Capítulo 27

Göteborg, 1954

Ela não entendia como podia fazer tantas coisas erradas. Mais uma vez havia terminado ali no porão, e o escuro parecia fazer o machucado em seu bumbum doer mais do que antes. Era a fivela do cinto que havia feito a ferida. A mamãe só usava a fivela quando ela tinha sido realmente má. Se conseguisse pelo menos entender o que havia de tão horrível em pegar uns biscoitos. Eles pareciam tão gostosos, e a cozinheira tinha feito tantos que ninguém iria perceber se um desaparecesse. Mas às vezes se perguntava se sua mãe percebia quando ela estava a ponto de colocar algo gostoso na boca. A mamãe aparecia atrás dela, sem fazer nenhum barulho, justo quando sua mão estava se aproximando de algo delicioso. Depois, tudo que podia fazer era ser forte e esperar que a mamãe estivesse num bom dia, assim a punição seria menor.

No começo, tentara lançar um olhar de piedade ao papai, mas ele sempre olhava para o outro lado. Pegava o jornal e ia se sentar na varanda, enquanto mamãe a punia como queria. Ela nem tentava mais conseguir alguma ajuda dele.

Tremia por causa do frio. Alguns poucos sons cresciam em sua cabeça enquanto imaginava ratos gigantes e aranhas enormes, e ela podia ouvi-los se aproximando. Era tão difícil sentir a passagem do tempo. Ela não sabia havia quanto tempo estava sentada ali no escuro, mas a julgar pelo barulho em seu estômago, tinham se passado algumas horas. Estava quase sempre faminta, e era por isso que a mamãe a reprimia. Parecia haver algo dentro dela que sempre pedia comida, bolos e doces, algo que gritava para ser preenchido com açúcar. No momento, ela sentia o gosto da substância dura, seca e ruim que a mamãe sempre a obrigava a comer. Uma colherada forçada em sua garganta quando os golpes tinham sido dados, e era hora de se sentar no porão. A mamãe dizia que a estava alimentando com humildade. Mamãe também falava que a estava punindo para seu bem. Que uma garota não podia ser gorda, porque nenhum homem olharia para ela, e teria de passar toda a sua vida sozinha.

Na verdade, ela não entendia o que tinha de terrível nisso. Mamãe nunca parecia olhar para o papai com alegria nos olhos, e nenhum dos homens que ficavam ao redor da figura magra de mamãe, enchendo-a de elogios e babando parecia dar-lhe alguma satisfação. Não, ela preferia ficar sozinha do que viver na atmosfera gelada que existia entre seus pais. Talvez fosse por isso que a comida e os doces a tentavam tanto. Talvez fosse assim que pudesse adquirir uma camada protetora sobre sua pele tão sensível, tanto em relação às constantes reprimendas de sua mãe quanto às surras. Mesmo sendo tão jovem, já sabia que nunca atingiriam as expectativas de sua mãe. Ela tinha deixado isso bem claro. Mesmo assim, a menina realmente tentara. Tinha feito tudo que sua mãe dizia, tentando com bastante força diminuir a gordura que continuava a crescer sob sua pele. Mas nada parecia ajudar.

No entanto, ela tinha começado a descobrir quem na verdade era o culpado por tudo. Mamãe tinha explicado que era o papai que exigia muito delas e por isso a mamãe precisava ser tão rígida. No começo, isso pareceu um pouco estranho. Papai nunca levantava a voz e parecia fraco demais para exigir qualquer coisa da mamãe, mas quanto mais a afirmação era repetida, mais começava a parecer verdade.

Ela tinha começado a odiar o pai. Se ele pudesse parar de ser tão malvado e pouco razoável, mamãe seria mais legal, e as surras parariam, e tudo seria melhor. Depois ela seria capaz de parar de comer e tornar-se tão magra e linda quanto a mamãe, e o papai sentiria orgulho das duas. Em vez disso, ele fazia a mamãe entrar escondida em seu quarto à noite e, chorando e sussurrando, descrever as várias formas como ele a atormentava. Nessas ocasiões, sempre dizia como era doloroso ser quem precisava cuidar das punições. Ela a chamava de querida, exatamente como quando era pequena e prometia que as coisas seriam diferentes. Uma pessoa fazia o que precisava fazer, dizia a mamãe, e depois a abraçava, o que era tão estranho e inesperado que, no começo, ela ficava dura, incapaz de responder ao abraço. Gradualmente, começou a desejar as ocasiões em que sua mãe colocava os braços finos ao redor de seu pescoço e sentia o rosto dela molhado pelas lágrimas. Nesse momento, sentia-se necessária.

Sentada ali no escuro, sentia o ódio contra seu pai crescer como um monstro dentro dela. Durante o dia, na luz, precisava esconder esse ódio atrás de sorrisos e reverências, fingindo que tudo estava bem. Mas ali no escuro, ela podia deixar que o monstro saísse, permitindo que crescesse em paz e silêncio. Ela na verdade se dava bem com o monstro. Tinha se tornado um velho e querido amigo, o único que ela tinha.

– Pode subir agora.

A voz que vinha de cima era clara e fria. Ela se abriu e escondeu novamente o monstro. Ele ficaria ali até ela voltar ao porão. Então poderia sair e voltar a crescer.

***

Patrik recebeu a ligação quando se preparava para acompanhar Kaj até a sala de interrogatório. Ouviu em silêncio e depois foi até a sala de Martin. Quando estava prestes a bater em sua porta, lembrou que Annika lhe dissera que Martin tinha ido até Fjällbacka e xingou a si mesmo quando percebeu que teria de ir com Gösta. Nem considerou Ernst. A raiva aumentou só de pensar nele. Se o sujeito soubesse o que era bom, ficaria o mais longe possível de Patrik.

Mas estava com sorte. Enquanto caminhava com passos duros até a sala de Gösta, ouviu a voz de Martin na recepção e correu para encontrá-lo.

– Aí está você. Droga, isso é ótimo. Pensei que não ia voltar a tempo. Precisa vir comigo imediatamente.

– O que aconteceu? – disse Martin, seguindo Patrik, que correu até a entrada principal depois de acenar para Annika por trás do vidro.

– Um jovem se enforcou. Deixou uma nota que menciona Kaj.

– Oh, merda.

Patrik se sentou no assento do motorista e ligou a sirene. Martin se sentiu uma velha senhora quando se segurou no apoio sobre a porta do lado do passageiro, mas com Patrik dirigindo, era uma questão de instinto de sobrevivência.

Meros quinze minutos depois, eles pararam diante da residência da família Rydén, na parte de Fjällbacka que, por alguma razão, era chamada de “O Pântano”. Uma ambulância estava estacionada na frente da casa baixa de tijolos, e os paramédicos se esforçavam para tirar uma maca da parte de trás. Um homenzinho com cabelos ralos e uns quarenta anos corria de um lado para o outro na rua e parecia em estado de choque. Quando Patrik e Martin estacionaram e saíram da viatura, um dos médicos foi até o homem, colocou um cobertor amarelo sobre seus ombros e pareceu tentar convencê-lo a se sentar. O homem finalmente obedeceu. Com o cobertor bem enrolado, ele se afundou na calçada, entre a rua e um jardim de flores.

Já conheciam o pessoal da ambulância e não precisaram se apresentar. Em vez disso, só trocaram cumprimentos com um movimento de cabeça.

– Então, o que aconteceu? – perguntou Patrik.

– O padrasto chegou em casa e encontrou o enteado na garagem. Ele se enforcou. – Um dos paramédicos apontou para a porta da garagem, que alguém tinha fechado para que nada pudesse ser visto da rua.

Patrik olhou para o homenzinho sentado a alguns metros de distância. O que aquele homem tinha acabado de ver era algo que ninguém nunca deveria ver. Agora ele tremia, como se sentisse frio, e Patrik reconheceu aquilo como um sinal de choque. Mas era algo que os paramédicos deviam tratar.

– Podemos entrar?

– Sim, pensamos que deveríamos esperá-los antes de descer o garoto. Ele está pendurado há umas duas horas, então não tem pressa. Fomos nós que fechamos a porta da garagem, por falar nisso. Pareceu desnecessário deixá-lo pendurado em público.

Patrik deu um tapinha no ombro dele.

– Muito bem pensado. Pode ser que haja alguma conexão com nossa atual investigação de homicídio, então chamei os técnicos também. E foi bom vocês não o terem tirado dali. Eles devem chegar a qualquer minuto e sem dúvida vão querer a menor quantidade de pessoas por aqui. Sugiro que Martin e eu entremos e que vocês esperem aqui fora. Têm a situação sob controle? – ele apontou na direção do padrasto.

– Johnny vai cuidar dele. Está em choque. Mas tenho certeza de que poderão conversar um pouco com ele. Contou-nos que encontrou um bilhete no quarto do garoto. Não nos mostrou, então provavelmente ainda deve estar lá.

– Ótimo – disse Patrik e caminhou lentamente até a porta da garagem. Fez uma careta, tomando coragem enquanto se agachava para levantar a porta.

A visão era tão horrível quanto tinha esperado. Pôde ouvir Martin tossir atrás dele.

Por um momento, Patrik achou que o garoto estivesse olhando para ele, e precisou se segurar para não sair correndo. Um ruído de alguém se afogando o fez se lembrar de que deveria ter avisado Martin como proceder nesses casos. Mas agora era tarde demais. Ele se virou a tempo de ver Martin sair correndo da garagem até um arbusto, onde esvaziou o estômago.

Ouviu outro veículo parando perto do carro da polícia e da ambulância e presumiu que era a equipe técnica chegando. Tentou se mover com cuidado para não despertar a ira da equipe. Acima de tudo, não queria estragar nenhuma prova, se nem tudo fosse o que parecia. Mas nada do que viu contradizia sua conclusão de suicídio. Uma grossa corda pendurada de um gancho no teto. O laço estava ao redor do pescoço do garoto, e uma cadeira tinha sido chutada e estava caída no chão. Parecia uma cadeira de cozinha trazida de dentro da casa. A cadeira tinha um forro brilhante, que contrastava muito com a cena macabra.

Patrik ouviu uma voz conhecida atrás dele.

– Pobre diabo, não era muito velho, não? – Torbjörn Ruud, chefe da equipe técnica de Uddevalla, entrou na garagem e olhou para Sebastian.

– Catorze – disse Patrik, e ficaram em silêncio por um instante, encarando o incompreensível fato de que um garoto de catorze anos pudesse achar a vida tão insuportável que a morte era a única saída.

– Existe alguma razão para acreditar que não foi suicídio? – perguntou Torbjörn, enquanto preparava a câmera que trazia na mão.

– Não, nenhuma – disse Patrik. – Há até um bilhete, que ainda não vi. Mas esse bilhete cita uma pessoa envolvida numa investigação de homicídio, então não quero dar chance ao azar.

– A garota? – disse Torbjörn, e Patrik assentiu.

– Certo, então, em outras palavras, vamos tratar isso como morte suspeita. Peça a um dos outros para cuidar do bilhete, assim ele não será manuseado antes de tirarmos as impressões.

– Vou fazer isso agora – disse Patrik, aliviado por ter uma desculpa para sair da garagem. Foi até Martin, que limpava a boca com um guardanapo de papel.

– Desculpe – falou, olhando com tristeza para seus sapatos, manchados com o almoço.

– Não importa. Isso já aconteceu comigo – disse Patrik. – Agora os técnicos e depois os caras da ambulância vão cuidar do corpo. Vou dar uma olhada no bilhete, e você pode tentar falar com o padrasto.

Martin assentiu e se inclinou para limpar os sapatos. Patrik acenou para uma das técnicas de Uddevalla. Ela trouxe sua maleta de equipamentos e o seguiu, sem falar nada.

A casa estava estranhamente quieta quando entraram. O padrasto do menino ficou olhando os dois entrarem.

Patrik olhou em volta.

– Acho que está no andar de cima – disse a técnica. Ele achava que o nome dela era Eva. Fazia parte da equipe que tinha examinado o banheiro dos Florin.

– É, não estou vendo nada aqui embaixo que pareça o quarto de um adolescente, você deve estar certa.

Eles subiram as escadas, e Patrik de repente teve um flashback de seu próprio quarto de infância. Todas as casas pareciam ter sido construídas mais ou menos na mesma época, e ele conhecia bem o estilo, com papel de parede e escadas de pinho claro com um amplo corrimão.

Eva estava certa. No alto da escada havia uma porta aberta que dava para um quarto inegavelmente típico de adolescente. A porta, as paredes e até o teto estavam cobertos com pôsteres e não era preciso ser um gênio para descobrir o tema comum. O garoto adorava heróis de filmes de ação. Qualquer um que atirasse primeiro e perguntasse depois; estavam todos ali. Os homens eram maioria, claro, mas uma única mulher tinha conquistado um lugar na coleção – Angelina Jolie, como Lara Croft. Apesar de Patrik suspeitar que a violência dela não era o único motivo pelo qual Sebastian tinha colocado sua fotografia na parede – ela tinha um belo par de peitos, para ser mais exato. E ele não podia culpar o garoto.

Uma folha de papel no meio da mesa trouxe Patrik de volta à realidade. Eles foram dar uma olhada no bilhete. Eva colocou um par de luvas finas e tirou um saco plástico da maleta. Cuidadosa, segurando com o dedão e o indicador um canto da carta, ela a colocou no saco plástico e o entregou para Patrik. Agora ele poderia lê-la sem destruir qualquer impressão digital que poderia estar no papel.

Patrik leu a carta em silêncio. As palavras estavam tão cheias de dor que ele quase perdeu o equilíbrio. Mas limpou a garganta para manter a compostura e, quando terminou, entregou-a a Eva. Não tinha dúvida de que a carta era verdadeira.

Patrik sentiu-se tomado por raiva e determinação. Não podia oferecer a Sebastian um Schwarzenegger que faria justiça usando óculos escuros legais, mas podia oferecer a ajuda de Patrik Hedström. Tinha a esperança de que isso fosse suficiente.

Seu celular tocou, e ele atendeu distraído, ainda absorto na raiva que sentia por causa da morte sem sentido do garoto. Ficou um pouco surpreso por ouvir a voz de Dan no telefone. O amigo de Erica quase nunca ligava direto para ele. A expressão espantada de Patrik logo foi substituída por consternação.

Como a adrenalina ainda estava correndo por suas veias, Niclas achou que poderia resolver todos os seus problemas de uma vez, antes que seu instinto natural de fuga tomasse conta. Muitas das coisas que tinham dado errado em sua vida podiam ter como base o fato de que ele tinha medo de conflitos e enfraquecia quando era necessário ter muita força. Estava começando a perceber que devia agradecer a Charlotte pelas coisas que ainda eram boas em sua vida.

Quando parou na calçada em frente à sua casa, ficou sentado no carro por um minuto, apenas respirando. Precisava pensar no que ia dizer a Charlotte. Era essencial que encontrasse as palavras certas. Desde que tinha sido forçado a confessar que tivera um caso com Jeanette, ele sentia o abismo entre eles aumentando mais a cada minuto. As rachaduras na relação entre os dois já existiam, antes da revelação e da morte de Sara, então não era difícil que aumentassem. Logo seria tarde demais. O segredo que compartilhavam não os aproximou; ao contrário, tinha acelerado o processo que os afastava. Era onde ele achava que tinham de começar. Se não fossem honestos sobre tudo a partir de agora, nada seria capaz de salvar o casamento. E pela primeira vez em muito tempo, talvez a primeira vez na vida, ele teve certeza do que queria.

Hesitante, saiu do carro. Algo dentro dele lhe dizia para correr, entrar no carro e voltar para a clínica, enterrar-se no trabalho, encontrar uma nova mulher para abraçar, voltar ao território conhecido. Mas ele sufocou essa necessidade, acelerou os passos e entrou em casa.

Ele conseguia ouvir vozes murmurando no andar de cima e sabia que Lilian deveria estar no quarto de Stig. Ainda bem. Ele não queria ter de enfrentar seu bombardeio de perguntas de novo e fechou a porta fazendo o mínimo de barulho possível.

Charlotte olhou espantada quando ele desceu ao porão.

– Você chegou cedo.

– Cheguei porque queria falar com você.

– Já não conversamos o suficiente? – ela disse, indiferente, e continuou a dobrar a roupa. Albin estava sentado no chão perto dela, brincando. Charlotte parecia esgotada. Niclas sabia que ela não conseguia dormir muito à noite; ficava deitada se mexendo, enquanto ele fingia não perceber. Não tinha conversado sobre isso com ela, não acariciou seu rosto nem a abraçou. A pele embaixo de seus olhos tinha manchas escuras, e ele conseguia ver como a esposa estava mais magra. Quantas vezes falara, bravo, que ela devia se cuidar e perder peso. Agora daria qualquer coisa para que ela voltasse a sua antiga forma.

Niclas se sentou na cama perto dela e pegou sua mão. A expressão chocada da esposa dizia que era algo que ele nunca fazia. Sentiu-se estranho e por um momento teve vontade de fugir de novo. Mas continuou segurando a mão dela e disse:

– Sinto muito mesmo, Charlotte. Por tudo. Por todos os anos em que fiquei distante, tanto física quanto emocionalmente; por tudo de que a culpei em minha mente, apesar de ser minha culpa; pelos casos que tive; pela proximidade física que neguei a você e dei a outras; por não encontrar uma forma de sair logo desta casa; por não ouvi-la; por não amá-la o suficiente. Perdoe-me por tudo isso e mais. Mas não posso mudar o passado, só prometo que tudo será diferente a partir de agora. Você acredita em mim? Por favor, Charlotte, preciso ouvir que acredita em mim!

Ela levantou os olhos e o encarou. As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto dela.

– Sim, acredito em você. Por Sara, acredito em você.

Ele simplesmente assentiu, incapaz de continuar. Depois limpou a garganta e disse:

– Então, há uma coisa que precisamos fazer. Pensei muito nisso, e não podemos continuar vivendo com um segredo. Só monstros vivem no escuro.

Depois de uma breve pausa, ela assentiu. Com um suspiro, deitou a cabeça no ombro dele e sentiu como se estivesse voltando a se apaixonar.

Ficaram sentados assim por muito tempo.

Ele chegou em casa em cinco minutos. Abraçou Erica e Maja por um longo tempo e depois apertou a mão de Dan, grato.

– Que golpe de sorte você estar aqui – comentou, acrescentando Dan à lista de pessoas por quem devia ser grato.

– Certo. Mas eu não entendo. Quem seria louco o suficiente para fazer isso? E por quê?

Patrik sentou-se ao lado de Erica no sofá, segurando a mão dela. Depois de olhar hesitante para a mulher, falou:

– Isso provavelmente tem alguma conexão com o assassinato de Sara.

Erica se alarmou:

– O quê? Por que você acha isso? Por que teria...?

Patrik apontou para o macacão de Maja no chão.

– Parecem cinzas. – Sua voz falhou, e ele precisou limpar a garganta para continuar. – Sara tinha cinzas em seus pulmões e também ocorreu um... – ele procurou a palavra correta – ataque contra outro bebê. Cinzas também estavam envolvidas.

– Mas o que isso significa? – Erica parecia espantada. Nada do que estava ouvindo fazia sentido.

– Não sei – disse Patrik, cansado, enquanto passava a mão pelos olhos. – Nós também não entendemos. Enviamos as cinzas que encontramos na roupa da outra criança para o laboratório, para ver se possui a mesma composição química das cinzas encontradas em Sara, mas não recebemos os resultados ainda. E agora eu pretendo enviar as roupas de Maja também.

Erica assentiu sem falar nada. Seu pânico tinha se metamorfoseado em um estado de choque ou transe. Patrik a abraçou.

– Vou ligar e avisar que ficarei em casa o resto do dia. Só preciso levar as roupas da Maja para que comecem a fazer as análises o mais rápido possível. Precisamos pegar quem fez isso – ele disse. Era uma promessa que fazia a si mesmo e a Erica. Sua filha estava bem, é verdade, mas a crueldade mental por trás dessa ação criava uma sensação estranha de que a pessoa que estavam procurando era extremamente perturbada.

– Pode ficar aqui até eu voltar? – ele perguntou Dan, que assentiu.

– Claro. Fico aqui enquanto você precisar de mim.

Patrik beijou Erica no rosto e acariciou Maja. Depois, pegou o macacão da menina, colocou o casaco e saiu correndo. Ele queria voltar logo para casa.