Instabilidade

Muita vez me entretenho em reconstruir de memória a nossa antiga casa paterna. Deixo-me estar no caramanchão, com sua mesa de pedra apanhando o sol coado pelas trepadeiras. Quanto aos longos corredores, será melhor que os evoque de noite, quando, no escuro do quarto, fico a imaginar que a noite de agora está cobrindo ainda a velha casa.

Sim! nesta época de grandes transformações arquitetôni­cas, a nossa alma teimosa continua morando nessas ca­sas-fantasmas.

Reconstruíram a cidade antiga, mas esqueceram-se de reconstruir as nossas almas. Daí, a instabilidade contemporânea.

Porque não somos contemporâneos de nós mesmos. Porque, hoje, só podemos dizer com saudade aquele belo verso de Sainte-Beuve:

“Naître, vivre et mourir dans la même maison...”

P.S.

Este verso, é a segunda vez que o cito neste livro.

Mas não há motivo para pedir desculpas. Muito pelo contrário.