Em 1999, quando fez setenta anos, minha mãe surpreendeu a família. Anunciou que se aposentaria e se mudaria para uma praia. Mais uma Eunice se remontava dos cacos. Vivia um momento pessoal único: filhos crescidos, missão cumprida, dinheiro na conta, bens, netos, não devia nada a ninguém e tinha uma boa aposentadoria. Com o atestado de óbito do meu pai, pôde concluir os inventários dos meus avós Paiva, pais do meu pai, que morreram anos depois dele, e do próprio. Pôde tocar um processo contra a União para receber o seguro de vida, uma pensão e os salários atrasados, ação civil que corria no Rio.
Mas advogado não se aposenta da noite para o dia. Algumas ações ainda corriam na Justiça. Alguns recursos. Sua solução foi pragmática: deixava São Paulo aos poucos e passaria cada vez mais dias na praia. Que praia?
Pensou no litoral norte de São Paulo: Juqueí, onde morava sua irmã Tory; Ubatuba, onde tínhamos um terreno na paradisíaca Itamambuca; Santos, onde passou a vida toda em férias; Guarujá, perto de São Paulo... Chegou a visitar as cidades. Assustou-se com o trânsito e a muvuca de fim de semana. Se decepcionou com a falta de infra para velhos. Tomou então uma decisão corajosa e incrível: vou voltar para o Rio de Janeiro. Claro. Por um período, foi tão feliz lá. Foi onde teve a vida interrompida. Foi onde o tempo parou e se perdeu, seguiu uma rota imprevisível. Tenho setenta anos. Meus traumas estão solidificados. Meus pesadelos rareiam. Sou a mesma, e outra. No mais, amo esta maresia, este cheiro de mangue aterrado, este calor, o som do mar do Leblon, o formato das ilhas Cagarras, o mate com limão, a água de coco, a areia, meus pés na areia, a imprevisibilidade da meteorologia, o dia de sol, a manhã nublada, o vento que leva areia, a tempestade tropical, o Cristo Redentor, a mata nas montanhas, a pedra, a Lagoa, o chão coberto por folhas das amendoeiras, mangueiras, jaqueiras, figueiras italianas grossas ocupando toda a calçada, as figueiras microcarpas, religiosas, flamboyants, tipuanas, os coqueiros da areia, as palmeiras imperiais do Jardim Botânico e do Palácio do Catete, trazidas por dom João VI, o resistente pau-brasil do parque da Catacumba, os humores do Jardim de Alá, por vezes com uma água verde-pérola, por vezes poluído e fedido, o mar de tombo, o mar de ressaca, o mar com correnteza, o mar piscina, calmo, os eventuais golfinhos, as eventuais arraias gigantes e baleias que saltam, os meninos do Rio, a carioca sangue bom, a ginástica na orla, as bikes, os skates, os bebês do Baixo Bebê, as calçadas planas, largas, da Zona Sul, as livrarias, as amiguinhas.
Comprou um apartamento no condomínio Selva de Pedra, no Leblon, a uma quadra da Lagoa, a duas de Ipanema. Justamente no condomínio em que praticamente só morava milico, construído sobre os escombros da favela do Pinto, incendiada em 1969. Imaginei encontrar majores e capitães na reserva pelos elevadores. Imaginei que se cumprimentariam com educação. Sim, foi o que aconteceu.
Comprou no décimo sétimo andar, o mais alto, de um prédio em que moraram capitães e majores. Alguns moravam lá ainda. Da janela, dizia, dá para ver o mar. De fato. Apesar de estarmos a cinco quadras da praia, é um dos prédios mais altos do Leblon. Da janela, vê-se uma pequenina faixa azul. O mar! E a pedra dos Dois Irmãos. Da janela da sala, veem-se o Jockey e a Lagoa. Se esticamos a cabeça para fora, vemos o Cristo. Decretado, vou morar aqui, envelhecer aqui, neste três quartos pequeno, morrer aqui. Minhas filhas que moram fora podem me visitar. Meus netos também. Deixarei dois quartos para hóspedes. Se precisar ir para São Paulo, vou de Vasp. A passagem está oitenta reais. E, a cada nove viagens, a décima é de graça.
Em 2000, mudou-se sem se desfazer ainda do apê de São Paulo. No começo, passava dez dias no Rio, vinte em São Paulo. Aos poucos, a matemática se inverteu. Trocou móveis praianos improvisados por uma decoração leve, móveis de juta, ar-condicionado na sala, TV a cabo, internet. Aos poucos, começou a se irritar com a presença de filhos e netos, dividir a rotina, algo que ela não dividia havia décadas. Sentiu-se invadida. Metódica, quase obsessiva, fazia o mesmo caminho para ir à praia, sentava-se na mesma barraca, em frente à casa em que morou por seis anos e foi feliz, casa em que fomos presos e não existe mais, em que organizou a rede de vôlei em 1970, que tinha Marieta Severo e Chico Buarque como frequentadores, na Delfim Moreira, sua Delfim Moreira. Ficava a poucos metros de onde ficava com meu pai quarenta anos antes e não abria mão do seu mate, como há quarenta anos, do mergulhinho no mar em que meu pai tantas vezes nadou.
Estava radiante e novamente magra e queimada do sol. E irritadiça, pois não queríamos ficar naquela faixa de areia, mas circular, não queríamos ir pela praça, mas pela Fadel Fadel e comprar jornais paulistas na banca, não queríamos almoçar ao meio-dia e meia, encontraríamos amigos no BG, Bar Lagoa, Academia da Cachaça, Jobi, Braca, sei lá, ou lancharíamos rápido no Bibi Sucos ou no Big Polis, ou talvez nem jantaríamos. Estávamos de férias. Ela, na casa dela. Um dia, desabafou: disse que deixaria aquele apartamento para nós, os filhos e netos, insensíveis intrusos, venderia o seu de São Paulo e compraria outro só para ela. No Leblon, claro. O que não chegou a fazer.
Fazia amigos: o cara da barraca, os porteiros, o encanador (que no Rio é bombeiro), o cara da banca, o chaveiro. Durante uns cinco anos, podemos considerar que viveu lá de novo. Até hoje, quando ando pelas ruas do Selva de Pedra, muita gente vem falar comigo, perguntar dela, mandar lembranças. Param o que estão fazendo, atravessam as ruas para saber dela. O chaveiro, que tem um quiosque numa esquina, sempre emocionado:
— Mande lembranças pra sua mamãezinha, ela falava sempre de você, tinha muito orgulho de você.
Scott Fitzgerald dizia que não há segundo ato na vida dos americanos. Então começou o quarto ato da vida da minha mãe. O mais injusto, cruel, definitivo, que deu densidade à sua tragédia.
Até então, acreditava-se que a memória era compartimentalizada num reservatório, numa parte do cérebro, que os pensamentos a elaboravam, a interpretavam e a engavetavam por lá. Sabemos agora que não. Ela não fica armazenada em uma seção exclusiva, mas espalhada pelo cérebro todo, vive em sinais e impulsos eletromagnéticos. As lembranças se movem pelo cérebro. Não à deriva, pois a qualquer momento neurônios constroem milhões de novas conexões e as resgatam. O circuito neurológico se modifica a cada segundo. Somos diferentes em cada instante que vivemos. Temos um cérebro diferente a cada segundo. E quando lembramos algo, as conexões mudam fisicamente a memória de lugar.
Trocar os nomes dos filhos, ela sempre trocou. Como qualquer mãe que tem cinco filhos e pensa em cinco coisas ao mesmo tempo. Esquecer o que estava fazendo, normal. Quem nunca esqueceu. Uma amiga que se hospedou conosco no Rio me perguntou confidencialmente:
— Sua mãe tem Alzheimer?
Ri, surpreso. Era como se perguntasse se minha mãe era astronauta e estivera nas missões Apollo. De onde você tirou isso? Olha, chequem direito, cuido da minha avó, que tem Alzheimer, estudei tudo da doença, sua mãe não está distraída, ela pode ter começado a desenvolver a doença.
Estranhamente, Nalu, que tinha passado uns dias com ela, reparou que ela estava confusa com contas e dinheiro, atrapalhava-se com algo com que era profundamente precavida. Nos avisou, antes de voltar pra Paris:
— Mamãe está tão estranha...
E estava mesmo. Certa vez, a vizinha da porta da frente do Rio contou que estava saindo, chamou o elevador, minha mãe a viu, papeou com ela, o elevador chegou, minha mãe falou que ia descer com ela. Só que estava de camisola. A vizinha a alertou. Ela ficou sem graça e disse que havia desistido de descer. A vizinha nos avisou.
— Sua mãe não está bem.
Começou a ficar confusa com procedimentos de viagem, cartão de crédito, cartão de embarque, bagagem, tíquete, portão, embarque, procedimentos de voo, portas em automático, apertem os cintos, poltronas na vertical e mesinhas guardadas, no caso de despressurização da aeronave... Lembramos que não é permitido fumar nos lavatórios. Taxiando, aqui é o comandante, nosso tempo de voo... Decolagem, serviço de bordo, Coca Diet? Guaraná? Com gelo ou sem? Pouso autorizado... Desembarque autorizado. Não se esqueçam das bagagens de mão. Conexão? Mala na esteira. Táxi, senhora? Os amarelos são comuns. Azuis, vermelhos e verdes, especiais, de frota. Qual caminho, pela orla ou pelo Humaitá?
Passou a vir do Rio e voltar para lá guiando, sozinha. Seis horas de estrada num Escortinho 1.0 sem ar-condicionado. Por vezes, com pressa, aflita para chegar logo, nem parava. Numa dessas, desmaiou assim que entrou no apê carioca. Sozinha. Desidratada. O que a assustou. Não estou bem.
Não, não estava. Comprou duas televisões de uma vez numa loja, sendo que não precisava de nenhuma. Ela mudou de canal no aparelho de TV, não no de TV a cabo, e apareciam apenas imagens com riscos e chiados. Foi na loja, comprou uma TV nova. No caixa, perguntou:
— O que vim mesmo fazer aqui?
Comprar uma TV, lembraram. Ela foi ao balcão e comprou outra. Com três TVs funcionando em casa, percebeu que começava a entrar em roubadas.
Cuidado com a indústria de aproveitadores de portadores de demência, nos alertou um médico amigo. Não é possível, minha mãe tem uma demência? Depois de tudo o que passou? Justamente agora, quando ia curtir a velhice com dignidade, independência, conforto, situação financeira estável, na cidade mais linda do mundo? Como Deus pode ser tão imprudente e imputar tanto sofrimento a uma pessoa só? Essa doença não era para acontecer, não tinha que acontecer, não nela! Por que provação mais a minha família devia passar? Por que nos testavam até o limite? Chega! Queríamos um descanso.
Não teríamos.
Dizem que o Alzheimer é causado pela morte de pequenas células do cérebro. O nome vem do médico Alois Alzheimer, o primeiro a descrever a doença, em 1906. Ele viu as alterações no cérebro de uma paciente de cinquenta e cinco anos durante a autópsia. Falam da falta de uma proteína que faz as ligações nervosas (as principais alterações são o aparecimento de placas senis no cérebro, decorrentes do depósito da proteína beta-amiloide, e um emaranhado de neurofibrilares, resultado da hiperfosforilação da proteína Tau). A cada semana, novas descobertas sobre a doença que se torna uma epidemia dos tempos modernos. Perdem-se as funções cognitivas, memória, orientação, atenção, linguagem. Perdem-se os sentidos, a degustação, o olfato. Pacientes param de andar, porque se esquecem de como se anda. No final, param de comer, porque se esquecem de como é engolir. Há redução de neurônios e das sinapses, as ligações entre células do cérebro. O volume cerebral se reduz. Muitas velhinhas gagás, esclerosadas do passado, na verdade tinham Alzheimer. O paciente está com a doença há tempos, mas só a descobre tarde demais, na fase demencial, e não há como retroceder, apenas como retardar. Ela começa aos poucos, como numa escada, desce bruscamente de degraus, chega inexoravelmente numa outra fase, sempre pior que a anterior.
Drauzio Varella estima que dez por cento das pessoas com mais de sessenta e cinco anos e vinte e cinco por cento daquelas com mais de oitenta e cinco anos podem apresentar sintomas da demência. O tempo de sobrevida é incerto. Genético? Ninguém sabe. Sedentarismo? Já alertei: afinal, o cérebro, como todo o corpo, precisa de atividade, oxigênio, para viver bem. Fumo e tabaco podem ser uma causa. Poluição das grandes cidades também. Outros atribuem às frequências e ondas de rádio que estão em toda parte. Minha mãe morava a quadras da avenida Paulista, onde ficam as torres da maioria das emissoras de rádio e televisão, fumou Parliament durante décadas. Não comia muito. Era fã de saladas e laranjas. Falava várias línguas. Exercitava o cérebro diariamente. Lia de tudo. Andava pelo bairro, mas exercícios...
Drauzio dividiu a doença em:
Estágio I (forma inicial): — Alterações na memória, na personalidade e nas habilidades espaciais e visuais.
Estágio II (forma moderada): — Dificuldade para falar, realizar tarefas simples e coordenar movimentos; agitação e insônia.
Estágio III (forma grave): — Resistência à execução de tarefas diárias, incontinência urinária e fecal, dificuldade para comer, deficiência motora progressiva.
Estágio IV (terminal): — Restrição ao leito, mutismo, dor à deglutição, infecções intercorrentes.
Eu, como “familiar”, acrescentaria:
Estágio I: Alterações na memória, início do inexplicável, do contrassenso, revolta em todos, não é justo, não é justo, reorganização dos papéis dos filhos, não temos mais uma mãe, mas teremos de ser uma; a dificuldade da paciente em assumir a doença e limitar as atividades, teimosia entra em campo, não quero, não vou, mudança do paladar, tudo está uma porcaria, sem sal, sem gosto, sem açúcar, tudo está malfeito, está um barulho infernal, aquelas pessoas não param de falar, estão gritando, calem a boca!
Nesse período, a paciente faz de tudo, mas não registra com precisão. Lê com dificuldade textos longos, mas ainda lê jornal. Vai ao banco, à farmácia, vai ao cinema.
Ela voltou para os Jardins, o apê que ainda mantinha em São Paulo, voltou a ficar mais tempo nele do que no Rio; os filhos, em Perdizes. O médico nos disse: mudem-na para perto de vocês. Como mudar alguém que perde a memória de um lugar em que vive há trinta anos, chama o cara da banca de Portuga, pendura fiado na padoca, vai a pé à farmácia, ao banco, às lojas de congelados, compra Parliament no boteco da esquina, para um lugar desconhecido? Aí está o paradoxo, se ela ainda tem capacidade de memorizar, é bom mudar agora, para aprender a se virar no bairro novo, socializar-se enquanto ainda tem capacidade cognitiva, comunicar-se, interagir.
Na entrevista com o médico, ela surpreendeu. Depois do teste do relógio (desenhar um relógio, os números de um a doze e os ponteiros; o paciente com Alzheimer se atrapalha, escreve os números fora da ordem correta, às vezes de um a dez, ou desenha ponteiros do mesmo tamanho), teste mais primário e conhecido de neurologistas e geriatras, que ela não acertou. O médico perguntou como se sentia:
— Estou ótima, tenho ido muito ao Rio, temos um apartamento ótimo lá, com vista para o mar, tenho me sentido muito bem ultimamente.
— Mamãe, faz mais de um ano que você não vai ao Rio — comentou Veroca, que estava com ela.
— Vou, sim, vou direto, tenho me sentido muito bem ultimamente.
Não somos nada sem o outro. Num registro pequeno de lucidez, mora ainda a necessidade de sedução, de agradar, de ser agradável. O médico percebeu, claro. E disse, emocionando a filha:
— A inteligência tem a capacidade de surpreender e se readaptar a todas as situações.
Ser cuidada por nós a aliviava. Receber atenção dos filhos, de profissionais, deixava-a feliz. Em alguns momentos, se esquecia de que tinha a doença do esquecimento.
Em 25 de abril de 2004, ela estava bem. Lúcida. Sem nenhuma dificuldade para andar. Na edição da Folha dos vinte anos das Diretas Já, os artistas e intelectuais voltaram ao heliporto do jornal, onde haviam posado para a famosa foto de 1984. Ela foi. E sorriu.
7 de outubro de 2006. A morte do amigo Fernando Gasparian, aos setenta e seis anos de idade, foi um baque. Gaspa era seu amigo, antes de se tornar o melhor amigo do meu pai. Tinham a mesma idade, as mesmas ideias, os mesmos costumes. Por causa de Gaspa, nos mudamos para o Rio. Estudamos nas mesmas escolas dos filhos dele. Os dois eram unha e carne. Talvez, se meu pai estivesse vivo, estaria também morrendo naquele ano de 2006. Fumante e sedentário. Agora, sim, ela seria viúva. Gaspa deixou tia Dalva viúva. Os filhos, órfãos. Um legado de respeito na política e no jornalismo, na Editora Paz e Terra e nos negócios. Engenheiro do Mackenzie, como meu pai. O velório foi em São Paulo, na Assembleia Legislativa, no salão principal, com honras de Estado. Minha mãe estava bem. Não estava triste. Estava estranhamente bem, reencontrava amigos, contava novidades. Como você está, Eunice? Estou ótima. Estava serena. Pés no chão. É a vida. Vai nos levar também. Logo, logo iremos todos. Vivemos e partiremos. Estava feliz de rever tantos amigos. De papear, saber as novidades. Foi o último velório a que compareceu. Foi a última vez que viu a maioria dos amigos. Que rendeu homenagens ao passado, à memória, à vida.
Finalmente, decidiu vender todos os quadros. Quadros que com meu pai colecionou por toda a vida. Chegou a chamar Cacau, uma amiga antiga nossa, de quem fez o divórcio, que catalogou, ofereceu a um marchand, que se interessou. Na última hora, desistiu. Vendeu apenas um, pois se surpreendeu com o preço oferecido, ela não dava nada por ele, e precisava fazer caixa, pois não conseguíamos vender seu antigo apê dos Jardins, com apenas UMA vaga na garagem, o que nenhum paulistano quer. Decidiu então onde pendurar cada quadro no apê novo, a cor da parede, a reforma, fez tudo do seu jeito, com a autoridade que não ousávamos desafiar.
Mudamos. Que guerra. Odiou tudo. O novo bairro, a nova padoca, a nova esquina, o ponto de táxi, o banco ruim, a farmácia sem concorrência. Passou a morar num apê menor, mais aconchegante, com uma das melhores vistas de São Paulo e duas varandas: veem-se de lá a Cantareira, Guarulhos, Jaraguá, Osasco, até a USP. Mais silencioso e menos poluído do que os Jardins. Odiou tudo.
E não era o Rio, não tinha a vista do mar e da Lagoa.
Na mudança, fez coisas inexplicáveis, como jogar todos os papéis e processos arquivados fora. Ódio por ter se aposentado na marra. Ódio por não poder ler processos, acompanhar suas ações. E mandou doar todos os livros, os mais de cinco mil livros, muitos deles com o nome do meu pai na lombada encadernada, muitos deles lidos por meu pai, sublinhados e com anotações à caneta, livros de arte, de direito, todos os prêmio Nobel, enciclopédias, literatura russa, francesa, americana, brasileira... Doei tudo para a Biblioteca Municipal de Diadema, que precisou de dois carretos para levar.
Ela ficou apenas com dois livros, um Feliz ano velho em alemão e a Bíblia.
Sua rotina era banal. Lia jornal todas as manhãs, como em toda a vida, comia pão francês fresco, como em toda a vida, congelados, fazia a feira em frente, pedia comida da lanchonete do prédio, dava um rolê pelo bairro e odiava tudo. Íamos ao cinema. Conseguia acompanhar uma trama, contanto que não fosse um David Lynch. Preferia as comédias infantilizadas. Ria do trailer animado em que pipocas ganham vida para pedir para não fumarmos e desligarmos os celulares etc., que nos tratam como loucos que não sabem que não se pode fumar. E, num outro filme, ria de novo do mesmo trailer animado, das mesmas pipocas que falam. Uma semana depois, em outro lançamento, ria de novo daquelas pipocas falantes. Como se as visse pela primeira vez. Como uma piada nunca contada.
Na sua casa, tudo era identificado. Colocou post-its em gavetas, embrulhos, tupperwares. Gaveta disso e daquilo, armário com isso e aquilo.
Comer fora era um problema. Ficava revoltada que em alguns pratos não vinha arroz. Mas, mãe, na lasanha não vem arroz. Nhoque não vem com arroz. Você pediu filé com fritas, não vem arroz. E lá íamos nós à cozinha pedir encarecidamente uma porção de arroz, que depois ela reclamava que estava sem sal e praticamente descarregava o saleiro nele, no “des-gra-ça-do!” do arroz.
O mau humor acirrava. Passou a andar com uma caderneta. Enquanto almoçávamos, ela anotava algo na caderneta. Perguntávamos o que era. Ela perguntava o nome e endereço do restaurante. Anotava e dizia que nunca mais colocaria os pés naquele lugar, que a comida era uma “por-ca-ri-a”!
No início, nos afligia, nos entristecia não satisfazê-la. Tudo era uma “por-ca-ri-a”. O que fazer com ela? Os almoços se tornavam um tormento, reclamava, às vezes gritava, às vezes pedia silêncio, em pleno restaurante “des-gra-ça-do!”. Chegou a brigar com moradores que jogavam truco na lanchonete do prédio. Mas, naquele caso, foi apoiada. Eram moradores antigos que passavam o fim de semana com uma garrafa de uísque na mesa, jogando truco aos berros, xingando, falando merda na lanchonete da piscina com crianças. A briga ficou famosa. Ganhou respeito dos porteiros e de outros moradores. Muitos não aguentavam aquele truco desbocado. O fato é que uma tradição de anos foi rompida. Aqueles moradores nunca mais jogaram truco. Não na lanchonete da piscina.
Por vezes, a agressividade era contra nós. Exatamente quem cuidava dela, quem deixava de fazer coisas por ela, quem abria mão de viagens e trabalhos por ela, quem se sacrificava por ela. É duro aprender que a agressividade não era contra um filho ou por algo de errado que havíamos feito. Era a doença que gritava. Era a doença que agia e a mobilizava. Os efeitos dela nos agrediam. Aceitar o mau humor como um efeito colateral da doença é um processo que demora. Anos. Sair com ela em público podia trazer problemas. Ela podia implicar com alguém.
— Por que está me olhado? Nha-nha-nha. Falem baixo, por favor! Não gosto dela. Não gosto de você.
Ou o grito que se tornava constante:
— Quero ir embora!
Não, não é sua mãe, é outra pessoa, sua mãe não diria aquilo, logo ela, Eunice, a rainha da etiqueta, do bom senso, da sobriedade, da educação. Não era mamãe me xingando, gritando comigo. Era a falta dela em seu próprio cérebro. Era ela ausente do seu corpo. Era o seu apagar que agia com brutalidade nos gestos e nas palavras.
E foi exatamente quem não era filho dela, meu cunhado Avelino, um carioca gozador, um dos que mais conviveu com ela, quem se tocou disso. Foi ele que passou a rir da agressividade. Passou a rir dela. Passou a concordar com ela. Sim, também quero ir embora, falem baixo, é uma por-ca-ri-a.
Concordar passou a ser o tranquilizante que faltava. Concordar era nosso remédio. Concordar acabava com a discussão. Ela se acalmava. Até ria. E pensava em outra coisa. Esse processo de convívio com o gênio instável, de altos e baixos e sem lógica, especialmente de alguém que seguiu a vida nos trilhos da lógica, e de como transformar a inconformidade em piada, foi um segredo que aprendemos quase casualmente com o tempo.
Tudo era uma “por-ca-ri-a”. Tudo para nós passou a ser também uma “por-ca-ri-a”. O almoço, o lanche, o bairro, o banco, uma “por-ca-ri-a”! Então entramos numa segunda fase do Alzheimer, quando não ligamos mais que tudo fosse uma “por-ca-ri-a”, passamos a entender a doença, a separar a pessoa de antes e depois, a não levar as ofensas para o lado pessoal, e passamos a rir das situações.
Entramos no segundo estágio de uma doença que afeta a família toda. A família toda, todo o condomínio, o bairro todo.
Estágio II: Todos passam a saber que ela, aquela senhora do apartamento X, bloco 1, precisa de atenção. Todos são avisados para olhar seus passos. Os seguranças e porteiros ficam de olho. Os vizinhos vigiam seus passos. No banco, a gerente sabe que há ali quem não presta muita atenção, que merece cuidado redobrado.
Então, como por um milagre, a paciente aceita a doença, sua condição de ser cuidada, observada, controlada. Depois da quarta panela esquecida no fogo, de se perder na quadra, de comprar duas televisões, de não conseguir acompanhar nem as comédias fáceis em que a levam toda semana, de ter que ler cinco vezes a coluna do filho no jornal para entender mais ou menos o que ele quer dizer e de começar a se esquecer de nomes e rostos que ela sabe que conhece.
Irritava-se, numa época, porque todos chegavam uma hora atrasados nos eventos familiares, almoços e jantares. Estávamos sempre atrasados, a vida inteira chegávamos atrasados, que falta de consideração! Então alguém se lembrou:
— Mãe, você mudou os relógios para o horário de verão?
Não tinha mudado. Ela não lera que era horário de verão, que os relógios deveriam ser adiantados uma hora nas regiões Sul e Sudeste. Ficou envergonhada com a imprudência e nunca mais reclamou dos atrasos.
A essa altura, em 2008, ela já estava interditada temporariamente e, mesmo à revelia, com cuidadoras durante o dia. Como as insônias eram constantes, acordar no meio da noite era o verdadeiro pesadelo, pois ela não sabia onde estava. Passou a telefonar duas, três vezes para os filhos, na madrugada, para fazer perguntas banais.
Começou então a ter cuidadoras dia e noite, vinte e quatro horas por dia, sete dias da semana, trezentos e sessenta e cinco dias do ano.
Aceitou com resignação a doença. Tudo continuava uma por-ca-ri-a, sem gosto, sem sal, sem tempero, a conversa dos outros era um tormento, o barulho de uma TV sempre estava alto demais, começava o quero ir embora, vou embora, vou embora já!, tem que ser já!, agredia pessoas que amava, criticava.
Foi quando, pelo amor de deus, doutor, dá um antidepressivo para ela, um moderador de humor, um conhaque, qualquer coisa. Então o médico disse que tais medicamentos reduziriam a capacidade cognitiva já abalada. Mas viver assim, sempre num estresse, sem dormir? Pequeno conflito entre a visão clínica e a do dia a dia. O médico faz testes, a vê eventualmente e tem a literatura de uma doença que ainda é uma incógnita e não tem cura. A família sabe mais como o paciente reage. O tratamento é com remédios que minoram os sintomas, mas não existe cura.
— O maldito alemão — como dizia um vizinho dela, bem mais jovem, também com Alzheimer. Quando ele se esquecia de algo, falava:
— Me deixa em paz, alemão, sai!
Era muito mais bem-humorado do que ela. Era da mesa de truco. Fumava e bebia um bom uísque a tarde toda. Com ou sem o alemão impronunciável ao lado. Seria o meu tratamento, a minha prescrição, com um cigarrinho pra arrematar.
É uma doença que ataca toda a família. De repente, é preciso se reestruturar: alguém tem que cuidar dela, arrumar cuidadoras, registrá-las, internar ou não internar, levá-la ao dentista, ao cabeleireiro, à missa!
Sim, à missa!
Religiosamente, todos os domingos, às onze da manhã, na igreja do bairro. Minha mãe sempre gostou de missa. Voltou a ser católica praticante depois de velha.
No Rio, ia a pé, sozinha, à missa das seis da tarde de domingo de uma igreja da Ataulfo de Paiva, de casa ouvíamos o badalar dos sinos. Em São Paulo, ia com a Veroca. Às vezes de táxi, com outra de minhas irmãs. Ou uma cuidadora. Sem referendar o avô materno italiano, que cantava à mesa: “Quando l’anarchia verrà, tutto il mondo sarà trasformato e nei governi sarà il ricordo d’infame passato”.
Minha mãe assistia à missa com uma visão crítica. Não falava do papa alemão, o mais reacionário dos últimos tempos, conservador que perseguiu teólogos da libertação e condenava até o uso da camisinha. Mas do padre que dizia “Senhor Jesus Cristo”, as músicas novas, novos rituais litúrgicos, desnecessários, que afastavam seus líderes de seus seguidores.
— Jesus não era nenhum senhor, era um jovem! — ela dizia, irritada, toda vez que a liturgia repetia “Senhor Jesus Cristo”. E dizia em alto e bom tom.
No Estágio II, a igreja fez bem a ela. Devolveu uma adolescência esquecida da escola católica em que estudou. Devolveu um conforto, uma paz. Ela fez amiguinhos. Não perdia uma missa. Com o tempo, parou de criticar e passou até a comungar. Sempre dava de cinquenta a cem reais para a igreja. Tínhamos que nos lembrar, sempre, de levar dinheiro para a doação. E Jesus Cristo passou a ser um senhor.
Mas, enfim, o bom senso venceu. Depois de eu insistir que algo tinha que ser feito para moderar seu humor, o médico concordou: ela entrou num bem-vindo antidepressivo clássico, o Donaren, um best-seller das farmácias. Que também ajuda a dormir. A fórmula que faltava, a magia perfeita.
Então chegou de repente a nova fase.
Estágio III: Aqui, Drauzio falou da resistência à execução de tarefas diárias. É um inferno. Quase um pesadelo, se não desenvolvermos uma placidez contrastante com o momento, se não levarmos as vontades de alguém com Alzheimer com humor. O.k., é a sua mãe, aquela a quem você obedeceu no começo da vida, por muitos anos, na sua formação. Não quero! Não vou! Quero ir embora, quero ir embora, quero ir embora!!! Como ninguém obedece, afinal está chovendo, está sem luz, a voz de comando não obedecida se torna surto. A pessoa se sente incapaz de comandar as vontades, de decidir por conta própria, de agir sem a interferência de uma equipe dominada pelos filhos, de muitos deles ela não lembra nem o nome.
Em seguida, aos poucos, a fera é domada. Com o tempo, o “quero ir embora” não é mais um grito, mas uma súplica baixinha. Quem são essas pessoas? São sua família, mãe. O que estou fazendo aqui? É seu aniversário, mãe. Onde estou? Na casa da sua filha, mãe. Quem são essas pessoas? Suas irmãs, seus sobrinhos, seus cunhados. O que estou fazendo aqui? Vamos cantar parabéns. Quero ir embora. Você não quer comer o bolo antes? Quero.
Com o tempo, passou a se submeter às ordens daqueles que cuidavam dela. Passou a confiar. Passou a ter uma relação de afeto com as cuidadoras.
Chegou a dificuldade de andar. Não era um problema na musculatura da perna. O cérebro se esquece de como é andar. Fisioterapia nela. Vamos, primeiro o pé esquerdo, depois o direito. Então, na marcha a caminho da casa da filha, a duas quadras, os passos se encurtavam, até ela estancar. Lembrava-se do que tinha dito o fisioterapeuta, passadas largas. Ela repetia, “passadas largas”, e voltava a caminhar, com passos artificiais, como um robô, mas que a colocavam em movimento, e íamos repetindo passadas largas, passadas largas, passadas largas... Até chegar.
Meses depois, ela andava na ponta do pé e com apoio, apenas com apoio. Depois, andava só dentro de casa. Na rua, ia com a cadeira de rodas. Depois, enfim, ficava o dia inteiro na cadeira de rodas, uma cuja cor e modelo ela escolheu com a ajuda de uma fisioterapeuta; o físico estava indo antes da consciência.
Você se lembra de mim? No início, ela fazia um exercício de memória para se lembrar. Se não se lembrasse, ficava irritada, frustrada. Com o tempo, facilitou para todos e dizia, mentia, que se lembrava, claro. Até por fim encontrar a palavra certa, curta, simples, com a qual passou a se comunicar com o mundo por muito tempo: “É”.
Você se lembra de mim?
— É.
Você está com fome?
— É.
Você está confortável?
— É.
Você que ir embora?
— É.
Acabou de comer?
— É.
Vamos dormir?
— Vamos.
A inteligência tem a capacidade de surpreender e se readaptar a todas as situações.
— É!
Muitos amigos se afastaram. Amigos se afastam em doenças da mente. Amigos que não sabem lidar com as dificuldades de amigos. Não sabiam se ela se lembraria, se estaria agressiva, se atrapalhariam. Alguns me ligavam. Claro, vai lá, ela vai gostar. Iam. E ela gostava.
Quem se reaproximou com força renovada foram as suas irmãs. Que trazem coisas de que ela gosta de comer, fazem questão de falar com ela, fotografarem-se anualmente na mesma posição em que foram fotografadas quando crianças. Os sobrinhos médicos passaram a ser seus médicos. A reunião anual da italianada, em seu aniversário e na véspera do Natal, ganhou até um termo: Facciollada! Homenageamos nossos antepassados, comemos receitas passadas de geração em geração, especialmente doces italianos que não se encontram mais em São Paulo, e fazemos disputa de quem consegue trazer uma torta de cebola, que era especialidade da minha avó Olga.
A dependência é total. É dependente para se vestir, se virar, se limpar, comer, ir da cama para a cadeira e vice-versa. Por vezes, damos o que ela mais gosta, sorvete no palito, o mais incrementado. Se não ficarmos atentos, ela se esquece de que tem na mão a coisa de que mais gosta, se esquece de levá-lo à boca, perde a concentração, e ele derrete. Por vezes, dorme enquanto almoçamos juntos. De repente, está acordada prestando atenção e solta uma frase que tem a ver com o que conversamos:
— Nada disso, é uma revista que é contra todos os governos!
E nos surpreendemos com aquele segundo de lucidez, em que um raciocínio se formou, e uma ideia, uma frase, uma tese, com começo, meio e fim, foi articulada com palavras precisas. Mas, se pedimos para ela continuar, ela sorri, perde-se de novo, e diz aquilo que se tornou a marca deste Estágio III:
— É.
Dicas iniciais do dr. Drauzio:
1. Fazer o portador de Alzheimer usar uma pulseira, colar ou outro adereço qualquer com dados de identificação (nome, endereço, telefone etc.) e as palavras “Memória prejudicada”, porque um dos primeiros sintomas é o paciente perder a noção do lugar onde se encontra.
Eu escreveria PESSOA SEM MEMÓRIA. Nada de adoçar as palavras ou ser politicamente correto num momento de emergência. Minha mãe nunca se perdeu. Mas, quando saía do prédio, seguranças da rua ficavam de olho e se comunicavam. Com um desses seguranças, o mais forte, um brutamontes de dois metros de altura, ela estabeleceu uma relação de amizade peculiar. Chamava de Meu Homem de Preto, uma referência ao filme Men in Black, pois o cara tinha sempre um terno preto impecável. Era um armário. Tinha um rosto infantilizado e, por alguma razão, apegou-se demais à minha mãe. Vigiava seus passos, para a nossa sorte.
2. Estabelecer uma rotina diária e ajudar o doente a cumpri-la. Espalhar lembretes pela casa (apague a luz, feche a torneira, desligue a TV etc.) pode ajudá-lo bastante.
No começo, sim. Depois? Não faz mais sentido.
3. Simplificar a rotina do dia a dia de tal maneira que o paciente possa continuar envolvido com ela.
4. Encorajar a pessoa a vestir-se, comer, ir ao banheiro, tomar banho por sua própria conta. Quando não consegue mais tomar banho sozinha, por exemplo, pode ainda atender a orientações simples, como: “Tire os sapatos. Tire a camisa, as calças. Agora entre no chuveiro”.
5. Limitar suas opções de escolha. Em vez de oferecer vários sabores de sorvete, ofereça apenas dois tipos.
Perfeito. Coisa que aprendemos com o tempo. Mas eu não ofereceria dois tipos, não, oferecia um só. Quer guaraná? Quer sorvete de chocolate? Quer comer? Quer café? Se começar com guaraná ou coca, com gelo ou sem gelo, normal ou diet, não rola. Isso a deixa tensa, ansiosa, e tudo o que vai querer é “ir embora pra casa!”. Seja lá de que casa ela esteja falando, pois tudo passa a ser casa.
6. Certificar-se de que o doente está recebendo uma dieta balanceada e praticando atividades físicas de acordo com suas possibilidades.
Se conseguir comer algo, já é uma vitória. Se conseguir ir da sala à cozinha, idem. Tenta-se. Fisioterapia, caminhadas, mas só no começo. Cada vez mais, o esquecimento se torna dominante.
7. Eliminar o álcool e o cigarro, pois agravam o desgaste mental.
No meu caso, eu voltaria a fumar e a beber um uísque com três pedras de gelo.
8. Estimular o convívio familiar e social do doente.
Bastante. E ajuda. São os que ficam, os que nunca nos abandonam.
9. Reorganizar a casa afastando objetos e situações que possam representar perigo. Tenha o mesmo cuidado com o paciente de Alzheimer que você tem com crianças.
Especialmente se livrar dos tapetes.
10. Conscientizar-se da evolução progressiva da doença. Habilidades perdidas jamais serão recuperadas.
E tem jeito?
11. Providenciar ajuda profissional e/ou familiar e/ou de amigos, quando o trabalho com o paciente estiver sobrecarregando quem cuida dele.
Se a grana ajudar e tiver parentes com tempo livre. O fantasma da internação numa clínica sempre pairou. É inclusive o que nos aconselham advogados e médicos. Preferimos tê-la conosco, nos desdobrarmos e, na medida do possível, tentamos tornar sua rotina agradável e feliz.