Os US$ 6 milhões acumulados por Eike em seus primeiros anos de trabalho foram quase totalmente consumidos nos investimentos para mecanizar a extração de ouro na Novo Planeta, mina de difícil acesso na selva amazônica. Ele diz que já se “preparava para dar adeus” aos US$ 300 mil restantes quando começou, “num passe de mágica”, a extrair minério, ao ritmo de US$ 1 milhão por mês.
Foi preciso mais que uma rede de bons contatos para chegar a esse resultado. Valeu ali a ambição e teimosia do empresário, que foi obrigado a comprar um avião DC-3 para montar uma ponte aérea de quase cem quilômetros e levar, desmontadas, as máquinas de extração de ouro, além de energia, comida, água e medicamentos, a uma região onde a malária chegou a obrigá-lo a substituir toda a equipe encarregada das operações em um período de trinta dias.
“A única coisa certa no mundo dos negócios é que você vai errar”, concluiu Eike Batista, ao rememorar as dificuldades do garimpo.
De Alta Floresta ele tirou outra lição: “valia a pena compartilhar o risco, diluí-lo entre parceiros com capacidade financeira e aptidão para empreender”, ensina em O X da questão. Com essa aula na cabeça, associou-se, em 1982, a Antônio Dias Leite Neto e Olavo Monteiro de Carvalho na empresa Companhia de Mineração e Participações (CMP) e desenvolveu uma segunda mina, no Amapá, a Novo Astro.
Detalhe conhecido por muito poucos, até porque o criador do grupo X sempre contou a história como se fosse ele o principal protagonista: ainda não era Eike a estrela à frente do negócio, que envolveu figuras importantes esquecidas pelo empresário nas fábulas sobre seu começo aventuroso, lembrado em livro e entrevistas.
Antônio Dias Leite Neto era homônimo do pai, o ex-ministro de Minas e Energia Antônio Dias Leite Júnior, que na década de 1970, como lembramos, ajudaria Eliezer Batista a abrir caminho para a criação da Aracruz Celulose. Com vida bem mais discreta que a do amigo Eike, Dias Leite Neto apareceria no noticiário nos anos 1990 em outro setor, como um dos dirigentes do consórcio que arrematou a companhia Telemar, na privatização da telefonia, com forte apoio financeiro do Banco do Brasil e de fundos de pensão estatais.
Na exploração da mina do Amapá, o presidente da recém-criada CMP era Monteiro de Carvalho, conhecido empresário, dirigente do grupo Monteiro Aranha, e o vice-presidente era Dias Leite Neto. Esses dois eram sócios na empresa Macal Investimentos e Participações, que tinha outro terço das cotas da CMP. Eike tinha um terço da CMP, mas era apenas diretor e, em 1986, membro do Conselho de Administração.
Como importante linha de apoio, no Conselho Consultivo da empresa nascente, segundo registro na Junta Comercial do Rio de Janeiro de abril de 1983, estava uma dupla pouco lembrada nas memórias da EBX, apesar da importância e da qualidade empresarial: o pai de Eike e então presidente da Vale, e o pai de Dias Leite e ex-ministro de Minas e Energia.
Eike não precisava de um mapa das minas brasileiras para descobrir o potencial de seu novo negócio. O local onde a CMP explorou a Novo Astro era conhecido como “garimpo do Lourenço” e já era mecanizado, segundo denúncia da época feita pelo Grupo Executivo para a Região do Baixo Amazonas (GEBAM). O GEBAM, órgão ligado ao Conselho de Segurança Nacional e encarregado da regularização das terras na Amazônia, acusava o garimpo de ser explorado irregularmente pelo pai do geólogo Antônio Monteiro de Jesus, chefe do escritório do departamento federal responsável pela fiscalização dos garimpos e minas na região. A chegada da CMP regularizou as atividades no garimpo do Lourenço e trouxe capacidade de financiamento para aumentar a exploração.
Comprada a mina, Eike e sócios começaram as operações da Novo Astro em 1984 e, em 1985, registraram a produção de 412 quilos de ouro, elevados para quase 790 quilos no ano seguinte. Era uma operação altamente lucrativa, mesmo com a queda do preço do ouro para bem abaixo das cotações que encantaram Eike no início dos anos 1980.
A verdade é que Eike chegara à mineração do ouro quando seus preços atingiam o auge. Depois da alta recorde de 1980, quando a cotação do grama do ouro chegou a passar de US$ 20 (ou, em alguns momentos, o equivalente a quase US$ 70, em valores atualizados pela inflação), o preço do ouro no chamado mercado spot oscilou entre US$ 9 e US$ 13 por grama entre meados de 1984 e o fim de 1985, o equivalente, descontada a inflação do dólar, a algo em torno de US$ 19 a US$ 28 por grama hoje em dia. Entretanto, ele pôde aproveitar a sucessão de vantagens oficiais oferecidas no mercado. No Brasil, as compras do ouro feitas pelo governo aos mineradores podiam ser realizadas em cruzeiros, moeda da época, usando como referência o valor do dólar no mercado paralelo, bem superior ao oficial; as empresas estrangeiras, ao remeter os lucros ao exterior, usavam o câmbio oficial, que lhes permitia trocar os cruzeiros por mais dólares, lucrando duas vezes.
A CMP comprou outras minas no país, contando com financiamento do BNDES. Em frentes como a da Mineração Xapetuba, no Rio Grande do Norte, onde os sócios anunciavam ter comprovado reservas de três toneladas de ouro, os negócios da empresa baseavam-se em pedido de isenção de imposto de renda concedida pela Sudene, órgão regional de desenvolvimento. Os investidores estrangeiros também já faziam parte importante do que viria a ser o grupo EBX: com menos de dois anos de exploração, a Novo Astro teve 39% de suas ações vendidas a um grupo japonês, Aoki.
Esses primeiros passos de Eike como empresário foram pesquisados nos cartórios cariocas e outros registros por um militar ultranacionalista da linha dura, contra-almirante Roberto Gama e Silva, ex-integrante do Conselho de Segurança Nacional no governo Figueiredo, ligado à comunidade de informações e ex-presidente do GEBAM. Incomodado com o apoio de brasileiros à entrada de empresas multinacionais no setor de mineração do país, Gama e Silva, no fim dos anos 1980, dedicou alguns capítulos à estreia do futuro bilionário, em um livro com o título zangado de O entreguismo dos minérios. É um relato bem diferente da epopeia descrita em O X da questão. Tem mais traços de poeira de escritórios e de arquivos contábeis do que cascalhos de garimpos.
Com o trabalho de pesquisa do contra-almirante, pode-se saber que a CMP de Eike, Dias Leite e Monteiro de Carvalho havia nascido em 1981, na Junta Comercial do Rio de Janeiro, com o objetivo de explorar projetos agropecuários no Sudeste e batizada com outro nome, nada mineral: Trimonte Agropecuária Ltda. Em início de carreira, o empresário não dispensava o apoio do Estado: uma das dezenas de empresas mineradoras registradas por Eike, a Rauma, subsidiária da Autram Aureum, tem arquivada na Junta Comercial do Rio de Janeiro uma ata de reunião de diretoria em que decide oferecer ações da CMP em garantia por um empréstimo do BNDES para financiar operações de mineração.
Inscrita no Registro Civil de Pessoas Jurídicas do Rio de Janeiro, mas não registrada na Junta Comercial — o que, por muito tempo, dificultou as pesquisas sobre a origem da empresa —, a Autram Aureum Comércio e Indústria foi criada por Eike Batista e, como sócio minoritário, um empresário português hoje especializado em imóveis, João Manuel Reina, em maio de 1980. Dois meses depois mudava o nome para Autram Aureum Indústria e Comércio Ltda., e aceitava o ingresso, como sócio, do suíço Jean Felix Chillé. As dificuldades para encontrar o documento original de criação da empresa que deu origem ao Império X, firmado por Eike e Reina, levaram o contra-almirante Gama e Silva a garantir que foi Chillé o primeiro dono da empresa. Mas o que há no Registro de Pessoas Jurídicas é o documento de 1980 com Eike e Reina como sócios fundadores. Eike, por procuração, assinou em nome de Chillé o registro em que o suíço entrou na Autram Aureum.
Até recentemente, Chillé apresentava como endereço de trabalho o número 45 da route de Founex, na simpática comuna suíça de Coppet, a 12 quilômetros de Genebra. O seu ofício principal, anunciado na internet, era gestão de fortunas. Nunca ficou registrada a razão do interesse desse contador suíço pelo ouro brasileiro incrustado nos garimpos da Amazônia. Em 1982, a Autram Aureum ganharia mais um membro na sociedade: uma companhia de administração de fundos financeiros com base em Londres, a Hill Samuel International Ltd. Tanto Chillé quanto a Hill Samuel sairiam da empresa anos depois. Na historiografia oficial de Eike, esses sócios internacionais nunca mereceram referência.
Para quem não conhece o mundo da mineração, é difícil acompanhar a multiplicidade de empresas abertas no setor, com nomes diferentes a cargo dos mesmos sócios, prática seguida por Eike Batista em sua incursão aurífera. Essa disposição para criar empresas se explica pela legislação que limita a quantidade de alvarás de pesquisa que pode ser reivindicada por cada empresa; para ampliar o alcance de suas ambições mineradoras, os empresários multiplicam os registros de companhias em seu nome, o que dificulta acompanhar os movimentos de um empreendedor no setor.
Por lei, os interessados em explorar ouro ou qualquer minério devem pedir autorização de pesquisa para o governo, que, se comprovada a existência de riquezas no subsolo, pode autorizar a lavra, a exploração dos recursos. É muito comum que geólogos e outros especialistas acumulem até hoje pedidos de autorização para identificar oportunidades e vendê-las a empresas exploradoras.
Não faltava, nos anos 1980, quem adquirisse autorização para pesquisas de lavras de mineração de ouro e se dispusesse a passá-las adiante por um bom preço. Até hoje é comum essa prática. Naquela época, projetos de mecanização da extração eram muito bem-vindos em Brasília: acossado por dificuldades para pagar as contas externas do país e preocupado com os relatos sobre o crescente contrabando de ouro, o último presidente da ditadura militar, João Baptista Figueiredo (responsável pela volta de Eliezer Batista ao Brasil), promoveu uma onda de modernização nos garimpos, com o registro de garimpeiros e medidas de moralização do comércio do metal.
Nessa época, graças aos trabalhos de pesquisa geológica da Docegeo, subsidiária da Vale criada por Eliezer Batista, descobriu-se o espetacular garimpo de Serra Pelada (que velhos mineradores dizem ter servido também para legalizar, com registros oficiais, ouro já garimpado em outras minas e guardado informalmente). Eike não foi o único a se contagiar com a febre do ouro que tomava o país.
Salvo do calote na dívida pública externa por reservas de ouro do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, o governo de João Baptista Figueiredo promoveria, no início dos anos 1980, uma reforma no comércio nacional do ouro, eliminando o imposto sobre circulação de mercadorias que pesava sobre o minério (e estimulava o mercado negro e a sonegação). O ouro passou a ser classificado como ativo financeiro, e se desburocratizaram as negociações comerciais com o metal. Incentivos de imposto de renda seriam dados mais tarde aos brasileiros natos mergulhados na atividade, tornando-os parceiros de grande charme para as grandes mineradoras estrangeiras atuantes no setor.
Enquanto as regras mudavam em Brasília, nos buracos desmatados na selva destinados à extração mineral, intermediários como Eike, registrados como corretores, usavam telefone ou telex para comunicar as compras no garimpo a seus representantes na cidade, que podiam negociar no mercado papéis com o valor de face do ouro adquirido. Financiamento não era um problema sério, especialmente para quem tivesse conexões no governo. O Banco Central mantinha uma linha de financiamento à exploração do metal, em que as empresas de mineração podiam oferecer, como garantia dos empréstimos, as reservas já pesquisadas e com potencial de produção certificado oficialmente pelo DNPM.
Persistiam restrições à atuação de mineradoras estrangeiras, proibidas, por exemplo, de obter concessões para pesquisa ou exploração em áreas próximas à fronteira. Nada impedia, porém, que uma empresa com estrangeiros pudesse atuar nessas áreas caso encontrasse um sócio brasileiro e desse a ele o controle das operações, pelo menos no papel.
Crédito farto, know-how, investidores interessados e demanda garantida, com a perspectiva adicional de se obter vantagens do governo: essa combinação se repetiria em muitos dos projetos seguintes do fundador do grupo EBX.
O maior patrimônio de Eike, adequado ao momento, era sua capacidade de obter capital para financiar projetos e suas qualidades de vendedor bem-relacionado. Não havia muitos habitantes dos garimpos semelhantes ao poliglota de camisas elegantes, tão capaz de traduzir a complexidade do cenário nacional da mineração para os empresários estrangeiros interessados no país. Mineradores tradicionais não tinham o dinheiro ou a disposição mostrados por Eike em suas iniciativas.
Corajoso, ousado, com boas conexões em Brasília e nos garimpos e lavras de Minas Gerais ao Amapá, ele seria procurado pela multinacional mineradora Rio Tinto para se associar à empresa na exploração de uma terceira mina, a Morro do Ouro, em Paracatu, Minas Gerais. Foi o primeiro empurrão de uma multinacional à escalada do empresário em direção à EBX.
Era outra mina que prescindia de mapa secreto. Desde 1971 no Brasil, a maior mineradora de ouro, cobre e bauxita do mundo na época, a Rio Tinto era associada em projetos de mineração à Vale e estava decidida a transformar o país em sua “Austrália”, grande fonte de minérios para exportação mundial. A demora em obter resultados em sua exploração de bauxita, em Paragominas, no Pará, onde já investira cerca de US$ 600 milhões, havia levado os executivos da empresa no Brasil a proporem à direção mundial da Rio Tinto, na Inglaterra, o investimento em exploração das reservas em Paracatu.
Não parecia um negócio muito atraente. A concentração do ouro na reserva de Paragominas era a menor do mundo, exigia extrair uma tonelada de material rochoso para obter, em média, 0,46 gramas de ouro, segundo avaliações da época. Mas, ainda assim, as intensivas pesquisas dos técnicos da multinacional, realizadas entre 1981 e meados de 1984, indicavam que valia a pena explorar aquele filão, tão grande a quantidade do mineral precioso espalhada por ali.
Decididos a convencer seus superiores a apostarem na empreitada, meses antes de encontrar Eike, o diretor Júlio Carvalho e outros executivos da Rio Tinto haviam tomado o avião para a Europa. Levavam em suas pastas o estudo de viabilidade da mina, apontando um negócio que seria marginal em relação às outras operações da empresa, mas, apesar disso, lucrativo. Reunido com os executivos, na sede, em Londres, frustrado com a demora dos projetos em desenvolvimento no Brasil, sem nenhuma produção no país, o presidente da Rio Tinto, Derek Birkin (sir Derek Birkin, na hierarquia da monarquia britânica), aprovou a proposta, mas com uma condição: seria necessário um sócio brasileiro.
Era conselho de um amigo alemão, conhecedor dos trópicos, explicou sir Birkin aos executivos: “Ele me disse: não importa o que lhe digam, ninguém faz negócios no Brasil sem um sócio local, nunca.”
Os dirigentes da Rio Tinto não concordavam com o desconhecido conselheiro alemão; tinham experiência no país e não acreditavam ser essencial ter um sócio brasileiro; mas, decididos a extrair o ouro identificado pelos seus pesquisadores, voltaram ao Brasil e começaram, em junho daquele ano, a tentar atrair grandes empresas do setor para a ideia, mostrando o estudo de viabilidade.
A baixa incidência de ouro afastava os veteranos. Até que, em setembro de 1985, apresentado por um amigo e sócio da Autram Aureum, o advogado Fernando Luiz Villar Cabral, Júlio Carvalho mostrou a proposta ao filho de Eliezer Batista, que se encantou com a possibilidade de parceria, em um projeto de ouro, com a centenária Rio Tinto.
Mais uma vez, Eike mostrou sua ousadia — e a capacidade de obter dinheiro dos outros: levantou empréstimos próximos a US$ 36 milhões e também fez parceria com a Rio Paracatu Mineração S.A., apelidada de Morro do Ouro. Responsável pela extração mineral, a Rio Tinto era uma operadora fortemente apoiada em um projeto próprio, pioneiro, de redução de custos e associação com a comunidade local. O baixíssimo custo de operação, graças ao know-how dos ingleses, tornou a mina uma espécie de padrão mundial, copiado por outras empresas.
Com parceiros assim, o sócio Eike pôde dedicar-se a seus outros projetos de mineração, enquanto via crescer os resultados da nova mina. E cresceram rápido: a mina iniciou operações em 1987, e em um ano e quatro meses já havia coberto seus custos, passando a distribuir dividendos semanais aos acionistas. Uma mina de ouro no sentido folclórico da palavra. “Era muito dinheiro”, lembra Júlio Carvalho, que, até hoje, executivo respeitado no setor, só tem palavras elogiosas para o antigo sócio.
Nas contas de Eike, o embrião da EBX teria comercializado US$ 60 milhões em 1981 e 1982, período em que acumulou dezenas de alvarás para pesquisa de minério no país, por meio de uma variedade de empresas difíceis de traçar nas consultas aos registros oficiais, com sócios estrangeiros e nacionais. Ele completara 27 anos havia poucos meses quando, em 1983, chegaram os canadenses.
A presença do filho de Eliezer em projetos promissores levou o canadense Ian William Telfer, um contador bochechudo, com olhos claros e largas sobrancelhas, dez anos mais velho que Eike, a convidar o empresário para ser parceiro em sua tentativa de também aproveitar a corrida do ouro no Brasil. Telfer — hoje uma celebridade bilionária no Canadá, onde é reconhecido como filantropo e dono de uma das maiores mineradoras de ouro no mundo, a Goldcorp — era um dos dirigentes que, naquele ano, criaram a Dunbras Empreendimentos e Participações, empresa controlada por duas sociedades com sede no paraíso fiscal de Nova Jersey e no edifício EMCO, na estreita rua da Quitanda, 52, no centro do Rio de Janeiro. Era o mesmo prédio de elegante fachada de granito escolhido por Eike para ser sede de seus empreendimentos de ouro, onde hoje no térreo opera uma agência do Banco de Brasília.
O bem-articulado advogado Fernando Cabral, que apresentara a Rio Tinto a Eike, era sócio minoritário de empreendimentos constituídos pela Dunbras ao chegar ao país. Dirigente da canadense Treasure Valley Explorations, listada na bolsa de valores do mesmo país sob a sigla TVX e registrada no Brasil como TVX Participações, Telfer encontrou em Eike semelhanças e oportunidade de parceria. Juntos, constituíram a Companhia Nacional de Mineração, pessoa jurídica que absorveria parte da Autram Aureum e se tornaria dona das participações do empreendedor nas minas Novo Planeta, Novo Astro e Morro do Ouro.
Eike diria, já famoso, que as negociações com Telfer lhe deram cerca de 15% da Treasure Valley. O contra-almirante Gama e Silva, seu desafeto e investigador, calculava uma participação bem superior, com base nos documentos registrados na Junta Comercial do Rio de Janeiro. Eike ainda não tinha trinta anos quando, em 1985, passou a ser o presidente do Conselho de Administração da companhia, depois rebatizada de TVX Mining e, afinal, TVX Gold.
Estava lançada a primeira das empresas X.
A cotação do ouro havia caído até os níveis de 1979, anteriores à alta que entusiasmara Eike e Telfer, mas iniciava, naquele primeiro ano, uma nova escalada que só se interromperia três anos mais tarde. Com ousadia, Eike garantiria seu êxito na administração da nova companhia e aprenderia com os canadenses a usar o mercado de capitais para dar sustentação aos projetos de investimento. O que ninguém previu foi o fracasso na década seguinte.