Na Copa do Mundo da Espanha de 1982, Antônio possui a idade de seis anos (no momento da Copa, pois faz aniversário no segundo semestre do ano), e se deslumbra com a seleção de Telê. Seu pai Alberto, seu tio Evandro e seu avô Alfonso (por parte da mãe, a dona Mariana) estão na sala de TV assistindo aos jogos, até o fatídico jogo contra a Itália. Antônio acha bonito e cativante o jeito que o Brasil joga.
Alberto, seu pai, passa o tempo livre brincando com Antônio, e uma das brincadeiras preferidas de Antônio é chutar a bola para Alberto, que a chuta de volta. Alberto e Evandro ensinam Antônio a chutar a bola, a dominar a bola e, com o passar dos anos, tutoram Antônio sobre dribles como o elástico de Rivelino.
Alberto quer que Antônio estude, torne-se um advogado, dona Mariana deseja que Antônio gradue-se em medicina, torne-se um médico. Antônio gosta de estudar, mas ama bater uma pelada com os amigos, rolar uma pelota com os colegas de time no Clube Social da cidade, ou simplesmente fazer umas embaixadas no quintal de sua casa e chutar a redonda contra a parede, imaginando ser o gol adversário.
O tempo passa, Antônio vai bem na escola, tira boas notas, mas vai melhor nos treinos do County Clube, o Clube Social da cidade. Antônio se dedica, treina todos os fundamentos, inclusive nos horários livres. Ele também está crescendo, está agora com treze anos e já nota as meninas de um jeito que não notava antes, até já rolou o primeiro beijo.
Foi numa festinha de aniversário de seu amigo João. Antônio estava com os moleques num canto da pista de dança e nota a presença de Aninha, ela estava linda com seus cabelos negros cacheados, ele olhando para ela e, então, percebeu que ela estava olhando para ele, seus olhos se cruzaram, ele suou frio e deu um nó na boca do estômago, estava tocando Ultraje a Rigor na vitrola, encheu-se de coragem e a convidou para dançar. Cerca de uma hora depois estavam num canto escuro do quintal conversando e bebericando refrigerante, ele pega em sua mão e dirige o rosto na direção do rosto dela. Ela corou, fechou os olhos e seus lábios pueris tocaram com os de Antônio. Foi um beijo de adolescentes, inocente.
Foi um beijo juvenil, mas Antônio nunca mais se esqueceu de Aninha. Começaram a namorar na semana seguinte na escola, a qual frequentavam juntos. Antônio estava no 7° A e Aninha no 7° B. Aninha era prima de João, seu amigo desde o primário.
João torcia para o Corinthians e tentava convencer Antônio a mudar de time. A saber, seu tio Evandro era corintiano, seu pai Alberto era são-paulino, seu amigo Tobias são-paulino, Antônio são-paulino, mas seu avô Alfonso era palmeirense, aliás, Palmeiras não, Palestra Itália.
Diante do sonho de se tornar um jogador de futebol, Antônio, que era alto para sua idade, tinha que convencer seu pai a deixá-lo ir nos testes seletivos dos clubes em São Paulo, capital do estado de São Paulo, o qual tem no vale do Paraíba a cidade de Guaratinguetá. Antônio é de Guaratinguetá. Alberto se comove com a obstinação de seu filho e decide levá-lo ao São Paulo Futebol Clube para um teste.
Em 1989, com 13 anos, Antônio muda-se para a capital da Garoa e vai viver nos alojamentos do Tricolor Paulista, pois passou na seletiva e foi adicionado à base do clube, tendo a primeira etapa concluída com sucesso, agora vem a segunda fase de sua jovem vida, uma vida como jogador de futebol.
Porém, Antônio é um adolescente e frequenta uma nova escola em que ele tem de encontrar novos amigos, novos professores, novas meninas, o que vai pôr em xeque seu imaturo namoro com Aninha. No universo de uma cidade grande, uma metrópole, num mundo que, neste ano de 89, está passando por transformações políticas e sociais como a queda do muro de Berlim e o fim da Guerra Fria, o eminente fim da União Soviética, as primeiras eleições para presidente em um Brasil recém-democratizado.
Antônio se adapta, não de modo fácil, mas se adapta a sua nova realidade e, ainda, ele tem uma avó na capital e uma tia (por parte de mãe) que vive em São Paulo. Essa tia é apenas sete anos mais velha que ele e estuda Direito no Largo São Francisco. A convivência com a tia Dedé tornou mais fácil esse ano para Antônio, além disso, sua avó paterna, á sua maneira, estava presente.
Em pouco tempo Antônio se encaixa no time juvenil do São Paulo e se enturma com os novos colegas de clube, fazendo novas amizades, em particular com o menino Rogério. Também conseguiu manter um namoro à distância com Aninha, sua paixão da terra das Garças Brancas, um namoro com poucos encontros, por carta e telefone.
Antônio joga como meia, talvez um meia atacante, avançado, que se desloca para a frente e para os lados, principalmente o lado direito do campo no ataque de seu time. Ele é rápido em direção ao ataque, mas é lento para recompor a defesa, para voltar e marcar quando seu time perde a posse de bola. Entretanto tem bom domínio de bola e faz passes certos, passes quase cirúrgicos. Antônio está trabalhando para melhorar seu lado defensivo. Ele recebeu o apelido de Garça por ser natural da terra das Garças Brancas e também por ter pernas longas, compridas.
Nos treinos e nos jogos infanto-juvenis que o time da base do São Paulo participou, Antônio marcou gols e fez diversas assistências para gols dos seus companheiros, além de passes bem-feitos. Antônio sabe jogar o esporte bretão e joga. Joga também futebol de botão, truco e buraco no alojamento na hora de lazer.
No lazer, no tempo livre, Garça escreve cartas para os seus amigos, sua família e para Aninha, sua namorada. Também visita a avó paterna, dona Helena, e a tia Dedé, vai ao cinema, inclusive assistiu Batman com a tia. Assim passou o ano de 1989 e, no final do ano, foi passar as férias, o Natal e o Ano-Novo com seus pais. Antônio tem agora 14 anos, assim como Aninha também e,,, apesar de serem do mesmo ano, são de meses diferentes, sendo Aninha de leão e Antônio de virgem.
Neste ano de 89, Antônio construiu amizades na nova escola em São Paulo, no bairro do Morumbi, a escola estadual Senador Adolfo Gordo. Foi às festinhas, dançou, se divertiu, uma cidade grande traz desafios para um garoto do interior, mas também proporciona felicidades, facilidades, como cadeias de cinema, Shopping Centers, todo o burburinho da civilização moderna. Inclusive casas de eventos, boates e garotas de programas, estes últimos Antônio viria a descobrir nos próximos anos a seguir.
Antônio ainda é um garoto, possui a idade de 14 anos, está no início da adolescência e está no caminho das descobertas. Aninha também. De agosto de 88 até dezembro de 89, Antônio e Aninha foram construindo um vínculo afetivo maior que a amizade inicial, anterior ao primeiro beijo, até atingirem uma relação de namoro que para eles era séria.
Antônio e Aninha, depois do primeiro beijo, já tinham se beijado outras tantas vezes com grandes amassos e aumentando toda vez. Foram à festa de virada do ano no Itaguará Country Clube com suas famílias e se encontraram lá na pista de dança como haviam combinado, dançaram, se beijaram, se tocaram e foram para uma área isolada do clube, atrás da piscina, uma espécie de parque com árvores e grama.
Antônio já havia tateado os seios de aninha, mas sempre por cima da blusa. Nessa noite ela estava usando um vestido tomara que caia sem sutiã, eles trocaram beijos, olhares, palavras de amor e carícias sensuais. Antônio vê e toca os belos seios de Aninha. Descobrem a paixão ardente do amor carnal. Foi a primeira vez de ambos os jovens, na madrugada de 1 de janeiro de 1990. Ficaram juntos abraçados, enrolados um no outro, carne com carne, pele com pele, coração com coração, debaixo de uma árvore sobre a superfície macia e acolhedora do gramado, até o raiar do sol. O mais lindo alvorecer da existência desses jovens.
Ele levou Aninha para sua casa, na vila Paraíba, e depois rumou em sentido à casa de seus pais, no campo do Galvão. Tomou um café da manhã com eles e foi dormir. Passou alguns dias em Guará, namorando, para então se apresentar ao seu clube na capital.
O ano de 1990 foi bom para Antônio, o Garça, consolidou sua presença no estado de São Paulo e, em São Paulo, nas categorias de base.
Antônio tem sonhos, sempre teve sonhos, fantasias, e um deles é chegar aos profissionais e depois até a seleção brasileira de futebol. Quando tinha nove anos, um dos seus sonhos era o de ser picado por uma aranha radioativa para tornar-se o Homem-Aranha, possuía uma fantasia customizada de Homem- Aranha e a usava o tempo todo, inclusive por debaixo da roupa comum. Era Peter Parker no resto do tempo. Antes disso, aos cinco anos, a fantasia era de Super-Homem.
Agora a fantasia, o uniforme, é real, é de jogador. Neste ano ele está fazendo quinze anos e encontra-se a meio caminho de alcançar a vida adulta. Quer crescer logo, experimentar os prazeres e, também, os dissabores (ele sabe disso) e a responsabilidade que vem com a idade adulta.. Não se importa, ele quer crescer logo, deseja esta potência em vida logo, deseja o impulso, a ânsia juvenil da adolescência.
Passou o ano de 91 inteiro dedicando-se à escola, aos treinos e jogos, aos amigos, à família, à namorada. Entre 1990 e 1992 (nestes pouco mais de dois anos), muitas outras vezes foi a Guará e outras tantas vezes Aninha veio visitá-lo em São Paulo.
No clube, conquistou títulos no juniores e, por suas belíssimas atuações, chamou atenção. No início do ano de 1992se destacou e, o então técnico do São Paulo, Telê Santana, o mesmo Telê da seleção de 82, chamou-o para participar junto ao time principal no campeonato paulista. Antônio comprometeu-se com esta oportunidade e suas atitudes dentro e fora de campo nos treinos agradaram o técnico Telê, que lhe deu uma chance de entrar num jogo dos profissionais em 1992.
São muitos afazeres ao mesmo tempo, na escola, ele agora encontra-se no terceiro ano do colegial, último ano do ensino médio, no trabalho (pode-se dizer deste modo, pois recebe para jogar e está nos profissionais) elevou-se de categoria, administrando seu tempo, ainda sobrando espaço para seu lazer, sua vida privada, seu descanso, apesar de ser pouco, sobretudo por ser uma pessoa agitada e muito ativa.
Com dezesseis anos, Garça já bebe álcool, cerveja já faz um tempo, agora começou com os etílicos, iniciando com a cachaça até chegar ao vinho. Neste ano de noventa e dois, ele se destacou juntamente aos seus companheiros nos torneios estadual, nacional e, principalmente, na Libertadores. Ganhando o paulista e a Libertadores e avançando bem no brasileiro. Fora de campo, com os jogadores mais experientes, mais velhos, aprendeu a jogar poker, ir a boates e a usar os serviços de garotas de programas, estas últimas não desmereciam a sua relação com sua namorada, principalmente pelo fato dela nada saber. Também foi o ano que começou a ganhar bem para os padrões da maioria dos brasileiros, em termos de salário e bicho por partida e campeonato.
Na Libertadores, Garça marcou uma extraordinária média de três gols por partida e, na final da competição, marcou quatro gols no agregado dos dois jogos. Quatro vezes emplacou a pelota na rede adversária e providenciou outros três passes para gols, três assistências perfeitas. São Paulo ganhou aquela liberta com o agregado de sete gols contra três sofridos e foi campeão marcando sua passagem para o Japão, para no final do ano jogar contra o Milan, campeão europeu.
Durante o decorrer deste ano de 92, Antônio passou a ser conhecido não somente dentro do São Paulo ou inserido na cidade-estado de São Paulo , mas também no resto do Brasil e da América do Sul. Conhecido do público em geral e da imprensa esportiva como Garça, Antônio acha até que a grande maioria desconhece seu nome completo. Conhecendo-o como Garça, o garoto de 16 anos que joga futebol profissionalmente pelo São Paulo Futebol Clube.
O nome de Aninha é Ana Paula, e ela está agora no terceiro ano do colegial e o namoro com Antônio segue firme. Ela gosta muito de Antônio, o Garça, e também tem sonhos, sonha em se tornar jornalista e escritora, se graduar pela USP em Jornalismo ou Letras. Antônio também pensa em cursar uma faculdade, porém sabe que conciliar a carreira de jogador e suas atividades com as atividades de um curso universitário é quase impossível. O tempo e o esforço necessários para ambas se colidem, ocupam o mesmo espaço. É impossível.
O segundo jogo da final da Libertadores ocorreu, aconteceu em Buenos Aires no estádio La Bombonera contra o Boca Juniors. Após sagrar-se campeão do Torneio das Américas, o time do São Paulo foi recebido com festa na capital paulista.
“Roda mundo/ roda moinho/ roda gigante/ o tempo rodou num instante”, como diz Chico Buarque, a roda viva da vida da gente brincou com o destino de Garça e Ana Paula. No final do ano, numa partida válida pelo campeonato brasileiro, Garça foi expulso e ficou suspenso do próximo jogo, ganhou uma semana de folga, passou esta semana e o final de semana seguinte em casa, isto é, na casa de seus pais em Guaratinguetá, encontrando-se mais uma vez com Aninha, o resultado veio logo depois, no mês seguinte. Aninha ficou grávida.
Dezembro de 1992, duas semanas antes do Natal, Aninha, que acabara de se formar no colegial, recebe o resultado do exame de gravidez com seu médico. Antônio também se formara no colegial no Morumbi em Sampa, mas devido ao jogo contra o Milan pelo Mundial Interclubes no Japão, em Tóquio, não participara da cerimônia de graduação. Aninha liga e comunica a Antônio sobre sua condição, ele está vindo passar as férias (e o Natal) na casa de seus pais, seu Alberto e dona Mariana. Antônio conta a eles as novidades. Ana Paula conta para seus pais que eles vão ser avós e que seus irmãos vão ser tios, e relata que já avisou Antônio e que ele está a caminho para juntos resolverem essa situação.
Garça chega em Guará campeão mundial Interclubes pelo Tricolor do Morumbi e, ainda, chega com um anel de noivado com uma bela pedra de diamante para abrilhantá-lo. O casamento fica acertado para maio do ano seguinte, dona Julia, mãe de Aninha, e Aninha, que aceitou se casar com um sorriso nos lábios e lágrimas nos olhos, fica responsável por organizar a recepção, que será na fazenda de vó Mea, a avó materna de Antônio. Isso tudo é decidido num almoço na casa de vó Mea e vô Alfonso. As famílias dos noivos se conhecem há gerações, antes dos noivos nascerem.
O contrato de Garça é acertado e renovado com uma negociação entre o São Paulo Futebol Clube e o Alberto, pai e empresário do jogador. Vai se estender até dezembro de 1995 e com o seu salário elevado.
Antônio sente-se muito feliz em jogar pelo clube Paulista, que é seu clube de coração, e ganhando bem, e jogando bem, tudo parece estar se acertando.
No Natal, pouco antes da data, Aninha recebe a confirmação de que passou na primeira fase do vestibular da USP, a FUVEST. Ela fica feliz, mas raciocina como vai ser a vida conciliando uma criança, um casamento e uma universidade. Antônio a consola e diz que ela vai conseguir conciliar as coisas da vida dela, que tudo vai ficar bem, que ele vai ajudar.
Passa o Natal, vem o Réveillon, e este ano os jovens com então dezessete anos vão desfrutá-lo na praia, em Ubatuba, na chamada Praia Grande, que fica ao lado da praia do Tenório. Nos dias que antecedem a virada, a família de Antônio acolhe a família de Aninha e saboreiam o litoral paulista em harmonia. Realizam até uma viagem de um dia à Paraty no estado do Rio de Janeiro, que faz divisa com a cidade de Ubatuba. Passeiam de barco entre as ilhas. Na noite da virada vão até o centro velho de Ubatuba onde fica a casa do tio Bebeto, tio-avô de Antônio. É tradição, quando em Ubatuba, passar as noites na casa do tio Bebeto. Passada a virada, pulado as sete ondas no mar, sob o luar com a brisa da maré, Antônio e Aninha fundem sua aura, seus corpos envoltos em si mesmos, beijam-se profundamente no calor de seu amor, amor encravado em seus corações, ao som dos fogos do show de artifícios, iluminando a noite estrelada.
Ana Paula tem de voltar para Guará, pois dali uns dias ocorre a segunda fase do vestibular da USP, a FUVEST, em Taubaté. Dona Mariana também está ajudando dona Julia a organizar a recepção e o casamento. Dona Mariana é muito prestativa e, como toda ariana, é de uma personalidade forte. Antônio fica com o pai em Ubatuba na companhia do tio Bebeto, que é uma figura cativante.
De volta aos treinos no CT (Centro de Treinamento) da Barra Funda, Garça está com mil coisas passando pela sua cabeça. Primeiro, o lance do casamento e da gravidez; segundo, arrumar um espaço para ele e Aninha viverem na metrópole, terceiro, este ano ele completa dezoito anos e precisa se alistar e escapar do serviço militar obrigatório e, claro, quarto, os torneios com o clube.
Aninha passou no vestibular para Jornalismo na Universidade de São Paulo e veio para a cidade para matricular-se e ajudar a procurar apartamento, uma prima dela de nome Vera veio junto com a dona Júlia, e tia Dedé, que conhece bem a cidade, se dispôs a ajudar. Um pessoal da equipe do Clube selecionou algumas imobiliárias e regiões da cidade para nos assistir. Em uma semana a questão do apartamento foi resolvida e ela estava inscrita como aluna da USP.
Perdemos para o Palmeiras no estadual de 93, o Paulistão já era naquele ano, restava a Libertadores e o Brasileirão. Jogamos bem, mas o time da Parmalat foi melhor, teve sorte.
De fevereiro de 93 a maio daquele mesmo ano viveram juntos as adaptações de uma vida conjugal, com 17 anos, no apartamento, no convívio com pequenas brigas e grandes reconciliações. O deslumbre da cidade grande abateu-se sobre Aninha e levou um tempo para ela acomodar-se nesta nova jornada. A faculdade era estimulante, mas o ápice do dia se dava no fim da tarde com a chegada do treino de Antônio, eles conversavam muito mesmo sobre os feitos de ambos no decorrer do dia, sobre seus problemas e soluções, se amavam e muitas vezes assistiam um filme na tv, no conforto de casa, ou iam aos cinemas degustar um novo filme nas poltronas das salas dos shoppings.
Ela escolheu um vestido com a ajuda da prima Vera enquanto os rapazes do time, do Tricolor Paulista, preparavam a despedida de solteiro do Garça.
Estavam indo bem tanto no Brasileirão como no campeonato da Libertadores. Garça estava em brasa, em chamas, jogando muita bola. Enquanto Aninha passava mal com os enjoos da gravidez, sem contar as mudanças de humor.
Antônio vinha a Guará de tempo em tempo para o alistamento militar na aeronáutica em que seu tio Evandro trabalha. Evandro trabalha desde os quatorze anos na escola de especialistas da aeronáutica, situada em Guaratinguetá, e conhece o capitão responsável pelo alistamento deste ano. Antônio tem de passar pelo processo seletivo, mas no final tem uma garantia de que não vai servir. Espera ser dispensado por excesso de contingente.
O casamento de Ana Paula e Garça está marcado para um sábado de maio ao meio-dia, na igreja Santa Rita de Cássia, em Guaratinguetá. Foram convidados jogadores e suas famílias, todo o pessoal do Clube Paulista, familiares de Aninha e Antônio e seus amigos. Muitos dos convidados de Antônio não puderam comparecer, pois o time joga neste final de semana. João, melhor amigo de Antônio e primo de Aninha, é um dos padrinhos. Decorada com flores, a nau central da igreja ficou linda. A música de entrada da noiva foi representada pela canção que tocava quando deram seu primeiro beijo. A canção se chama Eduardo e Mônica, do Legião Urbana. Tocava Ultraje a Rigor quando eles dançaram pela primeira vez, anos atrás, mas tocava Legião quando se beijaram. A dança dos noivos foi ao som de Chico Buarque.
Ele estava todo nervoso e suando de fraque, nunca havia usado gravata. Ela estava impecável, maravilhosa e radiante, com a barriga de seis meses já aparecendo. Para Antônio, ela era uma Vênus de Milo. O discurso do padre Luís foi comovente, dando ênfase ao valor do amor. Casaram-se e a recepção se deu na fazenda Cataratas, meia hora da cidade. Foi um churrasco com DJ no som, bem festivo, bem família, bem interior paulista. Foi necessário a autorização dos pais de ambos, pois são menores, para que este casamento se realizasse. Passaram a noite na fazenda. Foi uma noite de lua cheia e céu estrelado, a maior parte do tempo passaram na rede ouvindo o silêncio rural no ritmo de seus corações entrelaçados.
O casamento civil, no cartório, foi na segunda-feira subsequente ao casamento religioso, e ali só precisaram, além de seus pais, de um grupo de testemunhas e, na sequência, foram à Bahia passar a lua de mel, ficaram cinco dias lá, depois disso retornaram ao cotidiano em Sampa City, só que agora casados. Foram de avião até a Bahia, Salvador, e de lá Ilhéus, depois de Ilhéus retornaram a Salvador, de Salvador a volta à cidade de São Paulo. Chegaram sábado da lua de mel e encontraram no seu apartamento os presentes das núpcias. Passaram o domingo descansando.
Na sequência, o São Paulo Futebol Clube chegou à final da Libertadores, só que pela campanha magistral do Clube, o time foi agraciado com o segundo jogo em casa, no Morumbi. Novamente na Argentina, só que agora, este ano, contra o River Plate. Na Argentina, o jogo de ida terminou em 1x1, um empate que beneficia o Tricolor Paulista. No jogo de volta, em casa, o Garça marcou o gol do título e o Tricolor foi campeão das Américas, aliás, bicampeão.
Nesse interlúdio, nasceu uma menina saudável de olhos verdes, de nome Laura. Um tiquinho de gente, e Antônio não sabe como segurar, dá medo de quebrar, diz ele. Nasceu dois dias depois do aniversário de dezoito anos da mãe, Aninha. Nasceu no dia 20 de agosto de 1993. Ana Paula pediu para fazer os trabalhos e as provas do curso de jornalismo em casa por intermédio de uma licença maternidade e deu prosseguimento na vida acadêmica. Cerca de um mês depois, Antônio também completou 18 anos. Conseguiu o certificado de reservista em outubro.
Antônio ama Aninha, Aninha ama Antônio, os dois amam Laura, menos quando ela chora. Aninha quer dormir e Antônio tem que acalentar Laurinha.
Quando viram o bebê pela primeira vez na maternidade do hospital, Alberto e seu Agenor, pai de Aninha e avô de Laurinha, derramaram uma cachoeira de lágrimas de felicidade. Dona Júlia e dona Mariana eram só sorrisos.
O apartamento fora montado e decorado por Aninha, com os pitecos e assistência de dona Julia e dona Mariana, aliás, toda a família deu seu palpite, e com presentes ajudaram a organizar o quarto do bebê que viria em agosto. Assim, quando Laura nasceu o quartinho dela já estava um primor. Tinha uma poltrona para a nova mamãe amamentar a cria. Nos primeiros meses, Antônio mal dormia, ora pelo motivo da bebê estar chorando, ora por estar em completo silêncio, neste caso Antônio tinha pavor de que alguma coisa tivesse acontecido com Laurinha, tipo ela parar de respirar. Ambos trocavam fraldas, Antônio era um desastre, mas estava aprendendo. Julia e Mariana revezavam no tempo que passavam em São Paulo.
Ana Paula conseguiu terminar o primeiro ano na faculdade e Garça conquistou o título brasileiro e o Bicampeonato Mundial em Tóquio, outra vez contra o Milan, clube italiano de grande prestígio europeu e mundial. Veio o Natal, o primeiro como casal e o primeiro de Laurinha, revezaram o tempo na casa de vó Mea e vô Alfonso e na casa de Julia e Agenor.
Em fevereiro de 94, Garça, com 18 anos, foi convocado para dois amistosos da seleção brasileira pelo técnico Parreira. Oportunidade que lhe daria a camisa 16 do escrete canarinho. Estes dois jogos ocorreriam entre fevereiro e março do ano seguinte. No primeiro jogo, entrou no segundo tempo e marcou dois gols, dando também uma assistência para mais um gol da seleção contra a Austrália. No segundo jogo, começou jogando desde o início contra o México e deslumbrou a imprensa e a torcida com seu jeito de jogar no meio de campo. Provou seu valor na seleção diante das expectativas por parte da imprensa esportiva em face da sua juventude e inexperiência com a camisa canarinho, e também das suas excelentes performances com o tricolor do Morumbi.
Aninha trancou a matrícula no segundo ano da faculdade de Jornalismo, e como atividade a se dedicar fora de casa, ela sendo descendente de italianos, assim como Antônio, passou a uma retomada do aprendizado da língua italiana, porém noventa e oito por cento de seu tempo estava ligado ao desenvolvimento de Laurinha, cuidar da bebê era sua vida naquele ano.
Garça foi convocado para a Copa do Mundo, Fifa 94, fez parte dos trinta pré-selecionados e se apresentou em maio na Granja Comary. Naquela semana que antecedeu a convocação definitiva, o envio dos vinte e três nomes para a Fifa e o embarque para os Estados Unidos, onde se daria o Mundial, Antônio conseguiu seu espaço como reserva.
O único jogo que jogou na Copa foi a final, com a camisa 16, na prorrogação entrou em campo para renovar o sangue e a disposição de marcação no meio-campo da seleção e, antes da prorrogação terminar, marcou um gol que seria anulado por impedimento, gol que seria o do título, mas não foi, deu um passe cirúrgico para Romário mas ele não conseguiu marcar, o chute dele bateu na trave e no rebote o goleiro italiano capturou a bola. No final da partida, a decisão seria nos pênaltis, nas cobranças de penalidades máximas o Brasil se sagrou campeão, Garça foi o primeiro a bater e colocou o goleiro num canto e a bola no outro. Trouxe um monte de malas com lembranças e presentes, principalmente para Aninha e Laurinha. Trouxe uma novidade, uma babá eletrônica. Na alfândega, passou batido em virtude da comemoração do tetracampeonato, a quarta estrela.
Laura teve, em Guara, sua festinha de 1 aninho, seu primeiro aniversário comoveu Aninha que ainda é uma garota de apenas dezenove anos. Antônio também é um infante com a mesma idade de Ana Paula. Porém, cresceram rápido com a responsabilidade de gerir uma nova existência. No aniversário de Laurinha, Ana Paula estava em brasa irradiando felicidade e sensualidade. Atraiu olhares de cobiça, o que deixou Antônio louco de ciúmes. Aninha percebeu e provocou Antônio, mas o confortou no final com um beijo, uma dança, uma noite mágica na cama.
Neste ano, Garça conquistou o paulista pelo tricolor, participou da conquista do tetra pela seleção, perdeu o brasileiro e a Libertadores. Entretanto, chamou a atenção dos clubes europeus pelas últimas temporadas, e na janela do final do ano foi contratado pelo Milan para jogar na Itália e representar o time de Milão. A negociação entre o São Paulo Futebol Clube e o Milan passou pelo seu empresário, Alberto. Foi adquirido pelo clube italiano por um valor milionário e o seu salário, acertado, não ficou atrás. Parte da negociação foi a transferência da faculdade da Aninha e a contratação de uma babá pelo time europeu.
Assinou por quatro anos e meio com o Milan, indo com o seu vínculo até junho de 1999. O ano de 95 foi um ano de adaptação tanto para Antônio quanto para Aninha. Laura nem conta, pois fez 2 anos neste ano em agosto. Aninha entrou para a faculdade de Jornalismo de Milão. Tanto ela quanto Antônio aprofundaram seus conhecimentos da língua materna de seus avós, o idioma italiano. Tiraram cidadania italiana, pois são descendentes de imigrantes italianos que vieram ao Brasil. Garça entrou no meio da temporada do campeonato italiano e da Liga dos Campeões da Europa.
Nestes quatro anos até dezembro de 1998, Antônio consolidou sua carreira como jogador de futebol profissional, inclusive na seleção brasileira, tanto no Mundial e na Copa de 98 como nas Olimpíadas de 96. Aninha formou-se com louvor em junho de 97 em Jornalismo em Milão e tirou certificados de francês, espanhol, italiano e inglês.
Em dezembro de 98, Laura está com a idade de cinco anos, e Antônio e Aninha com 23 anos. Um novo ciclo se inicia, pois em 96 Antônio conquistou a inédita medalha de ouro olímpica para o futebol tupiniquim e uma espetacular Copa do Mundo na França, onde garça jogou todas as sete partidas e, na final, perdendo de três a zero para a França, dona da casa, ele marca quatro gols no segundo tempo, sendo o último, o gol do título, marcado aos quarenta e oito minutos da etapa complementar. O Brasil é pentacampeão em cima da poderosa França. Com um sabor de vitória e um currículo como esse, Garça é cobiçado pelo resto da Europa.
Também tem o nascimento do filho Raul, pois em 97 aninha ficou grávida pela segunda vez, mas desta vez ambos estavam preparados. Foi o desejo materno, o instinto feminino, que fez com que Aninha parasse de tomar a pílula anticoncepcional. O resultado foi que em maio de noventa e oito nasceu Raul, também de olhos verdes.
Em janeiro de 1999, Garça foi comprado pelo Real Madrid da Espanha, e seu salário passaria a ser galáctico. Antônio e Aninha se mudaram para Madri e ela começou um curso de chef de cozinha como hobby. Um curso leve, pois tinha que cuidar de um bebê de um ano e de uma criança que faria 6 anos. O novo contrato tinha a duração de cinco anos, ia até dezembro de 2003. Garça tinha então 24 anos. Estava aprimorando seu espanhol. Aninha já estava adaptada à vida na Europa e começou um blog na internet sobre turismo, viagens pelo continente europeu, lugares para visitar, hotéis para se hospedar, e publicou algumas fotos. Antônio também levava a vida na Espanha numa postura zen, já plenamente ajustado ao estilo de jogo que se propõem os europeus no que diz respeito ao futebol.
Os anos passam voando, os atritos no cotidiano do casal dão lugar às belas e boas lembranças da família que eles constituíram. Eles já se habituaram com um ao outro, e o sexo é estarrecedor, o amor cresce a cada dia e a cada noite em que eles passam juntos, seus filhos crescem com dupla cidadania, triplo idiomas, e quatro vezes mais rápido do que eles esperavam.
O tempo não para, os jogos sucedem aos títulos, os títulos sucedem aos jogos, o tempo não para e o Mundial de 2002 tem seu lugar na Ásia, e é no Japão que Garça, ao lado de Ronaldo, seu companheiro de seleção há seis anos e atual companheiro de time o real Madrid, conquistam o Hexacampeonato Mundial, a sexta Copa do Mundo do Brasil, a sexta estrela no peito na camisa amarela tradicional. A copa do mundo é do Brasil mais uma vez. O Real conquistou a copa do rei, a liga espanhola e a UEFA neste mesmo ano, além do Mundial Interclubes no final, em dezembro de 2002. Antônio, então com 27 anos, é cobiçado pelos times ingleses que estão com um maior poderio, mais recursos financeiros, pois bilionários do leste europeu os adquiriram.
Aninha, também com 27 anos, é mais do que uma simples dona de casa, ela é uma blogueira ótima e escreve para algumas revistas na Espanha e na Itália. Laurinha está com 9 anos e Raul com 4 anos. Ambas as crianças frequentam a escola e vão bem.
Em junho de 2003, Antônio e família mudam-se para Londres, e é na Inglaterra que ele vai defender as cores do Chelsea. Por um período de seis anos, de acordo com o contrato acordado entre ele, Alberto, Real Madrid e o Chelsea. Aninha, neste período de tempo, vai escrever para revistas online e físicas na Espanha, Itália e Inglaterra, além de manter seu blog. Ela escreve reportagens de todo tipo sobre o universo feminino, viagens turísticas e fofocas.
De 2003 a 2009, nestes 6 anos, lesões físicas constantes arrombaram a carreira de Garça, teve de fazer duas cirurgias no joelho esquerdo. Porém, mesmo assim ele conquistou muitos títulos, inclusive da UEFA Champions League por 3 vezes. Recuperou-se milagrosamente dessas lesões. Mas foi neste intercurso de trajetória que o tirou da Copa do Mundo de 2006 na Alemanha. Copa em que a Itália se sagrou campeã. Em 2009, com trinta e quatro anos, voltou para o Brasil para jogar no Palmeiras.
Dois mil e seis foi um ano difícil para Antônio, ficou de fora de sua última Copa por uma lesão no joelho esquerdo e seu avô, o seu Alfonso, veio a falecer.
Jogar pelo Palmeiras em 2009 era um tributo ao seu Alfonso que torcia para o Palmeiras, aliás, palestra na Itália, onde Antônio pretendia encerrar sua carreira. Com um contrato indo de agosto de 2009 até dezembro de 2011.
Pelo Palmeiras, conquistou dois paulistas, sendo um em 2010 e outro em 2011, uma Libertadores em 2010, um brasileiro em 2010 e um Mundial também em 2010. Se despediu do futebol.
Em 2012, juntamente com Aninha, completariam 37 anos, e seus filhos, Laura com 19 anos, e Raul com 14 anos. Juntou toda essa família e mudou-se para Guaratinguetá, onde tudo começou. Aninha passou a trabalhar numa rádio local, porém continuou como sempre escrevendo matérias para as mesmas revistas, na Itália, na Espanha, na Inglaterra e, também, em São Paulo e Rio de Janeiro, além do seu conhecidíssimo blog. É o lance dela.
Laura, em 2013, entrou na faculdade de Medicina de Taubaté na Unitau e começou o curso em fevereiro de 2014, é caloura com vinte anos. Raul, em maio de 2014, completou 16 anos no mesmo mês em que seu avô Alberto completou 62.
Antônio, Alberto, Agenor, Pedro, que é irmão de Aninha, e Raul, estão se preparando para assistir a Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil, pela televisão.
Antônio, por hora, está curtindo a vida de aposentado ao lado de seu pai, o Alberto. Mas se prepara para em breve tentar a vida como técnico de futebol, usar sua experiência dentro de campo para estruturar uma carreira fora dele.
Antônio e Aninha estão com a idade de 38 anos e estão casados há vinte e um anos. Antônio construiu uma vida como jogador de futebol, mas acabou construindo uma existência ainda mais plena como pai de família.