Gabarito:

1 – Certo. As principais fones sobre a África foram informações oriundas das tradições e das crônicas orais dos povos negros bem como o que anotaram, a partir do século IX, viajantes e eruditos árabes e, mais tarde, os portugueses e outros europeus.

2 – Errado. Essa informação contradiz o texto, conforme se atesta no seguinte fragmento: “o rigor de quem os compõe não afasta de todo o mito e deixa que ele frequente a narrativa e nela se imiscua”.

3 – Errado. Neste fragmento do verbete, o autor se referia a textos, mesmo que fundados sobre registros. E esses textos apenas não afastavam de todo o mito. Porém isso não quer dizer que se tratava de “transcrição de mitos transmitidos oralmente pelos povos negros.”.

4 – Errado. O texto não relaciona os personagens a cada povo.

83. (Cespe / UnB / IRBr / 2011)

Através de grossas portas,

sentem-se luzes acesas,

– e há indagações minuciosas

dentro das casas fronteiras:

olhos colados aos vidros,

mulheres e homens à espreita,

caras disformes de insônia,

vigiando as ações alheias.

Pelas gretas das janelas,

pelas frestas das esteiras,

agudas setas atiram

a inveja e a maledicência.

Palavras conjeturadas

oscilam no ar de surpresa,

como peludas aranhas

na gosma das teias densas,

rápidas e envenenadas,

engenhosas, sorrateiras.

Atrás de portas fechadas,

à luz de velas acesas,

brilham fardas e casacas,

junto com batinas pretas.

Uns são reinóis, uns, mazombos;

e pensam de mil maneiras;

mas citam Vergílio e Horácio,

e refletem, e argumentam,

falam de minas e impostos,

de lavras e de fazendas,

de ministros e rainhas

e das colônias inglesas.

Atrás de portas fechadas,

à luz de velas acesas,

entre sigilo e espionagem,

acontece a Inconfidência.

E diz o Vigário ao Poeta:

“Escreva-me aquela letra

do versinho de Vergílio…”

E dá-lhe o papel e a pena.

E diz o Poeta ao Vigário,

com dramática prudência:

“Tenha meus dedos cortados,

antes que tal verso escrevam…”

LIBERDADE, AINDA QUE TARDE,

ouve-se em redor da mesa.

E a bandeira já está viva,

e sobe, na noite imensa.

E os seus tristes inventores

já são réus – pois se atreveram

a falar em Liberdade

(que ninguém sabe o que seja).

E a vizinhança não dorme:

murmura, imagina, inventa.

Não fica bandeira escrita,

mas fica escrita a sentença.

Meireles, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1977, p. 450-2 (com adaptações).

Com relação às ideias e às estruturas linguísticas do texto acima, julgue (C ou E) os itens a seguir.

1 – Da leitura da quarta estrofe (v.35-50) depreende-se que a palavra liberdade é o fulcro vital da bandeira dos inconfidentes e representa a finalidade do engajamento político daquele grupo.

2 – Entende-se da leitura do poema que os inconfidentes foram sentenciados por atuarem contra os interesses da Coroa portuguesa, mas não por haverem registrado, na bandeira criada, o anseio por liberdade.

3 – Nos dois primeiros versos, o eu lírico alude ao sigilo dos inconfidentes por meio de paradoxo e sinestesia.

4 – No trecho “Uns são reinóis, uns, mazombos; / e pensam de mil maneiras; / mas citam Vergílio e Horácio, / e refletem, e argumentam,” (v.23-26), fica evidenciado que, independentemente da origem social, os inconfidentes compartilhavam o mesmo grau de erudição.

Gabarito:

1 – Certo. Fato confirmado inclusive pelo emprego de todas as letras maiúsculas no verso 43 e da inicial da própria palavra Liberdade no verso 49.

2 – Errado. O conector causal POIS, presente no verso 48, introduz o motivo de os inventores já serem réus: atreveram-se a falar em Liberdade.

3 – Certo. A sinestesia, de uma forma geral, leva ao paradoxo, pois a mistura de sentidos, em tese, é algo incoerente. Nós não sentimos (percepção tátil) as luzes acesas, nós as enxergamos, vemos.

4 – Errado. O texto não informa que os inconfidentes tinham o mesmo grau de erudição. Quando se diz que citavam Vergílio e Horácio, compreende-se que havia a citação realizada pelo grupo, mas não necessariamente o conhecimento e a erudição eram compartilhados por todos os membros.

84. Ainda que se soubessem todas as palavras de cada figura da Inconfidência, nem assim se poderia fazer com o seu simples registro uma composição da arte. A obra de arte não é feita de tudo – mas apenas de algumas coisas essenciais. A busca desse essencial expressivo é que constitui o trabalho do artista. Ele poderá dizer a mesma verdade do historiador, porém de outra maneira. Seus caminhos são outros, para atingir a comunicação. Há um problema de palavras. Um problema de ritmos. Um problema de composição. Grande parte de tudo isso se realiza, decerto, sem inteira consciência do artista. É a decorrência natural da sua constituição, da sua personalidade – por isso, tão difícil se torna quase sempre a um criador explicar a própria criação. No caso, porém, de um poema de mais objetividade, como o Romanceiro, muitas coisas podem ser explicadas, porque foram aprendidas, à proporção que ele se foi compondo.

Digo “que ele se foi compondo” e não “que foi sendo composto”, pois, na verdade, uma das coisas que pude observar melhor que nunca, ao realizá-lo, foi a maneira por que um tema encontra sozinho ou sozinho impõe seu ritmo, sua sonoridade, seu desenvolvimento, sua medida.

O Romanceiro foi construído tão sem normas preestabelecidas, tão à mercê de sua expressão natural que cada poema procurou a forma condizente com sua mensagem. A voz irreprimível dos fantasmas, que todos os artistas conhecem, vibra, porém, com certa docilidade, e submete-se à aprovação do poeta, como se realmente, a cada instante, lhe pedisse para ajustar seu timbre à audição do público. Porque há obras que existem apenas para o artista, desinteressadas de transmissão; outras que exigem essa transmissão e esperam que o artista se ponha a seu serviço, para alcançá-la. O Romanceiro é desta segunda espécie.

Quatro anos de quase completa solidão – numa renúncia total às mais sedutoras solicitações, entre livros de toda espécie relativos ao especializadamente século 18 –ainda pareceram curtos demais para uma obra que se desejava o menos imperfeita possível, porque se impunha, acima de tudo, o respeito por essas vozes que falavam, que se confessavam, que exigiam, quase, o registro da sua história.

E era uma história feita de coisas eternas e irredutíveis: de ouro, amor, liberdade, traições…

Mas porque esses grandiosos acontecimentos já vinham preparados de tempos mais antigos e foram o desfecho de um passado minuciosamente construído – era preciso iluminar esses caminhos anteriores, seguir o rastro do ouro que vai, a princípio como o fio de um colar, ligando cenas e personagens, até transformar-se em pesada cadeia que prende e imobiliza num destino doloroso.

Cecília Meireles. Como escrevi o Romanceiro da Inconfidência. In: Romanceiro da Inconfidência. 3a ed., Rio de Janeiro: ova Fronteira, 2005, p. XVI-XVII (com adaptações).

Acerca das ideias e das estruturas linguísticas do texto, extraído da obra de Cecília Meireles, na qual a autora explica a criação do Romanceiro da Inconfidência, julgue (C ou E) os itens que se seguem.

1 – No trecho “o rastro do ouro que vai, a princípio como o fio de um colar, ligando cenas e personagens, até transformar-se em pesada cadeia que prende e imobiliza num destino doloroso” (l. 34-36), verifica-se gradativa intensificação das ações nele relatadas, expressa pelo emprego da locução com verbo no gerúndio e de preposição que denota limite, e, tal como ocorre no trecho “que falavam, que se confessavam, que exigiam quase, o registro da sua história” (l.29), pela ordem em que se apresentam os núcleos verbais que constituem as orações adjetivas.

2 – Depreende-se da leitura do texto que a autora colocou-se a serviço da obra, cabendo-lhe adequar a mensagem à forma, uma vez que o tema impunha seu próprio desenvolvimento.

3 – Da leitura do primeiro parágrafo do texto depreende-se que, para a autora, não foi tão difícil explicar a criação do Romanceiro da Inconfidência quanto geralmente é difícil para os artistas explicar a criação de suas obras menos objetivas. Isso se explica porque o Romanceiro da Inconfidência, dado o tema, apresenta não só o “essencial expressivo”, mas também aspectos objetivos.

4 – São pertinentes as seguintes inferências a partir da pontuação e dos mecanismos de coesão empregados no período entre as linhas 18 e 20: entre todos os fantasmas, alguns são conhecidos por todos os artistas, e o poeta harmoniza, a todo momento, o timbre de sua voz à audiência.

Gabarito:

1 – Certo. O primeiro fragmento se constrói na relação MÍNIMO-MÁXIMO. A expressão “como um fio de colar” representa o atrelamento mínimo; “pesada cadeia que prende e imobiliza num destino doloroso”, atrelamento máximo. Já no segundo fragmento, a sequência de verbos FALAVAM, CONFESSAVAM e EXIGIAM sugere o aumento gradativo da influência que as vozes exerciam sobre a autora.

2 – Errado. Segundo o texto, o próprio texto impunha sozinho seu ritmo, sua sonoridade, seu desenvolvimento, sua medida.

3 – Certo. Segundo o texto, normalmente é difícil ao criador explicar sua criação, pois se trata da decorrência natural da sua constituição, da sua personalidade. No entanto, o aspecto objetividade faz com que, na criação do Romanceiro da Inconfidência, muitas coisas possam ser explicadas, porque foram aprendidas, à proporção que ele se foi compondo.

4 – Errado. O comentário é absurdo, visto que fantasma foi empregado em sentido conotativo, representando a voz, a melodia que o texto e a temática impõem.

85. Assinale a opção em que os dois trechos extraídos do texto apresentam, respectivamente, linguagem predominantemente denotativa e linguagem predominantemente conotativa.

a) “No caso, porém, de um poema de mais objetividade, como o Romanceiro, muitas coisas podem ser explicadas” (l.10-11) / “era preciso iluminar esses caminhos anteriores, seguir o rastro do ouro que vai, a princípio como o fio de um colar, ligando cenas e personagens, até transformar-se em pesada cadeia que prende e imobiliza num destino doloroso” (l.33-36)

b) “Quatro anos de quase completa solidão – numa renúncia total às mais sedutoras solicitações, entre livros de toda espécie relativos ao especializadamente século 18 – ainda pareceram curtos demais para uma obra que se desejava o menos imperfeita possível” (l. 25-28) / “Mas porque esses grandiosos acontecimentos já vinham preparados de tempos mais antigos e foram o desfecho de um passado minuciosamente construído” (l.32 e 33)

c) “A obra de arte não é feita de tudo – mas apenas de algumas coisas essenciais” (l. 3 e 4) / “Grande parte de tudo isso se realiza, decerto, sem inteira consciência do artista” (l. 7-8)

d) “porque se impunha, acima de tudo, o respeito por essas vozes que falavam, que se confessavam, que exigiam, quase, o registro da sua história” (l. 28 e 29) / “É a decorrência natural da sua constituição, da sua personalidade – por isso, tão difícil se torna quase sempre a um criador explicar a própria criação” (l. 9-10)

e) “A voz irreprimível dos fantasmas, que todos os artistas conhecem, vibra, porém, com certa docilidade, e submete-se à aprovação do poeta, como se realmente, a cada instante, lhe pedisse para ajustar seu timbre à audição do público” (l. 19-22) / “E era uma história feita de coisas eternas e irredutíveis: de ouro, amor, liberdade, traições” (l. 30-31)

Gabarito: A

De acordo com a exigência feita no enunciado da questão, o primeiro fragmento deve ser estruturado com termos em sentido denotativo, oficial, havendo a mínima, ou nenhuma, participação de linguagem figurada. Já o segundo fragmento deve ser composto com elementos no sentido conotativo, ou seja, em sentido diferente do previsto pelos dicionários em face de uma imposição do contexto. A alternativa A é a única que contém essa característica, uma vez que, no primeiro fragmento, não há nenhum termo empregado em sentido figurado; já, no segundo fragmento, a presença de conotação se faz presente em várias ocorrências: “caminhos” empregado no sentido de fatos, acontecimentos; em “rastro dou ouro”, o ouro não pode deixar rastro; também a personificação de “rastro do ouro”, capaz de prender e imobilizar – verbos também no sentido conotativo, pois a prisão e a imobilização estariam no sentido figurado. Na alternativa B, os dois fragmentos são predominantemente denotativos, embora no segundo fragmento haja a ocorrência de um exemplo de conotação: “construir (termo usado para obras) um passado. Contudo, é de bom alvitre ressaltar que se trata de apenas um exemplo, o que descaracteriza a predominância de um estilo. Na alternativa C, os dois fragmentos são predominantemente denotativos. Na alternativa D, o primeiro fragmento possui predominância conotativa – a prosopopeia. O tema, a própria poesia terem voz já impõe a conotação, e a voz poder falar, confessar, agir corrobora ainda mais para tal caracterização; o segundo fragmento possui predominância denotativa. Na alternativa E, novamente há a prosopopeia no primeiro fragmento; já no segundo não há intervenção de linguagem figurada.

86. Poucos depoimentos eu tenho lido mais emocionantes que o artigo-reportagem de Oscar Niemeyer sobre sua experiência em Brasília. Para quem conhece apenas o arquiteto, o artigo poderá passar por uma defesa em causa própria – o revide normal de um pai que sai de sua mansidão costumeira para ir brigar por um filho em quem querem bater. Mas, para quem conhece o homem, o artigo assume proporções dramáticas. Pois Oscar é não só o avesso do causídico, como um dos seres mais antiautopromocionais que já conheci em minha vida.

Sua modéstia não é, como de comum, uma forma infame de vaidade. Ela não tem nada a ver com o conhecimento realista – que Oscar tem – de seu valor profissional e de suas possibilidades. É a modéstia dos criadores verdadeiramente integrados com a vida, dos que sabem que não há tempo a perder, é preciso construir a beleza e a felicidade no mundo, por isso mesmo que, no indivíduo, é tudo tão frágil e precário.

Oscar não acredita em Papai do Céu, nem que estará um dia construindo brasílias angélicas nas verdes pastagens do Paraíso. Põe ele, como um verdadeiro homem, a felicidade do seu semelhante no aproveitamento das pastagens verdes da Terra; no exemplo do trabalho para o bem comum e na criação de condições urbanas e rurais, em estreita intercorrência, que estimulem e desenvolvam este nobre fim: fazer o homem feliz dentro do curto prazo que lhe foi dado para viver.

Eu acredito também nisso, e quando vejo aquilo em que creio refletido num depoimento como o de Oscar Niemeyer, velho e querido amigo, como não me emocionar?

Vinicius de Moraes. Para viver um grande amor. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1982, p. 134-5 (com adaptações).

Com relação às ideias desenvolvidas no texto, assinale a opção correta.

a) Vinicius de Moraes ressalta a conduta de Niemeyer, que, fundamentada em concepção materialista e visão social de seu trabalho, está pautada na busca de condições sociais benéficas para os cidadãos.

b) Vinicius de Moraes, na condição de causídico de Oscar Niemeyer, alerta para a injusta ausência de reconhecimento da capacidade de luta do arquiteto para a implementação de projetos que visem ao bem comum, dos quais a construção de Brasília é exemplo.

c) Infere-se do texto que Oscar Niemeyer, em razão das severas críticas a seu trabalho arquitetônico realizado em Brasília, contrariou sua “mansidão costumeira” e escreveu um artigo em que faz a apologia da obra criada nessa cidade.

d) Vinicius de Moraes atribui a emoção nele despertada pela leitura do mencionado artigo-reportagem não só à forma dramática de relato dos fatos, mas, principalmente, à afinidade entre ele e Niemeyer no que concerne a crenças sobre a vida e a morte, parte delas referidas no depoimento do amigo Oscar.

e) Por ser um indivíduo consciente de sua fragilidade e da precariedade de ser mortal, Oscar Niemeyer, segundo afirma Vinicius de Moraes, manifesta modéstia incomum, desprovida de hipocrisia.

Gabarito: A

A visão de Niemeyer é materialista, conforme se expressa no fragmento “Oscar não acredita em Papai do Céu”; possui visão social de seu trabalho, segundo o fragmento “no exemplo do trabalho para o bem comum e na criação de condições urbanas e rurais, em estreita intercorrência, que estimulem e desenvolvam este nobre fim.

A alternativa B apresenta comentário inadequado, visto que a intenção de Vinicius de Moraes não é defender – ser causídico de – Niemeyer, mas sim expor que se emocionou com o seu depoimento. A alternativa C apresenta comentário falso quando informa que o texto de Niemeyer objetivava realizar apologia da obra. A alternativa D é absurda, sobretudo pelo fato de o texto não informar sequer o posicionamento de Vinicius acerca de aspectos religiosos ou espirituais. A alternativa E apresenta falsa relação causa-efeito: a consequência de Oscar Niemeyer ser consciente de sua fragilidade e da precariedade de ser mortal é que não há tempo a perder, que é preciso construir a beleza e a felicidade no mundo, e não que manifesta modéstia incomum, desprovida de hipocrisia.

87. Julgue (C ou E) os itens a seguir, relativos às estruturas linguísticas do texto.

1 – No texto, a linguagem foi empregada predominantemente em suas funções emotiva e poética.

2 – Ao empregar as expressões “Papai do Céu” (l.14) e “verdes pastagens do Paraíso” (l.15), o autor do texto demonstra neutralidade em relação ao universo de crenças que elas representam.

3 – O emprego de adjetivos no grau superlativo absoluto, como “mais emocionantes” (l.1), “mais antiautopromocionais” (l.7), “tão frágil e precário” (l.13), produz o efeito de exaltação da superioridade dos atributos técnico e criativo de Oscar Niemeyer em relação a outros brasileiros notáveis.

4 – O uso da expressão “mais antiautopromocionais” (l.7) indica a opção do autor do texto por forma prolixa, dada a presença de dois prefixos no vocábulo adjetivo, em detrimento da concisão que seria proporcionada pela escolha da forma equivalente menos autopromocional, a qual manteria o efeito retórico desejado.

Gabarito:

1 – Certo. A função emotiva é clara. A ocorrência de elementos subjetivos e da primeira pessoa do singular denotam a emotividade, a expressividade, o que claramente se denuncia na última passagem do texto: “como não me emocionar?”. Apesar de o texto não ser poético, a função poética também se faz presente, dado que se observam expressões conotativas, como Papai do Céu, Brasílias, angélicas, verdes pastagens do paraíso. Além disso, as repetições de estruturas estabelecem ritmos em alguns fragmentos “É a modéstia dos criadores verdadeiramente integrados com a vida, dos que sabem que não há tempo a perder”; “Põe ele, como um verdadeiro homem, a felicidade do seu semelhante no aproveitamento das pastagens verdes da Terra; no exemplo do trabalho para o bem comum e na criação de condições urbanas e rurais”.

2 – Errado. Justamente por não empregar tais conotações, o autor do texto já dá indícios de sua relação com a espiritualidade.

3 – Errado. Não se trata de superlativo absoluto, mas sim de superlativo relativo, que indica a comparação de um ser com a totalidade. Por exemplo, quando Vinicius de Moraes informa que Oscar Niemeyer foi um dos seres mais antiautopromocionais que já conheci em minha vida, ele o está comparando com a totalidade, mas – repita-se – não se trata de superlativo absoluto, e sim de relativo.

4 – Errado. Evidentemente o efeito retórico é diferente. Quando se diz que o ser é antiautopromocional significa que se opõe (anti) a fazer um promoção de si próprio (auto). Quando se informa que menos autopromocional, o sentido é que ele apenas não se (auto) promove, mas não chega a estabelecer relação de oposição a tal.

88. Acerca dos mecanismos de coesão empregados no texto, julgue (C ou E) os itens subsequentes.

1 – Dada a propriedade que assume o pronome “este” nos mecanismos coesivos empregados no trecho “que estimulem e desenvolvam este nobre fim” (l.18), não é facultada a seguinte reescrita: que estimulem este nobre fim e o desenvolvam.

2 – A elipse em “nem que estará” (l.14) e o emprego do pronome anafórico “ele” (l.15) são mecanismos de coesão utilizados para referenciar o substantivo “Oscar” (l.21).

3 – Na linha 3, o vocábulo “arquiteto” retoma por substituição o nome próprio “Oscar Niemeyer”, empregado na linha 2, mecanismo que corresponde a uma variedade de metonímia e por meio do qual se evita a repetição de vocábulo.

4 – O período que finaliza o primeiro parágrafo está na ordem inversa, como indica o emprego inicial da conjunção “Pois”, que introduz uma oração subordinada anteposta à oração principal.

Gabarito:

1 – Certo. Em face de o pronome demonstrativo “este” ter valor catafórico, ou seja, referindo-se à oração seguinte “fazer o homem feliz dentro do curto prazo que lhe foi dado para viver.”, não se pode distanciá-lo do sinal de dois-pontos.

2 – Certo. Como o sujeito “Oscar” já apareceu na oração anterior, não havia necessidade de repeti-lo, caracterizando a elipse. Depois o pronome ele refere-se novamente a Oscar, visto que era o Oscar Niemeyer que “punha felicidade do seu semelhante no aproveitamento das pastagens verdes da Terra…”.

3 – Errado. Primeiramente não há metonímia. Segundo a intenção do autor do texto não era, com o termo “arquiteto”, retomar “Oscar Niemeyer” e sim mostrar as duas facetas dele: a do arquiteto, profissional genial, e a do ser humano.

4 – Errado. Não há inversão. A conjunção “pois” introduz um período que funciona como uma explicação para o fato exposto no período anterior. Inclusive os fragmentos poderiam ocorrer unidos “Mas, para quem conhece o homem, o artigo assume proporções dramáticas, pois (porque) Oscar é não só o avesso do causídico, como um dos seres mais antiautopromocionais que já conheci em minha vida.”.

89. CARTA PARA ANTONIO CARLOS JOBIM

Porto do Havre [França], 7 de setembro de 1964

Tomzinho querido,

Estou aqui num quarto de hotel que dá para uma praça que dá para toda a solidão do mundo. São dez horas da noite e não se vê viv’alma. Meu navio só sai amanhã à tarde, e é impossível alguém estar mais triste do que eu. E, como sempre nestas horas, escrevo para você cartas que nunca mando.

Deixei Paris para trás com a saudade de um ano de amor, e pela frente tenho o Brasil, que é uma paixão permanente em minha vida de constante exilado. A coisa ruim é que hoje é 7 de setembro, a data nacional, e eu sei que em nossa embaixada há uma festa que me cairia muito bem, com o Baden Powell mandando brasa no violão. Há pouco telefonei para lá, para cumprimentar o embaixador, e veio todo mundo ao telefone.

Você já passou um 7 de setembro, Tomzinho, sozinho, num porto estrangeiro, numa noite sem qualquer perspectiva? É fogo, maestro!

MORAES, Vinicius de. Querido poeta. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, organização de Ruy Castro, p. 303-4 (com adaptações).

Julgue (C ou E) os itens seguintes, relativos às ideias do texto acima.

1 – O emprego, no texto, das expressões coloquiais “cairia muito bem” (l.8) e “mandando brasa” (l.8) indica a informalidade com que Vinicius de Moraes escreve a seu destinatário.

2 – Pelo emprego da expressão “todo mundo” (l.9-10), pressupõe-se que, além do embaixador, outros amigos e colegas de trabalho de Vinicius de Moraes, sem que se possa saber quantos, telefonaram-lhe do Brasil.

3 – Infere-se da carta de Vinicius de Moraes a Antonio Carlos Jobim que o poeta brasileiro, também diplomata, estava em missão profissional na cidade do Havre por ocasião de uma data nacional brasileira, embora manifestasse preferência por estar em outro lugar.

4 – Na carta a Antonio Carlos Jobim, a menção a correspondências que nunca eram enviadas sugere que havia temas confidenciais que só poderiam ser tratados pelo remetente e pelo destinatário da carta de 7 de setembro de 1964 em encontro pessoal.

Gabarito:

1 – Certo. O emprego de gírias, as conotações, a informalidade e a emotividade sugerem intimidade entre o autor da carta e o destinatário.

2 – Errado. Na realidade ele não recebeu o telefonema. Foi o próprio Vinicius que telefonou para a embaixada e lá todo mundo veio ao telefone.

3 – Errado. Não há elementos suficientes no texto que permitam a inferência de que Vinicius estava em Havre a trabalho.

4 – Errado. Não necessariamente essas cartas tinham cunho político. Por exemplo, essa tinha cunho emocional, pessoal. As cartas não eram remetidas talvez por preguiça, mas não porque obrigatoriamente compreendiam temas confidenciais.

90. Deixei os braços pousarem na madeira inchada e úmida, abri um pouco a janela a pensar que isso de olhar a chuva de frente podia abrandar o ritmo dela, ouvi lá embaixo, na varanda, os passos da avó Agnette, que se ia sentar na cadeira da varanda a apanhar ar fresco, senti que despedir-me da minha casa era despedir-me dos meus pais, das minhas irmãs, da avó e era despedir-me de todos os outros: os da minha rua, senti que rua não era um conjunto de casas mas uma multidão de abraços, a minha rua, que sempre se chamou Fernão Mendes Pinto, nesse dia ficou espremida numa só palavra que quase me doía na boca se eu falasse com palavras de dizer: infância.

A chuva parou. O mais difícil era saber parar as lágrimas.

O mundo tinha aquele cheiro da terra depois de chover e também o terrível cheiro das despedidas. Não gosto de despedidas porque elas têm esse cheiro de amizades que se transformam em recordações molhadas com bué de lágrimas. Não gosto de despedidas porque elas chegam dentro de mim como se fossem fantasmas mujimbeiros* que dizem segredos do futuro que eu nunca pedi a ninguém para vir soprar no meu ouvido de criança.

Desci. Sentei-me perto, muito perto da avó Agnette.

Ficamos a olhar o verde do jardim, as gotas a evaporarem, as lesmas a prepararem os corpos para novas caminhadas. O recomeçar das coisas.

– Não sei onde é que as lesmas sempre vão, avó.

– Vão pra casa, filho.

– Tantas vezes de um lado para o outro?

– Uma casa está em muitos lugares – ela respirou devagar, me abraçou. – É uma coisa que se encontra.

*Mujimbeiro: fofoqueiro.

Ondjaki. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007, p. 145-6 (com adaptações).

Assinale a opção em que a interpretação apresentada, com relação ao estado de espírito do narrador do texto, está de acordo com o que se pode depreender do parágrafo indicado.

a) Quarto parágrafo: insegurança por ser obrigado a se afastar da família.

b) Quinto parágrafo: entusiasmo na contemplação gratuita da natureza.

c) Primeiro parágrafo: regozijo diante do início de uma nova fase da vida.

d) Segundo parágrafo: tristeza por não conseguir conter o choro.

e) Terceiro parágrafo: desconforto ao ter de lidar com um momento de ruptura.

Gabarito: E

A alternativa é inadequada, pois ele não foi obrigado a afastar-se da família. A alternativa B também está incorreta, pois em momento algum do texto ele demonstra entusiasmo. Também a alternativa C é inviável, já que ele não demonstra regozijo – prazer – diante da situação. Na alternativa D, a tristeza é por afastar-se da família, da rua, dos amigos, e não porque chorou. A alternativa E é a única que apresenta comentário adequado, porquanto o desconforto fica explicitado sobretudo quando ele esclarece que não gosta de despedidas.

91. A respeito do texto, julgue (C ou E) os itens que se seguem.

1 – O fato de o texto ter sido escrito na primeira pessoa do singular justifica o emprego da linguagem sinestésica em trechos como “O mundo tinha aquele cheiro da terra depois de chover e também o terrível cheiro das despedidas” (l.10-11), recurso inviável em textos escritos na terceira pessoa.

2 – No trecho “Não gosto de despedidas porque elas chegam dentro de mim como se fossem fantasmas mujimbeiros que dizem segredos do futuro que eu nunca pedi a ninguém para vir soprar no meu ouvido de criança” (l.11-15), o narrador apresenta, por meio de uma comparação, uma das razões de não gostar de despedidas, caracterizando, de forma restritiva, o elemento com que compara as despedidas.

3 – Os sentidos e a correção gramatical do primeiro parágrafo do texto seriam mantidos e as relações sintáticas estariam bem identificadas caso o autor tivesse adotado, nesse trecho, a seguinte pontuação: Deixei os braços pousarem na madeira inchada e úmida; abri um pouco a janela, a pensar que isso de olhar a chuva de frente podia abrandar o ritmo dela; ouvi, lá embaixo, na varanda, os passos da avó Agnette, que se ia sentar na cadeira da varanda a apanhar ar fresco; senti que despedir-me da minha casa era despedir-me dos meus pais, das minhas irmãs, da avó e era despedir-me de todos os outros: os da minha rua; senti que rua não era um conjunto de casas, mas uma multidão de abraços; a minha rua, que sempre se chamou Fernão Mendes Pinto, nesse dia, ficou espremida numa só palavra que quase me doía na boca se eu falasse com palavras de dizer: infância.

4 – Do trecho “a minha rua, que sempre se chamou Fernão Mendes Pinto, nesse dia ficou espremida numa só palavra que quase me doía na boca se eu falasse com palavras de dizer: infância” (l.7 e 8) depreende-se que a rua em que o narrador morava passou a ter, para ele, sentido mais significativo.

Gabarito:

1 – Errado. Inicialmente não houve sinestesia nesse fragmento. Há uma metáfora, com o vocábulo “cheiro” sendo utilizado com valor de “sentimento”. Além disso, pode ha ver obviamente a sinestesia sendo empregada a terceira pessoa, como se pode observar no seguinte exemplo: Observou-se o som que vinha do outro povoado.

2 – Certo. O emprego da conjunção “como” estabelece a comparação entre “as despedidas no coração do autor” e os “fantasmas mujimbeiros que dizem segredos do futuro que eu nunca pedi a ninguém para vir soprar no meu ouvido de criança”. O pronome relativo “que” introduz oração subordinada adjetiva que restringe o sentido de “fantasmas mujimbeiros”, termo comparado às despedidas.

3 – Certo. Várias orações coordenadas assindéticas encontravam-se separadas por vírgulas. A ausência do conector permite que tal separação seja demarcada por vírgula ou por ponto-e-vírgula.

4 – Certo. Para o autor, a rua, até então, era apenas um nome. Quando se aproxima o momento em que ele vai afastar-se dela, compreende o seu significado, o seu valor, a sua importância, o que ela, enfim, representou: a sua infância.

92. Acerca do vocabulário, das ideias e das estruturas linguísticas do texto, julgue (C ou E) os próximos itens.

1 – Da leitura do texto depreende-se que, para o narrador, o sentido de casa, no momento da despedida, incluía a sua infância, os pais, as irmãs e a avó.

2 – Como a frase “O recomeçar das coisas” (l.18) resume o que o narrador depreendeu da situação relatada na frase anterior a ela, seriam preservados a correção gramatical e os sentidos do trecho se o ponto final após “caminhadas” fosse substituído por dois-pontos ou por travessão, com o devido ajuste na inicial maiúscula.

3 – O vocábulo “bué” (l.12), formado a partir da reprodução aproximada do som natural do choro, evidencia uso de linguagem informal no texto.

4 – Seriam mantidos o sentido e a correção gramatical do texto se os infinitivos flexionados fossem substituídos pelas respectivas formas do infinitivo não flexionado no segmento “as gotas a evaporarem, as lesmas a prepararem os corpos para novas caminhadas” (l.17-18).

Gabarito:

1 – Certo. Fato que se expõe no seguinte fragmento “senti que despedir-me da minha casa era despedir-me dos meus pais, das minhas irmãs, da avó”.

2 – Certo. O emprego de dois-pontos seria adequado, visto que a expressão “O recomeçar das coisas” funciona como uma síntese para os fatos redigidos no período anterior.

3 – Anulada. Justificativa do Cespe-UnB: A palavra “bué” tanto pode ser empregada, no texto, como vocábulo do português brasileiro de origem onomatopeica quanto pode ter sido empregado pelo autor angolano, com o sentido de “muito”, “grande quantidade” (vocábulo de origem portuguesa ou, talvez, originária do quimbundo, língua falada em Angola.

4 – Como a preposição afasta o verbo do termo com que faz a concordância, tanto se pode usar o infinitivo pessoal (flexionado na terceira pessoa do plural) como o infinitivo impessoal, sem flexão.

93. Nos países novos, nas terras ainda sem tipo étnico absolutamente definido, onde o sentimento d’Arte é silvícola, local, banalizado, deve ser espantoso, estupendo o esforço, a batalha formidável de um temperamento fatalizado pelo sangue e que traz consigo, além da condição inviável do meio, a qualidade fisiológica de pertencer, de proceder de uma raça que a ditadora ciência d’hipóteses negou em absoluto para as funções do Entendimento e, principalmente, do entendimento artístico da palavra escrita.

Deus meu! Por uma questão banal de química biológica do pigmento ficam alguns mais rebeldes e curiosos fósseis preocupados, a ruminar primitivas erudições, perdidos e atropelados pelas longas galerias submarinas de uma sabedoria infinita, esmagadora, irrevogável! (…)

Ah! Esta minúscula humanidade, torcida, enroscada, assaltando as almas com a ferocidade de animais bravios, de garras aguçadas e dentes rijos de carnívoro, é que não pode compreender-me.

Sim! Tu é que não podes entender-me, não podes irradiar, convulsionar-te nestes efeitos com os arcaísmos duros da tua compreensão, com a carcaça paleontológica do Bom Senso.

Sousa, Cruz e. Emparedado. In: Obra completa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1961, p. 659-60 (com adaptações).

Com relação às ideias desenvolvidas no texto acima, assinale a opção correta.

a) Na linha 15, o pronome pessoal “Tu” refere-se ao leitor, tratado de modo respeitoso pelo escritor com o objetivo de convencê-lo quanto à veracidade dos argumentos mencionados sobre a questão racial e aspectos do entendimento artístico.

b) Ao mencionar “a carcaça paleontológica do Bom Senso” (l.16-17), Cruz e Sousa indica que o estudo dos fósseis poderia derrubar os mitos científicos sobre a raça que vigoravam na sua época.

c) Nesse texto, Cruz e Sousa questiona o rigor das explicações científicas e menciona uma “ciência d’hipóteses” (l.5) para mostrar o relativismo do conhecimento e as distorções a que muitos analistas podem chegar ao defenderem as suas teses.

d) Cruz e Sousa demonstra que a ciência ainda não se desenvolveu plenamente nos países novos, o que impede a explicação de alguns fatos que ocorrem somente ali.

e) Ao empregar a expressão “Esta minúscula humanidade” (l.12), o poeta faz referência a um grupo específico de pessoas que, como menciona no parágrafo anterior do texto, não pode ser confundido com o grupo constituído de “alguns mais rebeldes e curiosos fósseis preocupados” (l.9).

Gabarito: C

A alternativa A é inadequada, dado que não há respeito ao interlocutor, até porque este é incapaz de compreender a visão do autor.

A alternativa B é incorreta, uma vez que a expressão “a carcaça paleontológica do Bom Senso” é usada com ironia para indicar a pouca flexibilidade de uma teoria, a dureza de uma compreensão. Carcaça é algo duro, impenetrável. Paleontologia é uma ciência que estuda animais e vegetais fósseis. Portanto, o Bom Senso teria a dureza dos conhecimentos fossilizados.

A alternativa C é correta porquanto questiona a visão que se tem dos novos países e seus povos. Povos que já sofrem com a condição inviável do meio e que sofrem também com a imagem que possuem de serem incapazes – segundo a tal ciência d’hipóteses – para as funções de Entendimento.

A alternativa D é absurda, pois a crítica feita é o preconceito que se tem quanto aos povos presentes nesses novos países que seriam incapazes para as funções de Entendimento.

A alternativa E é errada, pois o termo “Esta minúscula humanidade” refere-se à queles que agem com preconceito, baseados em conceitos fossilizados e inflexíveis, e são os mesmos seres que os denominados em “alguns mais rebeldes e curiosos fósseis preocupados”.

94. Por que o novo presidente do FMI não pode ser europeu

Der Spiegel

Thorsten Benner

Dominique Strauss-Kahn está na cadeia, e o debate a respeito do seu sucessor na direção do FMI já teve início. A chanceler alemã Angela Merkel quer que outro europeu ocupe o cargo. Mas isso seria um sinal fatal para potências emergentes como China e Índia.

A impressão foi que eles tinham as melhores das intenções. Em 2 de abril de 2009, europeus e norte-americanos indicaram a sua intenção de deixar de dividir entre si os cargos de liderança do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). O acordo foi feito naquele ano na reunião do G20, em Londres. “Nós concordamos que os presidentes e líderes graduados das instituições financeiras internacionais deverão ser nomeados por meio de um processo de seleção aberto, transparente e meritocrático”, dizia a declaração dos líderes na conclusão do encontro. Em outras palavras, os europeus abriram mão do privilégio de escolher o presidente do FMI.

Mas agora, com as acusações de ataque sexual contra o atual presidente da instituição, Dominique Strauss-Kahn, e a provável necessidade de substituí-lo, a chanceler alemã Angela Merkel parece ter esquecido a promessa.

Infere-se do primeiro parágrafo que:

a) o diretor do FMI está na cadeia;

b) já estão acontecendo debates sobre quem vai assumir a direção do FMI;

c) outro europeu assumir a direção do FMI seria um sinal fatal para a China e a Índia;

d) Dominique Strauss-Kahn é europeu;

e) outros países emergentes como o Brasil e o México desejam que outro europeu assuma o FMI.

Gabarito: D.

É fundamental o candidato atentar-se ao enunciado. Lá se exige algo implícito, algo que se deduz a partir do texto. A única alternativa que apresenta informação incoerente – e por isso deve ser a primeira eliminada – é a alternativa E. Em momento algum foi dito ou insinuado que o Brasil e o México desejavam que outro europeu assumisse o FMI. As alternativas A, B e C não servem como resposta, embora apresentem assertivas coerentes com o texto, uma vez que tais informações se apresentam de forma explícita e não subentendida. A alternativa D é a única coerente que o leitor efetivamente deduz. O texto não diz Dominique Strauss-Kahn é europeu. É algo que se deduz a partir da informação de que a chanceler alemã Angela Merkel quer que outro europeu ocupe o cargo. Portanto, se a chanceler alemã pretende que outro europeu assuma o cargo, pode-se inferir que Dominique Strauss-Kahn é europeu.

95. O que informa o autor no segundo parágrafo?

a) Europeus e norte-americanos possuíam as melhores intenções quando decidiram deixar de dividir entre si os cargos de liderança do Banco Mundial e do FMI.

b) Europeus e norte-americanos deixaram de dividir entre si os cargos de liderança do Banco Mundial e do FMI.

c) Que os presidentes e líderes graduados das instituições financeiras internacionais deverão ser nomeados por meio de um processo de seleção aberto, transparente e meritocrático.

d) O acordo de que europeus e norte-americanos deixariam de dividir entre si os cargos de liderança do Banco Mundial e do FMI foi feito em 2009 na reunião do G20 em Londres.

e) O processo de seleção aberto e meritocrático é o mais justo em todos os sistemas de nomeações.

Gabarito: D.

Fundamental o candidato atentar-se ao fato de está sendo exigida uma informação explícita no texto e que tal informação provenha do autor. A alternativa A não serve como resposta, uma vez que o autor não informa que europeus e norte-americanos possuíam as melhores intenções, mas sim que “a impressão” (a sensação, não a certeza) era a de que eles tinham as melhores das intenções. A opção B apresenta comentário incoerente, pois europeus e norte-americanos, até o momento, ainda não deixaram de dividir entre si os cargos de liderança do Banco Mundial e do FMI. A opção C apresenta declaração não do autor, mas sim dos líderes ao fim da reunião do G20. A alternativa D é uma reprodução fiel de informação explícita em dois períodos do parágrafo: “Em 2 de abril de 2009, europeus e norte-americanos indicaram a sua intenção de deixar de dividir entre si os cargos de liderança do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). O acordo foi feito naquele ano na reunião do G20, em Londres.”. É importante ressaltar que, apesar o primeiro período falar apenas em “indicação de intenção”, o segundo já expõe ter havido um acordo para europeus e norte-americanos deixarem de dividir entre si os cargos de liderança do Banco Mundial e do FMI. Já a alternativa E apresenta um comentário coerente, porém se trata de uma inferência, porquanto em momento algum é informado que esse sistema aberto e meritocrático é o mais justo.

96. Sobre o terceiro parágrafo, julgue os seguintes itens.

I – O emprego de “agora” explicita a época em que o texto é redigido e sugere que, na identificação dos implícitos, há um pressuposição.

II – O emprego da preposição estabelece nexo causal.

III – Pode-se depreender do parágrafo que a chanceler alemã olvidou-se da promessa de que europeus e norte-americanos deixariam de dividir entre si os cargos de liderança do Banco Mundial e do FMI.

Que comentários foram feitos com correção?

a) Nenhum.

b) Somente I e II.

c) Todos.

d) Somente II e III.

e) Somente I e III.

Gabarito: B.

O comentário I apresenta informação adequada, porquanto a referência de presente é sempre o momento em que o texto é confeccionado. Portanto, o “agora” não representa o momento em que lemos o texto, mas sim aquele em que escrito. Além disso, o emprego desse vocábulo permite a identificação de uma pressuposição, no campo dos implícitos: a de que antes a chanceler alemã procedia de uma forma e “agora” de outra.

O comentário II também adequado, porque existe uma relação de causa e efeito entre “com (por causa de, em virtude de) as acusações de ataque sexual contra o atual presidente da instituição, Dominique Strauss-Kahn, e a provável necessidade de substituí-lo” (causa) – a chanceler alemã Angela Merkel parece ter esquecido a promessa (consequência).

O comentário III é inadequado, uma vez que o texto trabalha no campo da possibilidade (PARECE TER ESQUECIDO) e não no campo da certeza (olvidou-se).

Da questão 97 a 100 – CARGO – TÉCNICO EM CONTABILIDADE da UFRJ – NCE

CIDADE MARAVILHOSA?

Os camelôs são pais de famílias bem pobres, e, então, merecem nossa simpatia e nosso carinho; logo eles se multiplicam por 1000. Aqui em frente à minha casa, na Praça General Osório, existe há muito tempo a feira hippie. Artistas e artesãos expõem ali aos domingos e vendem suas coisas. Uma feira um tanto organizada demais: sempre os mesmos artistas mostrando coisas quase sempre sem interesse. Sempre achei que deveria haver um canto em que qualquer artista pudesse vender um quadro; qualquer artista ou mesmo qualquer pessoa, sem alvarás nem licenças. Enfim, o fato é que a feira funcionava, muita gente comprava coisas – tudo bem. Pois de repente, de um lado e outro, na Rua Visconde de Pirajá, apareceram barracas atravancando as calçadas, vendendo de tudo – roupas, louças, frutas, miudezas, brinquedos, objetos usados, ampolas de óleo de bronzear, passarinhos, pipocas, aspirinas, sorvetes, canivetes. E as praias foram invadidas por 1000 vendedores. Na rua e na areia, uma orgia de cães. Nunca vi tantos cães no Rio, e presumo que muita gente anda com eles para se defender de assaltantes. O resultado é uma sujeira múltipla, que exige cuidado do pedestre para não pisar naquelas coisas. E aquelas coisas secam, viram poeira, unem-se a cascas de frutas podres e dejetos de toda ordem, e restos de peixes da feira das terças, e folhas, e cusparadas, e jornais velhos; uma poeira dos três reinos da natureza e de todas as servidões humanas.

Ah, se venta um pouco o noroeste, logo ela vai-se elevar, essa poeira, girando no ar, entrar em nosso pulmão numa lufada de ar quente. Antigamente a gente fugia para a praia, para o mar. Agora há gente demais, a praia está excessivamente cheia. Está bem, está bem, o mar, o mar é do povo, como a praça é do condor – mas podia haver menos cães e bolas e pranchas e barcos e camelôs e ratos de praia e assaltantes que trabalham até dentro d’água, com um canivete na barriga alheia, e sujeitos que carregam caixas de isopor e anunciam sorvetes e quando o inocente cidadão pede picolé de manga, eis que ele abre a caixa e de lá puxa a arma. Cada dia inventam um golpe novo: a juventude é muito criativa, e os assaltantes são quase sempre muito jovens.

Rubem Braga

97. O título do texto – cidade maravilhosa? – tem ao final um ponto de interrogação; com isso, o autor do texto expressa:

a) uma pergunta ao leitor a fim de verificar a sua opinião;

b) um questionamento sobre o futuro da cidade do Rio de Janeiro;

c) uma dúvida sobre a qualidade de vida na cidade;

d) uma reflexão sobre as belezas da capital carioca;

e) uma opinião dos mais pobres sobre as condições de vida na cidade.

Gabarito: C.

As alternativas D e E são excluídas automaticamente, em face de haver uma interrogação, um questionamento. Elimina-se também a alternativa A, pelo fato de não ter cabimento a possibilidade de verificar-se a opinião do autor. A alternativa B também não pode ser a resposta, visto que a crítica é sobre um problema atual e não uma preocupação quanto ao futuro da cidade. A alternativa C acaba por ser a única coerente, pois os problemas listados no texto – o excesso de camelôs atravancando as ruas; o excesso de vendedores, ladrões e cães nas praias; a sujeira nas ruas e praças – implicam um prejuízo à qualidade de vida dos cariocas.

98. “logo eles se multiplicam por 1000”; “E as praias foram invadidas por 1000 vendedores”. O número 1000, nesses dois segmentos do texto:

a) referem-se aos mesmos vendedores, em momentos diferentes;

b) indicam uma quantidade indeterminada de vendedores;

c) mostram somente uma ideia de grande quantidade;

d) representam o enorme progresso da cidade;

e) demonstram o crescimento desordenado da cidade.

Gabarito: C.

Quando o autor emprega o número 1000, objetiva demonstrar que a quantidade de camelôs e vendedores aumentou muito. Esse exagero, essa hipérbole enfatizam esse aumento.

99. O autor critica basicamente dois tipos de poluição, que são:

a) ambiental e visual;

b) visual e sonora;

c) sonora e marinha;

d) marinha e social;

e) social e ambiental.

Gabarito: A.

A poluição ocorre inicialmente no aspecto ambiental, visto que a crítica é feita à forma como estão as ruas, as praças, as praias. Tais problemas mencionados acabam também por comprometer o aspecto visual, pois há excesso de barracas nas ruas, as praias encontram-se extremamente cheias. É de bom alvitre observar que, em momento algum do texto, é mencionada uma crítica em relação à poluição sonora ou social. Não se fala de ruídos, música em som alto etc., como também nada se informa a respeito de que a poluição é gerada por classes sociais menos favorecidas.

100. “os assaltantes são quase sempre muito jovens”; a maneira de reescrever-se essa mesma frase que mantém o seu sentido original é:

a) são quase sempre bem jovens os assaltantes;

b) muitos assaltantes são quase sempre jovens;

c) os assaltantes são sempre quase jovens;

d) quase muitos jovens são sempre assaltantes;

e) são quase sempre jovens muitos assaltantes.

Gabarito: A.

É necessário atenção para fazer essa questão. Na frase original, “jovens” é adjetivo que está intensificado pelo advérbio muito. Então os assaltantes não são apenas jovens, mas, sim, muito – excessivamente – jovens. Na alternativa B, o advérbio “muito” foi transformado em pronome indefinido atrelado a “assaltantes”, e o adjetivo não está intensificado. Na C, “jovens” não está intensificado. Na D, “jovens” está substantivado, e “muitos” se torna pronome indefinido, o que gera alteração semântica; além disso, o posicionamento de “quase” faz com que a frase sequer tenha sentido. Na alternativa E, “jovens” não vem intensificado. A alternativa A é uma paráfrase, dado que a substituição de “muito” por “bem” – com valor de intensidade – conserva a ideia original.