Rio de Janeiro, manhã de sábado, dia de sol. Frequentadores do trecho da praia de Ipanema ao lado do posto de salvamento número 9 — o “posto 9”, preferido por parte da elite e da intelectualidade carioca — foram surpreendidos ao chegar à barraca do Batista, a de número 81, entre as diversas barracas de venda de bebidas e aluguel de cadeiras de praia. Um novo letreiro de lona anunciava o nome do empreendimento: “Batista 81X.”
“Ô Batista, o que é esse ‘X’?”
“É o ‘X’ do Eike. Ele usa para multiplicar os negócios dele, meti o ‘X’ para multiplicar o meu.”
O ano era 2010. No ano seguinte, a letra do alfabeto adotada para incrementar o marketing do vendedor de praia apareceria em bancas de jornal e livrarias, na capa da autobiografia de um empresário, por coincidência, com o mesmo sobrenome, Eike Batista. Nas 160 páginas do livro O X da questão, o executivo, auxiliado pelo jornalista e amigo Roberto D’Ávila, iria contar uma história de sucesso — de seus primeiros esforços para ganhar dinheiro aos vinte anos vendendo seguros na Alemanha até sua escalada ao posto de maior bilionário do Brasil e sétimo do mundo, no comando do grupo EBX.
O X acrescentado ao letreiro, na praia, era, na verdade, ordem da Prefeitura, para diferenciar outra barraca com o mesmo número, uma das medidas para organizar o comércio informal no litoral da cidade. Mas João Batista, um comerciante de 53 anos, achou que ficaria bem com a clientela mencionar o empresário Eike Batista como inspirador. Nos meses que antecederam o lançamento de sua autobiografia, o criador do grupo EBX já era um modelo nacional de sucesso, e continuaria assim por muito tempo.
“Ele vai sair dessa”, insistia Batista, o João, de short e camisa brancos, atendendo aos clientes que lotavam as cadeiras em torno de sua barraca de praia, em outubro de 2013. Uma semana depois seria decretada a recuperação judicial da principal estrela do grupo EBX, a empresa OGX, afundada em dívidas e previsões fracassadas de produção.
Nunca um empresário na América Latina caiu de tão alto em tão pouco tempo. Em outubro de 2010, o valor das cinco empresas do grupo X negociadas na bolsa de valores ultrapassaria R$ 95 bilhões. Desse total, mais de R$ 72 bilhões eram ações da OGX, a empresa de petróleo criada por Eike três anos antes, com capital de grandes investidores privados. O empresário era classificado como o maior bilionário do Brasil e um dos dez maiores do mundo. Era o auge de um grupo empresarial iniciado na década de 1980, quando Eike, após iniciativas de sucesso na exploração de minas de ouro no Brasil, foi convidado a se associar a uma mineradora de porte modesto no Canadá, a Treasure Valley Explorations Ltd., que ele dirigiu e renomeou em 1986 como TVX Mining Corp. e, depois, TVX Gold Inc.
TVX era o símbolo da Treasure Valley na bolsa canadense. Eike atribuiu à sigla um significado próprio, incorporado a suas futuras empresas: o “X”, como aprendeu o Batista de Ipanema, representava o símbolo da multiplicação, segundo explicou o Batista empresário em seu best-seller autobiográfico e em infindáveis entrevistas. Acrescentar “X” ao nome dos empreendimentos não era apenas superstição, mas também uma jogada de marketing, esporte em que o empresário se mostrou campeão.
“Quem se depara com a letra a associa mentalmente a uma operação matemática, a algo que se torna muitas vezes maior”, escreveu Eike. “Entendi que o ‘X’ era um bom augúrio e decidi seguir com ele.” Trinta anos após a primeira empresa X, no desmonte do império empresarial, o “X” seria simbolicamente descartado, com a mudança de controle das companhias. O próprio empresário aprovou, durante os esforços de salvamento do grupo, a decisão de mudar o nome de seus empreendimentos e arquivar a letra, já não mais sinal de sorte nem marca de sucesso.
Durante um período entre quatro e cinco anos, porém, da consolidação do grupo até o abandono da marca que lhe servia de amuleto, a trajetória das empresas X e de seu comandante foi inspiradora, não só para os negócios feitos na informalidade da praia carioca. Em agosto de 2012, uma pesquisa da empresa de recrutamento de mão de obra Cia de Talentos, com 46,1 mil universitários e recém-formados, revelava que o “líder dos sonhos” dos jovens, à frente de Bill Gates e Barack Obama, era ele, Eike Batista, que repetiria o resultado em 2013, quando os resultados das empresas X já não eram nem de longe indicadores de grande sucesso.
Empolgação de estudante? Longe disso: em junho de 2012, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais o elegeu “Industrial do Ano” e dedicou 38 páginas da publicação da entidade sindical a uma elogiosa biografia do empresário. Em janeiro daquele ano, Eike contaria à revista Veja ter sido abordado, enquanto corria, por um “imigrante nordestino”, que lhe perguntou se sabia da importância de seu exemplo para quem sonha subir na vida. “Ele me abraçou e começou a chorar. Chorei junto. Nunca imaginei algo assim”, disse Eike à jornalista Malu Gaspar.
No mesmo ano, pela segunda vez seguida, a revista CartaCapital apontaria Eike como o mais admirado do Brasil, na escolha de 1.212 executivos brasileiros. Em março de 2013, uma pesquisa da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, com 3,6 mil empreendedores, também o colocou em primeiro na lista de líder empresarial mais admirado, à frente de executivos de grande destaque como Antônio Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim, Jorge Gerdau, do poderoso grupo siderúrgico que leva seu nome, e Luiza Trajano, do Magazine Luiza, empresária-modelo especializada em roupas no varejo, que chegou a ser cotada para um ministério.
Uma edição especial da revista Exame, em junho de 2012, divulgava uma pesquisa com grandes executivos brasileiros que também apontava Eike como o mais admirado entre seus pares. No ano seguinte, apesar das dificuldades que a EBX passaria a enfrentar, o executivo ainda ocuparia o segundo lugar em pesquisa semelhante. Ele se mostrava muito mais do que um sucesso: era um exemplo a seguir, mesmo após 2012, quando notícias sobre maus resultados nas empresas X derrubaram expectativas e carteiras de investimentos dos acionistas, e cada R$ 1 em ações do grupo passaria a valer menos de R$ 0,10.
No auge da trajetória de Eike e sua corporação X, o ambiente global era favorável aos ousados, especialmente nos chamados mercados emergentes. Gestores de fundos bilionários no exterior eram pressionados pelos investidores a aumentar a rentabilidade de suas aplicações financeiras, em um mundo no qual juros dos países desenvolvidos eram negativos, abaixo da inflação, e começavam a escassear opções de onde arrancar bons rendimentos.
A economia brasileira se destacava entre os países em desenvolvimento, parecia atravessar sem danos aparentes a crise desencadeada pelo estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos em 2007 e chegaria ao ano de 2010 com um estonteante crescimento anual de 7,5%, o maior desde 1986, quando o país viveu a euforia do primeiro grande plano contra a hiperinflação, o Plano Cruzado.
A boa vontade com o Brasil foi animada pela riqueza de seus recursos naturais, pelo grande número de oportunidades em seu mercado e pela política econômica dos Estados Unidos — o FED, o correspondente americano ao Banco Central, decidira, entre novembro de 2008 e agosto de 2010, despejar mais de US$ 2 bilhões na economia para enfrentar a desaceleração econômica provocada pela crise financeira iniciada em 2007. Em novembro de 2010, o BC americano anunciou que, por meio da compra de títulos de dívida do governo, usaria mais US$ 600 bilhões nesse esforço de reanimação econômica. Boa parte desse impulso monetário, administrado pelo presidente do FED, Ben Bernanke, levou pessoas e empresas a buscar rendimento nos mercados emergentes, onde investidores viram maior chance de retorno para seu dinheiro.
“Bernanke implora para que especulemos, e nós somos obedientes”, ironizou, em sua carta trimestral de abril de 2010, o economista Jeremy Grantham, analista respeitado pela quantidade de acertos passados em suas previsões sobre a economia americana e mundial. Poucos, como Grantham, já estavam preocupados com a formação de bolhas especulativas sopradas pelo chamado “afrouxamento monetário” promovido pelo FED.
Para muitos, Eike é fruto e caroço dessa euforia especulativa, que anestesiou o espírito crítico de analistas de investimento e contagiou fundos estrangeiros e pequenos poupadores nacionais. Após a implosão do grupo EBX, espalharam-se, por Twitter, Facebook e fóruns de discussão, relatos de milhares de investidores desiludidos com o ilusionista que os convenceu a apostar economias e expectativas em um projeto de potência econômica convertido rapidamente em delírio arruinado.
Até hoje, porém, há quem o veja como um visionário. Um dos raros empresários brasileiros com disposição para começar do zero, mesmo sem ajuda do Estado para dar os primeiros passos. Alguém com pecados gerenciais e excesso de audácia, mas responsável por projetos ambiciosos que terão impacto perene e positivo na infraestrutura do país. O Brasil, dizia o maestro Tom Jobim, não é para amadores; as empresas EBX, plataforma gigantesca e efêmera do homem que chegou a alcançar a maior fortuna individual da história do país, também desafiam até hoje explicações simplificadas.
Com sua capacidade de convencer as pessoas, seu estilo que mistura ostentação, entusiasmo, simpatia e simplicidade no discurso, sempre elogioso ao enorme potencial da economia brasileira, o mineiro Eike Batista, de Governador Valadares, tornou-se um ídolo na cidade que escolheu para viver, o Rio de Janeiro, onde ganhou o título de cidadão honorário em 2006. Há muito tempo acostumados com a perda de importância da antiga capital federal para São Paulo, o maior centro empresarial do país, os cariocas viram nele “seu” empresário, com estilo totalmente distinto do comportamento em geral reservado e cauteloso dos executivos paulistas.
Eike mobilizou também a imaginação popular ao aparecer como um milionário triunfante por seus próprios esforços, graças a lances arriscados e visão estratégica. Ganhou apoio entusiasmado do então presidente, o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, e não teve dificuldades em conquistar amizades na oposição, como quando obteve do então governador de Minas Gerais, Aécio Neves, apoio legal para obrigar proprietários de terra a dar passagem a um duto de transporte de minérios, entre as montanhas mineiras e o litoral fluminense.
Era do que o governo precisava: um empresário bem-sucedido, com coragem para iniciar grandes projetos de investimento a partir do zero, e sempre disposto a elogiar a política econômica. Parecia ser um modelo concebido na medida para os empreendedores que começavam a se multiplicar com o aparecimento de uma nova classe média: um empresário vencedor por seu próprio esforço, sem vergonha de ser rico e com lições de sucesso a compartilhar. Uma prova de que o mesmo governo capaz de tirar quarenta milhões da pobreza gerava o caldo de cultura dos verdadeiros empreendedores. Foi a delícia dos colunistas na imprensa: uma celebridade exuberante e disposta a alimentar histórias picantes ou sensacionais, muito bem-vindas nas redações em busca de novidades de impacto.
O rosto visível do grupo EBX era um bilionário comme il faut: poliglota, na época casado com uma das mulheres mais bonitas do país, Luma de Oliveira, ex-modelo da Playboy, celebridade famosa e provocante, rainha de bateria de escola de samba que atravessou a avenida, no desfile de Carnaval, com roupas minúsculas e uma coleira cravejada de brilhantes com as letras “E”, “I”, “K” e “E” em maiúsculas reluzentes. Eike era acompanhado pela aura de vitorioso e arrojado — foi recordista e campeão mundial em motonáutica offshore, um dos mais perigosos esportes motorizados — e colecionava excentricidades.
Ah, as excentricidades... Além do hábito de usar o “X” no nome de todas as empresas para multiplicar resultados, exigia que os valores de seus contratos terminassem em 3, que acreditava trazer-lhe boa fortuna por coincidir com o dia de seu aniversário. Após vencer a primeira competição importante com uma lancha de número 63, adotou a dezena como número de sorte e a incluía entre os centavos de todas as transações financeiras importantes que fazia e nos lances oferecidos por ele para compra de blocos de exploração de petróleo no Brasil.
Ele levou para a vida madura a fascinação da infância com a civilização Inca, cujo símbolo, o Sol, orna o logotipo do grupo que fundou. Adepto das regras orientais do Feng Shui, que determinam como deve ser a arquitetura dos ambientes para trazer maior harmonia à vida de seus proprietários, enterrou uma barra de cobre sob a sede do grupo EBX, mantinha imagens de guerreiros incas em sua mesa sempre voltados em direção aos visitantes e posicionava a mesa de frente para a porta de entrada, na expectativa de “controlar as energias” que chegavam ao escritório.
O próprio Eike contou que costumava consultar-se com videntes. No fim dos anos 1990, antes de sua disparada para o primeiro bilhão, seguiu o conselho de uma cartomante visitada no Rio de Janeiro e viajou a Cusco, no Peru, e em seguida às margens do lago Titicaca, onde, respirando o ar rarefeito daquelas alturas, passou alguns minutos observando o céu, como fora instruído, para “reordenar o cosmos e realinhar a linha da vida”.
Alinhado ou não, o dia a dia de Eike nos anos seguintes incluiu outros rituais, como o hábito de assinar contratos sempre próximo a fontes de água, o que pensava trazer-lhe energias positivas. Chegou a mudar a inclinação dos raios de sol do logotipo da EBX depois que uma vidente lhe disse que estavam orientados para trás e eram responsáveis pelos reveses nos negócios.
Além de empresário atento às tendências econômicas e oportunidades de negócio, Eike era o maior garoto-propaganda de seu empreendimento, em uma época de culto exuberante e irracional às celebridades. O grande grupo empresarial, diferentemente de tantos megaempreendimentos no Brasil, tinha a face risonha e célebre de seu executivo em constante movimento, com porte atlético, confessado implante no cabelo e retórica encantadora, disposto a se deixar fotografar com sua Mercedes SLR McLaren estacionada na sala de estar, ou ao lado de um dos motores de sua lancha de corridas, exposto sobre o piso de mármore do hall de entrada da própria casa.
Podia existir riqueza igual, mas não tão espetacular. Um magnata associado a grupos empresariais de fama internacional. A personificação do sucesso. Um executivo capaz de conquistar o que quer que desejasse.
Entre diversos negócios, o empresário montou até um restaurante, o Mr. Lam, inaugurado em 2006 com o nome do chef chinês que importou de Nova York. Eike fazia do mezanino do restaurante uma sala de reuniões, equipada de uma adega de aço escovado desenhada pela Porsche e abastecida com uma coleção de garrafas de champanhe Veuve Clicquot. Às vezes, reunia-se no primeiro andar. O local fez sucesso imediato, sempre cheio de clientes. Acostumados a conversar aos gritos durante as refeições fora de casa, os cariocas, se não faziam um silêncio reverente, abaixavam a voz e se cutucavam nas mesas à passagem de Eike, seu séquito de seguranças, convidados e modelos belíssimas, saindo ou chegando ao local. Ali, o empresário e seu grupo tinham sempre reservada uma mesa para dez lugares, com um tampo de vidro onde o empresário instalou o motor Lamborghini da lancha que lhe deu o título de campeão de motonáutica offshore.
Para uma cidade que costuma brindar com indiferença — real ou fingida — a presença de seus artistas e famosos em locais públicos, a relação do Rio de Janeiro com Eike era de reverência carinhosa.
(Em seu restaurante favorito ou em viagens e encontros de trabalho, uma característica notada apenas pelos que tiveram alguma convivência com Eike Batista é seu inacreditável apetite. O empresário, em viagens de negócio, já foi visto almoçando duas vezes seguidas, sempre com pratos generosos. Costuma continuar se servindo à mesa quando seus comensais já não imaginam como ainda encontra ânimo para comer. E sua forma física, cerca de oitenta quilos bem-ajustados em 1,80m de altura, comparada à quantidade de alimento que ingere, lembra a amigos a capacidade de algumas modelos de recorrer a artifícios diversos para evitar que a gula lhe traga gordurinhas indesejáveis. Essa fome que não engorda faz parte do folclore de Eike entre os conhecidos.)
Eike não era muito bem-visto nos altos círculos do empresariado paulista, incomodado com sua despudorada exibição de riqueza e seu histórico misto de sucessos e fracassos. Ele mesmo brincava com essa rivalidade, dizendo lançar projetos “MPI — Mata Paulista de Inveja”, com a qualidade da metrópole rival e a malemolência carioca. Mas não foi só o Rio de Janeiro que abraçou esse empresário aparentemente insaciável como símbolo de um novo capitalismo possível.
A imagem pública de Eike Batista foi, com frequência, mencionada por outros executivos como exemplo para o setor privado nacional. Seus discursos otimistas eram recebidos com boa vontade na maioria das entrevistas jornalísticas que prodigalizava. Analistas de investimento deram a seus projetos olhares benevolentes, e a mídia o celebrou como personalidade admirável.
Como ele mesmo não cansava de falar, vinte anos de trabalho duro, na maior parte dedicados ao setor de mineração, haviam antecedido sua ascensão a celebridade nacional e a fundação do grupo EBX. Filho de um ex-ministro e ex-presidente da maior mineradora do país, a então Vale do Rio Doce, Eliezer Batista, considerado um dos mais notáveis estrategistas do país, Eike, na infância e por muito tempo, manteve distância do pai, que, arrastado por sucessivas viagens em sua vida de executivo internacional, deixou a tarefa de criação dos sete filhos à esposa, Jutta Fuhrken.
Mulher exigente, nascida em Hamburgo, na Alemanha, a mãe de Eike criou os filhos praticamente sozinha na Europa. Costumava submetê-los a uma rígida disciplina, desde muito novos; e, ao chegar ao Rio de Janeiro, matriculou-os numa escola alemã.
Em sua autobiografia, o executivo usa palavras carinhosas para a mãe, que, segundo ele, alternava “rigor e delicadeza” e via o mundo como palco de “uma prova de resistência que precisava ser vencida com tenacidade ferrenha e obstinação que jamais a fariam desistir no primeiro obstáculo”. Quando jovem, como outros alemães de sua geração, Jutta sofreu as dificuldades da guerra e teria sido educada na juventude nazista, segundo relato de Eliezer ao jornalista Mário Magalhães, em entrevista à Folha de S.Paulo, em outubro de 2009. Vale lembrar, porém, que não cabem aí conclusões apressadas: nascida em 1931, Jutta teria dois anos quando Hitler chegou ao poder na Alemanha e apenas 14 quando ele se suicidou, acossado pelas forças aliadas na Segunda Guerra Mundial.
Eliezer Batista é reverenciado principalmente por seu papel na Vale do Rio Doce, que ajudou, nos anos 1960, a transformar em gigante mundial, com um projeto pioneiro de logística, ligando minas brasileiras aos portos — e, por essa via, ao Japão, potência emergente da época. O sucesso de Eike no ramo da mineração o levou a ser acusado de receber do pai um “mapa das minas” com detalhes das ocorrências de minério no país, que supostamente teria sido obtido por Eliezer Batista em suas passagens pelo governo.
A acusação nunca foi provada. Os êxitos do empresário no campo mineral não são explicáveis especialmente por “achados” fenomenais, e especialistas da área questionam a versão. O “mapa” que Eliezer proporcionou ao filho, e que muito ajudou o empresário e seu grupo de empresas X, foi outro, como veremos mais adiante.
Sucesso — temporário — de marketing, capaz de motivar e atrair investidores entre neófitos nas bolsas de valores e experimentados gestores de fundos internacionais, o grupo EBX deve seu breve êxito à personalidade de seu fundador. Suas maiores empresas repetiram, em escala inimaginável, experiências do empresário Eike Batista ainda em início de carreira, nos anos 1980. O crescimento e posterior esquartejamento do grupo deixam lições importantes sobre o mercado de valores brasileiro, sobre os riscos do empreendedorismo no Brasil e sobre a qualidade das informações econômicas no país.
Durante a escalada da EBX ao topo do capitalismo nacional, uma avaliação mais detida sobre a carreira de Eike Batista e sobre a real dimensão e estrutura de seus projetos poderia ter freado a súbita e desastrada ascensão do grupo, reduzido o tamanho de sua queda e poupado milhares de investidores de pesados prejuízos. O tombo espetacular do empresário também teve raízes na recusa do próprio Eike em aceitar conselhos para moderar suas ambições.
Tanto o sucesso quanto o fracasso de Eike carregaram consigo histórias contadas pela metade, baseadas em uma mitologia não raramente estimulada pelo próprio empresário, que induziram os observadores a verem o que não existia. O mais impressionante é que muitas das informações capazes de evitar a bolha da EBX e seu estouro estavam disponíveis. Muitos preferiram não as enxergar, encantados por uma propaganda repleta de informações exageradas e omissões inconcebíveis, manejada pelo empresário-vendedor. Um homem que só alcançou certos resultados, por curto período de tempo, sustentado por obstinação e disposição ao trabalho. Mas que, diferentemente do que fez acreditar, não construiu fortuna contando apenas com inteligência, ousadia e persistência. Há momentos na história da EBX que seu criador preferiu esquecer, porque não colaboravam com a lenda repetida a ouvintes amistosos nos últimos anos.