Capítulo 3

Alteração de Funções Sintáticas em Questões de Interpretação

Muitas questões de interpretação de textos são resolvidas através do conhecimento gramatical. Por exemplo, existem funções sintáticas que possuem o mesmo valor semântico, como o sujeito ativo, o agente da passiva e o adjunto adnominal. Estas três funções sintáticas possuem valor ativo (agente, de quem pratica a ação), e as bancas tão somente reescrevem as frases alterando as funções sintáticas, sem modificar, contudo, a ideia contida. Em contrapartida, há também as funções sintáticas com valor paciente: os objetos, o sujeito passivo e o complemento nominal.

Ex.: O professor errou e causou estranheza a todos.

O erro do professor causou estranheza a todos.

O erro cometido pelo professor causou estranheza a todos.

Observe que o termo “professor”, acompanhado ou não de preposição, funciona, na primeira frase, como sujeito ativo; na segunda, como adjunto adnominal; na terceira, como agente da passiva. Mesmo este termo tendo funções sintáticas distintas, mantém o mesmo valor semântico. Nas três frases, é o professor que erra.

Ex.: Ler jornais é importante.

Jornais serem lidos é importante.

A leitura de jornais é importante.

Observe que o termo “jornais”, acompanhado ou não de preposição, funciona, na primeira frase, como objeto direto; na segunda, como sujeito passivo; na terceira, como complemento nominal. Apesar de o termo possuir funções sintáticas diferentes, a ideia dos três períodos é a mesma: jornais devem ser lidos.

3.1. EXERCÍCIOS

01. (NCE / TJ / Oficial de Justiça)

“Como conciliar a liberdade com a inevitável ação restritiva do Estado?”; nesse segmento do texto, o articulista afirma que:

a) o Estado age obrigatoriamente contra a liberdade;

b) é impossível haver liberdade e governo ditatorial;

c) ainda não se chegou a unir os cidadãos e o governo;

d) cidadãos e governo devem trabalhar juntos pela liberdade;

e) o Estado é o responsável pela liberdade da população.

Gabarito: A

Observe que o termo “do Estado” possui valor agente, funcionando como adjunto adnominal. Se você transformá-lo em sujeito ativo, o resultado será: “O Estado age inevitavelmente restringindo a liberdade. A alternativa A apenas substituiu “inevitavelmente” por um sinônimo: “obrigatoriamente”.

02. (NCE / TJ / Oficial de Justiça)

“O primeiro templo da liberdade burguesa é o supermercado. Em que pesem as angustiantes restrições do contracheque, são as prateleiras abundantemente supridas que satisfazem a liberdade do consumo…”; o segmento sublinhado corresponde semanticamente a:

a) as despesas do supermercado são muito pesadas no orçamento doméstico;

b) os salários não permitem que se compre tudo o que se deseja;

c) as limitações de crédito impedem que se compre o necessário;

d) a inflação prejudica o acesso da população aos bens de consumo;

e) a satisfação de comprar só é permitida após o recebimento do salário.

Gabarito: B

O termo “do contracheque” possui valor agente, funcionando como adjunto adnominal. Reescrevendo-se o período, transformando o adjunto adnominal em sujeito ativo, o resultado será: “o contracheque restringe o consumo”. No texto, “contracheque” está sendo utilizado como sinônimo de “salário”, “restringir” e “não permitir” são equivalentes, “consumir” e “comprar” possuem o mesmo valor.

03. (NCE / TJ / Oficial de Justiça)

“Não houve ideal comunista que resistisse às tentações do supermercado”.; com esse segmento do texto o autor quer dizer que:

a) todo ideal comunista se opõe aos ideais capitalistas;

b) a ideologia comunista sofre pressões por parte dos consumidores;

c) os supermercados socialistas são menos variados que os do mundo capitalista;

d) o ideal comunista ainda resiste à procura desenfreada por bens de consumo;

e) as tentações do supermercado abalaram as estruturas capitalistas.

Gabarito: B

É uma questão de inferência textual, pois você terá que deduzir o que o autor quis dizer neste segmento. Observe que o termo “do supermercado” tem valor agente, funcionando como adjunto adnominal. Transformando-o em sujeito de voz ativa, o resultado será: “O supermercado tentou (os consumidores) e não houve ideal comunista que resistisse a essa tentação (criada pelos supermercados). Depreende-se, então, que a tentação criada aos consumidores pelos supermercados fez com que a ideologia comunista sofresse pressões até não mais resistir.

04. (NCE / MP)

“…pois moedas não resgatam a dignidade.”; reescrevendo-se este segmento do texto, mantendo-se o seu sentido original, a única forma INADEQUADA é:

a) visto que a dignidade não é resgatada por moedas;

b) porque moedas não são o resgate da dignidade;

c) porquanto a dignidade não se resgata com moedas;

d) já que por moedas não é resgatada a dignidade;

e) pela razão de que a dignidade não é resgatada por moedas.

Gabarito: C

Questão muito bem imaginada, levando o candidato a pensar que a resposta sairia pelo conector. As conjunções VISTO QUE, PORQUE, PORQUANTO, JÁ QUE e PELA RAZÃO DE QUE têm valor explicativo. Portanto, não se atinge a resposta por este caminho. O termo “dignidade”, por possuir valor paciente, é objeto direto, podendo alterar sua função sintática para complemento nominal ou sujeito passivo. Nas opções A, D e E, “dignidade” se transforma em sujeito de voz passiva analítica; na C, em sujeito de voz passiva sintética; na B, em complemento nominal. Mais uma vez não chegamos à resposta. Partamos agora para uma última análise: “Moedas” funciona como sujeito ativo, podendo transformar-se em agente da passiva ou adjunto adnominal. Nas alternativas A, D e E, o termo se transformou em agente da passiva. Na opção B, continuou sendo sujeito da voz ativa. Na alternativa C, o sujeito ativo (termo que praticava a ação) foi transformado em adjunto adverbial de instrumento, ou seja, o termo perdeu sua carga semântica – de praticar a ação – e passou a ter o valor de ser um instrumento utilizado para se praticar a ação.

05. (TJ / NCE / Técnico Judiciário Juramentado)

“…a vida em sociedade é uma necessidade da natureza humana.”; reescrevendo-se este segmento do texto com a manutenção de seu sentido original, temos como forma adequada:

a) a natureza humana necessita da vida em sociedade;

b) a vida em sociedade necessita da natureza humana;

c) a necessidade da natureza humana é uma vida em sociedade;

d) uma necessidade da natureza humana é a vida em sociedade;

e) a natureza humana é necessária à vida em sociedade.

Gabarito: A

As alternativas B e E são absurdas, contradizendo totalmente a ideia do segmento, não merecendo grandes análises. Normalmente, o candidato fica em dúvida entre as opções A, D e E. Quando o texto diz “…a vida em sociedade é uma necessidade da natureza humana.”, fica claro que “uma necessidade da natureza humana” está apenas qualificando “a vida em sociedade”, não entrando no mérito se existem outras necessidades ou não. A simples inversão proposta na alternativa D sugere uma situação sutilmente diferente do texto, pois quando se informa que “uma necessidade da natureza humana é a vida em sociedade”, torna-se evidente a existência de várias necessidades, uma delas é a vida em sociedade. Na opção C, por sua vez, sendo redigido que “a necessidade da natureza humana é uma vida em sociedade”, há a sugestão de que a única necessidade da natureza é uma vida em sociedade, distanciando-se semanticamente da ideia exposta no texto. A alternativa A não altera o sentido original, modificando tão somente a função sintática de alguns elementos. O termo “da natureza humana”, possuindo valor agente, funciona como adjunto adnominal e é transformado em sujeito ativo – se é uma necessidade da natureza humana, obviamente a natureza humana necessita. Por fim, fica evidente que, tal qual ocorre no segmento original, diz-se apenas que a natureza humana necessita da vida em sociedade, não sugerindo se necessita também de mais alguma coisa ou não.