Ou, ou, ou, ou, ou...

Nunca me esqueço da primeira foto que fizeram depois do desaparecimento do meu pai.

Era março de 1971.

Era para a revista Manchete, símbolo do Brasil Grande, a revista das celebridades e notícias felizes, de Pelé na capa, de Roberto Carlos, Ronnie Von, o Príncipe, “Meu bem...”. De reis e rainhas, que, como grande parte da imprensa, grande parte da população, encantava-se com o Milagre Brasileiro e curtia a ressaca do choque de Jacqueline Kennedy ter virado Onassis.

Como cantavam nos anúncios oficiais, depois do tricampeonato no México: “Esse é um país que vai pra frente. Ou, ou, ou, ou, ou. De uma gente amiga e tão contente. Ou, ou, ou, ou, ou...”.

Ou...

A imagem do Brasil no exterior começava a ficar arranhada com depoimentos de exilados que contavam dos horrores da tortura. Autoridades brasileiras eram questionadas e negavam tudo. Zuzu Angel, estilista mais famosa do Brasil, fez um desfile em Nova York com estampas em que havia denúncias contra a tortura e o desaparecimento de seu filho, Stuart Jones, de dupla nacionalidade. Mobilizou artistas de Hollywood. O Senado americano fez um hearing com o diretor da CIA, Richard Helms, que desconversou. Não confirmou nem negou que o governo brasileiro torturava seus inimigos e em casos extremos desaparecia com os corpos.

Elio Gaspari conta que, desde agosto de 1970, a embaixada americana em Brasília mentia para o Departamento de Estado americano. Informava que a tortura estava sendo substituída por métodos “mais humanitários” de interrogatório. O consulado americano mantinha um pesquisador-visitante no DOI-Codi carioca. Ao Senado americano, o chefe de Segurança Pública do programa de ajuda ao Brasil disse que não sabia o que era o Codi.

Médici visitou Washington em 1971 e foi brindado por Nixon com a frase: “Para onde for o Brasil, também irá o resto do continente latino-americano”. Discutiram a derrubada de Allende, do Chile, que rolou em 1973. Médici se ofereceu para ajudar a derrubar Fidel Castro. Pretensão.

Minha mãe passou aquele verão de 1971 dando entrevistas a correspondentes estrangeiros que moravam no Rio, cidade que sediava as sucursais latino-americanas das grandes agências de notícia, revistas e jornais do mundo todo. Muitos desses jornalistas tinham estado com meu pai, um informante que passava relatos de violações dos direitos humanos da ditadura. Talvez por isso a prisão dele tenha sido notícia no The Times, The Guardian, The New York Times, Newsweek. Mulher de ex-deputado federal perseguido pelo regime relata desaparecimento do marido, saiu no NYT:

Last January, a Brazilian civil engineer was arrested in his home by Government security agents and disappeared. He has not being heard from since. But, his case exploded in noisy publicity today. There have been at least two other cases of Brazilians who, according to their relatives, have disappeared after being arrested by security forces...

Era uma surpresa que um órgão da imprensa no Brasil como a Manchete, a revista que mais vendia no país, se interessasse em noticiar o desaparecimento de um dos subversivos mais simpáticos e risonhos que Callado conheceu. Em 1971, não se sabia mais quem estava do lado de quem. Mandou um fotógrafo lá em casa. Queria todos os filhos na foto. Na porta de entrada do sobrado do Leblon. Na mesma porta pela qual meu pai foi levado para a tortura e a morte semanas antes. A mesma pela qual minha mãe foi levada no dia seguinte com a minha irmã Eliana. Nela, nos apertávamos para caber. Não sei de quem foi a ideia de nos fotografar sob o batente da porta principal. O mar do Leblon estaria ao fundo, se ele tivesse erguido um pouco mais a câmera. Mas a pauta da prisão não combinaria com uma das vistas mais lindas, a da praia, do intrincado e sedutor arquipélago das Cagarras e a do morro Dois Irmãos abençoando uma das cidades mais lindas do mundo.

Vesti minha calça mais chique. Estávamos todos chiques, com roupa de domingo. Sorríamos. Não parávamos de sorrir. A ironia era imensa: apareceríamos justamente na mais bonita e glamorosa de todas as revistas. Nossa entrada de bico no colorido universo das celebridades que admirávamos, que não paravam de sorrir, que eram felizes e bem-sucedidas.

Nos empurrávamos e ríamos. Minha mãe de cabelo armado. Passara laquê para aquela foto, certamente. Tinha colares. Magérrima e ainda queimada do sol de Búzios. Nós cinco, da mais nova, Babiu, dez anos, à mais velha, Veroca, dezesseis. Queimados, verão, incrédulos. Babiu gargalhava. Saiu na foto de olhos fechados. Só Veroca não sorria. Veroca sabia de mais coisas do que nós. Veroca estava com exilados em Londres quando invadiram a nossa casa e nos prenderam. Veroca leu no Times sobre a prisão do próprio pai. A professora da escola em que estudava a informou: falam aqui da prisão de um ex-deputado do seu país. Era seu pai. Minha mãe temia que a prendessem no aeroporto na volta. Veroca teve que perambular por um tempo pela Europa. Esteve com os exilados em Paris. Contaram-lhe dos bastidores, dos horrores da tortura. Ela sabia o que acontecia nos porões. Sabia mais do que nós, no Brasil, que cantávamos “Esse é um país que vai pra frente, de uma gente amiga e tão contente, ou, ou, ou, ou, ou...”. Voltou em tempo de tirar a foto para a Manchete. Sem sorrir. Não como minha mãe, que sorriu depois de ficar doze dias no DOI-Codi, testemunha do bastidor e do horror, mas ainda sem certezas, na luta, queixo erguido, juntando informações desencontradas de um quebra-cabeça que nunca concluiu. Sem saber do fim da história. Sem saber do fardo que carregaríamos.

O fotógrafo reclamava: fiquem mais sérios, mais tristes, mais infelizes. Não conseguimos. Ou não queríamos. A irreverência sempre nos inspirou. Observo a foto hoje e vejo nos olhos da minha mãe: quem você pensa que é, para nos fazer infelizes? Nos indignamos. Não é a imprensa que nos pauta, nós a pautamos. Ou, ou, ou, ou, ou...

Foi a única foto da família que saiu na imprensa naquela época. Foi a única foto da família que saiu na imprensa em muitos anos. Logo depois, a censura apertou, ficou mais profissional, mais rigorosa, quase não passava nada, e entramos para a lista negra.

Durante anos, no Brasil, o nome da minha família foi riscado do mapa.

Durante anos, no Brasil, a minha família foi evitada.

Durante anos, alguns brasileiros, conhecidos e amigos, nos evitaram. Até parentes.

Nos temiam. Temiam ser associados a nós.

E recebemos solidariedade de pessoas que não esperávamos. De professores, amigos que não sabíamos que tínhamos, jornalistas, advogados, empresários que poderiam arriscar a reputação ou perder contratos e concorrências, gente que apoiou o golpe e se arrependeu, organizações que não concordavam com os rumos, até da Igreja. Aliás, especialmente da Igreja católica apostólica romana, que anos depois agregou sua insatisfação para protestar pelo fim do regime.

É uma foto que reflete o absurdo do seu tempo. Uma mulher, com cinco filhos adolescentes, perguntando pelo marido, que as autoridades afirmavam ter fugido numa diligência. Um fotógrafo procurando a essência da pauta. A porta que viu saírem militares de metralhadoras com um casal e a filha. Viu a dor e a morte passar.

Meu pai entrou no DOI-Codi em 20 de janeiro de 1971, morreu na noite do dia 21 de janeiro, foi levado na madrugada do dia 22, esquartejado, enquanto minha mãe e irmã eram interrogadas em separado. Testemunhas de lá de dentro nos dizem que ele foi enterrado na restinga de Marambaia, sob a areia de quarenta e dois quilômetros de praia que pertence à Marinha do Brasil, base paradisíaca de oitenta e um quilômetros quadrados e acesso restrito, hoje Centro de Adestramento da Ilha da Marambaia dos Fuzileiros Navais.

O labirinto de contrassensos que minha mãe começou a percorrer era longo.

Depois da impetração do habeas corpus em 25 de janeiro, o Comando do I Exército instaurou uma sindicância para apurar “os fatos narrados na parte, a fim de que sejam eles devidamente esclarecidos”. Foi assinada­ pelo próprio general Syseno Sarmento, comandante do I Exército, conhecido como “o feíssimo”. Está dirigida ao major Ney Mendes, que, assim como o capitão Raymundo Ronaldo Campos, trabalhava na Seção de Operações do DOI. Chefiavam as equipes de busca. Alguns nomes de envolvidos começaram a aparecer.

Em 11 de fevereiro de 1971, foi encerrada a sindicância instaurada dentro do DOI. O major Ney Mendes reproduziu os termos de Raymundo Ronaldo Campos e concluiu:

Pelas diligências e investigações por mim procedidas, constatei a veracidade das afirmativas dos agentes de segurança, corroboradas com o laudo de exame pericial procedido no local e na viatura incendiada, perícia esta do 1o BPE. Verifica-se, pois, que os agentes de segurança não praticaram qualquer ato que merecesse reprovação. Pelo contrário, usaram de todos os recursos legais de que dispunham para evitar a consumação do evento, por parte dos elementos desconhecidos, possivelmente terroristas. Não houve em qualquer hipótese algum indício de responsabilidade a apurar-se por parte dos agentes de segurança. Pelo contrário, demonstraram iniciativa, coragem e um elevado grau de instrução em face da surpresa e superioridade dos elementos desconhecidos. Na refrega, houve a evasão do sr. Rubens Beyrodt Paiva para local ignorado, não sabendo as autoridades de segurança o seu paradeiro, de vez que a preocupação dos referidos agentes era de se defender e também o seu acompanhante, cujas consequências foram a queima do carro e a interrupção das diligências que estavam se processando [...]

Em face do acima exposto e das provas periciais constantes da presente, conclui-se não ter havido qualquer responsabilidade ou indício de existência de infração penal a apurar-se por parte dos agentes de segurança, eis que, quanto ao sr. Rubens, ainda estão sendo tomadas providências pelos órgãos competentes. Razão por que opino pelo arquivamento desta Sindicância.

Nas semanas seguintes, a mesma versão da fuga do meu pai com as mesmas palavras foi reproduzida e repercutida nos comandos do Exército e da Aeronáutica, na Procuradoria Geral da Justiça Militar, no Superior Tribunal Militar, até no Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e na Câmara dos Deputados. O deputado Nina Ribeiro, vice-líder governista, leu na tribuna: “O capitão Raymundo Ronaldo Campos, primeiro-sargento Jurandyr Ochsendorf e Souza e terceiro-sargento Jacy Ochsendorf e Souza, todas testemunhas, foram acordes em afirmar que, às quatro horas do dia 22 de janeiro de 1971, levaram o preso”.

Aos poucos, entregavam os nomes, os personagens oficiais que participaram da prisão. Era um Estado que não temia ninguém.

Notícias mesmo saíam fora do Brasil e começaram a incomodar o regime, parceiro dos americanos, que sempre negou a existência de tortura. O senador Ted Kennedy fez um discurso duro no Senado americano. Jornais americanos e europeus cobravam uma resposta ao apoio de seus governos a regimes que cometiam violações aos direitos humanos na América Latina. Os militares brasileiros também endureceram verbalmente. O chefe do Estado Maior do I Exército, general de brigada Carlos Alberto Cabral Ribeiro, soltou o ofício:

O paciente não se encontra preso por ordem nem à disposição de qualquer organização militar deste Exército. Esclareço, outrossim, que, segundo informações de que dispõe este Comando, o citado paciente quando era conduzido por agentes de segurança, para ser inquirido sobre fatos que denunciam atividades subversivas, teve seu veículo interceptado, empreendendo fuga para local ignorado, o que está sendo objeto de apuração por parte deste Exército.

Todas as esferas usaram o jargão “paciente”, não “detido” ou “preso”. Ou os torturadores se apropriaram do jargão das esferas superiores? O general Sylvio Frota reiterou ao STM:

O paciente não se encontra preso por ordem nem à disposição de qualquer OM deste Exército. Esclareço, outrossim, que, segundo informações de que dispõe este Comando, o citado paciente quando era conduzido por agentes de segurança, para ser inquirido sobre fatos que denunciam atividades subversivas, teve seu veículo interceptado por elementos desconhecidos, possivelmente terroristas, empreendendo fuga para local ignorado, o que está sendo objeto de apuração por parte deste Exército.

Estavam todos afinados: Exército e Aeronáutica, que entregou o paciente ainda vivo e com condições de ser interrogado para o Exército. Em 23 de março de 1971, depois de o STM pedir informações ao brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, que prendeu meu pai e o levou para a 3a Zona Aérea, ele mentiu descaradamente num ofício endereçado ao Tribunal Militar: “O sr. Rubens Beyrodt Paiva jamais esteve preso nesta Grande Unidade ou Unidades subordinadas a este Comando”. O STM negou o habeas corpus.

Onde ele estava? Quem podia nos ajudar? Era o Brasil do AI-5. Mas tinha uma brecha: apesar de o ato ter suspendido a garantia de habeas corpus para crimes contra a segurança nacional, não excluiu o dever de comunicação da prisão nem autorizou a manutenção de suspeitos, por tempo indeterminado, em estabelecimentos oficiais ou clandestinos, sob a responsabilidade de agentes do Estado.

Minha mãe passou a frequentar Brasília. Na teo­ria, aquele regime tinha ainda um braço de civilidade, o Congresso, e organizações da sociedade civil. Houve denúncia na Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Houve denúncia da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e na Associação Brasileira de Imprensa (ABI). O ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, surpreendeu e disse que meu pai logo seria solto. Um coronel pediu dinheiro para meu avô Paiva para acelerar a soltura. Oficiais diziam que ele estava preso em Fernando de Noronha. Numa base no Xingu. Tudo mentira. Todos sabiam que era mentira. O alto escalão do governo sabia que era mentira. Jornalistas sabiam que era mentira. Menos a minha mãe, que queria acreditar que ele estava vivo, que precisava acreditar, e conheceu senadores que não serviam para nada, deputados que não legislavam, um poder corroído pelo autoritarismo, corrompido até a alma, juízes que não julgavam, tribunais que mentiam, um poder de fachada, uma mentira para dar legitimidade a uma ditadura e a milicos que mandavam e desmandavam e metiam medo, lia uma imprensa vaga, sob censura ou, pior, condescendente, via uma TV que se omitia, acovardava-se.

Cinco meses se passaram, e nada.

Callado testemunhou: minha mãe já esteve tranquila. Buzaid, o próprio ministro da Justiça, também de Santos, também despachante aduaneiro, como meu avô paterno, Jayme Paiva, colegas de ofício, garantira que meu pai seria solto. Seu marido sofreu alguns arranhões, dona Eunice, está se recuperando e será solto logo, logo.

Só no final de junho ela recebeu uma carta escrita à mão da professora das minhas irmãs, Cecília, que reconheceu no álbum de fotografias do DOI. Ela estivera presa com meu pai. E decidiu contar o que aconteceu. Só então o quebra-cabeça começou a ser montado. E Poliana parou de sonhar:

Rio de Janeiro, 30 de junho de 1971

D. Eunice. Tendo lido nos jornais notícias desencontradas e mesmo alarmantes, imagino o sofrimento da senhora e das meninas, minhas ex-alunas do Colégio Sion, quanto ao paradeiro do dr. Rubens. Gostaria de minorar, de algum modo, a sua angústia, dando-lhe conhecimento do que sei a respeito do seu marido.

No dia 20 de janeiro último, estando eu no quartel da 3a Zona Aérea próximo ao aeroporto Santos Dumont, quartel onde permaneci por algumas horas, fui transportada por elementos que usavam trajes esporte e que se diziam das Forças Armadas, para o quartel da Polícia do Exército, o DOI, que era mencionado pelos mesmos elementos como “Aparelhão”. Sentado, ao meu lado, no automóvel, estava seu marido, o dr. Rubens Paiva.

Chegando no mencionado quartel, fomos desembarcados eu e seu marido.

A senhora deve compreender que ainda não me sinto em condições de descrever as horas angustiosas por que passei, mas posso garantir que, nesse mesmo dia, ouvi a voz do seu marido sendo interrogado. Ouvi perfeitamente quando ele declarava seu nome, estado civil, naturalidade etc. Ele estava ao meu lado, embora eu não pudesse vê-lo, de vez que tinha a cabeça coberta por um saco que me impedia a visão.

Na noite de 20 de janeiro a 21 no mesmo quartel várias vezes me foi perguntado meu nome, ocasiões essas em que ouvi as mesmas perguntas serem dirigidas ao seu marido, que as respondia. Lembro-me de que, algumas vezes, ele dizia Rubens Paiva, e lhe exigiam o nome completo: Rubens Beyrodt Paiva. Ainda na manhã do dia 21 ouvi o dr. Rubens pedindo água, e esta foi a última vez que ouvi a sua voz, pois na tarde desse mesmo dia fui transferida para outro local.

Esperando que esta notícia lhe traga algum consolo, faço votos de que brevemente esteja a família toda reunida e despeço-me com um abraço amigo para todos e especialmente para as minhas ex-alunas Vera, Eliana e Ana Lúcia.

Cecília Viveiros de Castro

Minha mãe não entendeu a relação dos dois. Só se conheciam de reuniões da escola.

Dias depois, a Procuradoria-Geral da Justiça Militar soltou um parecer sobre a prisão. Já usavam o termo “desaparecimento”:

Embora se procurasse explorar o fato por todos os ângulos, inclusive na imprensa estrangeira, o que facilmente se depreende da leitura dos autos, finalmente, nada tem as Forças Armadas com esse desaparecimento ou mesmo sequestro. E é o importante para essa Justiça Especializada.

Em 28 de julho de 1971, ainda sobre o pedido de habeas corpus, o parecer foi reiterado pelo Procurador- -Geral da Justiça Militar, Ruy de Lima Pessoa:

O paciente não se encontra preso por ordem nem à disposição de qualquer OM deste Exército. Não se deve pôr em dúvida a palavra oficial, como pretende o Impetrante, tergiversando os fatos com base em noticiário jornalístico, onde interesses diversos sobrelevam-se encobrindo a realidade. Assim, não se encontrando o paciente preso e inexistindo autoridade coatora, não se deve tomar conhecimento do pedido, salvo melhor juízo.

Em 2 de agosto de 1971, o STM encerrou o assunto:

Em face das informações da autoridade havida como coatora, de que o paciente já não se encontra preso, o tribunal, por unanimidade de votos, julgou prejudicado o pedido, sem prejuízo de apuração, na forma da lei, dos fatos objeto das diligências em curso no Comando do I Exército.

O ministro e comandante do I Exército, general Syseno Sarmento, nem apareceu na sessão. Um jornalista do lendário e independente Jornal do Brasil, Fritz Utzeri, dos poucos que não tinham medo, que continuaram em contato, em que confiávamos, confirmou para a minha mãe que meu pai não seria solto, que foi morto, e seu corpo, desovado. Que ouviu do próprio presidente do Brasil, general Médici, a frase “morreu em guerra”.

Não sei a data exata em que ela descobriu a verdade. Foi quando parou de sorrir por muitos anos. Foi a gota d’água: não tínhamos mais nada o que fazer no Rio. Nos mudamos para Santos.