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Um fantasma, disse o âncora do telejornal.
A princípio a evidência de invasão tinha sido muito pequena para ser levada a sério, sem contar que, é claro, era impossível fazer tal coisa. Ninguém conseguiria passar pela altamente equipada equipe de segurança dos principais museus do mundo sem deixar vestígio. E, no entanto, um estranho desconforto corria pela espinha dos curadores, a sensação arrepiante e incontestável de que alguém tinha estado ali.
Mas nada havia sido roubado. Nada tinha sumido.
Quer dizer, nada que pudessem notar.
Foi o Museu Field, de Chicago, que capturou uma prova do invasor. Primeiro, só uma coisinha de nada no vídeo gravado pela câmera de segurança: uma sombra intrigante no limite da visão, e então, por um mero instante — um passo em falso que a colocou claramente dentro do quadro —, uma garota.
O fantasma era uma garota.
Seu rosto estava virado para o outro lado. Dava para ver a curva de uma maçã do rosto proeminente; o pescoço era comprido, e o cabelo estava escondido por um boné. Um passo e ela desapareceu de novo, mas foi o suficiente. Ela era real. Tinha estado lá — na ala da coleção africana, para ser preciso. Então eles conferiram toda aquela área, cada milímetro, e descobriram que de fato algo estava faltando.
E não era só o Museu Field. Agora que sabiam o que procurar, outros museus de história natural foram conferir seus próprios acervos, e muitos descobriram perdas similares, não detectadas anteriormente. A garota tinha sido cuidadosa. Nenhum dos saques era fácil de se notar; era preciso saber onde procurar.
Ela havia roubado pelo menos uma dúzia de museus em três continentes. Impossível ou não, a garota não havia deixado sequer uma impressão digital nem disparado um único alarme. Quanto ao que ela roubara... o como foi rapidamente substituído pelo insondável porquê.
Que tipo de propósito poderia ter aquilo?
De Chicago a Nova York, Londres a Pequim, dos dioramas de vida selvagem dos museus, das bocas paralisadas de leões e hienas, das mandíbulas de dragão-de-komodo e pítons-reais e lobos-brancos empalhados, a garota, o fantasma... ela estava roubando dentes.