Um poema anacrônico

Fosse eu Ditador por 24 horas

logo proclamava o estado de guerra o estado de sítio o estado de coma o diabo

para acabar com os ases do volante

e mais

(segue-se uma lista de 12 ou 13 indiciados que a Censura cortou)

— ó gentes!

neste mundo de truques mecânicos

tão vulgarmente coisado

o remédio é ler noite adentro as liras

       de Tomás Antônio Gonzaga

e depois

se a TV do vizinho deixar

(ele estava na lista)

sonhar com landós, tílburis, pitangueiras, burrinhos de todas as cores, anjos...

Não me venhas dizer que os anjos são supersônicos:

eles voam em câmara lenta.

Mas agora não pousam nem nos sonhos da gente...

O agitado sonho dos homens os espantou!