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LOUCA ALQUIMIA

Dessa vez, quando os anjos vieram para cima deles, Sveva buscou seus olhos: nenhum era de fogo; ela observou suas armaduras, e não encontrou nenhum lírio. Eram outros anjos. Que azar.

Chegar tão perto de um lugar seguro...

Ela realmente tinha achado que conseguiriam. As montanhas eram tão grandes, e a cada momento pareciam mais perto do que de fato estavam. Pareciam ao alcance das mãos. Até que, no alto de uma encosta que esperavam que fosse a última — a última colina antes que a terra se transformasse naqueles grandes paredões de granito, que eram como os próprios muros do mundo —, outro vale se abriu a seus pés. Outra vastidão a percorrer, mais uma elevação a subir. Parecia que lhe pregavam uma peça.

Mas aquele era mesmo o último trecho. Sveva via o lugar onde uma campina encontrava uma fileira de imensas pedras abauladas.

— Parecem dedos de um pezão gordo — acabara de dizer, não fazia nem dois minutos, sorrindo com os outros. Tinha girado Lell, e a bebê sorrira. — Os dedos da montanha — cantarolara. — Chegamos aos dedos da montanha. — E se empinou, abraçando a pequena Caprina junto ao peito, ainda cantando sua música feliz e tola... — Será que é fedorento ali entre os dedões da montanha?

Então Sarazal gritara:

— Svee!

Ela olhou, e lá estavam eles. Anjos. Os anjos errados.

Ainda assim, Sveva ficou dividida entre o ódio e uma esperança que nem sequer existia alguns dias antes. Eles haviam encontrado compaixão uma vez; por que não de novo? A compaixão, descobrira ela, produzia uma louca alquimia: uma única gota podia diluir um lago de ódio. Em razão do que acontecera na ravina, agora serafins eram para ela mais do que traficantes de escravos e assassinos alados desprovidos de individualização.

E, no entanto, quando aqueles serafins chegaram, brandindo espadas já vermelhas e sem compaixão nenhuma nos olhos, ela não teve problemas em gritar:

— Mate-os!

Rath avançou em um pulo.

Os anjos não o tinham visto. Estavam quase sorrindo, aqueles dois com suas armaduras reluzentes. Viram um grupo de Caprina, duas meninas Dama, dois Cervos já velhos e grisalhos — presas fáceis, todos eles. E o Dashnag? Ele vinha por último na fila; não o viram até que já estava em cima dos dois, já ao alcance de suas espadas e derrubando-os no chão, lutando, rasgando.

Eles gritavam.

Sveva não queria ficar olhando, mas se obrigou, e foi assim que viu um deles liberar um braço e erguer a espada, golpeando Rath nas costas. Ela entregou Lell à irmã, saiu em disparada com a faca que pegara dos traficantes e a cravou no inimigo. Enfiou a lâmina em um pequeno vão não coberto pela armadura do anjo. Esfaqueou-o na axila, bem fundo, e ele largou a espada.

E morreu.

Então é essa a sensação, pensou ela quando a coragem deu lugar ao tremor. É horrível. Sua faca estava escorregadia, seu estômago se revirava. Sarazal agarrou seu ombro.

— Svee, vamos!

Sua voz era carregada de urgência. E então eles se viram mergulhados nas sombras, todos. Sombras que rodopiavam, se entrelaçavam. Mais anjos no alto. Sveva olhou para o alto.

Muito mais anjos.

Rath rugiu. Sveva olhou para a irmã, para Lell, para Nur, que estendia os braços tentando pegar a filha, para todos os outros Caprina e para o velho casal Cervo, e segurou sua faca com força, apontando para os dedos de pedra à distância.

— Corram! — gritou.

E eles correram.

Ela ficou com Rath.

Olhe só para mim, pensou ela, com um orgulho estranho e frio. Tudo era nítido e claro. Esfaquear alguém era horrível, e ela nunca antes teria acreditado que ficaria em vez de sair correndo. Adorava correr. Mas também se sentia bem ficando. Olhou para Rath. Ele devolveu o olhar. Sveva pensou que ele talvez fosse encorajá-la a fugir, mas não. Talvez ele apenas soubesse que não adiantaria, que não havia lugar seguro, mas talvez... talvez gostasse de não estar sozinho. Afinal, era apenas um garoto.

Sveva sorriu para Rath, e ali ficaram eles, tão perto do fim da jornada que podiam sentir a névoa das cachoeiras que desciam do alto. Mas agora estavam sob as sombras dos anjos, de onde provavelmente nunca mais sairiam.

A não ser, é claro, que acontecesse outro milagre.

Quando as figuras surgiram acima da linha das árvores, Sveva quase não pôde acreditar. Se não os tivesse visto antes, teria tanto medo deles quanto tinha dos anjos. Eram muito mais assustadores que anjos.

Eram espectros. Quimeras.

Vinham salvá-los. Parecia aquela noite em que a caravana dos escravos tinha sido libertada, mas agora era dia e ela podia vê-los claramente. Reconheceu alguns: o grifo que soltara sua algema e o centauro que tinha desenroscado o metal que prendia Sarazal. Sveva procurou o outro — o bonito com chifres, que colocara aquela faca em suas mãos —, mas não o viu.

Eram cinco rebeldes contra o triplo de seu número, mas atacaram os serafins com uma fúria inescapável.

Depois do primeiro confronto, do baque surdo dos primeiros corpos caindo — todos inimigos —, Rath enfim se virou para Sveva e a instou a fugir. Os olhos dele brilhavam.

— Eu sabia que eles voltariam — falou com fervor. — Sabia que não nos abandonariam. Vá, Sveva. Alcance os outros. Cuide deles, e diga adeus por mim. — Ele pousou uma das imensas mãos com garras no ombro dela. — Boa sorte.

— Mas e quanto a você?

— Eu lhe disse que estava procurando os rebeldes. — Ele estava feliz; Sveva viu que era isso que ele queria o tempo todo. — Vou me juntar a eles.

E foi o que ele fez. Quando Sveva fugiu, Rath ficou e lutou com os rebeldes.

E morreu com eles, bem ali junto aos dedos das montanhas.

E foi arrastado junto com eles para uma grande pilha de corpos.

E queimado.