeiro volume foi o meu livro de 2010 Mood Matters, que abordava a psicologia social dos grupos e como a “forma de estar social” influencia os tipos de acontecimentos coletivos que podemos esperar ver através dos tempos. Acontecimentos-X centra-se na causa de raiz dos acontecimentos extremos criados pelo homem, e na forma como esses acontecimentos podem mudar a nossa maneira de viver. O terceiro volume descreverá como os acontecimentos extremos são tanto uma oportunidade como um problema, a metade “criativa” do famoso conceito do economista Joseph Schumpeter – a “destruição criativa”.
Os leitores que quiserem mandar-me os seus comentários, ideias e/ou queixas, podem fazê-lo através de: john@moodmatters.net.
O melhor momento depois de terminar qualquer livro é a oportunidade de agradecer às muitas pessoas que ajudaram a criá-lo. Neste aspeto tive mais sorte do que a maioria dos autores, pois beneficiei do apoio de muitos leitores “beta”, que incansavelmente e com imensa generosidade dedicaram o seu tempo à transformação deste livro em algo melhor do que eu tinha o direito de esperar. Sinto-me, por isso, muito feliz por poder reconhecer por escrito os seus esforços e por poder agradecer-lhes publicamente a generosidade e as opiniões acertadas. Por isso, sem qualquer ordem especial, os meus respeitos a Olav Ruud, Brian Fath, Leena Ilmola, Jo-Ann Polise, Helmut Kroiss, Rex Cumming, Adam Dixon e Timo Hämäläinen pelas ideias, sugestões e contributos para um ou para vários dos capítulos do livro. Uma saudação especial aos meus leitores mais fiéis, Trudy Draper e Zac Bharucha, que leram todas as linhas de cada um dos capítulos e deram o seu melhor para acautelar os interesses dos leitores. Quaisquer pontos mais obscuros que persistam no texto estão aí apesar dos seus mais dedicados esforços para me levar a corrigi-los. Por fim, o meu editor dedicado e exigente, Peter Hubbard, editor principal da William Morrow/HarperCollins, forçou-me a escrever e a reescrever passagem atrás de passagem até as coisas ficarem bem. Sem o seu entusiasmo e apoio constantes este livro nunca teria visto a luz do dia.
JOHN CASTI
Viena, Áustria
Novembro de 2011